October 12, 2024

Li que anda por aí um cometa raro

 


E que se vê bem com binóculos, logo após o pôr-do-sol. Já fui ajustar os meus binóculos de ópera - não tenho outros - para olhar para ele.




October 11, 2024

Os russos são terroristas e os seus amigos do Ocidente são prostitutos

 


Caçam civis arbitrariamente para infundir terror. Não por acaso são amigos do Irão, dos talibãs e do Hamas. Gente nos países ocidentais e na ONU que defende que se faça uma paz com a Rússia de Putin são prostitutos. 


Duas citações de Han Kang

 

“Glass is transparent, right? And fragile. That's the fundamental nature of glass. And that's why objects that are made of glass have to be handled with care. After all, if they end up smashed or cracked or chipped, then they're good for nothing, right, you just have to chuck them away.
Before, we used to have a kind of glass that couldn't be broken. A truth so hard and clear it might as well have been made of glass. So when you think about it, it was only when we were shattered that we proved we had souls. That what we really were was humans made of glass.”
― Han Kang, Human Acts


“You said, This thing we call life mustn’t ever become something endured.”
― Han Kang, Greek Lessons


Sleeping beauty


 

“Esta imagem é sobre peles. Os altos Himalaias são, a seguir à Antárctida, o ambiente mais frio e mais inóspito do mundo, mesmo no Verão. Isto significa que o leopardo-das-neves tem de ter uma pelagem que o mantenha quente em todas as estações. A pelagem é densa e bastante comprida. O padrão manchado é a camuflagem perfeita nas encostas rochosas estéreis e desordenadas do seu habitat. A cauda comprida não só o ajuda a equilibrar-se e a saltar por terrenos traiçoeiros, como também é útil - como uma espécie de cobertor quente quando se enrosca para dormir a sesta. Gostei de resolver a confusão de padrões e anatomia neste feixe de pelo. Tal como cada centímetro quadrado da natureza é singular, cada pedaço da superfície deste animal é singular quanto à relação entre o pelo e a fisiologia.” ~ Robert Bateman



Sleeping Snow Leopard by Robert Bateman


October 10, 2024

Para quem gosta de recuar às origens - uma conversa interessante com William Dalrymple

 


Acerca de como a Índia moldou o Ocidente. Dalrymple, como é sabido, é um historiador e conhecedor de arte, interessado na história e na arte da Índia, do Paquistão, do Afeganistão, do Médio Oriente, do hinduísmo, do budismo, dos jainistas e do cristianismo oriental primitivo. Escreveu, entre muitos outros livros, três sobre o império Mongol. Um narrador nato, aqui em conversa com Ash Sarkar, jornalista, activista libertária, editora e professora. Fascinante.


O absurdo de se considerar que a parentalidade deve ser uma submissão ao hedonismo dos filhos

 


E o absurdo ainda maior de isso ser levado a sério. Há pouco tempo li, num grupo de professores de filosofia universitários americanos, que sigo numa rede social, que cada vez há mais alunos a dizer que escolheriam a máquina de prazer da experiência mental de Nozick, em vez da realidade. Algo que nos anos 70 ou 80 do século passado nos pareceria evidente -por muito prazer que possamos sentir numa máquina de felicidade, nada substitui a liberdade e a consciência da realidade- deixou de o ser e nos dias de hoje há muita gente que considera que as pessoas devem ser poupadas a qualquer desconforto psicológico ou emocional que lhes cause o mínimo desprazer. Uma maioria também crescente desses alunos citados, gostaria que aplicações de IA escolhessem por si, os seus parceiros para a vida. Tudo para evitar o desconforto da escolha, da responsabilidade pela escolha e da possibilidade do erro e suas consequências de desprazer psicológico e emocional. Ora, não há educação sem desconforto psicológico e emocional, pois educar implica escolher e de cada vez que se escolhe um caminho fecha-se outro(s), que poderiam ser mais aprazíveis. Por isso, cade vez é mais difícil ser professor: os alunos, os pais e a sociedade em geral cada vez mais exigem que a educação escolar seja uma espécie de experiência constante da máquina do prazer. Talvez por isso os jovens de hoje, quando querem lutar contra este modelo económico que nos mantém agarrados aos combustíveis fósseis, não tenham nenhuma resistência à frustração, nenhum recurso interno para ultrapassar obstáculos ou propor caminhos diferentes e não saibam definir estratégias de pressão para a mudança sem ser a recorrência à violência.


A minha criança em risco

Escrevi uma crónica sobre a ida do meu filho para um campo de férias e acabamos na CPCJ arrastados por uma denúncia anónima. O caso seguiu para o MP. E o mundo pula e avança.

Inês Teotónio Pereira

O meu filho não queria ir a um campo de férias no Verão. Um campo onde esteve seis dias com adultos e animadores entre rios e serras, sem telemóveis ou videojogos e com miúdos da idade dele. O meu filho detesta dormir fora de casa. Por isso, e por todas as razões ligadas ao conforto e receio do desconhecido, fez tudo o que estava ao seu alcance para não ir. Como este é o sexto filho e o filme é repetido, garanti que ia com a certeza de que o fazia para o seu bem, crescimento, etc. Custou-me. Queixou-se e resistiu durante os primeiros dias, mas ambientou-se e chegou contente. Por se ter divertido, por se ter superado e por regressar a casa. Relatei tudo isto numa crónica escrita na altura. Usei alguma ironia e exagero para tentar mostrar que nós, pais, sofremos bastante quando decidimos fazer aquilo que achamos ser o mais certo que vai contra a vontade dos nossos filhos. E, quando cedemos, somos nós os mimados e não eles.

Dois dias depois desta crónica ter sido publicada, a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) recebeu uma denúncia anónima, online. Diz o queixoso sem nome ou rosto que o “Filho de Inês” teria sido sujeito a uma situação de “violência emocional e psicológica” e podia estar em risco. Pedia-se uma intervenção. Uma queixa anónima para ser aceite requer apenas um nome e uma narrativa. Ponto. Mas o denunciante também tinha a morada. Pais e filho apresentaram-se, assim, na CPCJ mais próxima para serem notificados da denúncia. A queixa foi lida enquanto a criança esperava na sala ao lado. Explicamos o que tínhamos a explicar, o que foi escrito e assinado.

No entanto, o procedimento obriga a ir mais longe. Contactar a escola, conversar com a criança e fazer uma visita surpresa à morada de família. Caso os pais não autorizem, o processo é arquivado na CPCJ e segue caminho para o Ministério Público. Depois logo se vê qual o entendimento dos magistrados. O caso seguiu para o MP: os pais não autorizaram. Por várias razões: porque explicámos o que aconteceu, porque a CPCJ deve ter mais que fazer do que perder tempo e dispersar recursos com o relato da ida de um menino contrariado para um campo de férias, porque há nisto qualquer coisa de censura ao que se escreve (e não apenas ao que se fez) e porque quem não se sente não é filho de boa gente.

Passando por cima da questão mais do que consensual de que a proteção de menores passa pelas denúncias anónimas, o que está certo, este caso revela várias questões graves. Será que não há processos urgentes que exijam a atenção dos escassos meios disponíveis das CPCJ? Desde que passou a ser possível denúncias anónimas online, o número disparou e a triagem entre o importante e o que é só estúpido deixou de existir. O Estado disponibiliza aos cidadãos um mecanismo para poderem exercer os seus ódios, perseguir, etc. Um mecanismo que existe para proteger crianças em risco ou perigo eminente de maus tratos. Outro ponto, menos importante, é a liberdade de expressão e a confidencialidade dos dados pessoais. Sobre a primeira ficamos a saber que o espaço público é perigoso e assombroso. Sobre a segunda, ficamos a saber que não existe. Está a chegar o dia em que os “procedimentos” vão condicionar decisões como seja ter filhos. Para já é só como os educar. E ninguém vai reparar.

As coisas belas, por que motivo serão belas? E belas para quê?

 

As coisas belas,
As que deixam cicatrizes na memória dos homens,
Por que motivo serão belas?
E belas para quê
(...)
António Gedeão


Photo by: Lurdes Santander

October 09, 2024

"In order to secure our future and to prosper, we need to evolve our economic model…

 


Francis Fukuyama acerca da falta de apoio eficaz à Ucrânia por parte dos EUA

 

O maior pesadelo de Putin

 


"A UE não vai permitir que Orban faça da casa democrática da Europa um espetáculo de Orban"




A eurodeputada francesa  (do 
Renew) Valerie Hayer afirmou que a UE não vai permitir que Orban faça da casa democrática da Europa um espetáculo de Orban, numa conferência de imprensa em Estrasburgo, na véspera do debate dos eurodeputados com Orban.

“Sejamos claros. Não vamos cair na armadilha de transformar esta casa democrática num espetáculo de Orban.

Não faremos da sua agenda a nossa própria agenda.

Mas gostaria de vos dar um pequeno exemplo de como ele vira as realidades de pernas para o ar.

“Os migrantes são um problema da Hungria”, diz-nos Orban durante todo o dia.

Vamos lá falar a sério: o problema da Hungria não são os migrantes, mas sim os emigrantes.

A saída de pessoas do país está a atingir um máximo histórico. No ano passado, mais de 33.000 húngaros deixaram o país. Este é o número mais elevado desde há mais de 10 anos.

Orban disse que não quer sair da UE, mas com ele os húngaros querem sair da Hungria, não para a Rússia, não para a China, mas para a Europa Ocidental!

Este é um dos problemas mais prementes que o país enfrenta.

Posso dizer-vos porquê. Porque Orban não consegue resolver os problemas internos. Não consegue encontrar uma solução para os baixos salários, para a má educação, para as más perspectivas de emprego no seu país.

Orban está a fazer alarmismo para evitar chamar a atenção para os seus fracassados assuntos internos.

A sua perspetiva interna e para a Europa é pobre e continua a ser um fator de fraqueza global.

O Renew nunca acreditou em alarmismos. Acreditamos na resolução dos problemas. Trabalhamos para fixar salários decentes, acreditamos na criação de empregos de qualidade, na criação de um futuro atrativo para os jovens, na criação de prosperidade como fundamento da segurança e do Estado de direito, numa Europa para campeões e um lugar para todos”, afirmou.

Early Winter

 


“Os patos-reais são talvez o pato selvagem mais conhecido do mundo. São muito populares entre os caçadores e os artistas. Quando vi este par de patos-reais no início da manhã refletido na superfície brilhante de um gelo novo e fino, tive uma visão deste tema tão popular, talvez de uma forma nova” 
~ Robert Bateman


Mallard Pair - Early Winter 1985
by Robert Bateman

October 08, 2024

Zelenskyy's update

 


Uma palestiniana de Gaza a dizer como são as coisas


O caso de Mazan - Gisele Pelicot virou a vergonha ao contrário

 


@LailaMickelwait

Num gesto heroico, Gisele Pelicot lutou para tornar públicos os vídeos das suas violações inconscientes às mãos de mais de 50 homens e ganhou. Ela queria que o público “olhasse a violação diretamente nos olhos”. A vergonha, disse ela, deve mudar de lado - das vítimas para os perpetradores.

A polícia encontrou mais de 20.000 vídeos e fotografias de Gisele drogada e violada por vários homens nos dispositivos do marido, numa pasta intitulada “Abuso”.

Na sexta-feira, o juiz atendeu ao pedido de Gisele e exibiu as provas “necessárias à manifestação da verdade”.

12 vídeos de violação e 10 fotografias foram exibidos nos três ecrãs planos da sala de audiências e projectados na sala de espera para o público, enquanto os autores dos vídeos se sentavam envergonhados a ver os seus actos criminosos desprezíveis serem expostos.

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Pediu que as imagens das violações fossem passadas sem filtros e com o público a assistir porque quem tem de sentir vergonha são os violadores e não ela. 
No julgamento os violadores usam tudo o que é desculpa, inclusive dizer que a culpa é dela por ser mulher. Sim, há os que se defendem dizendo que têm raiva das mulheres e que ela é culpada disso. Há os que dizem que não perceberam que era violação porque o marido autorizava que a usassem (sociedades misóginas em extremo), há os que dizem que o marido os deve ter drogado e que fizeram tudo em transe, há os que dizem que ela devia estar a fingir, há os que dizem que têm necessidades sexuais incontroláveis e portanto, a culpa não é deles.... só um se declarou culpado.
O caso é que a polícia apanhou 51 mas há outros que ainda não foram apanhados e ainda não se sabe quem são - mas sabe-se que são homens de Mazan.
Também se sabe que três em cada dez que o marido dela tentava aliciar para os estupros disseram que não. Porém nem um único denunciou o site à polícia ou disse o que passava em casa do porco violador, animal nojento.
Isto para mim é dos piores aspectos do caso. Centenas de homens ou mais sabiam o que o marido dela estava a fazer, mas acharam mais importante a lealdade entre machos do que defender a mulher sabendo o que lhe estava a ser feito e nem um único denunciou o site ou foi à polícia. É difícil, ao ler isto, não desconfiar dos homens em geral. 
Uma rapariga ou uma mulher, nos dias que correm, com a facilidade que há em drogar bebidas, tem que ter muito cuidado quando sai e vai beber um copo, por muito que lhe pareça que o indivíduo é de confiança, tem de desconfiar e estar alerta. As miúdas nas festas de praxes das universidades que costumam ser dirigidas por gente estúpida e sem moral.
Há por aí muitos homens que parecem respeitáveis mas são grandes abusadores, promíscuos, usam-se da tecnologia para espiar, controlar, abusar e vão para a internet alimentar sites de pornografia infantil, etc.
Sim, porque dantes, muitos pensavam o mal mas não tinham oportunidade de o fazer, mas agora com a tecnologia à mão é outra história.
Dantes não era a favor da castração mas agora já não tenho certezas. Estes indivíduos nem estão arrependidos nem acham mal o que fizeram, só estão chateados de terem sido apanhados e se o marido não tivesse gravado tudo negavam e ainda haviam de lhe chamar de p..... para cima. Não acredito que algum deles se regenere e quando saírem da cadeia vão violar outras mulheres.

Inglaterra

 

As raparigas têm de provar que têm cólicas e cãibras por causa do período.

Os rapazes quando dizem 'sou uma rapariga' têm de ser automaticamente acreditados.

J.K.Rowling



😅

 


Putin tem um harém de 'bitches'

 


Trump, Orban, Fico, Elol Moscow e outros...


Em um par de anos aconteceu o que já se sabia que ia acontecer com a descentralização dos custos da educação

 

O senhor Costa mais o outro Costa, ambos do governo anterior, eram especialistas em atirar os problemas para cima dos outros e, na peugada dos governos anteriores, usar a educação para poupar dinheiro. Dai o estado em que a educação está.





Assustador - dispositivos invasivos-controladores e deslumbramento com a tecnologia

 

O problema da tecnologia é começar nas mãos de pessoas como Musk, Zukerberg e quejandos, pessoas sem escrúpulos que só pensam em controlo de pessoas, poder e dinheiro e acabar a comprar políticos que também só pensam em poder, controlo de pessoas e boa vida.



O argumento em prol das leis de privacidade cerebral

As últimas décadas mostraram à exaustão que abraçamos a novidade tecnológica com pouca consideração pelos riscos; e que a privacidade não foi um factor decisivo, pelo contrário. 

João Pedro Pereira

Para mergulhar no tema desta newsletter, é útil um exercício prévio. Pense o leitor nos momentos em que se deparou com um avanço tecnológico que tornou realidade algo que antes lhe parecia a si impossível ou ficção científica.

Para leitores mais velhos, um desses momentos poderá ser a alunagem de 1969. Para outros, é provável que sejam avanços nas tecnologias de informação. Talvez um deles seja o momento em que pegou pela primeira vez num smartphone. Ou quando usou uma aplicação para conversar com outra pessoa sem que houvesse uma língua comum (aconteceu-me quando percebi que podia ter uma conversa com crianças que apenas falavam farsi, língua de que não sei uma palavra). Talvez outro seja o momento em que viu um carro a andar sem ninguém ao volante. Ou o espanto mais recente de conversar com um sistema informático capaz de escrever, falar e compor música, e que lhe respondeu quase como um humano.

Tiram-se daqui lições óbvias: o mundo muda de forma inesperada; o que parecia impossível acontece; e o impossível tornado realidade depressa se torna tão normal que não damos por ele.

Há poucos dias, a Califórnia aprovou uma lei para garantir a privacidade da actividade cerebral dos consumidores. Não é uma preocupação de ficção científica.

Ler e interpretar a actividade cerebral tem benefícios evidentes, especialmente na área da saúde. Permite a pessoas com problemas motores interagirem com computadores ou com objectos do mundo físico. A Neuralink, de Elon Musk, criou um implante cerebral que permitiu a um homem paralisado controlar o cursor do computador apenas com o pensamento. Também pretende criar um implante que dê capacidade de visão a pessoas cegas.

Por outro lado, a Neuralink é de Elon Musk. E, além disso, há usos mais preocupantes para a leitura de actividade cerebral.

Uma empresa chamada Brainbit comercializa uma fita que se põe na cabeça e que é capaz de registar alguma actividade do cérebro. Tem usos relativamente anódinos, como relaxamento e meditação. Mas outros dos usos que a empresa propõe são reveladores. A um deles chama "competição social" e a ideia é saber quem é a pessoa mais alegre numa sala de reuniões, ou quem está mais concentrado numa tarefa. Outra possibilidade seria publicar nas redes sociais o estado de espírito do utilizador. Há uma estranha ideia de usar a fita para decidir quem escolher numa aplicação de encontros (teríamos, portanto, um dispositivo a interpretar por nós aquilo que o nosso próprio cérebro quer). O "neuromarketing" também faz parte da lista.

Mark Zuckerberg, que começou a investir nisto há mais de cinco anos, apresentou agora o protótipo de uns óculos de realidade aumentada que se ligam a uma pulseira capaz de ler sinais do corpo do utilizador, incluindo sinais cerebrais. O protótipo já funciona, mas não está pronto para ser comercializado. Merece reflexão a possibilidade de uma empresa como a Meta vir a ler o que se passa no cérebro dos utilizadores

Terá sido essa a reflexão que passou pela mente dos legisladores californianos.

A nova lei define os dados neurais como "a informação que é gerada pela medição da actividade do sistema nervoso central ou periférico de um consumidor, e que não pode ser inferida através de informação não-neural." E determina que este tipo de dados passam a ter a mesma protecção que outra informação pessoal, como os dados bancários, informação de documentos pessoais, emails e mensagens de texto, ou informação étnica, religiosa e sindical

Não leio pensamentos, mas adivinho o de alguns leitores: isto é uma bizarria da Califórnia, o estado dos tecnólogos e dos futuristas. Não é.

A Califórnia é o segundo estado americano a tomar uma medida destas; o primeiro foi o Colorado, em Abril. Há exemplos de outros países. Em 2021, o Chile fez uma adenda à constituição para garantir a protecção da actividade cerebral dos cidadãos e da informação daí retirada.

A União Europeia está a estudar o assunto. Em Julho, foi apresentado um relatório encomendado pelo Parlamento Europeu, que aborda questões que vão da cibersegurança às implicações éticas. É exaustivo e de leitura algo fastidiosa. Mas tem passagens interessantes, como aquela em que os autores explicam o "neuro-encantamento": o "imenso poder de sedução dos dispostivos neurotecnológicos", associado à "elevada reputação das neurociências". O que se pode concluir da argumentação é que, se tivermos oportunidade de usar um capacete ou pulseira que registe a actividade cerebral, a maioria de nós irá fazê-lo.

As últimas décadas mostraram à exaustão que abraçamos a novidade tecnológica com pouca consideração pelos riscos; e que a privacidade não foi um factor decisivo, pelo contrário. Se não resistimos às redes sociais, quem iria resistir a "tecnologia que lê o pensamento"?

Os avanços nesta área estão a abrir caminhos que hoje nos parecem impossíveis. Pode a tecnologia vir a perceber e antecipar intenções? Vão os estados autoritários, já para não falar dos outros, resistir à ideia de ler a mente dos seus cidadãos? Teremos crimes de pensamento?

Isto, claro, é ficção científica. Como em tempos foram a ida à Lua, os carros que se conduzem sozinhos e os computadores capazes de conversas inteligentes.