February 02, 2020

França a ferro e fogo - Toulouse : a polícia entra numa igreja e bar nos manifestantes

Pierre-Emmanuel Barré - Semaine Barré #5 : je débats, tu débats, il s'en bat

Livros - A amiga Genial



Já tinha ouvido falar nesta autora mas como deixei de ler romances, nunca tinha tido o impulso de comprar um livro dela. Há uma semana ou duas, entrei com a Manuela na Bertrand, demos de caras com o livro e comprei-o, porque quando uma pessoa que lê muito nos diz que o livro vale a pena temos que lê-lo. De modo que outro dia, cheguei a casa de manhãzinha, a tremer de frio e levei o livro comigo para a banheira. Li-o de rajada. Isso mostra logo que o livro é bom. Não no sentido da própria escrita ser bela, por exemplo, mas no sentido de ser uma obra muito inteligente, muito acutilante, de alguém que compreende muito bem os processos psicológicos individuais e sociais. Uma pessoa que lê bem o que se passa à volta.
Não é um livro fácil de ler, justamente por isso: está constantemente a fazer-nos olhar para nós próprios. Nesse aspecto lembra-me o Proust.
Li que o livro vai ser adaptado para filme. Não me parece uma boa ideia porque o mais importante no livro é o que é pensado e não os diálogos ou as acções, de modo que me parece que o que tem de melhor se há-de perder completamente num filme.



À laia de desabafo



A maioria das pessoas, mesmo médicos, mesmo médicos oncológicos, não percebe o que é viver com a doença oncológica.

Estava aqui a dar uma vista de olhos pelos jornais e revistas  e vi este título, 'A imortalidade não é impossível' e pensei cá para mim, mas quem é que quer viver centenas de anos? Chiça! Deixa cá ver o que é que isto diz. A meio do artigo dou com esta frase:

Hoje, a taxa de sobrevivência para o cancro está acima dos 50%, em geral, e em alguns cancros ronda os 90%, como nos casos dos da próstata e da mama. No dos testículos, é praticamente 100 por cento. Por outro lado, o cancro do pulmão e o do pâncreas continuam com números muito baixos.  (LR em, 'A imortalidade não é impossível')

Para qualquer lado que nos voltemos há notícias e afirmações sobre a doença. Uma pessoa está muito bem na sua vida a tentar abstrair-se das estatísticas que nos dão três anos de vida ou pouco mais e de repente põe os olhos numa frase destas e é imediatamente atingido por uma vulnerabilidade que se sente, fisicamente, como uma tremenda angústia no estômago. Imediatamente fiquei consciente de um sintoma que tenho tido este mês e que pode não ser nada mas que pode ser alguma coisa. Imediatamente me veio à cabeça a última consulta com a médica oncologista, o resultado do exame que tem uma coisa que pode não ser nada mas que pode ser alguma coisa e que me obriga a ir fazer novos exames médicos que nunca fiz, conhecer médicos novos que me vão mexer, virar, picar, ofender... alguns tratar como se fosse uma coisa e não uma pessoa com sentimentos...

Eu até acho que lido bem com a doença, quer dizer, tenho uma atitude positiva, não estou centrada na doença. Os meus alunos, este ano, a maioria não sabe que tenho a doença, o que significa que não se notam alguns impedimentos que tenho. Talvez alguns saibam porque são filhos de colegas e um ou outro por outra razão, mas em geral, faço a minha vida sem estar obcecada com isto e estou muito mais vezes bem disposta que mal disposta. Aliás, nem costumo estar mal disposta. Depressões e outras coisas afins que as pessoas ganham com esta doença, não as tive. Não está na minha natureza. No entanto, é difícil estar sempre a ler estas estatísticas. Porque uma coisa é sabermos que vamos morrer, outra muito diferente é pensar que é já ali à esquina.

Não procuro estas informações ou estatísticas: ou vou dar com elas assim nas notícias ou há médicos que mas atiram à cara. Enfim, é preciso uma boa dose de filosofia, e acho que a tenho desenvolvido, para me desligar das coisas e das pessoas que me fazem mal. 

Isto era só um desabafo. Esta palavra, 'desabafo' é muito expressiva. Uma pessoa está carregada, a sentir o peso de algo que abafa e tira esse abafo e fica mais leve :) É isso. Uma das razões de ter um blog é mesmo destressar, tirar os abafos 🙂 enfim, vou vestir-me e sair e apanhar sol 🙂


Acerca da intervenção política IV





3. O terceiro caminho é um caminho de influência/resistência baseado na lei mas fora do sistema partidário político, uma vez que as oposições partidárias já são peças do jogo.

Se queremos fortalecer a democracia ou, pelo menos, impedir a sua decadência, temos de intervir na raíz que enfraqueceu e fortalecê-la: ora, as Leis são a raíz da democracia.

A democracia é, em primeiro lugar, um Estado de Direito, logo um Estado onde a força está na Lei e não a Lei na força. Um dos indícios da decadência das democracias ocidentais, como se vê em França, é a tentativa de impor Leis pela força (recorrendo à polícia) contra a vontade do povo que já não está representado nos Parlamentos, verdadeiros braços armados dos executivos. 

Quer dizer, um dos pilares da separação de poderes, a casa onde se fazem as Leis que nos governam, é um mero executo das decisões governamentais, muitas delas, também meras execuções de decisões de grupos financeiros particulares. Para agravar o problema, a legislação que é produzida e vai substituindo ou enviesando a que havia já não é elaborada por grandes figuras públicas ao serviço do Estado mas por grupos de juristas que pertencem a sociedades privadas, que têm peões em cargos públicos. 

Este é o grande problema, porque enquanto ainda tivermos Leis que nos servem, a nós população, podemos reverter esta decadência (porque o Estado também está obrigado à Lei) mas se estes grupos conseguirem reverter o espírito das Leis, como têm feito, para se beneficiarem, então depois não há volta atrás. 

É aí que um grupo ou grupos de influência/resistência podem intervir, não num sentido defensivo de sindicância, mas num sentido pró-activo. O tempo de esperar o ataque e defender-se já era. 

Ouvi muitos dos coletes amarelos em França, constituídos, não por radicais, como Macron os quis classificar, mas por gente de classe média que nunca na vida se meteu em confusões, dizerem, 'não estou de acordo com a violência mas a verdade é que o governo não nos ouve de outra maneira, só assim nos dá atenção'. 
Isto cá também é verdade: Costacenteno, sempre que quer (volto a dizer, quer, não é 'precisa', é mesmo, 'quer', porque é uma opção política) prejudicar um sector com cativações, desinvestimento, empobrecimento, pura e simplesmente diz, 'esse assunto está encerrado' e não volta a falar nele como se os cidadãos fossem seus filhos e não seus concidadãos de pleno direito. 

Chegam ao ponto de já nem tomarem decisões políticas mas submeterem-nas directamente aos interesses dos grupos económicos indexando automaticamente pensões ou salários ou o que seja, a índices económicos decididos por grupos com interesses particulares.

Portanto, as sindicâncias de defesa não servem para nada se o poder autoritário pura e simplesmente as ignora e as retira da mesa das pseudo-negociações, como aconteceu com a UGT, recentemente. Logo, é preciso ser pró-activo e fazer mossa no poder executivo, retirando-lhe o autoritarismo, mas de modo não-violento e dentro da Lei. É resistir com produtividade.

Então, é necessária uma dupla acção: 

1. de influência na preservação do Estado de Direito e melhoramento de Leis. Impedir activamente que a produção de Leis seja feita por grupos privados com fitos que servem interesses particulares;  isto implica constante vigilância da produção de Leis: quem está a fazer o quê e com que fim.

2. de resistência, na exigência do cumprimento das Leis. Enquanto formos um Estado de Direito, a força da Lei estende-se ao poder executivo e podemos, devemos, obrigá-lo a cumprir a Lei.

Esta dupla acção é política e pedagógica. Resistimos ao empobrecimento da democracia, com a Justiça e a Lei não deixando que uma e outra deixem de servir o interesse público.

Como é que isto se pode fazer, na prática?

(continua)

Este é o grande problema dos nosso políticos




"Eu não vou permitir que ninguém me diga que eu não estou onde devia estar. Eu nasci para estar ali. Eu nasci para estar ali. (Joacine K M)

Assim que chegam a um lugar de poder começam logo a pensar que é seu por direito natural. JKM: mais um medíocre na política, que é uma coisa que precisamos muito porque temos falta...

A estratégia de chamar extremistas aos opositores, não ajuda a resolver os problemas




A grande diferença, hoje, faz-se pelos fundamentalismos. Os políticos e militantes distinguem-se entre radicais e moderados. E o radicalismo sente-se em extremos opostos do espectro político. Um moderado convive bem com a diferença de opiniões.  (Inês Cardoso, Radicais Livres)



Não há fundamentalismo nenhum. Nenhum partido em Portugal é radical ou fundamentalista. O que há é uma estratégia do poder em etiquetar de extremista todos os que são oposição e só quem é muito cego não vê. Daí que se reclamem, todos os partidos, como sendo de centro. Se bem nos lembramos, o BE nas últimas eleições chegou a dizer que era social-democrata. Os que estão agora no poder, considerados, pela IC moderados, convivem muito mal com as diferença de opiniões e tentam controlá-las através do controlo dos meios de comunicação social.
Há em Portugal movimentos extremistas mas não são partidos políticos instituídos. São à margem. O Chega não é extremista, não defende o fim da democracia, um sistema de partido único, etc. O Chega defende grande parte daquilo que este governo e outros já fazem, na prática, embora anunciem o oposto: o fim dos serviços públicos, o controlo da economia por grupos de elite económica e financeira, a privatização dos serviços, etc. Isso não é ser extremista, é ter uma visão ultraliberal da sociedade. O facto de Ventura ser racista não faz dele um extremista político, assim como os exércitos de machistas empedernidos que ocupam os lugares do Estado não se tornam, por isso, extremistas, radicais políticos.

February 01, 2020

Entretanto, uma lembrança





Praça do Comércio, Lisboa


Acerca da intervenção política III




Um aparte - nesta luta em que estamos, uns mais conscientes, outros menos, mas que é uma luta para que não nos destinem uma vida sem qualidade desde o nascimento à morte (com excepção da classe política e a da alta finança) estou firmemente convicta que os professores têm um papel fulcral. Somos nós, professores, quem educa as crianças, os adolescentes e os jovens à entrada da idade adulta. Se nós falharmos na missão de resistência aos padrões de decadência democrática que nos impõem de maneiras enviesadas e no nosso papel de influenciar para a emancipação pelo saber, tenho a certeza que entraremos numa era muito diferente daquela que conhecemos até agora porque as gerações seguintes serão pessoas sem armas para se defenderem.

Os políticos podem fazer as suas imposições mas nós é que lidamos com os alunos e podemos resistir ao empobrecimento dos horizontes de vida das gerações que educamos.

De há bastantes anos para cá que tenho como lema, por assim dizer: nunca esquecer que sou uma funcionária pública, que presta um serviço, em primeiro lugar à pátria (não a um governo em particular ou a um secretário de Estado, etc.,) que é o de perpetuar os valores da democracia, da convivência pacífica e o de ajudar os alunos a emanciparem-se pelo saber e saberem integrar-se sem se diluírem nesta sociedade; não faço nada, nem que venha com ordem do Presidente que vá contra aquilo que penso ser o meu dever ou que, no meu entender, prejudica a educação dos alunos. Nunca esquecer que o material do meu trabalho são seres humanos numa determinada fase da vida, a grande maioria sem a identidade formada; tenho que tratá-los como seres humanos. Pessoas individuais. Não categorias abstractas mas pessoas individuais, com uma vida que se projecta, com pensamento e sentimentos. O que quero dizer é que trabalhamos com pessoas (embora em grupos), e não com objectos de políticas educativas macroeconómicas ou outras.

Entre estas duas balizas faço o meu trabalho: não deixar ficar mal a pessoa do aluno ou o meu país, nem a sociedade global de seres humanos a que pertenço. Levo muito a sério um livro de Karl Jaspers que li há muito tempo sobre culpabilidade enquanto responsabilidade de seres humanos que somos e que temos uns para com os outros.

(continua)

Acerca da intervenção política II




3. O terceiro caminho é um caminho de influência/resistência baseado na lei mas fora do sistema partidário político, uma vez que as oposições partidárias já são peças do jogo.

É que os partidos são ideias e forças mas também são pessoas com ambições, umas de raíz, outras do próprio exercício do poder que é gerador de vaidades e cegueiras, e é isso que sempre estraga os partidos e arrasta as pessoas com eles.
Veja-se os Macrons, cheios de ideias quixotescas de chegar lá e mudar tudo para muito melhor e cada vez enterra mais a França nos lobbies das grandes corporações internacionais. Nem sequer se preparou para ter que lidar com os problemas das pessoas reais e reage mal às críticas e à oposição, com autoritarismo e com a força das balas, como aconteceu no mês passado.
França é uma espécie de último reduto nesta luta da democracia: o país da liberdade, igualdade e fraternidade. Estão em luta feroz há meses e meses e as notícias não chegam aqui ao cantinho... há um boicote às notícias, não vá as pessoas aqui terem ideias.

Aqui em Portugal, apesar de sermos um povo manso, qualquer crítica é esmagada pela máquina de sicofantas às ordens de Costacenteno.

Nem falo de países como os EUA, onde o povo passou a ser o Presidente e não o contrário ou da Rússia de Putin onde se muda a Constituição para se perpetuar no poder. A América Latina... enfim, está a espalhar-se como um vírus.

De modo que tem que se agir de outro modo. Parece-me que há pressupostos ou princípios ou fundamento racional para um modo diferente de agir com vista à mudança ou, melhor à inversão deste caminho que leva a lado nenhum que nos interesse. Vou ter que pensar um bocadinho como escrevê-lo.

(continua)

Acerca da intervenção política I




Estava aqui a ler isto:
Emmanuel Macron : le triomphe du centrisme autoritaire



... e lembrei-me da conserva, outro dia, com o André. Concordámos que o problema de fazer parte do sistema político é esse mesmo, o de entrar no jogo.

Fiquei a pensar nisso. Este é um problema complicado porque para interferir no jogo, é preciso jogar. No entanto, todos aqueles que, na História, entraram em sistemas em avançada fase de decadência ou já putrefacção com o argumento, esperança ou ideia de o mudar por dentro acabaram, ou trucidados pela máquina ou integrados nela como peças da engrenagem. Veja-se o caso da Alemanha no período nazi.

De modo que o problema é complicado. Neste momento, parece-me que, dada a progressiva tendência para o autoritarismo e menorização dos processos democráticos e, ainda, a indiferença de práticas entre partidos da direita e da esquerda que já quase nada têm de defesa ideológica, pode-se escolher três caminhos:

1. O primeiro é clássico - deixar que o sistema se degrade a um ponto de ruptura a partir do qual se consiga reconstruir outras regras de jogo. Isso aconteceu por uns tempos a seguir ao 25 de Abril. Houve uma preocupação real, com consequências positivas, com os direitos civis e políticos das pessoas. Aconteceu a seguir à Segunda Grande Guerra onde houve uma consciencialização dos direitos humanos, políticos e sociais que gerou grandes mudanças positivas. O problema é que as revoluções são como as guerras: demasiado destrutivas, com um grande período de caos e violência e uma incógnita pois nunca se sabe onde aquilo vai acabar. Veja-se a URSS.

2. O segundo é capturar um partido político e reorientá-lo para cativar franjas de população descontentes com o status quo. Isso é o que está a ser feito com o Chega com muito sucesso, infelizmente. É o que faz também a Maçonaria que captura cargos estratégicos e espalha uma teia de influências em lugares-chave que mudam, de facto, os pressupostos do sistema. Minam.

Estes dois primeiros modos têm ambos o defeito de não serem democráticos. São movimentações de grupos com interesses particulares.

Parece-me que estamos num momento particular da História que não se repetirá nos tempos mais próximos se não for agora aproveitado. É um momento em que a geração que está no poder e a outra que constitui a força de trabalho, não só em Portugal como numa significativa parte do mundo, é ainda a geração herdeira das mudanças do pós-guerra e do Maio de 68: são as gerações da educação universal, dos sistemas de educação e saúde universais, do direito ao trabalho, dos direitos das mulheres, da ideia de mérito, etc. que construíram a sociedade democrática que está agora em perigo.

São esses que não aceitam o autoritarismo e a decadência da vida política, foram eles que ocuparam as ruas por esse mundo fora em protesto pelas desigualdades gritantes (o occupy movement), são eles que se manifestam pela educação no Chile, na Argentina, em França, nos EUA, em Portugal, em França; são eles que vão para a rua em França pelas reformas.

A geração mais nova, que anda pelos vinte anos e isso ou menos, bate-se pelo ambiente e outras causas, de mérito, mas não por estas causas tradicionais políticas. Nem sequer têm educação política como nós tivemos, que aos 13 anos discutíamos as notícias políticas e as mudanças políticas do país e estávamos a par dos pressupostos ideológicos das várias forças em jogo. Em grande parte porque o sindicalismo se comprometeu com o poder e perdeu a sua força de intervenção e em outra parte devido à decadência geral das políticas educativas desastrosas para a emancipação e autonomia das pessoas, a res política é hoje um campo de batalha de cargos e dinheiros.

De modo que, se não são estas gerações herdeiras do pós-guerra a forçar a mudança das práticas autoritárias dos governos que se estão a espalhar-se, não será a geração seguinte, a dos instagrams, a fazer isso.
E, da maneira como a educação está a retornar ao ponto em que estava há 70 anos, onde quem tinha dinheiro tinha futuro e os outros tinham restolho, um pouco pelo mundo fora, daqui a uns anos este assunto, quer dizer, o da possibilidade de reconstruir a democracia como um sistema do povo, para o povo, estará morto e enterrado.

(continua)

Os títulos indecentemente enganadores dos jornais




Magoado?? O indivíduo violou grosseiramente o direito constitucional dos colegas à greve, o ME só lhe instaurou um processo porque o caso foi pegado e levado pelos sindicatos, senão tinham feito orelhas moucas, como de costume, e o fulano que deve levar a reforma toda depois de ter recebido durante muitos e muitos anos o suplemento de sicofanta, com este perfil de carrasco dos colegas, ainda se queixa? E o Público dá a notícia como se este director fosse uma vítima?? Vá-se encher de pulgas...


Director de escola de referência pede reforma “magoado” com o ministério
Uma greve de professores, marcada para um dia de exames nacionais, valeu-lhe um processo disciplinar por ter excedido os serviços mínimos que tinham sido decretados. “Os alunos tinham de ter garantidas todas as condições para poderem realizar os exames”, diz Manuel Esperança, director do Agrupamento de Escolas de Benfica. Foi dado com culpado.

A um ano do final do mandato, e apesar de não ter como hábito de vida “deixar as coisas a meio”, o director de uma das escolas públicas de referência de Lisboa decidiu bater com a porta e pedir a aposentação, o que fez no mês passado, na sequência de um processo disciplinar que lhe foi instaurado pelo Ministério da Educação (ME).

Fevereiro




Tem origem em Februus, deus da morte e da purificação na mitologia etrusca. Originariamente, fevereiro possuia 29 dias e 30 como ano bissexto, mas por exigência do Imperador César Augusto, de Roma, um de seus dias passou para o mês de Agosto, para que o mesmo ficasse com 31 dias, semelhante a Julho, mês batizado assim em homenagem ao Imperador Júlio César.











~ Illustration: February: 'Robin, Whitebreasts, and Snowdrops’, (1906) by Edith Holden from 'The Country Diary of an Edwardian Lady’

Follow the money





No time left, a score by Ivan Georgiev on a painting by Fanny Ferry Bailly. And a poem by Langston Hughes




"Hold fast to dreams
For if dreams die
Life is a broken winged bird
That cannot fly.

Hold fast to dreams
For when dreams go
Life is a barren field
Frozen with snow."

Langston Hughes 1902-1967


O grande silêncio



Mais ou menos por esta hora está uma pessoa da família, padre, a tomar o hábito de monge no convento da Cartuxa de Santa María Porta Coeli, em Valência, Espanha. Ele esteve aqui em Évora como noviço mas o convento já tinha poucos monges e muito velhos e acabou por encerrar e ele foi para o de Valência que ainda recebe noviços. Fez o noviciado, que é obrigatório para perceber-se se a pessoa se adapta àquela Ordem e vai hoje tomar o hábito.

Ele é da idade do meu irmão mais novo e eram amigos em crianças. Foi uma enorme surpresa para toda a gente quando, aos 18 anos, ele anunciou que queria ser padre e os pais tentaram que, pelo menos, adiasse a decisão até ser mais velho mas ele estava decidido. Ele é, era, uma pessoa muito, muito activa e embrenhado na vida da comunidade, da paróquia em que estava, que era grande. E assim de repente, anunciou que ia tomar o hábito da Ordem da Cartuxa que é uma Ordem de clausura e silêncio. Outra enorme surpresa.

Lembrei-me, depois, que tive uma conversa muito grande com ele, quando fui ver o filme de Philip Gröning, realizador de, O Grande Silêncio, que dá a conhecer o dia-a-dia dos monges da Grande Cartuxa, em Grenoble, a casa-mãe da Ordem. Ele queria ir ver o filme e como sabia que eu tinha ido ver perguntou-me. Lembro-me de dizer-lhe que o filme tinha sido uma surpresa porque pensava que ia ser difícil estar num cinema, com outras pessoas, quase três horas em silêncio (o filme é quase todo silencioso, como é evidente) mas que não foi e ao contrário do que supunha, a vida dos monges é uma vida alegre. E lembro de discutir com ele por defender que já não estamos na Idade Média onde ir para um convento era um tipo de vida cristã e agora, parece-me que é uma fuga do que é difícil, pois difícil é a pessoa viver no meio dos outros, neste mundo actual, e dedicar a vida ao serviço dos outros. Fechar-se num convento é virar as costas. Lembro-me de ele me dizer que eu não percebia o chamamento da oração. Isso é completamente verdade, embora perceba muito bem a atracção do silêncio contemplativo. Gostava muito de poder passar 15 dias por ano num convento, destes enfiados no meio de uma Natureza onde se tem uma experiência imersiva, num espaço meditativo, de reflexão, uma espécie de limpeza da mente que, calculo, potencie a produtividade.

Quer dizer, do que vi nesse filme, aquilo é uma vida para uma pessoa que tem um espírito contemplativo, que tem uma ligação profunda à Natureza mas, tirando a parte de viver quase sempre em silêncio, que deve ser difícil, a vida deles não é um peso e eles são pessoas alegres e bem dispostas. Enfim, lembro-me termos tido uma conversa grande sobre a Ordem e esse tipo de vida mas nunca imaginaria que passados anos ele decidisse enveredar por essa vida de clausura e silêncio. É que ele ainda é novo, é saudável e isto significa viver décadas naquela clausura...

Imensa gente da família foi lá a Valência porque já agora é difícil falar com ele porque só poucas vezes por ano pode falar com a família e em horas marcadas e reguladas, então quando tomar o hábito ainda vai ser mais difícil. Mandaram-me fotografias dele e da cela onde vive. Raparam-lhe o cabelo, está muito magro porque andam imenso nas montanhas. A cela é uma coisa despida e fria, mesmo. Mas ele parece feliz.

É claro que sendo a religião católica um clube de pilinhas, as mulheres não podem assistir a esta cerimónia no convento, que é só para pilinhas. Amanhã é que há uma missa aberta onde todos podem ir e ele está disponível todo o dia. Uma espécie de despedida do mundo.

É difícil perceber uma decisão destas de passar o resto da vida quase sempre em silêncio, isolado horas por dia na cela ou no pequeno jardim, um eremitério, que cada cela tem à frente. É que a ordem da Cartuxa é uma ordem de eremitas, é dura e austera e ele era uma pessoa tão faladora, tão activa. É uma grande decisão que deve ter implicado uma luta interior importante. De facto, como dizia o poeta grego, cada pessoa é um universo infinito.

O filme está no youtube:


O convento, em Valência, Espanha. Vê-se, do lado direito, uma fiada de celas, cada uma com o seu jardinzinho à frente. É onde os monges passam grande parte do dia, em oração contemplativa.

cartuxos

A sério?



Há bocado, chego a casa, ponho a chave na porta e percebo que está no trinco, não a fechei à chave; entro e vejo estão as persianas todas para cima e uma das janelas ficou aberta... a sério, Beatriz? Ontem saí tão à pressa de casa (e pelos vistos com a cabeça na lua) que deixei tudo ao deus dará. Por falar em deus dará, fui regar os vasos com os pés de roseira e uma delas está a nascer!!! Já se vê um pezinho a despontar! Love it 🙂





























Fui directamente ao mercado comprar uns verdes com cheiros antes de vir para casa porque me apetece coisas verdes.
Comprei quatro corações para beber com um chá porque tomei o pequeno-almoço muito cedo.






Ontem fui ver o Elixir do Amor ao CCB. O espectáculo foi no pequeno auditório que tem uns pequenos degraus e umas pequenas cadeiras onde ficamos com as costas quase todas de fora do encosto.
Enfim, fora isso, metade dos cantores principais são ainda estudantes de canto. Portaram-se bem, embora ainda precisem de muitas aulas. Mais de metade da assistência eram familiares deles. Só pode... mas foi  giro. Depois fui beber um copo a um sítio muito giro mas isso fica para outro tempo.

Para os negacionistas climáticos




Água do Oceano Pacífico está tão ácida que derrete as carapaças dos caranguejos


O Oceano Pacífico está a ficar tão ácido que as carapaças dos caranguejos que habitam nas zonas costeiras estão a ficar com as carapaças moles, com consequente dano nos seus orgãos sensoriais. Um novo estudo revela que o PH das águas do Pacífico está a ficar tão baixo, que muitas espécies já estão a sentir os seus efeitos. 
O estudo revela a que a acidificação oceânica, resultante das emissões de dióxido de carbono, tomou tais proporções que os caranguejos da espécie Dungeness, a sapateira do Pacífico, já começam a sentir os seus efeitos. Os níveis baixos de pH estão a fazer derreter partes das suas carapaças.

Amanhecer triste



Estou aqui a ver as notícias e a fazer tempo para ir para casa. Na BBC só falam do Brexit ser uma oportunidade de negócio e de dinheiro e de ficar melhor sem os (outros) europeus. Quase 50 anos de participação num projeto de paz, de prosperidade submissa ao respeito pelos direitos humanos e tudo se resume a negócio e dinheiro. Nem uma palavra para a renúncia à reforma e melhoramento do projecto europeu. Calculo que agora que viraram as costas construam uma narrativa de desprezo pela UE. A não ser claro, naquilo que precisem para a vidinha.

A Rothko silence























Kültür Tava