January 29, 2020

Está o mundo inteiro a ver o que fazemos a Rui Pinto e às provas que ele tem sobre outros negócios sujos






Luanda Leaks, our latest investigation, has sparked a global conversation about the role international firms play in helping the rich and powerful amass their fortune.
American companies have “far too much leeway to make money at the expense of the countries where they operate,” argued a New York Times editorial on the weekend. One reader, from Action for Southern Africa, said the investigation was a “landmark moment for the world” and lawmakers must crackdown on global consulting firms.
Our social media platforms have been inundated with requests for the next “[Insert country] Leaks” from Dubai, to Malaysia, Zimbabwe, Guyana and the United States. We’ve also received sobering messages from Angolans, who feel they have been wronged by Isabel dos Santos.
...
The soccer whistleblower Rui Pinto, who is currently in jail for his Football Leaks expose, was revealed as the source of the Luanda Leaks documents. We received the files from the Platform to Protect Whistleblowers in Africa, which on Monday revealed Pinto was their source of the documents.

January 28, 2020

Coisas boas



Um mexicano transformou mil armas de fogo em pás para plantar árvores à volta do mundo. Quer saber mais sobre este projecto fantástico? É aquihttps://www.intelligentliving.co/mexican-artist-turns-1527…/










via
Cultures of Resistance

O que me ri hoje com uma turma



... à conta da apresentação oral de trabalhos na aula de inglês. Um deles a contar-me que a meio da apresentação do trabalho não se lembrava como se diz, ´férias' e então disse, 'I went abroad on féuriáss' e depois, de cada vez que tinha de dizer férias (o trabalho era sobre o que tinha feito nas férias) era assim que dizia. Oh, meu Deus, deu-me um ataque de riso que não conseguia parar porque depois outros puseram-se a dizer as barracas de outros colegas. Só visto... gosto mesmo desta turma... os miúdos não estudam nada mas têm um piadão...

Verde desenraizado



Ivan.Shishkin (1832 - 1898)
Sandy Coastline, 1879

O CDS tornou-se um partido de pilinhas unidos. São os pilinhas



Não têm Joacines mas também não têm mais ninguém a não ser os pilinhas unidos. Das mulheres que existiam na direcção do partido não sobra quase nenhuma e nenhuma mesmo em lugar importante, apesar de terem várias, entre as quais a Cecília Meireles, com muita qualidade. De modo que não sei de que é que este puto pilinhas (Chico dos Santos) se gaba... o PS (pilinhas sonsos) também é um partido de pilinhas...


Hoje, à saída de uma audiência com o Presidente da República, o líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos comentava a relação entre a direção do partido e o grupo parlamentar centrista, tendo manifestado uma "confiança inabalável em todos os deputados no CDS"."

Diário de bordo




Há bocado dei um apoio a duas miúdas que vão fazer teste amanhã e usei o teste que dei hoje noutra turma para elas fazerem exercícios. Descobri que um dos exercícios está mal formulado. Pus uma conectiva no dicionário do exercício... que grande chatice. Vou ter que considerá-lo certo a todos os que fizeram essa versão... entretanto dei esta explicação às miúdas que vão passar a ter este apoio mas ainda não fiz o papel para o director autorizar e depois os pais, que foram quem pediu o apoio mas têm que assinar a autorização. Porcaria de papéis! Tenho lá tempo para isso! Este ano tive que comprar um caderno para ir escrevendo todas as tarefas das DTs porque senão perco-me, de tal maneira as DTs são complicadas, sempre a requerer comunicações aos pais, à direcção, à CPCJ. Depois as faltas... e anulam e desanulam disciplinas... meu Deus! Os tempos que tenho para a DT não me dão para nada. Outro dia só para enviar cartas, gastei meia-hora na secretaria...
Uma coisa é resolver os problemas das turmas outra é ter que fazer 500 papéis para tudo. Ainda nem consegui fazer as actas das reuniões de pais e para a semana já há reuniões intercalares!
Hoje à noite ainda tenho que fazer um teste diferente para uma rapariga que esteve doente. Chiça! A única coisa que me consola é que entre o trabalho, a queda e outras coisas que não interessa dizer, esta semana já perdi 3 quilos... não tenho fome e não consigo comer... hoje, agora mesmo ao fim do dia, que estávamos meia dúzia de pessoas na sala de professores, toda a gente me dizia que estou com um ar muito cansado. Têm sido muitas coisas a puxar para baixo... os alunos, no entanto, puxam-me para cima. Hoje nem me consegui zangar com dois miúdos que quase não fizeram nada no teste -não estudam nada, nada- porque têm imensa piada na maneira como dizem as coisas.
Enfim, vou jantar, agora que a casa já aqueceu um bocado.

A poesia afia-se e consome-se no momento



Comprei estes lápis na loja do convento de S. Vicente de Fora. Gosto deles todos e como a poesia são emoções voláteis de sentimentos persistentes, cada um e todos têm o seu momento. Agora mesmo que me preparo para sair de casa para a escola, vou cantando o Gomes Leal (os deuses são mortos ou caídos) mas mais logo à noite, que pressinto ser uma noite de inquietação e poesia, terei outro a habitar o pensamento.


🍀 Tons de verde



Resolvi mudar de cor, por assim dizer. O que tem que ser tem muita força. Como geralmente marcho ao contrário do pelotão, agora que a cor pantone oficial do ano é o azul, vou explorar o verde. Verde claro, verde cré, verde escuro, verde esmeralda, verde garrafa, verde seco, verde fluorescente, verde maçã, verde pistácio, verde veronese, verde menta, verde floresta, verde água, verde islão, verde amarelado, ver-cinza, verde-azulado, verde peridotite, verde azeitona, verde limão, verde profundo, verde relva, verde desmaiado, verde alface, verde pálido, verde tropa, verde primavera, etc.






























Outro dia comprei este livro.
Começa por dizer que o verde é uma cor ambivalente. Por um lado é símbolo de vida e esperança e, por outro, símbolo de desordem, veneno e tudo o que é demoníaco. Difícil de produzir, instável do ponto de vista químico, tanto na pintura como na tintura, é associado à mudança, à sorte, ao dinheiro. Só no período romântico se tornou definitivamente a cor da natureza.



Hoje em dia é associado à ecologia e dá o nome a um tipo de economia que assegure a vida sustentada no planeta.

Uma cor não ocorre sozinha. Do ponto de vista social, artístico e simbólico só ganha sentido e funciona em relação a outras cores.



Um fresco de Pompeia
















Ao contrário dos gregos, os latinos não têm dificuldade em nomear a cor verde: viridis, de onde variam todos os nomes que a cor leva nas línguas latinas. Etimologicamente, viridis está ligada a uma família de nomes que evocam vigor, crescimento e vida.



Perfixos latinos: perviridis, verde denso e escuro; subviridis, esverdeado, verde pálido; virens, adjectivo usado metaforicamente para caracterizar juventude, ardor e coragem; prasinus, verde alface mas às vezes um verde profundo; herbeus, verde relva; glaucos, um verde acinzentado; galbinus, entre o amarelo e o verde; smaragdinus, um verde esmeralda; Mas para os latinos, viridis é o nome geral que atribuem à cor verde.


















A bandeira portuguesa da República tem o verde como cor da esperança.






O Veronese era excelente com os tons de verde como se vê aqui neste, Suicídio de Lucrécia.



Quem tem medo de 'Luanda leaks'



Muita gente que tem a ver com o caso, mais muita outra que tem a ver com o denunciante Rui Pinto, não neste caso que envolve Isabel dos Santos, mas no outro que envolve os negócios sujos da bola que por sua vez envolve negócios sujos da política. Só assim se percebe estas vozes que se levantam contra o uso do material entregue por Rui Pinto.

Não sei ao certo os pormenores da lei que impede que se use qualquer meio para atingir o fim de apanhar criminosos, mas parece-me um bom princípio, quer dizer, o de impedir que as forças de segurança se tornem, elas mesmas, criminosas, à conta do objectivo de quererem descobrir crimes e quem os cometeu. No entanto, já não me parece razoável, tendo tropeçado em provas que incriminem criminosos, ignorá-las só porque estavam na mão de alguém acusado de crimes, se as ditas provas são fortes.

Se estivéssemos na presença de crimes de sangue o caso nem se punha. Vejamos: na captura de um criminoso, íamos dar com provas de assassinatos onde se revelava o nome dos assassinos. Mas deixaríamos os assassinos à solta, sabendo quem são e tendo provas, apenas porque se encontraram as provas contra eles na casa de outro que se andava a perseguir? É evidente que ninguém defenderia tal loucura.

É o que se passa neste caso, com a diferença de não serem assassinos e por isso parecer menos grave. Mas não é: pessoas que desviam milhões e milhões e os lavam e os escondem em paraísos fiscais são pessoas que, embora indirectamente, condenam à pobreza e à morte prematura muitas centenas ou milhares de pessoas. E os que os cometem sabem bem disso, tanto que os que ainda têm réstias de consciência, suicidam-se... os outros fogem que nem ratos.

Por isso, só se percebe este afã em querer apagar os documentos de Rui Pinto e, se possível, atirá-lo para a oubliette, por parte de quem tem medo que os documentos revelem muitas outras coisas adjacentes e que, pior ainda, admitindo-se as provas de Rui Pinto neste caso, isso seja um precedente para que se admitam provas dele em outros casos, como os do futebol...

O facto de Rui Pinto ter roubado informação deve ser objecto de julgamento próprio (se ele o fez com intenção de extorsão, isso parece-me o mais grave), mas aquilo que ele obteve, se de facto expõe criminosos, não pode ser ignorado, pois nesse caso a lei protege os criminosos, o que não pode ser.

Provas conseguidas por Rui Pinto tramam Isabel dos Santos

Cooperação entre justiça portuguesa e angolana terá de ser executada. Portugal vai ignorar lei interna.

Um outro Costa, à espera que chegue o seu tempo




Na ânsia de mostrar serviço, Medina andou mal e fez uma triste figura, com muita cumplicidade dos media. O candidato a ‘delfim’ de Costa perdeu a cabeça… (Dinis de Abreu)

(Medina desviou dinheiro do Fundo da Segurança Social -dinheiro de pensões- para investir em política de habitação -uma ideia defendida por Costa- com o fito de fazer um brilharete e capitalizar votos e quando o Tribunal de Contas o denunciou virou-se com violência contra o tribunal)

Políticas educativas? Para quê? Venham daí as novelas




Filinto Lima é fã de uma série que passa na TV e que lhe faz recordar os tempos da sua juventude, por certo. Declara logo ali que devia ser conteúdo de aulas... porquê introduzir a Sophia no programa, porque dar a História pelos historiadores, se podemos ver novelas?
É isto a política educativa portuguesa: cada um que tem uns 'gostos' ou um fetiche por uma pedagogia ou umas ideias de café sobre o que 'é giro', usa o seu poder para fazer uma reformazinha curricular à medida das suas preferências... há muito diretores que impõem nas escolas os seus gostos pessoais... assim não vamos lá.

E é esta riqueza ímpar de informação, para os mais jovens perdida no século XIX, que a coloca no patamar de série de culto, com conteúdos que merecem ser explorados nas escolas, de forma interdisciplinar, nas aulas de História, Português, Educação Visual, Educação Tecnológica, Educação para a Cidadania, entre outras, porque permitem alavancar conhecimentos transversais, essenciais na descoberta da nossa identidade nacional, do sentido que é ser português, propiciando aprendizagens significativas e cativantes.

Confesso fã da série, (Filinto Lima)

O amianto nas escolas



Não sei até que ponto não apanhei esta doença que tenho na altura das obras na minha escola onde andámos a trabalhar, durante muito tempo, no meio das obras, com o pó de amianto no ar, a espalhar-se por todo o lado. Não fui a única pessoa que desenvolveu esta doença ou outras respiratórias. Talvez isso tenha precipitado uma certa vulnerabilidade que já existia devido a ter sido uma fumadora. Não sei, mas sei que é um risco, este de ter as escolas com amianto, que as pessoas não deviam correr, agora que se sabe o mal que faz. Como o Costacenteno se move em edifícios diferentes, não querem saber disso para nada.

A Longa Lista Negra das Escolas
André JuliãoCamarate, Seixal, Barcelos, Santiago do Cacém, Oliveira do Hospital. A lista continua, para norte, para sul, para o litoral e para o interior. Uma longa lista negra construída de raiz com base nas preocupações de mães, pais, professores, diretores. São nomes de escolas públicas, locais onde é suposto ensinar, aprender, conviver, crescer e amadurecer.

Escolas, todas elas com materiais contendo amianto que há muito terminaram o seu ciclo de vida. Escolas onde chove nas salas de aula, nos pavilhões desportivos (aquelas que os têm), onde os alunos se recusam a usar as casas de banho de tão degradadas que estão, onde passam frio ao ponto de quase entrarem em hipotermia, onde correm o risco diário de serem atingidos por telhas ou tetos falsos. Este é o retrato atual da escola pública no país real, pintado por quem o vive diariamente.

Num país consciente, poder-se-ia dizer que estamos perante uma emergência nacional e que seria urgente traçar (e cumprir) um plano estratégico para a remoção do amianto das escolas e para a requalificação do parque escolar. Afinal, é a saúde das crianças e restante comunidade educativa que está em xeque. Seria lógico, racional, evidente até. Para mim, para si e para, arriscaria, a grande maioria dos leitores deste jornal.

“Só neste país”, podia o caro leitor dizer entredentes, entoando a popular canção de Sérgio Godinho. Então, o que dizer se soubesse que o ministro Centeno destinou, no Orçamento do Estado para 2020, uma “generosa” verba de 20 milhões de euros para remover materiais com amianto de todos os edifícios públicos, menos de 5% do necessário?

O que diria então se, apesar de haver uma lei de 2011 que assim o obriga, o Governo se recuse a tornar pública uma lista pública e atualizada de edifícios públicos com materiais contendo amianto? E mais, que não divulgasse sequer o nome das escolas que ainda contêm este material comprovadamente cancerígeno e muito menos um calendário de intervenções para a sua remoção?

Diria talvez que “estamos entregues à bicharada” ou que “isto é a república das bananas”. Então o que dizer quando soubesse que o Ministério da Educação andou o mês de dezembro de 2019 a telefonar para os diretores de várias escolas da Área Metropolitana de Lisboa a perguntar se ali há amianto? Ou que escolas que nunca conheceram qualquer intervenção estivessem oficialmente dadas como livres de amianto? Ou ainda que existem escolas onde as obras ficaram a meio e funcionam com pavilhões descarnados e telheiros de fibrocimento empilhados mesmo no meio, onde os alunos convivem e brincam?

É nestas escolas que o ministro Tiago Brandão Rodrigues quer que os nossos alunos passem mais horas – das 9h às 17h – e onde a grande prioridade é “uma iniciativa nacional para a melhoria da Internet”. Só mesmo neste país. Um país onde há um Orçamento do Estado com 800 milhões para injetar num banco, onde facilmente se descobrem 250 milhões para contribuir para a Agência Espacial Europeia ou onde até, com simplicidade, se afetam 21 milhões para construir um pavilhão na Expo 2020 no Dubai.

All the more reason to resist the march toward a literary culture without love.



Literature, after all, is precisely that which is not bounded by “inflexible laws.” This does not mean it escapes those laws entirely, whether the laws of nature or the lawlike relations that govern our political and social lives. Literature is about life and thus contains everything in it that life contains—including politics, history and certainly disappointment. But when we read something that moves us to tears or laughter, pity or terror, conviction or bewilderment, it is because it reminds us that the “real” is not always disenchanted, our lives not always reducible to the conditions of their possibility. Perhaps we do live in a time, as our greatest poet of disenchantment once described it, of “specialists without spirit, and sensualists without heart.” All the more reason to resist the march toward a literary culture without love.


January 27, 2020

Memória




Texturas, relevos, ondas
volutas de fumo cinza
traços do andar na areia
cornucópias de veios de seiva
paisagem de foto aérea
picos de dunas desertas
serpentes de bela medusa
cabelos crespos do vento.
Arte
alento
alimento
deixa-me a pensar....invento.

bja

Words



A fool I was to sleep at noon,
And wake when night is chilly

Christina Rosseti


Chopin ao entardecer




A Fantaisie-Impromptu de Chopin transcrita para harpa é completamente onírica.

Mesmo 😄




1917



Fui ver este filme. O filme é menos sobre a guerra e mais sobre o heroísmo de que são capazes algumas pessoas. Nem sequer ficamos a perceber ao certo como era a vida nas trincheiras embora se perceba muito bem a dimensão gigantesca das trincheiras, de ambas as partes e, o horror que são todas as guerras: caos, violência gratuita, sofrimento e perda.
Uma realização muito boa, bons actores. Quase todo filmado num tom sépia que faz lembrar lama seca. Uma música espectacular.

Finalmente vou acabar a LPC




Estou um bocado farta de inventar exercícios de Lógica (cada turma leva 2 versões, são 3 turmas...) e isso não é o mais importante na Filosofia. Só me consolo em pensar que fico com uma base de dados grande para depois editar em outros anos. Amanhã e quarta vou dar teste às turmas e depois mudo de tema.
Há bocado, à conversa com o meu filho, cheguei à conclusão que, ao contrário de muitas pessoas que conheço (a maioria) que ao entrarem na reforma ficam meio perdidas sem saber o que fazer, eu entrava na reforma na boa. Enfim, se não me dessem uma reforma miserável... o que quero dizer é que, apesar de gostar do meu trabalho, de trabalhar com adolescentes alunos e por vezes me entusiasmar muito com uma turma ou com um projecto e isso, se amanhã me reformasse ficava bem. Tenho uma pilha de livros para ler, muitos coisas para escrever, algumas começadas, muita arte para ver, música para explorar, amigos com quem conversar, gosto de cozinhar e nos últimos anos deixei um bocado isso, gosto de viajar, gosto de caminhar e se um dia tivesse um neto/a gostaria dessa relação. Acho que tenho um pendor para a pedagogia...

Já fiz na minha profissão tudo o que havia a fazer (excepto estar na Direcção que é coisa que não me cativa) e tudo o que tinha a provar já provei e tenho resultados que o mostram. Agora só trabalho para ajudar alunos a desenvolver o seu potencial (isso é o que mais gosto na profissão e sei que o faço bem, quer dizer, muitos alunos que estão bloqueados e nem o sabem e eu sei como desbloqueá-los - é um desafio), dentro do que me deixam. Se deixo coisas inacabadas, como no ano que fiquei doente e fui de baixa o 3º período sabendo que os alunos ficavam sem professor, isso incomoda-me, caso contrário, findo o ano arrumo o assunto e faço outras coisas.

Nos anos que estive em Bruxelas não me lembro de uma única vez ter acordado com saudades da escola. Estava tão ocupada a explorar, a ler, a estudar, a conhecer países, a visitar museus e ainda por cima fiz lá uma amiga, de modo que nunca tive saudades da rotina do trabalho. De algumas pessoas, colegas, sim.
Acho que é por isso que muita gente fica perdida. Porque lhe faltam interesses. Mas isso tenho de sobra, felizmente. Quando vim morar para Setúbal achei a cidade tão culturalmente pobre que resolvi fazer da minha casa uma ilha cultural (senão tinha voltado para Lisboa porque me é difícil viver sem esses bens) e, logo depois quando tive um filho, ainda o fiz mais conscientemente, quer dizer não deixar que o sítio onde ia crescer condicionasse os seus horizontes. Herdei isso da minha mãe que era uma pessoa especial. Enchi a casa de livros e de música e de arte e de jogos - no que era por vezes estranhada, dado o dinheiro que gastava nestas coisas, mas parecia-me, e parece-me ainda que, se vimos ao mundo e não sabemos nem fruímos das suas possibilidades, não vivemos, verdadeiramente. Além disso, quando o mundo exterior fica difícil, o mundo interior salva-nos.
E sei desde muito nova que educamos pelo exemplo, não pelos sermões.

Acaba de cair-me no email o resultado das análises ao sangue de hoje de manhã. Vou ver. Ciao.

Não é verdade que baste um homem louco



... para criar Auschwitz, como ouço dizer a alguns agora mesmo na TV.
É preciso muita gente. Muitos actos de cedência, de cumplicidade e de conivência, activa e passiva. Os diários de Victor Klemperer (1881-1960), judeu alemão, mostram isso muito bem. A decadência gradual do quotidiano, os pequenos passos que levaram à normalização dos grandes crimes.

Estes diários são um excelente instrutor porque Victor Klemperer era um indivíduo muito lúcido e empresta-nos a sua lucidez, a sua reflexão sobre o alcance dos pequenos passos que via todos os dias serem dados no caminho do mal. De modo que ajuda-nos a reconhecê-los, no nosso próprio quotidiano.

Acontece-me frequentemente ver certas pessoas fazer certas acções e transpô-las imediatamente para outras dos diários dele e reconhecê-las pelo que são: passos dados em direcção ao mal.