"O princípio de uma educação cultural que permite sair da vida imediata [entenda-se, da vida concreta, sensível, particular de cada um] é feito pela aquisição de princípios universais e pontos de vista e, seguidamente, pelo contacto com as razões que suportam ou refutam as matérias em questão. Trata-se de saber ajuizar/julgar uma questão." ~Hegel, FE
Ora, isto não se faz sem linguagem. Acho que falei uma vez, no outro blog, naquele estudo chamado, The Early Catastrophe que mostra que as crianças, ao três anos de idade, quando entram para a pré-primária, se distinguem pelo nível e quantidade de linguagem, na ordem dos milhões de palavras - as crianças de famílias com um melhor nível de linguagem, que não reduzem a conversa a ordens e informações mas que falam de assuntos variados, lêem para os filhos, argumentam, usam um vocabulário complexo, etc., têm um nível de vocabulário enormemente superior às outras, constroem frases longas e complexas e que esse vocabulário está relacionado com a qualidade da leitura aos nove anos de idade. Também viram que essas crianças recebem cerca de 400 mil encorajamentos a mais que as outras e têm um QI 25 pontos superior à das outras. Estas diferenças são duradouras e mostram que a qualidade da experiência das crianças em idades muito precoces está ligada ao desenvolvimento cognitivo, da linguagem e literacia.
A linguagem não serve apenas para comunicar: 'que horas são?', 'Vai ali buscar o jornal', etc. - a linguagem serve para adquirir informação e transformá-la em conhecimento. Serve para ver o universal nos particulares com que contactamos na nossa experiência imediata. Serve para construir hipóteses de solução de problemas. Serve para descodificar uma situação, ler nas entrelinhas, ser capaz de tirar ilacções, inferir consequências, discorrer sobre uma ideia, vê-la nas várias facetas e ajuizar do seu mérito.
A linguagem não serve apenas para comunicar: 'que horas são?', 'Vai ali buscar o jornal', etc. - a linguagem serve para adquirir informação e transformá-la em conhecimento. Serve para ver o universal nos particulares com que contactamos na nossa experiência imediata. Serve para construir hipóteses de solução de problemas. Serve para descodificar uma situação, ler nas entrelinhas, ser capaz de tirar ilacções, inferir consequências, discorrer sobre uma ideia, vê-la nas várias facetas e ajuizar do seu mérito.
Os conceitos são, cada um deles, por si, uma ferramenta para compreender a realidade externa e interna que lhes corresponde e, conectados por elementos lógicos, permitem abarcar a complexidade do real. Sem linguagem ou com uma linguagem muito pobre, não se é capaz de compreender uma ideia complexa, discorrer, inferindo, as suas ligações e consequências, problematizar um assunto, etc.
Ora, essa insipiência e falta de sofisticação da linguagem implica uma falta de controlo sobre a realidade, seja cultural, social ou política - fica-se à mercê da boa vontade de quem tem o controlo sobre a linguagem em não a usar para manipular ou fazer demagogia.
Por conseguinte, a falta de uma linguagem complexa empobrece as democracias e abre espaço para a ditadura, pois a democracia mantém-se com o escrutínio e o contra-argumento relativamente ao poder e a ditadura vive da ignorância geradora de mesmidade.
E chegando aqui perguntamos, 'a quem serve que os jovens portugueses leiam cada vez menos?', como se lê neste artigo e porque é que os pedagogos que desenham os cursos insistem, há décadas, na substituição da palavra, nomeadamente a escrita (isso fica para outro post mas deixo dois links sobre o assunto da diminuição da escrita estar, provavelmente, ligada à diminuição da inteligência dos europeus que tem sido observada em estudos diversos) pela oral e pela imagem com o pseudo-fundamento da escola ter como fim proporcionar felicidade imediata e sem obstáculos, em vez de relacionarem os objectivos da formação escolar com uma experiência de qualidade: qualidade essa que os alunos nem sequer serão capazes de se aperceber se não tiveram a linguagem que lhe corresponda.
Não por acaso, este artigo diz que, são os alunos que têm mais livros em casa aqueles que mais requisitam na biblioteca. Os alunos que mais prazer e proveito retiram da leitura são aqueles que têm mais contacto com ela desde muito novos, em casa. É difícil tirar prazer de algo que se desconhece e do qual, por isso mesmo, nunca se retirou uma experiência de satisfação e utilidade.
É a mesma coisa que ir à Grécia: tem ruínas e a água do Metiterrâneo: quem vai de Portugal e não sabe nada da Grécia nem da sua história, encontrará prazer na água, um elemento imediato de prazer habitual, mas provavelmente olhará para as ruínas como calhaus sem interesse - não tem linguagem para ler o que está à sua volta. Tal como os alunos na escola que olham certos textos, assuntos, como calhaus sem interesse porque lhes falta a linguagem para os apreciarem.
Naturalmente isso empobrece a experiência da escola e de vida e impede o controlo sobre as narrativas da realidade que os jornais e outros meios de comunicação manipuladores veiculam.
É difícil tirar prazer e proveito da escola se tudo o que constitui a vida dos jovens é imagem e prazer imediato. A solução, a meu ver, não passa por transformar a escola no imediatismo pobre das imagens e frases à medida dos twitter e Instagram, pois fazê-lo é empobrecer irremediavelmente a democracia, mas pelo contrário, promover o uso da escrita e o desenvolvimento da linguagem.
Os alunos chegam ao 10º ano, cada vez mais, com uma enorme pobreza de linguagem. Se o ensino está cada vez melhor, como dizem, como se explica este facto?
Jovens portugueses leem cada vez menos e hábitos das famílias influenciam
Em 2019, a maioria dos 7.469 alunos inquiridos num estudo do Plano Nacional de Leitura e do ISCTE admitiu ter lido menos de três livros por prazer nos 12 meses anteriores ao inquérito.
Em 2019, a maioria dos 7.469 alunos inquiridos num estudo do Plano Nacional de Leitura e do ISCTE admitiu ter lido menos de três livros por prazer nos 12 meses anteriores ao inquérito.
Esta tendência verifica-se nos dois níveis de ensino, mas é no secundário que se regista uma diferença maior entre os dois períodos (2007-2017) com a percentagem de alunos que não leram qualquer livro por lazer a passar dos 11,3% para os 26,2%.
Há ainda uma diferença contextual entre 2007 e 2019 que, segundo o investigador, poderá ajudar a explicar estes resultados: o alargamento da escolaridade obrigatória até 12.º ano, que resultou numa maior heterogeneidade no ensino secundário, que deixou de ser “uma espécie de filtro”.
----------------
Why writing by hand makes kids smarter by Anne Sliper Midling, Norwegian University of Science and Technologyhas-humanity-reached-peak-intelligence
----------------
Why writing by hand makes kids smarter by Anne Sliper Midling, Norwegian University of Science and Technologyhas-humanity-reached-peak-intelligence
No comments:
Post a Comment