April 14, 2024

America's shameful appeasement of Putin




@GlasnostGone

President Zelensky tonight is rightly angry at America's shameful appeasement of Putin. "It is not rhetoric that protects the sky, it is not opinions that curb the production of missiles and drones for terror. And the fact that sanctions against Russia are still being circumvented, and that we in #Ukraine have been waiting for months for a vital support package – that we are still waiting for a vote in Congress – shows that the terrorists' confidence has been on the rise for months as well. We cannot waste any more time." https://president.gov.ua/en/news/dopomoga-ukrayini-dosi-obmezhena-rosiya-dosi-maye-dostup-do-90297

Para quem gosta de Bell Witch

 

Bell Witch é uma banda de metal doom como se percebe logo desde o início desta música. O disco tem cerca de uma hora e meia com duas partes, As Above e So Below (esta a começar aos 48:03 minutos) . Começa com o som de sinos e um tom de beat profundo que lhe dá a atmosfera apocalíptica, mas depois evolui para uma espécie de coro a evocar uma espiritualidade de rituais e de monges numa atmosfera nostálgica e melancólica. É uma música com texturas densas e por vezes cavernosas. 
Na 2ª parte tem a voz de Adrian Guerra, co-fundador da banda e baterista, que morreu em 2016, com 36 anos, de um problema do coração, um ano antes deste album sair. Li que foram buscar gravações não usadas no album anterior e incluíram-nas aqui.
O álbum é muito longo e a evolução é tão lenta que em vez de despertar emoções, desperta um estado de consciência meditativa, tal como as pinturas de Rothko, onde parece que nada se passa. Aliás, quando penso que são pessoas que estão a tocar a música, parece-me que devem estar num estado de consciência alterada para tocarem esta atmosfera intercalada de suspensão e abismo.

👉 Para os amantes de Bell Witch: a banda vem tocar no SWR Barroselas Metalfest, que tem lugar entre os dias 24 e 27 de Abril de 2024, em Barroselas, Viana do Castelo.  Se eu tivesse outra idade não perdia a oportunidade de ir ouvi-los tocar o album mais recente, Future’s Shadow Part 1: The Clandestine Gate. Se o som deles no portátil é assim, imagine-se o que será estar imerso nesta atmosfera. 


A Europa tem de se unir e reconstruir as defesas e não esperar pelos EUA

 


E há pressa nisso. Se Trump ganhar a eleição penso que a democracia americana não sobrevive a esses 4 anos de destruição. No primeiro mandato de Trump ele era ainda inexperiente nos métodos, nos processos e no exercício do poder, mas aprendeu e tornou-se ganancioso e se for para lá outra vez vai dedicar-se , primeiro à vingança e depois ao roubo de uma maneira sistemática e destruidora. E ele segue Putin na ideia de enfraquecer a UE. Ele pensa que uma Europa fraca é bom para os EUA. De maneira que a Europa tem de se unir e reconstruir as defesas e não esperar pelos EUA. Estou convencida que a Ucrânia vai ganhar esta guerra, justamente porque estão unidos e determinados. A Europa tem de estar assim, também.
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The Netherlands has allocated an additional one billion euros ($1.1 billion) in military aid and 400 million euros ($425 million) for reconstruction. 
The Netherlands has also spearheading the fighter jet coalition and pledging to deliver 24 F-16 jets to Ukraine. 
Thank you, The Netherlands!

    - Jake Broe



Dear @NATO

 


Ontem à noite, a #Jordânia abateu vários drones e mísseis que foram disparados do Irão e entraram no seu espaço aéreo, visando Israel. Por favor, sejam mais como a Jordânia da próxima vez que os mísseis russos entrarem no espaço aéreo da NATO. Obrigado.

Citação deste dia




“The death of human empathy is one of the earliest and most telling signs of a culture about to fall into barbarism,” -- Hannah Arendt

Há aqui qualquer coisa que me escapa




É que não me lembro de ver Israel condenar a invasão da Ucrânia ou os bombardeamentos diários da Rússia sobre a Ucrânia...


Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський

@ZelenskyyUa

A Ucrânia condena o ataque do Irão a Israel utilizando drones e mísseis "Shahed".
Nós, na Ucrânia, conhecemos muito bem o horror de ataques semelhantes por parte da Rússia, que utiliza os mesmos drones "Shahed" e mísseis russos, as mesmas tácticas de ataques aéreos em massa.
Devem ser envidados todos os esforços para evitar uma nova escalada no Médio Oriente.
As acções do Irão ameaçam toda a região e o mundo, tal como as acções da Rússia ameaçam um conflito mais vasto, e a colaboração óbvia entre os dois regimes na propagação do terror tem de enfrentar uma resposta resoluta e unida do mundo.
O som dos drones "Shahed", um instrumento de terror, é o mesmo nos céus do Médio Oriente e da Europa. Este som deve servir de alerta para o mundo livre, demonstrando que só a nossa unidade e determinação podem salvar vidas e impedir a propagação do terror a nível mundial.
O mundo não pode ficar à espera que as discussões prossigam. As palavras não param os drones e não interceptam os mísseis. Só a ajuda concreta o faz. A assistência que estamos a antecipar.
Temos de reforçar a segurança e combater resolutamente todos aqueles que querem fazer do terror uma nova normalidade.
É fundamental que o Congresso dos Estados Unidos tome as decisões necessárias para reforçar os aliados da América neste momento crítico.


Palavras sensatas

 

Sviatlana Tsikhanouskaya

@Tsihanouskaya

Os regimes autoritários começam sempre com violência contra o seu próprio povo - veja-se Minsk, Moscovo, Teerão - antes de passarem à guerra. É por isso que é tão importante tomar medidas contra as violações internas dos direitos humanos; caso contrário, a violência alastrará e transformar-se-á em conflitos globais.

Guterres tem andado a dormir

 


E quando acorda toma as decisões erradas: a Rússia invade brutalmente a Ucrânia e ele vai a correr falar com Putin; o Hamas ataca Israel duma maneira contrária a qualquer princípio da organização que lidera e ele diz que é preciso compreender as razões deles. Sendo uma das pessoas com maior influência no mundo, tomou decisões que influenciaram dinâmicas e caminhos contrários aos princípios da ONU. E o pior de tudo é que parece pensar ter agido muito bem.


Embaixador de Israel na ONU critica António Guterres: "Acorde!!!"


O embaixador de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, exigiu ao secretário-geral da ONU, António Guterres, que condene o ataque iraniano.“O Irão violou a carta das Nações Unidas e demonstrou que é uma ameaça à paz global e à segurança”, escreveu no X. “Onde está a sua voz?? Onde está a sua condenação?? Acorde!!!”.

Minutos depois Guterres, reagiu ao ataque iraniana, dizendo que condena “fortemente” a “escalada séria” representada pelo ataque do Irão. “Nem a região, nem o mundo, podem dar-se ao luxo de ter outra guerra”, afirmou.

A missão do Irão nas Nações Unidas confirmou que este ataque é em retaliação ao ataque israelita à embaixada em Damasco e declarou que agora “o assunto pode dar-se por concluído”.

"A missão do Irão nas Nações Unidas confirmou que este ataque é em retaliação ao ataque israelita à embaixada em Damasco e declarou que agora “o assunto pode dar-se por concluído”. 
[Sim? então o ataque ao cargueiro português é uma retaliação de quê?]

"A decadência da Europa: Respeitar os eleitores é agora visto como um sinal de fraqueza"



Não estou de acordo com a parte da decadência da Europa,  que não se reduz aos seus políticos e não concordo com a ideia de que a União Europeia esteja pior como um todo, mas estou de acordo com o que ele diz dos políticos: completamente divorciados das populações, entretêm-se a «fazer coisas» para não terem que resolver problema nenhum. Ademais, pensam que ouvir os eleitores é uma fraqueza, o que advém, penso, do crescimento do paternalismo e autoritarismo dos políticos em geral.

Também discordo da ideia dele que apoiar a Ucrânia e impor sanções à Russia foi um erro. Penso o oposto disso e parece-me que aí o problema foi o tempo que se levou a decidir firmemente que esse era o caminho. Ainda agora se hesita em dar-lhes meios de defesa. Se se tivesse agido com determinação acredito que esta guerra já tinha sido resolvida. Também ninguém contava com o abandono dos EUA da sua promessa de protecção da Ucrânia.

(dúvida: Centeno perdeu 2 mil milhões do nosso dinheiro pela mesma razão que o Riksbanken aqui citado?)


A Europa enfrenta a morte pela decadência 

Respeitar os eleitores é agora visto como um sinal de fraqueza

Malcom Kyeyune (escritor freelancer que vive em Uppsala, Suécia)

A última semana da política sueca foi um caso misterioso. Num comunicado de imprensa pouco divulgado, o Riksbanken - o banco central da Suécia - anunciou que tinha perdido cerca de 44 mil milhões de kr (3,2 mil milhões de libras) e que precisava desse dinheiro do Estado para voltar ao nível mínimo de capitalização estipulado pela lei. Para um país pequeno como a Suécia, trata-se de uma soma muito elevada: representa metade do que o Estado gastou na defesa durante o ano fiscal de 2023.

As razões deste novo buraco no orçamento não são particularmente singulares: como todos os outros países ocidentais, a Suécia habituou-se demasiado a que as políticas de juro zero fossem o novo normal e só tardiamente se apercebeu da nova realidade, trazida pelas subidas de juros pós-Covid. Assim, o banco central entrou num jogo de compra em alta e venda em baixa: carregou-se de obrigações numa altura em que as taxas de juro eram baixas, para depois as descarregar quando as taxas subiram e a economia começou a piorar.
Se quiséssemos condenar o banco central de modo fraco, poderíamos pelo menos dizer que não está sozinho nesta situação: o Reino Unido sofre de problemas muito semelhantes e grande parte da Europa está presa num profundo mal-estar económico. Mas isso não altera os factos no terreno: o Estado sueco, que tencionava aumentar as despesas com a defesa para fazer face à ameaça da Rússia, vê-se agora sem dinheiro no banco. Assim, aproxima-se um momento de escolhas muito difíceis: ou o Governo abandona a ideia destes investimentos na defesa (muitos dos quais são estritamente necessários para compensar o que já foi cedido em nome da Ucrânia), ou se envolve numa austeridade muito dolorosa e muito impopular noutras áreas.

Poder-se-ia pensar que uma catástrofe orçamental como esta seria objeto de grande cobertura, mas isso seria completamente errado. Em vez disso, o debate público na Suécia, nos últimos dias, tem sido consumido por uma história muito diferente que, quando conjugada com as notícias deprimentes do Riksbanken, confere um ar de crescente absurdo ao estado da política, tanto na Suécia como na Europa em geral.

No centro deste drama recente está uma lei controversa que pretende tornar mais fácil a mudança de género. Em teoria, esta deveria ser uma história de guerra cultural aborrecida e familiar, uma história de políticas "woke" contra conservadores supostamente tacanhos. Mas a realidade é por vezes muito mais estranha do que a ficção: actualmente, a Suécia é governada pela direita, não pela esquerda, e é o partido moderado que está implicado na aprovação desta lei. 

O primeiro-ministro da Suécia - Ulf Kristersson - está, portanto, a liderar o esforço para baixar a idade em que se pode mudar o género legal de 18 para 16 anos, apesar de uma maioria maciça da sua própria base eleitoral ser contra esta mudança. Para piorar a situação, o seu grupo parlamentar também se opõe, embora esteja a ser pressionado para votar a favor. E, para cúmulo, algumas das críticas mais ferozes à lei vêm da esquerda, onde há profundas preocupações com as promessas de facilitar o acesso a cirurgias irreversíveis.

Por outras palavras, a direita sueca está ocupada a instituir uma reforma de esquerda que uma parte significativa da esquerda não quer, com a objeção firme de muitos políticos de direita e em total contradição com os desejos dos eleitores de direita. Assim, a confusão é total: porque é que os moderados gastariam toda esta energia numa questão que só promete fazer com que os seus próprios eleitores se sintam desanimados?

Se recuarmos um pouco, torna-se claro que este tipo de circo político se enquadra num padrão mais vasto e pan-europeu. Embora o desastre no Riksbanken e o processo kafkiano para forçar a aprovação de uma lei que ninguém quer realmente possam parecer questões completamente separadas, são melhor entendidas como duas faces da mesma moeda. Como político, é fácil pensar que o seu trabalho é, antes de mais, ser visto a fazer alguma coisa, independentemente do que essa "alguma coisa" acabe por ser.

Neste ponto, podemos voltar a olhar para a Europa em geral: fora do establishment político, a guerra contra os agricultores nos Países Baixos e na Alemanha tem manifestamente muito poucos amigos e muitos inimigos amargos, mas continua. 

Em França e no Reino Unido, os políticos tocam agora os tambores da mobilização de massas e do regresso à guerra industrial total, apesar de as sondagens mostrarem que poucos estão interessados. Em vez de canalizar a vontade do eleitorado, a nova função de um número crescente de políticos parece ser a de ir precisamente na direção oposta àquilo que a maioria das pessoas deseja. 

Dar às pessoas o que elas querem, parecem dizer estes políticos, é um sinal de fraqueza. É uma capitulação perante o "populismo"; fazer o contrário do que querem as pessoas que o colocaram no cargo, pelo contrário, é visto como uma demonstração de força ou "bravura" necessária para enfrentar a suposta multidão.

De uma forma distorcida, esta lógica faz sentido. À medida que o espaço de manobra real diminui - à medida que a desindustrialização e o revés das sanções económicas contra a Rússia se instalam - há cada vez menos coisas populares que os políticos podem realmente fazer. 

Os líderes europeus colocaram-se claramente numa situação quase impossível, prometendo uma vitória total na Ucrânia, a derrota económica da Rússia e até mesmo a delimitação económica e o isolamento da China. Estes projectos estão agora a desmoronar-se, e as consequências desses fracassos fazem-se sentir gradualmente. Mesmo antes da guerra em grande escala na Ucrânia, antes da pandemia de Covid, a União Monetária Europeia estava claramente a coxear; o modelo industrial da Alemanha estava a sucumbir lentamente às suas contradições internas e o próprio projeto da UE estava a estagnar política e economicamente. Já em 2015, a única "solução" da UE para o tipo de estagnação económica observada em Itália era chutar a lata pela estrada fora. Agora, ao que parece, estamos a ficar rapidamente sem estrada.

A este respeito, recordamos o historiador francês Jacques Barzun, que publicou aquela que é provavelmente a sua maior obra, Da Aurora à Decadência, com 93 anos de idade. Nos nossos dias, é comum utilizar a palavra "decadente" como uma calúnia ou um juízo moral, mas o próprio Barzun tinha uma visão muito mais matizada:

"Tudo o que se entende por decadência é 'queda'. Não implica, para aqueles que vivem nessa época, qualquer perda de energia, de talento ou de sentido moral. Pelo contrário, é um tempo muito ativo, cheio de preocupações profundas, mas peculiarmente inquieto, pois não vê linhas claras de avanço... As instituições funcionam dolorosamente. A repetição e a frustração são o resultado intolerável. O tédio e o cansaço são grandes forças históricas".

No caso dos moderados suecos, parece que a visão de Barzun sobre a "decadência" se instalou de facto. Estão longe de ter falta de energia; de facto, parecem estar constantemente, freneticamente ocupados, a fazer coisas que eles próprios não compreendem e não querem. O horizonte de possibilidades parece ter-se fechado e só restam más opções: ou renegam as suas promessas de uma defesa robusta, ou optam por cumprir essas promessas através de medidas de austeridade impiedosas, garantidamente incrivelmente tóxicas para o eleitorado.

O resultado é uma espécie de hipertrofia, uma política esvaziada de qualquer sentido e significado. Mas os 'Moderados' não são os únicos; basta olhar para as batalhas entre Rishi Sunak e Keir Starmer para encontrar um caso ainda mais flagrante de uma classe política completamente divorciada do seu próprio eleitorado. 

Encontramo-nos, pois, numa situação peculiar: um mundo onde a popularidade e o respeito parecem cada vez mais inatingíveis para os políticos ocidentais e onde a impopularidade e a cólera se tornarão, em breve, a única verdadeira bitola para medir o sucesso. Claro que podemos acabar por fazer algo que ninguém nos pediu e que ninguém quer que façamos - mas pelo menos estamos a fazer alguma coisa.


Os putineiros são alienados

 

A Ucrânia enfrenta ataques de mísseis balísticos, bombardeamentos e UAV da Rússia contra os principais centros populacionais. Sofre isto todos os dias da semana, todas as semanas do mês, todos os meses do ano, desde há 2 anos.


Leituras pela manhã - as origens do nacionalismo

 


Ler as Comunidades Imaginadas num contexto de ressurgimento do nacionalismo

O que o relato clássico de Benedict Anderson sobre as origens do nacionalismo não revela sobre o mundo atual.

Samuel Clowes Huneke @schuneke

Sempre que aterro de novo nos Estados Unidos depois de uma viagem ao estrangeiro, sinto uma onda quente de familiaridade, um alívio por ter chegado a casa, à terra natal. É uma sensação curiosa para alguém como eu, um académico que já viveu no estrangeiro inúmeras vezes e que certamente não subscreve o nacionalismo "America First" da direita contemporânea. No entanto, é real, esse sentimento reconfortante de estar novamente rodeado pelos estranhos que constituem a minha "comunidade imaginada".

Houve um período, no final da década de 1990, em que as nações pareciam estar a desaparecer, nada mais do que um brilho quente no horizonte do século XX, uma sensação de formigueiro a que os académicos sentimentais se entregavam depois das viagens ao estrangeiro. Pensava-se que a globalização iria acabar com o Estado-nação, substituindo-o por um paraíso neoliberal de organizações não governamentais, empresas e direitos humanos universais. "O próprio facto de os historiadores começarem a fazer alguns progressos no estudo e análise das nações e do nacionalismo", opinou o grande historiador Eric Hobsbawm em 1992, "sugere que o fenómeno já passou do seu auge".

Trinta anos depois, o nacionalismo está de volta com uma vingança. Do governo de "Deus, pátria, família" de Giorgia Meloni ao movimento nacionalista hindu de Narendra Modi, passando pelos esforços de Vladimir Putin para reconstruir a velha Rússia imperial, o nacionalismo tem vindo a intensificar-se em todo o mundo, há já algum tempo.

Curiosamente, porém, o estudo mais conceituado sobre o nacionalismo continua a ser Comunidades Imaginadas, o livro de Benedict Anderson de 1983, no qual cunhou o famoso termo. Com quase meio século de idade e mais de 140.000 citações, é sem dúvida um dos trabalhos académicos mais influentes do final do século XX, responsável por cimentar a ideia de que as nações - longe de serem comunidades antigas que remontam aos primórdios da história - são, de facto, construções sociais e culturais recentes.

No entanto, ao voltar ao texto depois de mais de uma década, tinha-me esquecido completamente de que se tratava de um trabalho de erudição marxista. 
Para Anderson, começou por ser um esforço para explicar o que ele considerava um problema profundo para a esquerda socialista: nomeadamente, o facto de terem eclodido guerras entre Estados socialistas, especificamente a invasão do Camboja pelo Vietname em 1978 e a guerra sino-vietnamita de 1979. Para os socialistas, que tão frequentemente insistiam que "os marxistas enquanto tal não são nacionalistas", estas escaramuças colocavam um grave problema. Como é que um movimento que procurava unir o proletariado oprimido da Terra podia sucumbir a queixas nacionalistas mesquinhas?

O objetivo de Anderson era explicar a nacionalidade de uma perspetiva marxista, para compreender como as mesmas forças económicas que informam o pensamento socialista podiam também ser utilizadas para explicar o nacionalismo. O resultado é uma interpretação deslumbrante dos últimos 500 anos de história, demonstrando um domínio do material, pouco comum entre os escritores actuais.

Os reinos antigos, segundo Anderson, eram definidos por três características comuns. Cada um deles estava organizado em torno de uma determinada "língua-escrita", que oferecia a esperança da verdade divina - o latim, no caso da Europa cristã. Cada uma delas assentava numa crença na hierarquia concêntrica, normalmente manifestada como uma sociedade feudal em torno de um monarca. E, mais importante ainda, cada uma delas assentava num sentido de temporalidade, numa compreensão do tempo que não distinguia significativamente entre passado, presente e futuro. Mas no final da Idade Média e no início da Idade Moderna, as sociedades começaram lentamente a abandonar estas características, abrindo espaço para novas formas de pensamento e novas formas de pertença.


Segundo Anderson, a força do capitalismo moderno pôs de lado as antigas formas de ser, abrindo assim espaço para o aparecimento de nações. Estas novas "comunidades imaginadas" baseavam-se em línguas vernáculas, e não divinas. Foram concebidas como sociedades niveladas de cidadãos iguais. E estavam ligadas a um sentido profundamente histórico do tempo: A nação tornou-se protagonista da história; aquilo a que os alemães chamam uma Schicksalsgemeinschaft, uma comunidade do destino, "movendo-se firmemente para baixo (ou para cima) na história".

O capitalismo entra no relato de Anderson sob o disfarce da palavra impressa. Johannes Gutenberg, de Mainz, colocou pela primeira vez tipos móveis de metal no papel em meados do século XV. A sua Bíblia original foi impressa em 1455, e o "capitalismo impresso", como Anderson o baptiza, nasceu. 

Em 1500, cerca de 20 milhões de livros tinham sido impressos. Um século depois, esse número era de 200 milhões. Estes textos difundiram e padronizaram as línguas vernáculas e desafiaram a centralidade sagrada do latim - e, através dele, do cristianismo. Também tornaram possível a comunhão intelectual entre pessoas que nunca se tinham encontrado e que nunca se encontrariam. Nos lucros do capitalismo impresso estavam as sementes da comunidade imaginada.

É claro que se pode perguntar com razão: se o nacionalismo surgiu em grande parte devido à linguagem impressa, disseminada através de jornais e livros, o que é que lhe pode acontecer num mundo em que cada vez menos pessoas têm tempo para ler um artigo de jornal, quanto mais um romance? Poderá a nação sobreviver ao TikTok? Mas o objetivo de Anderson não era explicar as condições duradouras para o florescimento do nacionalismo, mas sim as circunstâncias do seu nascimento.

As primeiras nações surgiram nas Américas, fruto das primeiras colónias europeias - os vice-reinados da Nova Espanha e do Peru, o Brasil português e as 13 colónias. Os Estados modernos necessitavam de funcionários, burocratas, intelectuais e comerciantes que se deslocassem para cumprir as suas ordens. Mas as carreiras destes funcionários eram geograficamente limitadas. Enquanto um aspirante a diplomata da Espanha peninsular podia circular pelo México a caminho de um cargo mais elevado em Madrid, os que nasciam nas colónias podiam esperar nunca deixar a unidade administrativa do seu nascimento. E era pouco provável, por mais talentosos que fossem, que o soberano alguma vez os nomeasse para os mais altos cargos, mesmo lá. À medida que o seu número aumentava, começaram lentamente a formar uma classe que começou a pensar na unidade administrativa do seu nascimento como algo ligeiramente diferente e ligeiramente mais significativo: uma nação. No início do século XIX, a maioria das Américas estava organizada em estados-nação independentes, quase todos eles repúblicas.

Nesta altura, argumenta Anderson, o nacionalismo tornou-se um produto intelectual disponível para exportação - ou, como ele diz, "pirataria". À medida que os movimentos nacionalistas foram surgindo no continente europeu, os seus monarcas foram ficando cada vez mais preocupados (e com razão) com a possibilidade de o fervor nacionalista os poder derrubar dos seus tronos. Afinal de contas, a maioria das famílias reais eram importações estrangeiras: A Inglaterra, por exemplo, não é governada por uma família inglesa desde 1066 e não é governada por uma família britânica desde 1688. Que direito poderiam eles ter para governar um Estado-nação de britânicos?

Os soberanos da Europa reimaginavam-se assim como primi inter pares, primeiros cidadãos de nações pré-históricas. Os seus governos geraram "nacionalismos oficiais" que podiam depois ser exportados para as suas colónias africanas e asiáticas, onde os súbditos locais (não brancos) eram ensinados a ser bons ingleses, franceses e holandeses - e a ser bons administradores coloniais. Mas, mais uma vez, as suas carreiras eram interrompidas nos limites da colónia. Por muito bem educados que fossem, por muito bem que falassem inglês ou francês, por muito competentes que fossem, a cor da sua pele significava que nunca iriam além dos papéis que lhes eram atribuídos na hierarquia colonial. E assim, também eles começaram a imaginar-se como membros de uma comunidade coesa e antiga, uma nação que merecia ser um Estado, tal como a Checoslováquia, a Polónia ou a Suíça.

E assim, chegamos ao final do século XX, um mundo dividido em nações e estados-nação. O relato de Anderson é convincente, pois explica as circunstâncias económicas e geopolíticas que acompanharam o nascimento das nações e a sua perpetuação no mundo contemporâneo. Mas o que não consegue explicar, e o que o próprio Anderson parece não entender, é "o apego que as pessoas sentem pelas invenções da sua imaginação". Ou seja, "as pessoas estão dispostas a morrer por essas invenções". Por mais belos poemas de amor à pátria ou à terra-mãe (ou o que quer que seja) que cite, o quadro marxista de Anderson não consegue explicar a devoção que as nações inspiraram e continuam a inspirar.

O lapso resulta, talvez, do estranho e tenaz apego de Anderson à ideia de nação. Deixando de lado os "intelectuais progressistas e cosmopolitas", que chamam a atenção para a violência e o racismo do nacionalismo, Anderson concentra-se na forma como "as nações inspiram amor". 

Os "produtos culturais" do nacionalismo, diz-nos, "mostram esse amor muito claramente", ao passo que é extremamente raro encontrar "produtos nacionalistas que exprimam medo e aversão". É uma afirmação pouco credível. Talvez as epopeias e os romances nacionalistas mais famosos sejam, de facto, obras de amor, mas não é preciso fazer muito esforço para encontrar os corpos da literatura nacionalista, que se caracterizam pelo ódio ao outro, determinado a proteger a pureza da nação da contaminação. 

O laureado com o Prémio Nobel Thomas Mann, por exemplo, escreveu Reflexões de um Homem Não Político no calor da Primeira Guerra Mundial, uma arenga de 600 páginas dirigida contra a civilização francesa. 

Ninguém pensaria seriamente em afirmar que as religiões organizadas são essencialmente pacíficas porque inspiram "amor", mas é precisamente isso que Anderson sugere acerca do nacionalismo.

Talvez não nos deva surpreender, portanto, que Imagined Communities permaneça estranhamente cega à violência do nacionalismo e, especialmente, à ligação ideológica entre nacionalismo e racismo. De facto, nas cerca de 10 páginas que abordam o racismo, Anderson argumenta que "os sonhos do racismo têm, na verdade, a sua origem nas ideologias de classe, mais do que nas de nação". Enquanto "o nacionalismo pensa em termos de destinos históricos o racismo sonha com contaminações eternas". Sugere que o racismo só se desenvolveu no século XIX, a partir das pretensões aristocráticas e do "nacionalismo oficial" patrocinado pelos monarcas europeus.

Estas são passagens que nenhum historiador sério escreveria hoje em dia e são indicativas de quão pouco os principais académicos pensavam sobre raça e racismo há meio século atrás. 

Sabemos hoje (se não o sabíamos na altura) que o racismo moderno já estava presente nos primórdios da colonização europeia e que serviu de base à multiplicidade de crimes cometidos contra os povos indígenas. De facto, Anderson até cita exemplos desse tipo de pensamento racista no início do texto! Sabemos que as formas específicas de racismo anti-negro que floresceram nos países ocidentais - especialmente nos Estados Unidos - são um produto directo do sistema de escravatura (que Anderson praticamente não menciona). E a escravatura constituiu, evidentemente, a base económica do colonialismo europeu primitivo.

Embora o texto de Anderson ofereça uma descrição convincente das origens do nacionalismo, pouco diz sobre as formas sob as quais o nacionalismo reapareceu no século XXI. Mesmo que o nacionalismo dos séculos XIX e XX não fosse fundamentalmente racista (e era), não há dúvida de que o nacionalismo de extrema-direita atual o é. 

Além disso, a rejeição do racismo por parte da esquerda (tal como ele é) continua a ser largamente compatível com o seu cepticismo em relação ao nacionalismo. Apesar de todas as explicações económicas que se possam oferecer para explicar as nações e o nacionalismo, há, no fim de contas, algo profundamente inefável, um desejo profundo de comunidade definido não só por quem pertence mas também por quem não pertence. 

Como escreve Anderson, a pertença nacional satisfaz não uma necessidade política, mas antes uma necessidade humana mais básica, uma necessidade de significado e de pertença. Se for esse o caso, é provável que não estejamos a viver o crepúsculo do nacionalismo, mas sim o seu violento renascimento.

newrepublic.com

Leituras pela manhã - "A maior parte dos colunistas de jornais afunda-se num confortável banho de hackerismo"

 

Colunistas e as suas vidas de desespero silencioso

Sobre Pamela Paul, e similares.

HAMILTON NOLAN

Ser colunista de um jornal, tal como ser um bloguista, não é um trabalho que exija uma escrita poética, fontes privilegiadas altamente colocadas ou mesmo trabalho árduo. A única coisa necessária para o sucesso são as ideias. 

Ao escrever para um público exigente e distraído, é preciso ter sempre novas ideias para apresentar - uma visão sobre um determinado mecanismo de poder, uma sugestão para uma reforma modesta ou não modesta, uma pergunta que abra a porta a uma discussão interessante. 
A capacidade de ser bem sucedido neste trabalho não depende da educação, da inteligência ou do bom carácter, mas de ter um tipo de personalidade particular que o leva a estar sempre a pensar em coisas, juntamente com uma deformação da personalidade que o leva a querer partilhar esses pensamentos com o mundo. 

Há muitos bons escritores de todos os géneros que não foram feitos para serem colunistas. Algumas pessoas foram feitas para serem enterradas em pilhas de biblioteca empoeiradas. Alguns foram feitos para preencher incessantemente pedidos de informação. Alguns são feitos para se envolverem em coscuvilhices ou viajarem pelos caminhos da América em busca de profundidade. Desde que sejamos todos colocados nos papéis adequados, o sistema funciona.

Para complicar a situação, porém, há questões do dinheiro e do prestígio. Os empregos de colunista, especialmente num jornal de grande visibilidade como o New York Times, são indiscutivelmente os melhores empregos no jornalismo. São (relativamente) bem pagos, têm fama, contratos para publicação de livros e palestras, e atenção automática. São um selo oficial que diz, se não "Intelectual Público", pelo menos "Falador Público". Se conseguir um destes empregos, atingiu o topo desta indústria. Será bem pago, bem conhecido e as pessoas dar-lhe-ão ouvidos. Quer devam, quer não.

A maioria dos colunistas é medíocre. A culpa não é deles. Quase ninguém no mundo é capaz de ter duas boas ideias por semana. (Digo isto como alguém que escreve pelo menos duas vezes por semana.) 
Mesmo os pensadores mais perspicazes em questões de política e notícias globais podem ter, na melhor das hipóteses, uma ou duas boas ideias por mês e, por definição, a maior parte da população de colunistas não são os pensadores mais perspicazes dessa mesma população. 

Os melhores colunistas apoiam-se nas suas boas ideias e minimizam a sua produção no resto do tempo. A maior parte dos colunistas afunda-se num confortável banho de hackerismo, cuspindo trabalho que é suficientemente aceitável para preencher o espaço de uma página, mas que raramente vale a pena ler.

As suas carreiras são como tigelas de creme de trigo à temperatura ambiente deixadas na mesa, ainda comestíveis mas pouco apetitosas. Outros colunistas são dotados de uma fonte de ideias, mas todas as suas ideias são más. Thomas Friedman é o ideal platónico deste tipo: levado a sério por pessoas importantes e completamente cheio de tretas. Os telemóveis inteligentes vão mudar o Médio Oriente? Thomas Friedman vai certamente cunhar uma frase para responder a essa pergunta, e a sua resposta será errada. Este tipo de colunista é, de facto, malicioso, mas é difícil de desenraizar. O mundo está cheio de pessoas demasiado confiantes mas pouco inteligentes, e elas têm de ter os seus campeões, como toda a gente.

A variedade mais interessante de colunista, no entanto, é o tipo que nunca deveria estar lá, em primeiro lugar. É a pessoa a quem é dado um lugar de colunista como uma espécie de recompensa profissional, por razões não relacionadas com a produção editorial, e que depois começa a esgotar rapidamente a sua escassa mão-cheia de ideias, e enfrenta a tortura existencial de ter de preencher o espaço vazio na página todas as semanas, sem nenhuma das ferramentas intelectuais que poderiam tornar essa tarefa controlável. 

Ver estas pessoas a ficarem cada vez mais desesperadas, agarrando-se a temas cada vez mais triviais, é como estar em terra e ver alguém que desprezamos a tentar salvar um barco a remos que se está a afundar. Sabemos que devíamos sentir-nos mal por eles. E no entanto...

(...)

Como é que eles conseguem fazer isto sem rir?

 


April 13, 2024

Teerão - as pessoas estão na rua para gritar por Israel contra o Irão

 

Entretanto, ontem, o Khamenei mandou que o exército, a policia regular e a polícia da moral saíssem em força para a rua para prender raparigas e mulheres que andam sem um pano na cabeça. 


Um poema visual - Gronelândia

 


Alemanha=2 Holanda, Noruega e Dinamarca=65 EUA=0

 


Por todo o lado as mulheres libertam-se dos opressores

 

E no Irão, os homens ajudam-nas a libertar-se. Estão do lado delas contra os opressores. Não é muito comum.


👉 Russia is already at war with us

 

A UE está cheia de armas de defesa

 


Damn right!