October 06, 2020
October 05, 2020
O elo indissociável entre linguagem e democracia
"O princípio de uma educação cultural que permite sair da vida imediata [entenda-se, da vida concreta, sensível, particular de cada um] é feito pela aquisição de princípios universais e pontos de vista e, seguidamente, pelo contacto com as razões que suportam ou refutam as matérias em questão. Trata-se de saber ajuizar/julgar uma questão." ~Hegel, FE
A linguagem não serve apenas para comunicar: 'que horas são?', 'Vai ali buscar o jornal', etc. - a linguagem serve para adquirir informação e transformá-la em conhecimento. Serve para ver o universal nos particulares com que contactamos na nossa experiência imediata. Serve para construir hipóteses de solução de problemas. Serve para descodificar uma situação, ler nas entrelinhas, ser capaz de tirar ilacções, inferir consequências, discorrer sobre uma ideia, vê-la nas várias facetas e ajuizar do seu mérito.
Em 2019, a maioria dos 7.469 alunos inquiridos num estudo do Plano Nacional de Leitura e do ISCTE admitiu ter lido menos de três livros por prazer nos 12 meses anteriores ao inquérito.
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Why writing by hand makes kids smarter by Anne Sliper Midling, Norwegian University of Science and Technology
Costa a desmantelar o Estado de Direito
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TRIBUNAL DE CONTAS
CDS e Chega criticam afastamento do presidente do Tribunal de Contas
António Costa informou Vítor Caldeira por telefone de que o seu mandato não seria renovado.
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Poiares Maduro e Rui Tavares assinam carta-aberta contra nomeação de procuradores europeus
Os subscritores pedem que o Parlamento Europeu mova uma acção no Tribunal de Justiça da União Europeia por causa das interferências dos Governos de Portugal, Bulgária e Bélgica nas nomeações dos procuradores europeus.
October 04, 2020
Um companheirismo de paz
"Close your bodily eye, so that you may see your picture first with your spiritual eye; then bring to the light of day that which you have seen in darkness, so that it may react on others from the outside inwards." - Caspar David Friedrich
Livros, o problema das vírgulas, Hegel e outras coisas
Hoje tinha uma referência a este livro no mail, a partir de um artigo de Jensen Suther, "a response to Karen Ng, Hegel’s Concept of Life: Self-Consciousness, Freedom, Logic(Oxford University Press, 2020).
[um aparte - o gmail anda um bocadinho assustador. Ora me recomenda artigos e livros (porque vai ao FB espreitar sites e assuntos que me interessam, calculo) ou me diz, como aconteceu na semana passada, 'olha, aquele email que mandaste a não-sei-quem, está sem resposta. Queres dar seguimento a isto?' What?! Desde quando o email deixou de ser uma paltaforma de cominação e passou a analisar as próprias comunicações e a fazer juízos acerca das iniciativas que devo tomar? Bem... mas isso é história para outro dia]
O que me levou a pegar na CRP e a reler parte da Dialéctica Transcendental e os Paralogismos. A tradução que tenho da CRP é a da Gulbenkian.
Este capítulo não é fácil de ler (não sei porquê mas montes de filósofos escrevem algumas das suas obras mais importantes à pressa - Kant, que andou 10 anos a pensar nas três críticas, escreveu a 1ª, a CRP em 4 ou 5 meses. Já andava com problemas sérios na faculdade por não publicar. Hegel escreveu a FE ainda em menos tempo sob ameaça do editor. Heidegger escreveu o Ser e Tempo à pressa, e deixou-o inacabado, para conseguir o lugar na universidade. Em suma, acontece que não dedicam tempo quase nenhum a editar a obra e a torná-la inteligível. Depois são mal interpretados, como Kant, e ficam furibundos. O lema actual dos professores universitários e aspirantes de 'escrever de qualquer maneira e depois logo se edita' não é novo...).
Como dizia, o capítulo não é fácil de ler mas o facto de estar escrito em português ajuda muito, porque os portugueses usam vírgulas. A tradução inglesa da FE que estou a ler, tem partes quase sem vírgulas. Parágrafos longos e densos, sem vírgulas. Hegel já escreveu isto à pressa, o que não ajuda e os tradutores ainda reforçaram, resolvendo poupar nas vírgulas.
Cenas
céuzinho murcho
horizonte cinzento
imitando o poeta
também hoje chovo por dentro.
October 03, 2020
Vai haver muita pancadaria nas eleições americas
Trump's America. pic.twitter.com/WGAk6nw2zS
— Robert De Niro ᵖᵃʳᵒᵈʸ (@RobertDeNiroUS) October 2, 2020
If this happened in another country the headline this morning would be "Fascist Leader Orders Armed White Supremacists To Disrupt Voting" pic.twitter.com/Mok6yMKefh
— Robert De Niro ᵖᵃʳᵒᵈʸ (@RobertDeNiroUS) September 30, 2020
Isto é a outra epidemia
Isto é no país do direitos humanos... há aqui uma perversão muita grande do poder dos poderes, se me faço entender e os governos não estão à altura da situação. Parece que estamos num mau filme: com mau diálogo, maus actores e péssima realização. É preciso redefinir os limites dos poderes dos poderosos e cair logo em cima deles assim que abusam. Não há outra maneira de resolver esta epidemia de abuso de poder.
This is #France. 🤬 pic.twitter.com/AlCM7X6SHY
— Robert De Niro ᵖᵃʳᵒᵈʸ (@RobertDeNiroUS) October 3, 2020
ainda bem que há pessoas que compreendem a situação
Former National Security Adviser H.R. McMaster
Interview Conducted By René Pfister
DER SPIEGEL: It appears that Trump came close in the summer of 2018 to declaring the U.S.’ withdrawal from NATO. Should the NATO partners be preparing for the possibility of Trump taking that step during a second term in office?
McMaster: NATO is more important than ever. There are new dangers that require common defense: cyberattacks on our communication channels or the digital processing of our financial transactions. Putin helped make the mass murder in Syria possible and thus created a refugee crisis that led to political upheaval in Germany. NATO is more important than ever to confront these and other emerging threats to our security and way of life.
DER SPIEGEL: But Trump is encouraging the Russian president to test NATO’s dependability.
McMaster: That's why it's important for Germany to show how much it stands for the alliance and stands strongly against Putin’s campaign of subversion. For example, by increasing its defense spending.
O vício é uma coisa tramada
E dada a minha natureza hiperbólica e um bocadinho obsessiva com as coisas que gosto muito, tenho alguma tendência em ter dificuldade em desligar-me delas. É assim que passaram 16 anos desde que deixei de fumar e ainda me acontece ter desejo de tabaco, embora hoje-em-dia muito espaçadamente e só quando a ocasião me ressuscita no corpo aquela ligação que havia entre certa coisa e o tabaco. Neste caso, o champanhe que estou aqui a bebericar. De repente veio-me ao nariz -à memória- o cheiro de uns charutos cubanos muito finos, mais parecem cigarrilhas (trouxe-me um amigo de cuba há muitos anos e se calhar já estão estragados) que ainda tenho ali numa caixa, juntamente com tabaco de cachimbo, que a certa altura também fumei.
Cá em casa ainda há charutos, cigarrilhas, tabaco de cachimbo e, é claro, o tabaco que fumei, para mal dos meus pecados, durante muitos anos: Ritz. Pu-me aqui a lembrar das marcas de tabaco que fumei. Ritz, foi a minha paixão -ou vício- durante 30 anos. Tinha um sabor adocicado e era muito forte - nunca soube gostar das coisas em doses pequeninas e anódinas, é logo tudo a sério, para mal dos meus pecados...
Ritz
Não foi o primeiro tabaco que fumei. O 1º tabaco que fumei foi Português Suave, sem filtro. Tinha aí uns dez anos e um primo que não é primo, roubava maços ao pai, de vez em quando e chamava-me para ir fumar com ele. Fumávamos o maço todo até ficar bêbedos. Isto aconteceu umas três ou quatro vezes.
Português Suave sem filtro
Depois estive até aos 12 anos sem fumar. Aí uma rapariga bastante mais velha (já em Évora) que morava na mesma casa, fumava muito e comecei a fumar com ela. Aos doze anos parecia mais velha do que era. Ela fumava Sintra e eu comecei a fumar Sintra. Fumava meia dúzia de cigarros por dia.
Por volta dos treze anos comecei a comprar tabaco e experimentei vários:
Estoril e Monserrate:
Lembro-me de experimentar CT
E provisórios e definitivos, mais para acompanhar amigos (todos os meus amigos e amigas fumavam) ou se não tinha cigarros e alguém me dava, porque não gostava destes cigarros.
Foi nesta altura que descobri o Ritz... quando não havia Ritz fumava outras coisas:
- SG filtro ou ventil, raramente gigante até porque este apareceu muito mais tarde.
Menos vezes, Kentucky, Camel e Marlboro:
Enquanto morei em Bruxelas, como era raro ter Ritz - era preciso que alguém viesse a Portugal e tivesse pachorra para me levar cigarros, fumei Gauloises, Gitanes e John Players Special, mas geralmente era Gauloises Blondes ou, às vezes, Gauloises brunes
Depois voltei e passados poucos anos comecei a pensar que fumar era como estar a apontar uma pistola à cabeça e resolvi fumar cigarrilhas porque levavam mais tempo a fumar e fumava menos... quer dizer, pensava eu... com a mesma lógica comprei um cachimbo Peterson e comecei a fumar tabaco de cachimbo... resultado: houve uma altura que fumava cachimbo, cigarrilhas e no intervalo disso tudo, Ritz... e aqui e ali, ainda um charuto... foi pior a emenda que o soneto. Depois deixei de fumar de um dia para o outro. Tarde demais... O vício é uma coisa tramada. Passaram 16 anos e há bocado veio-me o cheiro do charuto à memória. Nem vou abrir a caixa onde eles estão porque como se costuma dizer, “A virtude é tentação insuficiente.”
Poesia ao entardecer 🍾
Sonnet 154. Se ele vai beber um Martini para comemorar o último soneto, eu, que tenho sido ouvinte fiel desde o 1º, vou ali abrir um champanhe 🍾 que está no frigorífico, para o acompanhar. Não tenho um smoking e estou de pijama porque estive a fazer a minha nova versão de exercício (improvisei uma pista de dança em forma infinita ∞ aqui em casa. Fiz uma playlist de músicas especiais e danço uma hora - estava farta da máquina e isto é mais divertido) e fui tomar banho. Mas vou pôr uns saltos altos 👠 só acompanhar o champanhe 🍸enquanto ouço o soneto.
Ainda a propósito da pseudo-meritocracia em que vivemos II
Aqui está um coitado que precisava de alguma sorte na vida e foi dar de caras com dois assassinos sádicos demasiado broncos para perceber (como aquele polícia nos EUA que assassinou George Floyd, em directo na TV) que estavam a matá-lo. Inspectores do SEF - como podem estes dois homens ter chegado a este cargo? Ou o perfil exigido ao inspector de carreira é o de um assassino ou é a pseudo-meritocracia a funcionar.
Esta notícia dá-nos volta ao estômago. O sofrimento, o medo e a confusão do homem em ser tratado daquela maneira. Vinte minutos a matar um homem ao pontapé só porque... podem. Têm poder e sabem que à sua volta existe um "temor reverencial" pelas suas pessoas por terem uma patente qualquer. São os chefes.
Antes de ontem via-se na TV o primeiro-ministro e a presidente da comissão europeia em conferência de imprensa: o Dr. António Costa e a Ursula... este é um problema muito português. Em Portugal muita fraude e ilegalidade se cometem à conta deste temor reverencial que as pessoas têm por uma patente, um título. E as pessoas que têm os títulos ou patentes incham ao ponto do ridículo, não percebendo que são eles que têm de estar à altura da dignidade dos cargos e não o oposto, com uma vaidade que nem sempre mata directamente, mas às vezes o faz, como neste caso.
Parece-me evidente que algo vai muito mal na carreira e/ou formação das forças de segurança para que assassinos cheguem a inspectores sem ninguém perceber (não são um ou dois) e para que os que percebam tenham tanto medo de os denunciar que prefiram ficar a ver um ser humano ser espancado até à morte.
Um indivíduo está muito bem na sua vida e resolve vir a Portugal e como tem o azar de não ser ninguém de uma elite qualquer matam-no ao pontapé, só porque sim. Isto não é um 'azar da vida' como ser apanhado por um terramoto ou uma doença. Não. Isto é um país que tem tanta corrupção e falsa meritocracia que aqueles que deviam proteger os outros são os que os matam.
Acusação do Ministério Público revela que imigrante ucraniano foi impedido de entrar em Portugal com um pretexto falso e foi espancado a soco, pontapé e bastonada quando estava algemado e deitado. Seguranças não intervieram porque tinham “temor reverencial” dos inspetores. Os três acusados da morte do imigrante tentaram encobrir o homicídio e mentiram a um magistrado.
...
Às 8h15 de 12 de março de 2020, e porque Ihor não dava sinais de se acalmar, os inspetores do SEF Laja, Sousa e Silva dirigiram-se à sala. Exigiram à segurança que não registasse a sua presença ali - "você não vai colocar aí os nossos nomes, ok?" - e mal entraram na sala voltaram a algemar Ihor e "desferiram no corpo do ofendido número indeterminado de socos e pontapés". Já com o homem no chão, "também com um bastão extensível, continuaram a desferir pontapés e várias pancadas" enquanto "aos gritos lhe exigiam que ficasse quieto".
"ISTO AQUI NÃO É PARA NINGUÉM VER"
Os gritos chamaram a atenção de alguns seguranças que foram corridos pelo inspetor Laja: "Isto aqui não é para ninguém ver". O espancamento durou vinte minutos. Quando saíram, "deixando o ofendido prostrado", os inspetores exclamaram "agora ele está sossegado" e "isto hoje já nem preciso de ir ao ginásio". O MP diz que o "temor reverencial" dos seguranças impediu que a situação fosse imediatamente denunciada.
Ainda a propósito da pseudo-meritocracia em que vivemos
Trump, que herdou o dinheiro do pai e sem dúvida foi posto em Harvard com uma qualquer generosa doação do papá à universidade acha-se, no entanto, uma espécie de vencedor da vida, não percebendo que partiu largamente à frente de quase todos os outros. Agora está doente com o corona. Sem dúvida deve ter quatro médicos de serviço 24 horas por dia sem saírem da cabeceira dele mais 6 enfermeiros, dois dos quais só para olharem para as máquinas, mais a farmácia dos militares fechada só para ele de modo que, se não tiver muito azar, há-de sair bem disto e há-de convencer-se que é invencível e superiormente forte por vencer a doença, não percebendo nunca que desde que nasceu, sempre teve tudo preparado (mesmo que não fosse um desonesto) para que tudo lhe corra bem, podendo até ser um idiota incompetente - só precisava de não ter um enorme azar qualquer. Já a maioria dos outros, para que tudo não lhes corra mal, precisam de ter, só para chegar à situação de que ele partiu, uma enorme e improvável sorte.
Entretanto, aqueles a quem ele andou a infectar nestes dias em que já sabia que tinha estado em contacto com um caso positivo e não se deu ao trabalho de avisar ou sequer de andar de máscara, precisarão de sorte, muita sorte.
E é nesta falsa meritocracia que vivemos há dezenas de anos a criar um fosso de desigualdades.