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Em todo o conhecimento há um sujeito, um objecto (objecto é qualquer coisa, uma ideia... eu posso ser objecto de conhecimento para mim própria) e uma relação, pois sem uma ligação entre o sujeito e o objecto não pode haver conhecimento.
O sujeito tem que ser cognoscente, isto é, tem que ter capacidade de conhecer aquele objecto particular (por exemplo, não somos sujeitos cognoscentes de Deus, se existe, porque está para além das nossas capacidades ou não posso conhecer Plutão porque está demasiado longe fora do meu alcance) e o objecto tem que ser cognoscível, isto é tem que deixar-se conhecer, pois se não há maneira do sujeito se aproximar do objecto, não há conhecimento...
Depois a relação marca o conhecimento, mais, é o próprio conhecimento. Por exemplo, os meus alunos conhecem-me na relação professor-aluno e só nessa perspectiva podem falar de mim; eu conheço os alunos enquanto tais mas não como filhos, que é uma relação que não tenho com eles, a de mãe; ou conheço o primeiro-ministro enquanto político, mas não enquanto... sei lá, camarada ou amigo, etc. Portanto, o nosso conhecimento constrói-se, depende e é, propriamente falando, o tipo de relação que temos com o objecto. Como não podemos ter todas as relações possíveis com um objecto, o nosso conhecimento é muito limitado e, quanto mais limitada é a relação e contacto que temos com o objecto, mais limitado e distorcido o nosso conhecimento é.
Depois, para haver conhecimento ainda é preciso que o sujeito seja capaz de sair da sua individualidade, da sua esfera pessoal e se aproxime do objecto, pois quer conhecê-lo nas suas efectivas determinações e para isso tem que vê-las, não pode ser um exercício de imaginação. Quanto mais o sujeito se aproxima efectivamente do objecto, mais determinações capta. Essas determinações, são depois incorporadas nas estruturas mentais do sujeito que passa a ter uma ideia, representação mental do objecto, construída com mais ou menos limitações dependendo destes factores enumerados.
Mesmo quando se aproxima muito do objecto, há sempre uma parte dele que se escapa, pois nós somos sempre sujeito e não nos transformamos no objecto, de modo que há uma parte do objecto que sempre nos transcende e é incognoscível.
Em suma, o conhecimento implica construir uma relação, depende dessa relação que se construiu e é a própria relação. Onde não há relação não há conhecimento. Pode haver outras coisas, mas não conhecimento.
1. A tranquilidade indiferente e ausência de angústia perante a morte como única possibilidade inexorável que acaba com todas as possibilidades revela um ser-aí (não gosto desta expressão...) preso numa vida inautêntica, constrangida pelo medo e in-consciência.
2. A consciência sentida como angústia, da morte, rompe a liberdade, enquanto verdade e a consequência é a busca das possibilidades de vida autêntica.
3. Revisitamos o passado, pois ignorá-lo é não conseguir libertar-se dele, ficar preso às suas não-possibilidades, quer dizer, às suas negatividades, sentidas e vividas como não-possibilidades. Ora, a vida autêntica é a realização das possibilidades, mesmo daquelas que se fundam nas negatividades enquanto negações de possibilidade. Toda a negação tem possibilidades. O futuro é o que se projecta enquanto possibilidades autênticas.
4. O tempo inautêntico é o da mundaneidade: a procura de sucesso, de êxito, etc. O tempo autêntico é o da liberdade enquanto verdade.
5. "Toda a possibilidade de sentido existe a partir de significados já pré-existentes no mundo, pois o homem é ser-no-mundo. " Quer dizer, quando chegamos ao mundo ele já está constituído com os seus significados que nos são transmitidos e com os quais iniciamos as nossas possibilidades no meio de um mundo com outros humanos, com outras possibilidades e significados.
6. A arte abre-nos possibilidades para além dos significados pré-existentes. É sublimadora. Nesse sentido faz parte da vida autêntica.
Ser livre é desprender-se de tudo o que impede uma vida autêntica, não optando pela efetivação das possibilidades que levam à banalização existencial.
Igualmente, o homem, como dasein, apresenta-se livre, quando escolhe parar de sobrepujar o sentido do ser, as suas decisões que fortalecem o jugo do medo. A liberdade ocorre pela atitude humana de abrir mão dos empecilhos existenciais quanto a sua relação com o ser e passa a “ouvi-lo” para compreender seu sentido.
No sentido positivo, a liberdade é a decisão de agir conforme a consciência de que o homem é ser-para-a-morte, de modo a direcionar suas forças para efetivação de possibilidades autênticas. No contexto do ser-no-mundo, como dasein, que é experiência como possibilidades, o homem, no sentido ontológico, depara-se com a liberdade existencial, por viver a oposição à morte como encerramento das demais possibilidades. Significativamente, o homem é dasein, ser-no-mundo, livre, quando, em significação existencial de sentido do ser, é autónomo em relação à morte, não porque deixa de receber a sua influência como a mais aguda possibilidade.
Diversamente, torna-se autónomo em relação à morte, pela tomada racional de decisão de, a partir da angústia que sente em função da morte, ter oportunidade de deixar de ser escravo perante a inexorabilidade de sentido do encerramento da possibilidade, a fim de que possa vivenciar as escolhas autênticas.
Nesse contexto, o homem é autónomo ao decidir por existência de sentido autêntico. Destarte o dasein somente compreende-se como livre quando se rende à verdade existencial de sentido do ser como fonte válida de projecto de vida.
A possibilidade de aferição compreensiva sobre o significado de liberdade, a autonomia e vida autêntica somente é possível quando se compreende que toda a possibilidade de sentido existe a partir de significados já pré-existentes no mundo, pois o homem é ser-no-mundo. Dessa forma, qualquer sentido possível para o dasein depende de uma pré-orientação significativa de sentido em face de um significado pré-existente no mundo. A possibilidade de interpretação de sentido, o próprio dasein é ser de sentido, está encerrada num círculo hermenêutico.
Gualter de Souza Andrade Júnior1. excertos
A arte depende e move-se profundamente com e através da imaginação. O artista ao fazer arte cria algo que ainda não existe em termos concretos, são novas possibilidades, novos modos de ser, novas dimensões do real. Quando lemos um poema, ouvimos uma música, consideramos uma pintura ou outra criação artista, o trabalho de evocação que fazemos, sugerido pela obra faz nascer na nossa mente realidades que já não são, como imagens da infância, recordações de um amigo que morreu, de um livro que lemos há muito ou outra coisa qualquer que já passou, mas que agora está viva na nossa mente; ou evocamos realidades culturais e temos um sentido da intersubjectividade que nos relaciona uns com os outros; ou imaginamos, projectamos possibilidades futuras.
A arte acorda em nós uma liberdade conceptual e faz-nos saborear a beleza que é uma emoção sublimadora de impacto profundo. Para Hegel, por exemplo, a liberdade é a realização das possibilidades de liberdade e do espírito no seio de uma cultura.
Se certas criações 'perdem' um pouco da sua beleza com o tempo histórico ou o lugar cultural é porque a nossa consciência, o espírito, na sua liberdade, alargou a sua perspectiva e vê agora de um ponto de vista mais amplo. A arte é um projecto permanente em evolução de realizar liberdade através da expressão da beleza em direcção à Ideia que é a realização da totalidade das possibilidades de todas as coisas.
Nós, humanos, movemo-nos em relação a um sentido mais rico, mais diverso, mais sofisticado, mais belo da realidade e arte faz parte dessa evolução de liberdade. Liberdade aqui não é no sentido de liberdade de expressão, ou liberdade política, mas liberdade ontológica: somos animais num processo evolutivo de progressiva libertação das determinações da natureza. Isso passa-se a nível filogenético assim como se passa a nível ontogenético. Cada um de nós, se se empenhou no seu crescimento, foi evoluindo num sentido de abertura de horizontes, de... desbloquemento de possibilidades que nos realizam enquanto seres: um dia descobrimos que somos capazes de poesia, ou de filosofia, ou de música outra coisa qualquer e, à medida que vamos desvelando essas possibilidades expandimo-nos e expande-se a nossa liberdade e o nosso espírito, a sabedoria, se quisermos.
A espécie humana foi alargando as suas possibilidades: a religião, a filosofia, a ciência, a política, etc., são criações humanas de libertação do constrangimento dado. A arte, no meio de todas estas criações, é aquela que mais acorda a imaginação em nós e a imaginação é o que nos abre as possibilidades futuras. É com a imaginação que vemos o que pode ser.
A arte, juntamente com o sentido da vida, são as manifestações mais antigas da humanidade: sabemo-lo pelos túmulos onde os primitivos enterravam os semelhantes para um nova vida, que dava sentido a esta, pelas pinturas nas cavernas onde expressavam as suas possibilidades com a imaginação. Por conseguinte, o impulso da arte está embutido no que há de mais profundo na nossa natureza: nunca houve um povo, uma cultura, uma época, sem arte. Mesmo no meio do pior inferno o ser humano faz poesia, desenha, escreve, pinta, faz escultura, ritmo musical... e a arte, mais que a ciência, a política ou outra manifestação humana, toca-nos com a sua beleza.
A arte grande, que é sempre de cariz filosófico, nisto de conseguir representar o universal intemporal no particular (o assunto da obra), como as botas de Van Gogh, por exemplo, inspira-nos e dilata-nos o espírito e a liberdade.
Somos sapiens racionais e somos demens imaginativos: este é o caos que aquele primeiro transforma em cosmos.
Isto é o edifício do MI6 em Londres e sai de lá fumo vermelho: será um sinal de que já escolheram o novo James Bond?
---------------------------Uma enfermeira americana, neste estado que se vê, explica assim a estupidez alheia:"Some people refuse to wear masks for even 10 minutes in the grocery store because it's "not comfortable,"
Podíamos acrescentar: uma série de políticos portugueses recusa cumprir as regras que impõem a outros. Esperamos que, se forem parar a um hospital não se importem de ir para o fim da fila e esperar que todos os outros, não estúpidos, sejam atendidos primeiro.
Para já, espero que se demita! Não precisamos de mais irresponsáveis a decidir os nosso destinos.
Completamente de acordo com este artigo - Alguém se lembra do surto de Covid em Setembro, por coincidência umas semanas após a festa do Avante? Toda a conversa da liberdade política só para se escusarem às regras que impõem aos outros. Por isso também já ninguém vota neles.
primeiro caiu uma chuvada. agora chegou a trovoada. obrigada, obrigada. precisava de companhia à altura de uma noite magoada. espero que rebentem trovões medonhos daqueles de abanar a casa e que os relâmpagos me ceguem ou ponham atordoada. estive a comer chocolates sem meridiano, fiquei agoniada. agora até me passou a agonia da vida. passei-a da alma para a barriga.