February 01, 2020
Acerca da intervenção política III
Um aparte - nesta luta em que estamos, uns mais conscientes, outros menos, mas que é uma luta para que não nos destinem uma vida sem qualidade desde o nascimento à morte (com excepção da classe política e a da alta finança) estou firmemente convicta que os professores têm um papel fulcral. Somos nós, professores, quem educa as crianças, os adolescentes e os jovens à entrada da idade adulta. Se nós falharmos na missão de resistência aos padrões de decadência democrática que nos impõem de maneiras enviesadas e no nosso papel de influenciar para a emancipação pelo saber, tenho a certeza que entraremos numa era muito diferente daquela que conhecemos até agora porque as gerações seguintes serão pessoas sem armas para se defenderem.
Os políticos podem fazer as suas imposições mas nós é que lidamos com os alunos e podemos resistir ao empobrecimento dos horizontes de vida das gerações que educamos.
De há bastantes anos para cá que tenho como lema, por assim dizer: nunca esquecer que sou uma funcionária pública, que presta um serviço, em primeiro lugar à pátria (não a um governo em particular ou a um secretário de Estado, etc.,) que é o de perpetuar os valores da democracia, da convivência pacífica e o de ajudar os alunos a emanciparem-se pelo saber e saberem integrar-se sem se diluírem nesta sociedade; não faço nada, nem que venha com ordem do Presidente que vá contra aquilo que penso ser o meu dever ou que, no meu entender, prejudica a educação dos alunos. Nunca esquecer que o material do meu trabalho são seres humanos numa determinada fase da vida, a grande maioria sem a identidade formada; tenho que tratá-los como seres humanos. Pessoas individuais. Não categorias abstractas mas pessoas individuais, com uma vida que se projecta, com pensamento e sentimentos. O que quero dizer é que trabalhamos com pessoas (embora em grupos), e não com objectos de políticas educativas macroeconómicas ou outras.
Entre estas duas balizas faço o meu trabalho: não deixar ficar mal a pessoa do aluno ou o meu país, nem a sociedade global de seres humanos a que pertenço. Levo muito a sério um livro de Karl Jaspers que li há muito tempo sobre culpabilidade enquanto responsabilidade de seres humanos que somos e que temos uns para com os outros.
(continua)
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