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July 30, 2024

Educação - a dependência é uma doença mental e sair dela não é algo que as crianças e adolescentes possam fazer com discussões de opiniões

 


No que respeita a dependências em idade precoces, isto é, infância e adolescência, tem de haver restrições impostas. Ensinar competências digitais é necessário mas não suficiente para evitar a dependência de sites pornográficos ou de redes sociais influenciadoras de comportamentos violentos e indutora de doenças mentais como. depressão e a ansiedade patológica.

Vejamos, se estivéssemos a falar do tabaco, não diríamos, 'vamos ensinar essas crianças e adolescentes a saber fumar e fumar com ética', sabendo que cada cigarro que fumam é um passo para a dependência e para a doença. Na realidade, a proibição do fumo fez baixar drasticamente o consumo de tabaco. Em 1987 35% dos homens (as mulheres sempre fumaram pouco relativamente aos homens) fumava. Era costume começarem a fumar logo aos 10 ou 12 anos e passados uns anos fumavam 1 maço por dia. Em 2014 já só eram 20% e nos dias de hoje são 17%, têm mais de 15 anos e fumam 10 cigarros por dia e não maços inteiros. Não só baixou o número de fumadores como o número de cigarros que fuma por dia. Não acredito que apenas as campanhas de sensibilização tivessem dado este resultado. A maior queda dá-se após as restrições quanto aos locais de fumo e à idade para se poder comprar cigarros.

É muito difícil corrigir comportamentos de dependência já instalados e quanto mais novo pior. No caso dos telemóveis, acontece que as crianças e os adolescentes não têm noção nem aceitam que estejam mentalmente doentes por causa deles. Não percebem que a pornografia ensina comportamentos de violência sobre as mulheres e às raparigas ensina a normalização da aceitação da violência dos homens. Não percebem que os conteúdos das redes sociais são factores indutores de ansiedade e depressão, porque não tem consciência de como funcionam os mecanismos psicológicos da dependência, da auto-estima, etc. Sabe Deus que mesmo para os adultos é difícil quebrar um vício e mesmo so psicólogos têm dificuldade em conseguir que os pacientes se desliguem desse motores de doenças mentais.

De maneira que defender que as crianças e adolescentes podem ser ensinados a usar a internet evitando ir a certos sites da internet que todos os outros frequentam, por vontade própria, é uma ilusão perigosa. Os miúdos crescem a ouvir os adultos dizer que 'os conhecimentos estão à distancia de um clique', o que é uma afirmção ignorante e errada, mas que interioriza neles a ideia de que são especialistas em 'adquirir conhecimentos' pelo simples facto de usarem os telemóveis e a internet. Se juntarmos a este factor a falta de juízo crítico própria das idades, temos miúdos completamente vulneráveis a pensar que são especialistas e que os outros adultos que lhes dizem que certas redes sociais e certos sites da internet estão a prejudicá-los e a deformá-los são pessoas com ideias antigas. 

Os pais também não têm consciência dos perigos da internet. Apesar de agora já se falar neste assunto, todos os dias vemos em todo o lado, pais agarrados ao telemóvel ao lado de filhos agarrados ao telemóvel, desde muito crianças.

Esta semana tem-se falado nos resultados escolares e na provável má influência da pandemia. A má influencia da pandemia estende-se ao uso do telemóvel. Os miúdos ficaram dois anos fechados em casa, nos quartos, sozinhos com os telemóveis e sairam de lá mais viciados do que já eram, mais ansioso, mais dependentes de likes, mais incapazes de aprendizagens positivas.

Hoje em dia falo muito deste assunto com os alunos e os seus pais. Muitos pais gabam-se dos filhos serem muito bons com os telemóveis e de saberem muito, por lerem 'coisas' na internet e é preciso explicar os mecanismos da criação de dependência, a deformação da concentração, etc., com muitos exemplos práticos para que comecem a perceber que isso, não só é uma desvantagem, como é um perigo. Alguns sabem disso mas o sossego que o telemóvel lhes traz a eles, parece-lhes razoável enquanto moeda de troca. 

Este ano uma mãe disse-me que o filho só teve telemóvel com internet quando acabou o 9º ano - tinha acesso à internet, no computador, em casa, para trabalhar- mas que isso obrigou a um enorme esforço por parte dos pais para manter o filho ocupado, interessado e entretido com outros desafios nos tempos livres. Resultou, porque o filho é um miúdo curioso, interessado em muitos assuntos diferentes, persistente na resolução dos problemas e capaz de se manter focado num assunto. A maioria dos miúdos actuais não se interessa por nada, acha tudo secante, porque está dependente de estimulação excessiva dos sentidos própria das redes sociais e da pornografia. E estão convencidos que o problema não está neles, porque pensam ser positivo estar constantemente em estado de excitação extrema, mas na própria realidade que não os excita constantemente.

Em breve, dado que começamos agora a 'apanhar' turmas inteiras de alunos que cresceram com os telemóveis como educadores, um professor só terá alunos doentes mentais, com raras excepções. Se isto não é preocupante, não sei o que seja.


Ver pornografia está a prejudicar intimidade, alerta Comissão de Nacional de Jovens

Portugal não tem dados acerca deste assunto mas o Conselho da Europa está a criar conteúdos informativos para ajudar os países a lidar com estes “desafios novos” e para que possa “vir a haver uma educação sexual adequada à idade” para todas as crianças.

A responsável defendeu que os jovens com competências digitais podem aprender os benefícios e os perigos da internet, bem como os cuidados a ter no acesso a conteúdos. A formação deve ser extensível aos pais ou aos cuidadores.

Rosário Farmhouse avisa que os jovens se estão a perder nas relações de afetividade e experimentam “graves problemas de iniciação da sua vida sexual”.

“Não sabem como iniciar porque querem replicar aquilo que viram, porque acham que aquilo que viram é que deve ser o modelo”, explicou. Estes atos podem ter consequências como por exemplo relações de violência em que alguns adolescentes “acabam por entrar em uniões que não querem porque acham que isso é normal”.


JN

January 22, 2024

Boas notícias



Para os doentes com cancro do pulmão, principalmente em cancro do pulmão de não pequenas células (CPNPC) avançado e/ou metastático: é exactamente o meu caso. 
Na semana passada tive consulta com a minha pneumo-oncologista e falámos disto. Há tratamentos inovadores e há muita pesquisa a ser feita. Embora não se possa nunca dizer que uma pessoa está curada, dado que não existe nenhum teste que mostre ter-se destruído todas as células tumorais e, portanto, poder sempre estar lá uma meio a dormir, hoje em dia há outra esperança e as taxas de sobrevivência a cinco anos são um bocadinho melhores, sobretudo para cancros de superfície, como lhes chamo - aqueles que se vêem ou sentem e dá-se logo por isso e são apanhados em estado inicial, como os da pele, da garganta, da mama. Alguns têm taxas de sucesso de tratamento muito elevadas, perto dos 100%. Os mais profundos, como o do pulmão ou do pâncreas são outra história.
De alguns tratamentos inovadores ainda agora começa a conhecer-se os efeitos secundários. Há estudos a decorrer. Já participei em dois, dado que um dos tratamentos que fiz, o de imunoterapia, fui das primeiras pessoas a fazê-lo e não havia dados sobre os efeitos secundários. Ainda agora estão no início. 
Se não tivesse feito esse tratamento tinha morrido há cinco anos. Porém, esse tratamento, que durou um ano, juntamente com os outros dois de quimio e rádio, se me salvaram a vida, deixaram-me com sequelas intermináveis. Constantemente surgem doenças e lesões de efeitos secundários dos tratamentos e assim que trato uma, surge outra, também porque o sistema imunitário parece um passador de malha larga.
Na semana passada andei desanimada com isso de ter mais uma cena para ir tratar. Mais um médico novo, mais exames, mais medicamentos ou cirurgias... o dinheiro que o atestado de incapacidade me faz poupar no IRS não chega, nem para pagar metade dos custos que tenho com os derivados desta doença. 
Só não me queixo mais disso porque a culpa foi minha de ter fumado como uma besta... também não desanimo por muito tempo. Enquanto puder tratar estas cenas que surgem, está tudo bem. 


ADC com outras terapêuticas pode “mudar o paradigma do cancro do pulmão aos cinco anos”

Desafios de novas abordagens terapêuticas: ADC no cancro do pulmão


Segundo a Prof.ª Bárbara Parente, os profissionais de saúde envolvidos no tratamento do cancro do pulmão nunca estão satisfeitos e isso reflete-se nos “grandes progressos terapêuticos” que fizeram com que a sobrevida livre de progressão (PFS) tenha melhorado. Contudo, alerta que aos cinco anos, ainda não se atingiu o patamar desejado a nível da sobrevida. “Portanto, penso que novos fármacos se irão desenhar no horizonte e poderão vir efetivamente a melhorar a sobrevida dos doentes, tendo sempre em conta a qualidade de vida, que é uma coisa que não podemos esquecer”, sublinha a especialista.

A utilização dos novos conjugados anticorpo-fármaco (ADC) no contexto dos doentes com cancro do pulmão foi o tópico da sessão patrocinada pela Daiichi Sankyo/AstraZeneca, no 39.º Congresso da Sociedade Portuguesa de Pneumologia. Moderado pela Prof.ª Bárbara Parente, coordenadora norte do Instituto CUF de Oncologia, o simpósio contou com a intervenção da Prof.ª Gabriela Fernandes, do Centro Hospitalar de São João, que introduziu a temática dos ADC, bem como o seu mecanismo de ação, explicando o significado clínico destes fármacos para os doentes. 

O Prof. Luis Paz-Ares, oncologista do Hospital Universitário 12 de Outubro, em Madrid, foi o orador internacional convidado para apresentar os diferentes ADC e respetivos ensaios clínicos, demonstrando o quanto esta nova abordagem terapêutica tem vindo a modificar o prognóstico de doentes com cancro do pulmão, principalmente em cancro do pulmão de não pequenas células (CPNPC) avançado ou metastático.

Sobre o potencial desta nova ferramenta terapêutica, a Prof.ª Bárbara Parente salienta a “indefinição” e a necessidade “de ter em atenção os efeitos laterais” uma vez que, “muitos deles”, ainda não são conhecidos. “Queríamos que esses efeitos laterais estivessem mais reduzidos devido ao mecanismo de ação, mas o que é um facto é que há algumas coisas que ainda nos escapam e, portanto, é preciso continuar a investigar”, defende, referindo que, em Portugal, existem “muitos estudos a decorrer”, cujos resultados sairão nos próximos anos.
[já participei em 2]

Tendo em conta a evolução no tratamento do cancro do pulmão, a pneumologista demonstra-se otimista: “Penso que os ADC podem, de alguma forma, em combinação com as terapêuticas anteriores, vir a mudar o paradigma de tratamento do cancro do pulmão em termos de sobrevida aos cinco anos”. Por isso, na sua perspetiva, o futuro deverá ser “muito bom” e “mais risonho”, com a melhoria da sobrevida aos cinco anos e, talvez, com a possibilidade de “nem se precisar de fazer cirurgia aos doentes”.

 
 

December 21, 2022

Natal a seco

 


Estou com olho de vampiro. O esquerdo. A parte branca toda vermelha como nos vampiros. Em modo desastrada, espetei um dedo no olho com toda a força. Marcaram-me um oftalmologista de urgência. Expliquei-lhe o que aconteceu. Não acreditou. Tenho a certeza que ficou a pensar que alguém me deu um murro no olho. Enfim, antibióticos para pôr no olho. A juntar aos outros que ando a tomar. Vai ser um Natal a seco, sem uma tacinha de vinho, um aperitivo. Nada. Rien de rien. Encontrei no hospital de hoje uma funcionária da escola que foi atropelada há dois dias na passadeira perto da escola. Um carro parou e o do lado, vendo aquele parado, não pensou que estava alguém na passadeira e acelerou. Enfim, lá estava ela, cheia de hematomas, mas viva e sem problemas internos. Aqui nesta cidade ninguém respeita passadeiras ou semáforos. 


September 07, 2022

Buzz Aldrin fala candidamente e com muito insight da sua depressão

 


September 30, 2021

Às vezes começamos no mais complicado para acabar no mais simples

 


Isto disse-me hoje uma médica. Hoje, eram oito e meia da manhã e estava em Lx para uma consulta de uma médica que nunca tinha visto, de uma especialidade que nem sabia que existia, mas onde acabei por ir como último recurso para resolver um problema que já levava um ano e meio, ninguém descobria o que era, desconfiou-se de doenças complicas e raras, fiz muitos exames invasivos e difíceis e análises ao sangue bué esquisitas. Pois esta médica leu os papéis que levei, fez-me perguntas, examinou, tirou fotografias (djesus...) e depois explicou-me, com imagens, o que se passava e porquê. Depois passou-me uma receita e às dez e meia da manhã estava a entrar ao serviço na escola, despachada e sem ter faltado. Disse à mulher, "isto é um alívio porque eu já estava a ver-me com alguma doença rara incurável que depois se espalhava e me fazia úlceras nas córneas dos olhos e isto tem sido uma adição de devassa ao meu corpo com exames, furos, tubos e o diabo a nove, que não preciso... já levo três anos disso... e já tenho dificuldade em aguentar". Foi aí que ela me disse, 'Pois, mas às vezes começamos pelo mais complicado para acabar no mais simples'. 

Vou guardar esta frase, porque lembrei-me logo da parvoíce que fiz na escola, na terça passada, a interpretar um documento, justamente porque procurei a hipótese mais complicada e rebuscada, em vez de começar pela mais simples. Enfim, não foi nada de grave e um colega que estava comigo na sala de DTs fartou-se de rir comigo quando percebemos a minha parvoíce. Isto não é bem a «Navalha de Ockham», mas anda lá perto.

Portanto, tenho agora dois princípios de funcionamento a juntar aos antigos:

1. Confia no processo - este aplica-se às acções de resultado a médio e longo prazo.

2. Às vezes começamos pelo mais complicado para acabar no mais simples - este é um princípio de economia e prudência que se aplica à análise de casos complexos, compostos e lembra que é melhor começar pelas hipóteses mais simples ligadas aos componentes per si, antes de construir hipóteses complexas.


July 06, 2021

A propósito de transtornos mentais

 


Fui dar com esta pintura no site do rijksmuseum que agora disponibiliza gratuitamente o download digital das obras. E pus-me a observar os pormenores da pintura e reparei numa cena estranha no altar (pormenor mais abaixo) de um indivíduo a decapitar uma mulher vendada. Intrigante, não? Pois, antes de mim já outros se tinham intrigado.. Descobri que se trata de Santa Dimpna, a padroeira dos Doentes Mentais e da Ansiedade. 

Reza a história (ou lenda) que Santa Dimpna era a filha de um rei irlandês pagão no século VII e que foi assassinada por seu pai. Dimpna foi baptizada secretamente, porque a sua mãe era cristã e tornou-se também cristã. Depois da mãe morrer o pai ficou inconsolável e vendo a filha muito parecida com a mãe, resolveu casar-se com ela.

Ela conseguiu fugir com a ajuda do seu padre confessor, Gereberno e mais dois criados. Foram para a Bélgica, para a aldeia de Geel, perto de Antuérpia. Porém o pai nunca deixou de procurá-la e quando os seus mensageiros os descobriram, o pai dirigiu-se para lá. Ordenou a seus servos que matassem o padre e foi ter com a filha. Renovou a sua oferta e tentou convencê-la a regressar à Irlanda. Perante a recusa da filha ficou furioso, sacou da espada e decapitou-a ali mesmo Diz-se que ela tinha 15 anos quando o crime ocorreu.

Os cadáveres foram colocados num sarcófago e sepultados numa caverna onde foram encontrados mais tarde. Em 1349 foi construída em Geel uma igreja em honra de Santa Dimpna. 

Mais tarde, "lunáticos", deixados a vaguear pelo campo por não haver tratamentos, dormiram no local onde ela foi morta e acordaram curados dos seus distúrbios. Outras curas milagrosas foram relatadas ao longo dos séculos a quem ficava no local da sua morte. 
Em 1480, tantos peregrinos vinham de toda a Europa, em busca de tratamento para doenças psiquiátricas, que o alojamento da igreja para eles foi expandido. Em breve o santuário para aqueles considerados "loucos" estava novamente cheio a transbordar, e as pessoas da cidade começaram a levá-los para as suas próprias casas. 
Assim começou uma tradição para o cuidado contínuo daqueles que sofrem de doenças psiquiátricas que perdura há mais de 500 anos. Os doentes foram, e ainda são, levados para as casas dos habitantes de Geel. Os pacientes, são chamados, internos, e são tratados como membros comuns e úteis da cidade. São tratados como membros da família de acolhimento. Trabalham, na maioria das vezes em trabalho doméstico, e em troca, tornam-se parte da comunidade. Alguns ficam alguns meses, alguns décadas, outros durante toda a sua vida. No seu auge na década de 1930, mais de 4.000 'pensionistas' foram alojados com os habitantes da cidade. (wiki)

A igreja original ardeu em 1489 e foi reconstruída em 1532.

O seu dia de festa é 15 de Maio e a santa é tipicamente retratada com um demónio acorrentado aos pés e uma espada na mão.





The Holy Kinship
Geertgen tot Sint Jans


pormenor

August 09, 2020

No dia 1 deste mês assinala-se o dia do cancro do pulmão

 


Quando leio que durante a pandemia não se fizeram diagnósticos, que os exames médicos foram atrasados meses, até sinto um nó no estômago pela angústia de toda essa gente que espera por resultados de exames ou por vaga para os fazer, sabendo que está numa corrida contra o tempo e que o atraso de uma semana significa a diferença entre a vida e a morte, ainda para mais porque é um cancro que poucas vezes se detecta cedo.

O pior nesta doença, a certa altura, nem é o abstrairmo-nos das dores ou da tortura dos tratamentos ou exames médicos frequentes, mas abstrairmo-nos das estatísticas brutais.

Sabermos que muitas pessoas morrem escusadamente por falta de dinheiro na saúde para médicos, técnicos e exames médicos e tratamentos, é revoltante, sabendo nós que o dinheiro existe mas está reservado para o esbanjamento de políticos e banqueiros.

February 02, 2020

À laia de desabafo



A maioria das pessoas, mesmo médicos, mesmo médicos oncológicos, não percebe o que é viver com a doença oncológica.

Estava aqui a dar uma vista de olhos pelos jornais e revistas  e vi este título, 'A imortalidade não é impossível' e pensei cá para mim, mas quem é que quer viver centenas de anos? Chiça! Deixa cá ver o que é que isto diz. A meio do artigo dou com esta frase:

Hoje, a taxa de sobrevivência para o cancro está acima dos 50%, em geral, e em alguns cancros ronda os 90%, como nos casos dos da próstata e da mama. No dos testículos, é praticamente 100 por cento. Por outro lado, o cancro do pulmão e o do pâncreas continuam com números muito baixos.  (LR em, 'A imortalidade não é impossível')

Para qualquer lado que nos voltemos há notícias e afirmações sobre a doença. Uma pessoa está muito bem na sua vida a tentar abstrair-se das estatísticas que nos dão três anos de vida ou pouco mais e de repente põe os olhos numa frase destas e é imediatamente atingido por uma vulnerabilidade que se sente, fisicamente, como uma tremenda angústia no estômago. Imediatamente fiquei consciente de um sintoma que tenho tido este mês e que pode não ser nada mas que pode ser alguma coisa. Imediatamente me veio à cabeça a última consulta com a médica oncologista, o resultado do exame que tem uma coisa que pode não ser nada mas que pode ser alguma coisa e que me obriga a ir fazer novos exames médicos que nunca fiz, conhecer médicos novos que me vão mexer, virar, picar, ofender... alguns tratar como se fosse uma coisa e não uma pessoa com sentimentos...

Eu até acho que lido bem com a doença, quer dizer, tenho uma atitude positiva, não estou centrada na doença. Os meus alunos, este ano, a maioria não sabe que tenho a doença, o que significa que não se notam alguns impedimentos que tenho. Talvez alguns saibam porque são filhos de colegas e um ou outro por outra razão, mas em geral, faço a minha vida sem estar obcecada com isto e estou muito mais vezes bem disposta que mal disposta. Aliás, nem costumo estar mal disposta. Depressões e outras coisas afins que as pessoas ganham com esta doença, não as tive. Não está na minha natureza. No entanto, é difícil estar sempre a ler estas estatísticas. Porque uma coisa é sabermos que vamos morrer, outra muito diferente é pensar que é já ali à esquina.

Não procuro estas informações ou estatísticas: ou vou dar com elas assim nas notícias ou há médicos que mas atiram à cara. Enfim, é preciso uma boa dose de filosofia, e acho que a tenho desenvolvido, para me desligar das coisas e das pessoas que me fazem mal. 

Isto era só um desabafo. Esta palavra, 'desabafo' é muito expressiva. Uma pessoa está carregada, a sentir o peso de algo que abafa e tira esse abafo e fica mais leve :) É isso. Uma das razões de ter um blog é mesmo destressar, tirar os abafos 🙂 enfim, vou vestir-me e sair e apanhar sol 🙂


November 30, 2019

Os psiquiatras a fazer o trabalho dos políticos




A ministra da Saúde, Marta Temido, avançou hoje que o Orçamento do Estado para 2020 irá ter um “reforço claro” na saúde mental, reconhecendo a existência de um “bom programa nacional” com necessidade de ser implementado.


Os estudos mostram que há uma ligação entre as condições sociais de vida e a doença mental. Setúbal, por exemplo, é o distrito do país com maior incidência de doenças mentais. É também o distrito mais pobre. A vida demente das pessoas em trabalhos com condições deprimentes atira-os para situações de cansaço extremo e dificuldade em gerir a vida de modo equilibrado, o que por sua vez atinge os filhos, danos colaterais de uma vida vivida no limite das forças físicas e mentais. Compensam com a bebida, com a droga... 
Os miúdos vão para as escolas compensar os desequilíbrios das famílias e acabam medicados, seja por perturbarem a normalização do ambiente e serem diagnosticos com síndrome de hiperactividade, seja por não aguentarem a pressão do sucesso e viverem vidas de ansiedade constante. Depois encaminham-se para os psiquiatras para que lhes diagnostiquem depressões que não têm -pois o que têm é tristeza e a frustração de não conseguirem adaptar-se a um sistema de louca competição-, para os mediquem de maneira a conseguirem sobreviver num sistema social doentio. Eles e os pais.
É claro que, se os políticos fizessem o seu trabalho, melhoravam as condições de vida das pessoas e os serviços públicos de apoio às famílias: a saúde, a educação, a assistência social.
Do que as pessoas precisam, em primeiro lugar, é de uma vida decente que não seja só trabalho, casa, trabalho, em condições execráveis e a ganhar tão mal que precisam de dois empregos para alimentar a família. Mas como os políticos não fazem o seu trabalho, são os psiquiatras e os psicoterapeutas quem acaba por remediar essa falha. Não resolvem a vida das pessoas mas medicam-nas para que consigam produzir num sistema que fomenta a patologia mental.