A maioria das pessoas, mesmo médicos, mesmo médicos oncológicos, não percebe o que é viver com a doença oncológica.
Estava aqui a dar uma vista de olhos pelos jornais e revistas e vi este título, 'A imortalidade não é impossível' e pensei cá para mim, mas quem é que quer viver centenas de anos? Chiça! Deixa cá ver o que é que isto diz. A meio do artigo dou com esta frase:
Hoje, a taxa de sobrevivência para o cancro está acima dos 50%, em geral, e em alguns cancros ronda os 90%, como nos casos dos da próstata e da mama. No dos testículos, é praticamente 100 por cento. Por outro lado, o cancro do pulmão e o do pâncreas continuam com números muito baixos. (LR em, 'A imortalidade não é impossível')
Para qualquer lado que nos voltemos há notícias e afirmações sobre a doença. Uma pessoa está muito bem na sua vida a tentar abstrair-se das estatísticas que nos dão três anos de vida ou pouco mais e de repente põe os olhos numa frase destas e é imediatamente atingido por uma vulnerabilidade que se sente, fisicamente, como uma tremenda angústia no estômago. Imediatamente fiquei consciente de um sintoma que tenho tido este mês e que pode não ser nada mas que pode ser alguma coisa. Imediatamente me veio à cabeça a última consulta com a médica oncologista, o resultado do exame que tem uma coisa que pode não ser nada mas que pode ser alguma coisa e que me obriga a ir fazer novos exames médicos que nunca fiz, conhecer médicos novos que me vão mexer, virar, picar, ofender... alguns tratar como se fosse uma coisa e não uma pessoa com sentimentos...
Eu até acho que lido bem com a doença, quer dizer, tenho uma atitude positiva, não estou centrada na doença. Os meus alunos, este ano, a maioria não sabe que tenho a doença, o que significa que não se notam alguns impedimentos que tenho. Talvez alguns saibam porque são filhos de colegas e um ou outro por outra razão, mas em geral, faço a minha vida sem estar obcecada com isto e estou muito mais vezes bem disposta que mal disposta. Aliás, nem costumo estar mal disposta. Depressões e outras coisas afins que as pessoas ganham com esta doença, não as tive. Não está na minha natureza. No entanto, é difícil estar sempre a ler estas estatísticas. Porque uma coisa é sabermos que vamos morrer, outra muito diferente é pensar que é já ali à esquina.
Não procuro estas informações ou estatísticas: ou vou dar com elas assim nas notícias ou há médicos que mas atiram à cara. Enfim, é preciso uma boa dose de filosofia, e acho que a tenho desenvolvido, para me desligar das coisas e das pessoas que me fazem mal.
Isto era só um desabafo. Esta palavra, 'desabafo' é muito expressiva. Uma pessoa está carregada, a sentir o peso de algo que abafa e tira esse abafo e fica mais leve :) É isso. Uma das razões de ter um blog é mesmo destressar, tirar os abafos 🙂 enfim, vou vestir-me e sair e apanhar sol 🙂