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January 06, 2022

Epituméticos desengolidos




(...)
Toma comprimidos, criança
Toma comprimidos

prozacs sem risos de esperança
epituméticos desengolidos.
Cassandras da desgraça.

Se passares por aqui, 
amigo
dá-me a mão
leva-me contigo 
à hora primeira do nascer do sol
quando a esperança é inteira
ao abrir dourado do girassol.
bja

November 23, 2021

Insombrável

 


© Angus Clyne


quando a última folha do sicómoro 

de raízes profundas, cair

e os ramos nus perderem

a sua camuflagem

o coração ficará insombrável


em tempos amei as árvores 

na primavera 

vestidas de folhas

engalanadas de flores


mas agora vejo os ramos 

nus, para além das folhas

e amo as formas de Inverno

expostas

insombráveis


   — bja


July 19, 2021

Incompletos

 


E metade do tempo é vida
e a outra metade é nada
sono, fuga, pedra dura
cansaço, destruição.

E metade da vida afirma
e a outra metade nega
(...)


July 06, 2021

Sem título

 



V
a conclusão de que não há abismo, e que a infância não
pára de desenvolver-se e crescer,
é um novo princípio de realidade, de morte, de velhice:
eu não deixo de viver no mundo interior e exterior das
metamorfoses flutuantes; é já dia, mas a noite que con-
duz a esperança no pensamento, e sobre si própria, não
acabou.
Não acabou definitivamente;
onde estará, protegendo-se da luz, o sapo que brilha?
Eu tenho a intuição, Aramis, de que os monstros
são as tentativas mais puras do Universo.
«Olha-os, e não os mates.»

   — Maria Gabriela Llansol / 2004 (o raio sobre o lápis)

January 01, 2021

(incompletos) Des-escrevo-me

 

Des-escrevo-me

desfaço frases 

parto o fio de Ariadne

que  ainda me enlaça

puxo-o

devagar

desfaço os pontos

das flores rendilhadas

com o amor do tempo

palavra por palavra

letra por letra

até regressarem ao estado de 

in-significado.


des-lavro-me

arranco

uma por uma 

todas as sementes 

lançadas so solo

regadas

com o amor do tempo

quero-as arrastadas

pela violência das

enxurradas de Inverno

antes que regresse a Primavera

tempo de recomeço.


Des-exponho-me

recolho o coração 

fecho-o no peito.

(...)

bja


December 13, 2020

"Se ainda sopra vento"

 


São centenas de folhas caídas à minha porta. É assim desde o Outono, quando caem à minha porta, quando caem folhas mortas, à porta de todos.
É assim que as coisas são, como parte de um ciclo que se repete ano após ano, estação sobre estação. A mim me sobra o trabalho de as varrer e recolher do chão. E foi assim naquele dia, como tantos outros antes dele.
A cada monte que ajuntava, o vento vinha, soprava, como que se lhes desse vida. Eu, voltava atrás e recomeçava, uma e outra vez. O vento, esse, parecia fazer pouco de mim. Imagino até que me olhasse escondido por detrás da figueira despida, e assim que eu virava costas, soprava sobre o monte de folhas secas que me preparava para recolher.
Já cansado, frustrado, por tanto tempo e esforço desperdiçado, por fim decidi sentar-me na soleira da porta.
Dali, observei o voar incerto, desordenado, sem destino, das folhas mortas.
O que o vento tinha para me ensinar,
Acabei então por perceber,
Se ainda sopra o vento…
Não é tempo de varrer


Luís M Guerreiro

March 27, 2020

poesia ao anoitecer - em construção



Oh noite rumorejante

dos negros silêncios dos campos
cortados pelo ciciar das cigarras
nos anos de cálidas
Primaveras


Oh noite rumorejante

aroma viçoso do tempo
deleite ameno
noite sem pressa
de promessa
ao relento

Noite rumorejante

bja

February 29, 2020

Nem tudo obedece ao devir



Não é verdade que tudo passa
e no tempo se desfaça
- nem tudo obedece ao devir
quem diz que tudo desaparece
nunca soube o que é sentir.

Se a vida fosse apenas
a força contrária da morte
uma e outra eram as mesmas
duas faces da mesma sorte.

bja

January 27, 2020

Memória




Texturas, relevos, ondas
volutas de fumo cinza
traços do andar na areia
cornucópias de veios de seiva
paisagem de foto aérea
picos de dunas desertas
serpentes de bela medusa
cabelos crespos do vento.
Arte
alento
alimento
deixa-me a pensar....invento.

bja

November 07, 2019

Caminhos



Escolhemos o caminho 
ou escolhe-nos ele a nós?
Se somos nós que o escolhemos
estamos completamente sós;
mas, se o caminho nos escolhe,
vela alguém por nós?

Não creio em contornos marcados
prévios ao caminhar
mas creio em sulcos vincados
para onde somos empurrados
por quem cruza o nosso andar.

bja