Showing posts with label pessoas. Show all posts
Showing posts with label pessoas. Show all posts

October 25, 2024

O espaço sideral

 


Vistos de longe os movimentos do Homo Imperialista, do Homo Ganancioso, do Homo Mesquinho, do Homo com Problemas de Imagem que Compensa Agredindo, do Homo Vaidoso e outros Homo semelhantes são absurdos, insignificantes e um desperdício de oportunidade de vida positiva.

October 13, 2024

Mulheres notáveis - Eliza Lucas Pinckney

 


Imagining Eliza... Watercolor by Dianne Coleman

No final da era colonial, os pais normalmente apoiavam as filhas ajudando-as a encontrar maridos adequados, fornecendo dotes e, por vezes, providenciando a sua educação para as ajudar a gerir famílias numerosas. No entanto, o pai de Eliza Lucas Pinckney adoptou uma abordagem diferente. Confiou à sua filha de 16 anos a responsabilidade de gerir as suas plantações de arroz na Carolina do Sul, enquanto ele regressava às Índias Ocidentais. 
O seu dote consistia no acesso aos contactos comerciais do pai, numa coleção de sementes enviadas de Antígua e num grupo de trabalhadores escravos, cujo trabalho era crucial para o sucesso do seu negócio.
Estes trunfos revelaram-se uma combinação fortuita para uma jovem como Pinckney, cuja disciplina favorita na escola britânica de ensino secundário tinha sido a botânica, em vez do francês ou do bordado. 
Abraçando o seu interesse pela botânica, Pinckney realizou experiências com várias culturas, incluindo alfafa, gengibre, cânhamo e linho. O seu feito mais significativo ocorreu quando desenvolveu com sucesso uma nova variedade de índigo. Esta inovação satisfez a elevada procura das fábricas de têxteis inglesas, que procuravam constantemente novos corantes.
Em poucos anos, o índigo tornou-se a segunda maior cultura comercial da Carolina do Sul, transformando a economia da colónia e assegurando a independência financeira de Pinckney. A sua nova riqueza e sucesso permitiram-lhe rejeitar os pretendentes escolhidos pelo pai e escolher o seu próprio marido. A influência e a proeminência de Eliza Pinckney eram de tal ordem que George Washington serviu de porta-estandarte no seu funeral em 1793.




September 22, 2024

Predadores muito jovens

 



Ontem vi no YouTube as alegações finais deste caso e a leitura da sentença, que se vê neste excerto. Fui procurá-las porque apanhei no FB o filme do homicídio (está, em parte, filmado) e tive curiosidade em saber como os advogados de um e outro lado abordavam um crime tão hediondo e perturbador.

Esta rapariga, agora com 15 anos, tinha 14 quando matou a mãe e tentou matar o padrasto - que aparece aqui no tribunal. Há uma câmara na cozinha que apanha a rapariga a entrar, ir à sala -não há porta a separar-, voltar à cozinha, verificar que o telemóvel da mãe está ali e não com ela e depois sair novamente da cozinha. Ouve-se um tiro e um grito e depois mais dois tiros. A rapariga disparou três tiros na cara da mãe. Depois vemo-la entrar novamente na cozinha, sentar-se num banco e calmamente enviar uma mensagem ao padrasto, como se fosse a mãe, para vir com urgência a casa - isso sabemos agora, como sabemos que tentou matar o padrasto mas o tiro acertou-lhe no ombro e ele desarmou-a. Antes do padrasto chegar mandou mensagens a amigas a dizer que, se nunca tinham visto um morto, podiam ir lá a casa ver a mãe que estava morta.

Nas alegações finais ficamos a saber que não havia problemas na família a não ser com ela. A mãe já tinha perdido um filho pequeno e vivia para esta filha. A rapariga tinha começado a meter-se em drogas e tornara-se instável e agressiva com a mãe, que lhe arranjou apoio psiquiátrico.

Os advogados de defesa alegam que ela talvez seja esquizofrénica, que é perturbada, pois se não o fosse a mãe não a tinha levado a um psiquiatra, que talvez os medicamentos tenham desencadeado uma crise psicótica, que ela estava desligada do corpo e não sabia o que fazia... enfim, tal qual como nos filmes, argumentam em desespero pois não conseguem apresentar nenhuma evidência do que alegam e não conseguem encontrar um motivo que desencadeie a compaixão do júri para um tal crime.

A advogada de acusação mostra todas as provas que existem, desde o filme, às mensagens de telemóvel e as conversas dela nos meses anteriores em que diz não ter assassinado a mãe por um triz depois de uma discussão, ao que ela fez para esconder a autoria do crime, etc.

O crime é hediondo e não se vê nenhum motivo para ela matar a mãe e ademais, assim a sangue frio, de modo calculado e, provavelmente por isso, o júri não levou quase tempo nenhum a declará-la culpada das três acusações: homicídio da mãe, tentativa de homicídio do padrasto e tentativa de ocultar os actos. Vê-se que o juiz é um tipo muito objectivo, competente e que sabe manter a ordem e a dignidade na sala por parte de todos os intervenientes, apesar da gravidade do caso e da pouca idade da rapariga, que torna tudo mais perturbador.

Há, entre os seres humanos, como entre outros primatas e outros mamíferos, indivíduos predadores desde muito pequenos. Nas outras espécies animais também existe empatia e compaixão como nos humanos. Vemos isso em dezenas e dezenas de vídeos de gorilas, chimpanzés, ursos, leões, golfinhos, cães, gatos, etc., em actos de compaixão, tanto com os da sua espécie como com os das outras espécies. Paralelamente, também vemos casos de animais predadores, desde muito novos, que perseguem e matam os da sua espécie se os encontram desprevenidos e/ou vulneráveis, sem nenhum motivo.

Nós, humanos, não somos diferentes. Também entre nós há predadores. Alguns, talvez a maioria, é normalizada para a socialização se a educação contraria esses instintos e é desagregada para a destruição se a educação e o contexto os aprofunda. Vemos isso nas sociedades islamitas onde os rapazes, mais do que no Ocidente, são educados para a violência. 

Daí a importância da educação para a empatia (racional e emocional), para a educação dos sentimentos, a educação de práticas civilizadoras e para o controlo dos instintos violentos de destruição, sobretudo de quem nasce com eles como uma prévia orientação de talento. 

Freud tinha muita razão na descrição dos nosso instintos e da importância da educação no controlo da sua energia.

Porém, mesmo com esses cuidados todos, há extremos predadores. Não sei se têm remédio. Não acredito que pedófilos, violadores e certo tipo de assassinos sejam capazes de mudar o seu comportamento. Esta rapariga foi condenada para a vida mas, talvez por o juiz ter dito, nas instruções para o júri, que deviam levar em conta a idade dela na definição da sentença (com ou sem liberdade condicional), deram-lhe a possibilidade de liberdade condicional ao fim do tempo determinado pela lei.

September 20, 2024

⚡️ Magnus Carlsen on awards, Kasparov and Russia

 

September 13, 2024

Lembrando Noor Inayat Khan

 

 (tantos heróis e heroínas que se perdem em guerras pela vaidade de homens depravados que não valem nada)


Uma fotografia muito rara de Noor Inayat Khan, que serviu como agente da SOE britânica durante a Segunda Guerra Mundial sob o nome de código “Madeleine”. Foi a primeira mulher operadora de rádio destacada para a França ocupada. Noor foi tragicamente executada no campo de concentração de Dachau, neste dia, há 80 anos.


via Helen Fry

August 30, 2024

Como ser verdadeiramente livre segundo Pepe Mujica

 


Como ser verdadeiramente livre: Lições de um presidente filósofo

Pepe Mujica, antigo presidente espartano do Uruguai e filósofo de expressão simples, oferece a sabedoria de uma vida rica enquanto luta contra o cancro.

Há uma década, o mundo teve um breve fascínio por José Mujica. Era o presidente popular do Uruguai que tinha evitado o palácio presidencial do seu país para viver numa pequena casa de telhado de lata com a mulher e o cão de três patas.

Em discursos a líderes mundiais, entrevistas a jornalistas estrangeiros e documentários na Netflix, Pepe Mujica, como é universalmente conhecido, partilhou inúmeras histórias de uma vida digna de um filme. Assaltou bancos como guerrilheiro urbano de esquerda; sobreviveu 15 anos como prisioneiro, inclusive fazendo amizade com um sapo enquanto era mantido num buraco no chão; e ajudou a liderar a transformação da sua pequena nação sul-americana numa das democracias mais saudáveis e socialmente liberais do mundo.

Mas o legado do Sr. Mujica será mais do que a sua história colorida e o seu empenhamento na austeridade. Tornou-se uma das figuras mais influentes e importantes da América Latina, em grande parte devido à sua filosofia de expressão simples sobre o caminho para uma sociedade melhor e uma vida mais feliz.

(...)

(Sem ser solicitado.)

Penso que a humanidade, tal como está a evoluir, está condenada.

Porque é que diz isso?

Perdemos muito tempo inutilmente. Podemos viver de forma mais pacífica. Veja-se o caso do Uruguai. O Uruguai tem 3,5 milhões de habitantes. Importa 27 milhões de pares de sapatos. Fazemos lixo e trabalhamos com dor. Para quê?

És livre quando escapas à lei da necessidade - quando gastas o tempo da tua vida naquilo que desejas. Se as tuas necessidades se multiplicam, gastas a tua vida a cobrir essas necessidades.

O ser humano pode criar necessidades infinitas. O mercado domina-nos e rouba-nos a vida.

A humanidade precisa de trabalhar menos, de ter mais tempo livre e de estar mais assente na terra. Porquê tanto lixo? Porque é que temos de mudar de carro? Mudar o frigorífico?

Só há uma vida e ela acaba. Há que lhe dar um sentido. Lutar pela felicidade, não apenas pela riqueza.

Acredita que a humanidade pode mudar?


Pode mudar. Mas o mercado é muito forte. Gerou uma cultura subliminar que domina o nosso instinto. É subjetivo. É inconsciente. Tornou-nos compradores vorazes. Vivemos para comprar. Trabalhamos para comprar. E vivemos para pagar. O crédito é uma religião. Por isso, estamos um bocado lixados.

Parece que não tem muita esperança.

Biologicamente, tenho esperança, porque acredito no homem. Mas quando penso nisso, sou pessimista.

No entanto, os seus discursos têm muitas vezes uma mensagem positiva.

Porque a vida é bela. Com todos os seus altos e baixos, eu amo a vida. E estou a perdê-la porque chegou a minha hora de partir. Que sentido podemos dar à vida? O homem, comparado com os outros animais, tem a capacidade de encontrar um objetivo.

Ou não. Se não o encontrar, o mercado fá-lo-á pagar contas para o resto da sua vida.

Se o encontrares, terás algo pelo que viver. Os que investigam, os que tocam música, os que gostam de desporto, qualquer coisa. Algo que preencha a vossa vida.

Porque é que escolheu viver na sua própria casa como Presidente?

Os vestígios culturais do feudalismo permanecem. O tapete vermelho. A corneta. Os presidentes gostam de ser elogiados.

Uma vez fui à Alemanha e puseram-me num Mercedes-Benz. A porta pesava cerca de 3.000 quilos. Puseram 40 motas à frente e outras 40 atrás. Fiquei envergonhado.

Temos uma casa para o Presidente. Tem quatro andares. Para tomar chá é preciso andar três quarteirões. É inútil. Deviam fazer dela uma escola secundária.

Como é que gostaria de ser recordado?

Ah, como aquilo que sou: um velho louco.

É só isso? Fez muito.

Eu tenho uma coisa. A magia da palavra.

O livro é a maior invenção do homem. É uma pena que as pessoas leiam tão pouco. Não têm tempo.

Hoje em dia, as pessoas lêem muito no telemóvel.

Há quatro anos, deitei o meu fora. Dava comigo em doido. Todo o dia a dizer disparates.

Temos de aprender a falar com a pessoa que está dentro de nós. Foi ela que me salvou a vida. Como estive sozinho durante muitos anos, isso ficou-me na memória.

Quando estou no campo a trabalhar com o trator, às vezes paro para ver como um passarinho constrói o seu ninho. Ele nasceu com o programa. Já é um arquiteto. Ninguém o ensinou. Conheces o pássaro hornero? São perfeitos pedreiros.

Eu admiro a natureza. Quase tenho uma espécie de panteísmo. É preciso ter olhos para a ver.

As formigas são um dos verdadeiros comunistas que andam por aí. São muito mais velhas do que nós e sobreviver-nos-hão. Todos os seres das colónias são muito fortes.

Voltando aos telemóveis: Está a dizer que eles são demais para nós?

A culpa não é do telemóvel. Nós é que não estamos preparados. Fazemos uma utilização desastrosa do telemóvel.

As crianças andam por aí com uma universidade no bolso. Isso é ótimo. No entanto, avançámos mais em tecnologia do que em valores.

No entanto, é no mundo digital que se vive atualmente grande parte da vida.

Nada substitui isto. (gesticula para nós os dois a falar). Isto é intransmissível. Não estamos a falar apenas com palavras. Comunicamos com gestos, com a nossa pele. A comunicação direta é insubstituível.

Não somos tão robóticos. Aprendemos a pensar, mas antes somos seres emocionais. Acreditamos que decidimos com a cabeça. Muitas vezes a cabeça encontra os argumentos para justificar as decisões tomadas pelo instinto. Não somos tão conscientes quanto parecemos.

E isso é ótimo. Esse mecanismo é o que nos mantém vivos. É como a vaca que segue o que é verde. Se há verde, há comida. Vai ser difícil deixar de ser quem somos.

Já disse no passado que não acredita em Deus. Qual é a sua visão de Deus neste momento da sua vida?

Sessenta por cento da humanidade acredita em alguma coisa, e isso deve ser respeitado. Há perguntas sem resposta. Qual é o sentido da vida? De onde viemos? Para onde é que vamos?

Não aceitamos facilmente o facto de sermos uma formiga no infinito do universo. Precisamos da esperança de Deus porque gostaríamos de viver.

Tem algum tipo de Deus?

Não. Respeito muito as pessoas que acreditam. É como uma consolação perante a ideia da morte.

Porque a contradição da vida é que ela é um programa biológico concebido para lutar para viver. Mas a partir do momento em que o programa começa, estamos condenados a morrer.

Parece que a biologia é uma parte importante da vossa visão do mundo.

Somos interdependentes. Não poderíamos viver sem os procariontes que temos no nosso intestino. Dependemos de uma série de insectos que nem sequer vemos. A vida é uma cadeia e ainda está cheia de mistérios.

Espero que a vida humana seja prolongada, mas estou preocupado. Há muitos loucos com armas atómicas. Muito fanatismo. Devíamos estar a construir moinhos de vento. Mas gastamos em armas.

Que animal complicado é o homem. É ao mesmo tempo inteligente e estúpido.

Jack Nicas in nytimes.com

August 05, 2024

Uma história de vida numa entrevista

 


Maria Aurora Dantier, comissária de Polícia


No Comando Metropolitano da Polícia de Segurança Pública (PSP) de Lisboa, a comissária Maria Aurora Dantier coordena as equipas de uma dezena de divisões que têm policiamento de proximidade.

Aurora ou Maria? “Isso depende. Sou Maria Aurora. Maria vem no meu cartão-de-visita. Habitualmente não me chamam Maria. Sou Aurora ou sou Dantier.” No seu local de trabalho ou nos eventos em que é convidada a participar como oradora, a comissária que coordena o Policiamento de Proximidade do Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP destaca-se – pela postura e o passo seguro, os olhos grandes e o sorriso largo, a tez escura contrastando com o cabelo louro, apanhado num frisado fino e encrespado, sob a boina a condizer com a farda que lhe assenta sempre bem. Aurora Dantier completa 60 anos neste Verão e reforma-se, em princípio, em Fevereiro

Cedo foi chamada a assumir responsabilidades no policiamento de proximidade, área menos visível da actividade policial à qual dedicou grande parte da sua carreira, e que passa por contactar, proteger e encaminhar os mais vulneráveis ou excluídos e sem respostas sociais, e as vítimas de crimes. Aurora Dantier esteve envolvida na génese do Espaço Júlia, que ela própria dirigiu (o primeiro de atendimento especializado às vítimas de violência doméstica aberto em Lisboa), trabalhou de forma directa junto das comissões de protecção de crianças e jovens (CPCJ) e no âmbito do programa Escola Segura (que já existia quando chegou). Antes disso, fez de tudo aquilo que é o trabalho da polícia. Dá e continuará a dar formação nas áreas do policiamento mais próximo das pessoas, e em direitos humanos.
"Eu saio com muita satisfação e alguma tristeza", diz. “Nós temos adrenalina todos os dias. E de repente ficamos sem ela. Como é que fazemos essa passagem de 'somos polícia' num dia e 'não somos' no outro?”

Está a poucos meses de se reformar. Como vê isso de deixar de ser polícia?
​Como uma luz ao fundo do túnel. Significa que estou a terminar o meu mandato. Quero deixar tudo arrumado, dossiers fechados, e tudo programado para quem me vier suceder, encontrar tudo e poder continuar o trabalho que fiz. Este é o primeiro passo. O segundo passo é sair. Eu tenho uma família grande, pais, netos, filhos, irmãos, sobrinhos. Agora, tenho a oportunidade de os colocar em primeiro plano e dar-lhes tudo aquilo que eu, na altura certa, não consegui dar.


O que é importante passar às novas gerações?

Fazer o trabalho bem feito e saber como podemos tratar bem as pessoas, mesmo quando estamos perante alguém que fez alguma coisa mal, e temos de proceder a uma detenção. Quando é um suspeito de violência doméstica, de maus tratos a uma criança, ficamos com muita raiva dele, mas temos de saber que somos, acima de tudo, profissionais. Temos de saber separar muito bem as águas. Ele está detido, temos ali um possível criminoso, mas é, acima de tudo, uma pessoa.

Essa é a regra no policiamento de proximidade?
Nem sempre é fácil, mas é preciso transmitir isto às equipas do policiamento de proximidade. Quando interpelamos alguém ou a detemos, não sabemos aquilo por que passou no seu passado. Com as crianças delinquentes também. Nós encontramos muitas crianças de 12 ou 13 anos cujo percurso de vida já é, nessas idades, horrível. Temos de ter isso presente. Não sabemos se ele tomou o pequeno-almoço, o que aconteceu na casa dele. Sabemos que ele fez algo errado, que deve ser responsabilizado, mas temos de nos lembrar que ele é uma pessoa, e uma criança, acima de tudo.

Sempre esteve nas equipas de proximidade?

Sempre, desde 2007, quando passei a chefiar a área operacional da 1.ª Divisão [da Cometlis] e tinha a responsabilidade do policiamento de proximidade de quatro esquadras. Em 2019, vim para aqui e estou responsável por coordenar todo o policiamento de proximidade do comando metropolitano nas 11 divisões de competência genérica com este policiamento de proximidade.

Escolheu esse caminho por vocação ou foi fruto das circunstâncias?
Foi um pouco das duas. Quando entrei para o curso de oficiais em 2001, terminando em 2002, fui comandar a 15.ª esquadra, que era a antiga esquadra Caminhos-de-Ferro, em Santa Apolónia. Depois disso, passei a comandar a esquadra das Olaias, e aí tínhamos muita violência doméstica, muitas pessoas idosas. Foi o meu primeiro contacto com essas realidades, sobretudo a da violência doméstica. Mas 2007 foi o marco importante: fui assumir a chefia do policiamento de proximidade na 1.ª Divisão, e isso aconteceu quando na PSP também estava a começar este novo modelo da proximidade.

O que é mais importante para si neste trabalho?

Para mim, há em especial três grupos que me dizem muito: as crianças, as pessoas com deficiência e as vítimas de violência doméstica. E, entre as vítimas de violência doméstica, temos os idosos, que me dizem muito, porque ficam muitas vezes esquecidos. As crianças, as pessoas dão conta delas. As vítimas de violência doméstica, as pessoas dão conta delas. As pessoas com deficiência, as pessoas não se livram delas. Já os idosos, ficam esquecidos. O que custa muito é chegarmos ao Natal e sabermos que ficam lá despejados, nos hospitais. Ninguém os vai buscar.

Conheceu pessoas nessa situação?

Eu tenho na memória um caso, do qual nunca mais me esquecerei. Foi num Verão há muitos anos. É de um idoso que deixaram no jardim ali na frente do Cemitério do Alto de S. João. Estava bem vestido, bem arranjado, cheirava bem. Ele chegou de manhã, alguém o viu lá. Ao final do dia, ninguém vinha buscar o idoso, e ele continuava ali sentado no mesmo banco. Não se mexeu. Chamaram a polícia. E claro que a polícia o levou ao hospital.

Não descobriram a sua identidade?
Não. Quando se fazem as diligências, e não se localiza a família, passa a ser um caso social. O senhor não tinha documentos. Não tinha nada, nada, nada. Como é que alguém deixou ficar o seu familiar, que não tem orientação nenhuma, o dia inteiro num jardim? Não viu se o sol lhe bateu na cara, se bebeu água, se não bebeu água, se comeu, se não comeu. Não comeu nada. Depois vai para o hospital, fica lá e ninguém o vai buscar. Ninguém é chamado porque não se sabe quem ele é.

Há outras histórias de que não se esquece?
Com crianças, também tive casos muito horríveis que me custaram. Este talvez o que me custou mais. Duas crianças. Véspera de Natal. Estava eu na esquadra, de serviço, e trouxeram-me duas crianças. Uma de quatro, e outra de 11 anos. O que aconteceu? A mãe estava emigrada e deixou-as com uma ama. Antigamente, acontecia muito isso. Sucede que a ama ficou doente e deu entrada no hospital. Os familiares da ama não queriam ficar com as crianças. Deixaram-nas na esquadra. Queriam ir passar o Natal com a família e não queriam levar as crianças. Rejeitaram-nas. A criança de quatro, cinco anitos, nem estava a perceber o que estava a acontecer. Mas a menina de 11 anos percebia tudo, sabia que estava a ser rejeitada, e era a segunda vez para ela porque a mãe tinha-a deixado ficar aqui. As crianças ficaram naquela noite. No outro dia, dia 25, fiz as diligências com a Santa Casa [da Misericórdia] para acolher aquelas crianças.

Devem ser momentos de grande sofrimento para as crianças.
Não é só o sofrimento. É a insegurança. Eu tenho de ter a garantia de que a pessoa que está com ela a trata bem. Independentemente de ser mãe, pai, tia, avó. Se eu apanho um ambiente tóxico, se é uma situação de violência doméstica, por exemplo, e há perigo para a mãe e, consequentemente, para a criança, mas a mãe insiste em querer ficar naquela casa, eu retiro a criança. Não tenho dúvidas. Custa-me imenso, porque aquela mãe também é vítima de violência doméstica, mas é adulta. Pode escolher. A criança, não. Ela vai por opção da mãe.

Como conciliava essa vivência profissional tão exigente com a vida em família?
Eu vou dizer uma coisa: se fosse actualmente, tiravam-me os filhos [risos]. Quando me separei, a minha filha tinha seis anitos, e o meu menino tinha dez. Então, ele é que tomava conta da irmã. Era assim. Eu trabalhava por turnos. Havia o turno da noite. Havia o turno da manhã. E havia o turno da tarde. Quando eu entrava à meia-noite, deixava o jantar feito e a roupa pronta para o dia a seguir. Eles acordavam. Eu ligava para casa ou eles ligavam-me. Tínhamos sempre de falar antes de irem para a escola.

Na altura, fui obrigada a comprar um microondas para eles não utilizarem o fogão. Aqueciam o pequeno-almoço, comiam, iam. Ele ia levar a irmã. Eu ia buscá-la e, ao final do dia, estávamos os três em casa. Quando eu entrava às 8h, eu dormia com eles. Saía pelas seis e pouco da manhã. Mal eu chegasse à esquadra, telefonava: "A mamã já chegou no trabalho", e eles diziam: "Nós também já comemos e vamos para a escola." Quando eu entrava às 16h é que era mais complicado. Deixava o jantar preparado em casa. Ele ia buscar a irmã. Vinham os dois para casa. Ele dava-lhe o comer. Tinha o pijama pronto e deitava-a. Eu chegava por volta da 1h da manhã. Ele tinha jantado, mas não dormia enquanto eu não chegasse.

Sempre quis ser polícia?
Eu não quis ser polícia.

Então como aconteceu isso?
O marido de uma tia minha tinha sido polícia em Angola, e foi ela quem um dia me disse para eu concorrer. Um dia fui passar férias a casa dela, em Castelo Branco. Ela era cabeleireira e disse-me: "Olha lá, não queres concorrer para a polícia?" Eu tinha 19 anos, tinha acabado o 12.º ano. "Eu? Polícia?", respondi. "Vai já ao comando-geral preencher aquela folha de 25 linhas a dizer que queres ir para a polícia", disse-me ela. Ela sabia que estava a decorrer um concurso. Foi exactamente assim.

Como foi a sua vinda de Angola?
Nasci lá e vim para Portugal com 10 anos. Éramos oito irmãos e viemos para Sever do Vouga, terra do meu pai. A minha mãe dizia que, se nós ficássemos lá, não íamos ter futuro. Ela estava determinada a vir para a capital, para nos dar condições. E conseguiu. Investiu na compra de uma casa. Uma casa não, uma barraca. Na verdade, comprou as chaves, era como se fazia na altura.

E o seu pai?
O meu pai trabalhava na segurança. E a minha mãe fazia limpezas. A barraca não tinha nem água canalizada nem electricidade. Tínhamos de ter a banheira cheia de água, e encher a bilha para deitar na sanita, para tomar banho e para cozinhar, para tudo. Fizemos uma mangueira que ligámos ao chafariz. Nós e todos os vizinhos. No meio disto, a minha mãe dizia que a única coisa que nos podia salvar eram os estudos. Então, tínhamos de estudar. Sem herança, dizia ela, a única forma de ter segurança era estudar e arranjar um emprego no Estado.

Gostou logo de ser polícia?
Sim. Logo no início, estive no trânsito, gostei muito de trabalhar no trânsito. E sempre pensei em terminar a minha carreira no trânsito. Foi no trânsito que aprendi a lidar com públicos difíceis. Eu tive chefes que me ensinaram como lidar com essas pessoas, fiscalizar o condutor, dar-lhe a multa nas mãos, e ainda agradecer-lhes. Nem sempre era fácil. Ou quando, por exemplo, estive a regularizar trânsito como polícia sinaleira, diziam: "O que estás aí a fazer, vai para casa, vai coser as meias ao teu marido, vai fazer a sopa." Isto era nas Avenidas Novas, Avenida da Liberdade, Avenida Fontes Pereira de Melo, Avenida da República. Não havia tantos semáforos, por isso, no final do turno de autuarmos os carros mal-estacionados, tínhamos um cruzamento, onde regularizávamos o trânsito.

Mas, afinal, não terminou a carreira no trânsito nem voltou para lá.
Não, porque logo a seguir estive dez anos como chefe, a atender público na esquadra, a receber queixas. Aí aprendi a fazer um pouco de tudo. Desde os cheques carecas, furtos de carros, furtos no interior do veículo. A violência doméstica não era como é tratada agora. Era uma queixa como outra qualquer. No balcão, as pessoas estavam de pé. Felizmente que isso mudou. Quanto ao resto, era tudo feito com máquina de escrever e com os químicos. Se nos enganássemos a colocar o químico, tínhamos de começar tudo de novo [risos]. E o texto, fazíamos de carreirinha. Não havia como voltar atrás e apagar. Tinha de sair bem à primeira. Também não havia fotocopiadoras. Quando apareceram, tínhamos de ir à junta de freguesia para tirar as fotocópias. Era tudo tão diferente. A comunicação interna agora é por email, é imediato. Antigamente não, era através de circulares, que no fundo eram comunicações internas para sabermos das ocorrências nas nossas zonas. E chamavam: "Circular, circular", toda a gente estava ao telefone ao mesmo tempo com alguém do outro lado na sede a dizer, "circular, desapareceu fulano tal, furtaram carro assim assim…" para cada uma das esquadras. E nós tínhamos de apontar aquilo tudo.

Como foi ser mulher na polícia?
Não foi fácil. Eu, por exemplo, e por ser mulher, ia a ocorrências no carro de patrulha, e tinha de ouvir: "Mandam as mulheres agora? Já não há homens para vir aqui?" Eu já era chefe na altura e mesmo assim, para receber uma ordem, a pessoa dirigia-se ao motorista, e este respondia: "Tem de falar com aquela senhora, que ela é que manda, ela é que é a chefe." Eu tive esse problema nas Olaias, com a comunidade roma, porque entenderam que não recebiam ordens de uma mulher. E ainda por cima de uma mulher "preta". Nem pensar! Eu só lhes disse: "Quem manda aqui sou eu. E vocês não gostam? Tenho pena. Sou polícia, sou mulher e sou preta."

Isso incomodou-a?
Não. Eu nem lhes dava oportunidade de me sentir ofendida por isso. Havia pessoas racistas, mas eu nunca senti o racismo como se sente actualmente. Eu sabia que havia pessoas que tinham esse preconceito. Dizia-lhes: "Quando vocês não têm argumentos, usam a cor. Isso não é argumento. Vocês têm de estar comigo de igual para igual. Não usem a cor."


July 29, 2024

Harry & Snowman





Harry deLeyer

Harry deLeyer cresceu a trabalhar na quinta da sua família na Holanda. A Segunda Guerra estalou quando tinha 14 anos. Logo após a guerra acabar Harry casa e emigra com a sua mulher para os Estados Unidos, onde lhe foi oferecido um emprego como instrutor de equitação na exclusiva Knox School, em Long Island, Nova Iorque, uma escola para raparigas da alta sociedade. 

Um dia, foi a um leilão de cavalos. Nessa época faziam-se leilões de cavalos de trabalho cujos donos já não os queriam. Os que não se vendiam iam diretamente para o matadouro, para carne de cão. Harry teve um furo no carro e quando chegou já o leilão tinha acabado e estavam a carrregar os cavalos para o matadouro. Harry foi atraído para um cavalo branco que parou e olhou-o nos olhos e criaram logo ali uma ligação, que durou até à morte. Harry comprou-o por 80 dólares, todo o dinheiro que tinha.

Snowman

Snowman era um cavalo de trabalho de arado de uma família Amish que foi enviado para o leilão com 13 anos de idade, onde conheceu Harry de quem nunca mais se quis afastar. Passados uns meses de Harry o comprar, um amigo de uma quinta perto pediu-lhe para lhe vender o cavalo para dar de presente ao filho e Harry vendeu-o. Na manhã seguinte o cavalo estava à porta de Harry. Tinha saltado as vedações. Puseram as vedações mais altas. Passado um dia o cavalo tinha voltado. Puseram-lhe um pneu no fim da corda para acrescentar peso e impossibilitar os saltos. Passados dois dias estava de volta. Foi assim que Harry percebeu que o cavalo era um saltador. Harry recomprou o cavalo e nunca mais o vendeu.

Snowman era um cavalo dócil, que passou a fazer parte da família. Os oito filhos de Harry montavam-no, brincavam com ele e ele deixava que lhe fizessem tudo.

 
Harry & Snowman 

Passados dois anos de ter comprado o cavalo, Snowman ganhou a Tripla Coroa de Saltos de 1958 - Cavalo do Ano da American Horse Shows Association, Campeão da Professional Horseman's Association e Campeão do Jubileu de Diamante do Madison Square Garden. Durante uns dez anos ganhava tudo e mais alguma coisa em que entrava. Harry ensinou-o a saltar mas Snowman decidia muito da sua técnica sozinho.

Snowman apareceu no programa de TV mais popular da década de 1960, To Tell the Truth e em Who Do You Trust com Johnny Carson. Tinha o seu próprio clube de fãs, foi retratado duas vezes na revista Life e foi objeto de três livros best-sellers, incluindo o best-seller do NY Times de 2011, The Eighty-Dollar Champion.

Snowman retirou-se das competições em 1962 para a quinta de Harry em Long Island, onde viveu em liberdade e acarinhado até à sua morte em 1974. Escolas faziam excursões à quinta de Harry para as crianças conhecerem Harry e o cavalo. Tinham um enorme clube de fãs. Foi introduzido no Hall da Fama dos Saltos de Obstáculos em 1992.

A carreira de Harry foi catapultada por Snowman e ele tornou-se num dos cavaleiros e treinadores de maior sucesso na América. Representou os Estados Unidos no Campeonato do Mundo na Suécia em 1983 e foi reconhecido pela Fundação Equestre dos Estados Unidos com uma Medalha de Honra Pegasus em 2002 pela sua contribuição vitalícia para o desporto.

Quando este filme-documentário estreou tinha 85 anos. Chamavam-lhe o 'Avô Galopante', ainda montava e treinava, a partir da sua quinta na Virgínia. Morreu em 2021.

Este filme-documentário é muito bom. Acompanha a vida de ambos, com imagens e entrevistas a Harry deLeyer, aos filhos, a alunas da Knox School, a amigos e pessoas do mundo do hipismo. 

O mais bonito de tudo é mostrar a profunda relação de amizade e entendimento que Harry e Snowman tinham um com o outro e que durou até à morte. Harry libertou e salvou Snowman, deu-lhe uma família, uma vida de afecto e de alegrias. Snowman deu a Harry uma amizade duradoura, uma possibilidade de vida de sucesso como imigrante nos EUA naquilo que ele amava fazer desde muito cedo na Holanda: viver com cavalos, trabalhar com cavalos.

Um underdog + um underdog = um conjunto de vencedores da vida. Ambos seres inteligentes, combativos, cheios de coragem e valor. Impossível não gostar.

June 30, 2024

'Abstracto' de Manuel Cargaleiro

 

                                                                    (1927-2024)



Poema Abstracto
de 
Pablo Saborío

Hay quienes
dejan la gaveta vacía
excepto por una herida
de piedra que ya no sangra.

Hay hombres que
son muros y pierden
una borona de ceniza
con cada latido de su extensión.

Hay mujeres que
de tantos vuelos grises
han majado la sangre
con una sola lágrima.

Hay en esta inolvidable gama
una disciplina para sufrir.

Pero hay unos pocos,
que escapan la tragedia
como una ráfaga de música.

Los que con lazo atan
el paraíso a un movimiento
delgado prontísimo.

Hay algunos que
guardan aun la luz
en un bolsillo de neblina.

Hay esos pocos que
arrebatan una fábula de miel
del duro acto.

Hay en esta compacta oscuridad
ejemplos de condena y posibilidad.

Pero al final de esta vida
el hombre con clavo en su respiración
la mujer con pájaro en su sonrisa
se postrarán ante la naturaleza
para ver la luna arrodillarse
en un recuerdo de estrellas

June 12, 2024

Morreu a Françoise Hardy

 

Françoise Hardy, com aquela voz delicada, faz parte de um mundo diferente, quando a cultura anglo-saxónica ainda não tinha abocanhado toda a cultura artística mainstream do Ocidente, especialmente a música. Havia muita música francesa na rádio. Aliás, a presença da língua e da cultura francesas eram normais. Saber ler e falar francês era relativamente normal porque se tinha com essa língua e cultura a relação que agora se tem com o inglês. Perdeu-se muita diversidade. 

May 29, 2024

Santana Castilho (1944-2024)

 

Nem sabia que ele estava doente. Que pena... Santana Castilho foi o único indivíduo que passou por um governo a defender os professores e a educação e continuou pela vida fora sempre coerente com as suas convicções. Sabia do que falava, conhecia os problemas das escolas por dentro e não era um ignorante e um 'pedabobo' como a maioria dos ministros e secretários de Estado que passaram pelo ministério da educação. Pessoas assim fazem falta.


Santana Castilho (1944-2024): morreu o professor que detestava o “eduquês”


Morreu um dos mais antigos colunistas do PÚBLICO, alguém muito escutado na área da Educação e pouco preocupado com o ser polémico.

Quando a 6 de Outubro de 2001 começou a assinar uma coluna com o título genérico "Prova escrita", numa altura em que só capa, contracapa e alguns anúncios eram a cores neste jornal, Santana Castilho deixava já claro ao que vinha e como vinha e contra quem vinha. “Ano após ano, ministro após ministro, os problemas de fundo continuam intocáveis, sujeitos ao atavismo dos ‘pedabobos’ que influenciam a 5 de Outubro. Falando um erudito ‘eduquês’, essa corte tem imposto estereótipos pedagógicos ineficazes e eternizado tabus que vão conduzindo o país à desgraça, pela mão da permissividade e do facilitismo, únicos universos em que são competentes”, escreveu.

Não fosse a alusão à avenida "5 de Outubro", que deixou de ser a sede e sinónimo do Ministério da Educação, e podia ser uma crónica de Santana Castilho dos últimos meses. Apesar do percurso que o levou à Suécia, Finlândia, EUA, em estudo ou no desenvolvimento de estudos e projectos educacionais, ou de ter sido consultor da União Europeia, da UNESCO e do Banco Mundial, Santana Castilho sempre foi muito cáustico em relação às abordagens exacerbadamente técnicas da Educação, com as modas, o "eduquês" e com quem ele via como porta-vozes destas tendências. Os últimos responsáveis pela pasta da Educação foram vítimas dilectas dos seus adjectivos afiados e sarcasmo.

May 06, 2024

Todas as pessoas carregam uma sombra

 

“Todas as pessoas carregam uma sombra, e quanto menos ela estiver incorporada na vida consciente do indivíduo, mais negra e densa ela será. Se uma inferioridade é consciente, temos sempre a possibilidade de a corrigir... Mas se é reprimida e isolada da consciência, nunca é corrigida, e é suscetível de irromper subitamente num momento de inconsciência. Em todos os casos, forma um obstáculo inconsciente, frustrando as nossas intenções mais benévolas.”

Carl Jung, C.W. Vol. 11: Psicologia e Religião: Ocidente e Oriente


via geografando


April 09, 2024

Morreu o Peter Higgs




As ideias do Dr. Higgs sobre a criação de massa no universo, que desenvolveu enquanto jovem teórico no início da década de 1960, utilizavam cálculos matemáticos para propor uma explicação nada menos audaciosa do que a razão pela qual todos nós existimos: como é que os átomos que constituem as estrelas, os planetas e as pessoas - tudo no universo - vieram a existir.

A sua teoria pressupunha a existência de uma partícula então desconhecida. Em homenagem ao seu papel na aparente explicação da criação, mais tarde veio a ser chamada a 'Partícula de Deus.'

Cinco outros publicaram ideias semelhantes quase exatamente ao mesmo tempo. Seriam necessários mais milhares de cientistas, a trabalhar em vastas colaborações multinacionais, para finalmente encontrar o bosão de Higgs.
Ainda assim, foi o modesto Dr. Higgs cujo nome passou a ser identificado com a ideia revolucionária. Apenas um outro teórico partilhou com ele o Prémio Nobel da Física de 2013.


A Academia Real das Ciências da Suécia, que atribui o Prémio Nobel, afirmou na altura que o modelo padrão da física, que está na base da compreensão científica do universo, "assenta na existência de um tipo especial de partícula: a partícula de Higgs. Esta partícula tem origem num campo invisível que preenche todo o espaço.

"Mesmo quando o universo parece vazio, este campo está lá. Sem ele, nós não existiríamos, porque é do contacto com o campo que as partículas adquirem massa. A teoria proposta por Englert e Higgs descreve este processo."

Em meados do século XX, os físicos estavam a aproximar-se de muitos segredos do cosmos - Albert Einstein e outros cientistas compreendiam agora a gravitação e a relatividade e a forma como os campos quânticos governavam o comportamento dos fotões (partículas que constituem a luz) e dos electrões (que criam a eletricidade). Mas as teorias não explicavam tudo o que os cientistas queriam saber sobre o funcionamento do mundo a nível subatómico.

Os estudiosos ainda não compreendiam, por exemplo, porque é que as partículas elementares têm massa. Os cálculos da teoria quântica sugeriam que as simetrias que parecem reger o comportamento do Universo não se podiam aplicar às partículas maciças que formam os átomos, como os protões e os neutrões. Mas a massa tinha de existir. Sem ela, os componentes atómicos afastar-se-iam uns dos outros, como as partículas de luz. A matemática simplesmente não fazia sentido
.

O físico nipo-americano e futuro prémio Nobel Yoichiro Nambu sugeriu em 1961 que uma quebra indeterminada numa das simetrias poderia criar massa. Em 1964, como professor na Universidade de Edimburgo, na Escócia, o Dr. Higgs ofereceu uma possível explicação para o facto.

Alegadamente durante um passeio pelas Terras Altas da Escócia, colocou a hipótese de que a simetria é quebrada porque o universo é permeado por um campo invisível, atualmente conhecido como o campo de Higgs. O campo interage com algumas partículas subatómicas, tornando-as mais lentas, tal como um encontro com melaço pegajoso torna uma mosca mais lenta, conferindo-lhes assim massa.

O Dr. Higgs detalhou os seus cálculos em dois artigos académicos. O primeiro foi publicado pela Physics Letters, uma revista publicada pela Organização Europeia para a Investigação Nuclear, ou CERN. O segundo foi rejeitado pela revista. Um dos editores disse que "não tinha relevância óbvia para a física".

Sem se deixar intimidar e percebendo que precisava de aumentar a "conversa de vendas", o Dr. Higgs ajustou o segundo artigo, levantando a possibilidade não só do misterioso campo, mas também de uma partícula que lhe estivesse associada. 

O artigo sobre o bosão foi publicado pela revista americana Physical Review Letters, que também publicou ideias semelhantes de Robert Brout e François Englert, da Bélgica, e da equipa anglo-americana de Gerald Guralnik, Carl Hagen e Tom Kibble.

Um acontecimento marcante no desenvolvimento da teoria de Higgs surgiu com um artigo de 1967 do físico Steven Weinberg, que propôs um modelo completo que juntava duas das principais forças - a força electromagnética e a força nuclear fraca - com o modelo do Dr. Higgs para gerar massa.

Weinberg, então do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e dois outros cientistas ganharam o Prémio Nobel em 1979 pelo trabalho que levou ao Modelo Padrão da Física de Partículas, que continua a ser a melhor explicação dos cientistas para o funcionamento subatómico do universo.

À medida que os cientistas se aperceberam de como o Modelo Padrão se baseava no mecanismo de Higgs, o trabalho do Dr. Higgs recebeu mais atenção. Os físicos aperceberam-se que, se existia um campo de Higgs, deveria ser possível produzir a partícula que lhe estava associada. Isso poderia ser feito esmagando partículas subatómicas a energias quase inimagináveis.

A ideia era que, se não se encontrasse o bosão de Higgs, tudo o que a ciência pensava saber sobre o universo seria posto em causa. Mas encontrá-lo confirmaria o Modelo Padrão.

A caça à partícula tornou-se uma obsessão científica. Durante quase meio século, os governos gastaram fortunas na construção e operação de colisores de partículas gigantes. Este esforço deu origem à máquina de 10 mil milhões de dólares do CERN, perto de Genebra. Foi capaz de produzir colisões a energias que os cientistas pensavam ser suficientemente elevadas para fazer aparecer o bosão.

O Dr. Higgs, na altura reformado como professor, pensou que funcionaria. Se não funcionasse, disse ao Times de Londres, "ficaria muito, muito intrigado. Se não estiver lá, já não percebo o que penso que percebo".

No meio de grande júbilo, a 4 de julho de 2012, dois grupos de investigação comunicaram os seus resultados. Esmagando feixes de protões quase à velocidade da luz e estudando os detritos produzidos, as equipas afirmaram ter descoberto provas conclusivas de que o esquivo bosão de Higgs realmente existia.

O Dr. Higgs esteve presente em Genebra para o anúncio. Quando os pormenores foram apresentados, limpou uma lágrima do olho. Um ano mais tarde, partilhou o Nobel com Englert; Brout, o parceiro de investigação de Englert, tinha morrido em 2011 e, por isso, não era elegível para o prémio.

"Peter Higgs deparou-se com um puzzle inacabado no momento certo e definiu como deveria ser a peça central", disse o físico teórico Robert Garisto, editor-chefe da Physical Review Letters. "Quarenta e oito anos depois, eles encontraram-na".

Dr. Higgs arrives for a scientific seminar at CERN in 2012. (Denis Balibouse/AP)


Quando jovem, o Dr. Higgs, um apoiante de causas políticas liberais, conheceu a linguista americana Jody Williamson durante uma reunião de um grupo anti-proliferação nuclear.

Casaram-se no início dos anos 60, mas separaram-se cerca de uma década mais tarde - em parte, segundo o Dr. Higgs, devido à sua obsessão pelo trabalho.

Tiveram dois filhos e mantiveram-se próximos até à morte de Williamson em 2008. O Dr. Higgs disse que a separação do casal marcou o declínio da sua carreira de investigação. "Depois do fim do meu casamento, acho que perdi o contacto", disse ele a um jornalista em 2008. "Não consegui manter-me atualizado.

O Dr. Higgs era ateu e, tal como muitos físicos, detestava o termo "Partícula de Deus", tendo dito ao jornal britânico Guardian, em 2008, que o considerava "embaraçoso". Também parecia frequentemente desconfortável com o facto de o "chamado bosão de Higgs" e o "chamado campo de Higgs", como ele os designava, terem sido baptizados com o seu nome e não com o nome de qualquer dos outros cientistas que tiveram a ideia ao mesmo tempo.
Mas acabou por admitir: "Será difícil livrarmo-nos do nome 'bosão de Higgs'".


washingtonpost.com/

April 05, 2024

Ainda sobre a originalidade e importância de Platão

 


citação na página de dedicatória do autor, Robin Waterfield

Estou a ler uma biografia de Platão. As biografias de Platão são muito raras e a última tentada antes desta, que é de 2023, é do início do século XIX. Isto deve-se à figura de Platão, dada a envergadura e importância da sua obra, estar envolvida em muitas lendas e mitos (por exemplo, dizia-se que era descendente directo de deuses - que seu pai não tinha dormido com a sua mãe durante muitos meses e que foi nessa altura que ele nasceu...) e haver relatos contraditórios de episódios da sua vida. 

O autor da biografia, Robin Waterfield, consciente da dificuldade da tarefa que se propôs, constantemente cita as fontes da sua interpretação e argumenta-a face às interpretações diferentes da sua.

No entanto, uma característica que noto nas biografias e comentários actuais a figuras históricas -e que também vejo neste livro- é a inclinação para o extremo oposto da exaltação antiga e moderna das grandes figuras históricas. Quero dizer que se nota um esforço em mostrar que afinal aqueles homens e mulheres eram como nós, como o comum das pessoas e que aparecem envoltas em grandeza por conta da mentalidade das pessoas da época. 

Mas isso não é verdade. Lemos as obras de Platão e damos-nos conta, se temos alguma inteligência no sentido filosófico, da sua capacidade em compreender profundamente os seres humanos, a sua situação, os seus problemas fundamentais, a sua psicologia e de propor soluções. A maioria de nós está muito longe destas capacidades. 

Algumas ideias deles parecem agora óbvias, mas isso deve-se à sua influência continuar a fazer-se sentir, após dois mil e quinhentos anos; outras, ainda hoje são surpreendentes. É claro que há ideias nas suas obras muito polémicas e outras muito ultrapassadas porque ele era uma pessoa com os pés no seu tempo. Porém, no geral, dado que a sua cabeça ultrapassava largamente o seu tempo, as obras dele são uma fonte inesgotável de pistas para a sabedoria. 

Não sei ao certo de onde vem esta tendência para menorizar a distinção -positiva ou negativa- de algumas pessoas face à norma, mas parece-me que vem da Sociologia e das suas raízes deterministas e marxistas que desvalorizam o indivíduo para exaltar as forças inexoráveis da sociedade. Não por acaso os comunistas e marxistas em geral estão do lado da Rússia nesta guerra e negam a individualidade de Zelensky ao ponto de o tentarem reduzir a um instrumento de forças nazis. São o extremo oposto dos antigos que divinizavam certas pessoas e dos modernos que as elevavam a heróis sobre-humanos. Uns e outros, parece-me que perdem a oportunidade de perceber essa particularidade de algumas pessoas.

Parece-me inegável, por exemplo, que a pessoa de Zelensky é incomum e que o modo como os ucranianos -e a maioria de nós- reagiram à invasão russa e se lhe opuseram se lhe deve em grande parte. A reacção dele, a figura dele, o seu exemplo, a sua fortaleza e a sua inteligência no modo como lida com o invasor e os outros actores mundiais, não são algo que qualquer um no lugar dele fizesse e sabemos que, não fora isso e há muito que a Rússia teria conquistado a Ucrânia.

É como dizer que os cabecilhas nazis e os dos campos eram pessoas como nós. Não, não eram. Eram seres humanos como nós, mas não eram pessoas como nós, porque a maioria das pessoas não faz aquelas crueldades e imoralidades, mesmo em situação de guerra. São omissas, por medo (como vemos agora na maioria dos russos) mas não são activas na iniciativa de crueldade e imoralidade.

Pessoalmente, não acredito, nem na divinização de certas pessoas, nem na mesmidade de todas as pessoas e o que me parece interessante é compreender a origem dessas diferenças fundamentais de algumas pessoas em relação ao comum, porque marcam profundamente os destinos de todos nós.

A Academia de Atenas, a escola fundada por Platão para o desenvolvimento da Filosofia baseada no exercício da razão dialética, esteve aberta e funcionou durante mil anos (pese embora, a certa altura o que se lá ensinava já não era Platão mas o platonismo, um Platão cristianazido) e é a ordem do seu fecho e a proibição de o ensinar, em 529 AD, pelo Imperador Romano Justiniano, que marca o fim da Antiguidade. Como se pode pensar que qualquer um conseguiria isto?


April 02, 2024

Máscaras

 

Máscaras antigas do Teatro Grego.

Do latim "persona" = literalmente "aquilo através do qual ("per" = através) passa o som ("sonus")", a voz do actor. Este 'porta-voz' å máscara] corresponde ao papel que representa (carrancudo, triste, demoníaco, etc.). Daí a palavra "personagem"... Em grego: "prosôpon" (literalmente "diante dos olhos").

Esta tradição ainda hoje está viva em certos carnavais. O teatro moderno já não as usa, mas cada actor usa a suas máscara interior nos seus papéis. E não se aplica o mesmo às redes sociais? Tantos que se mascaram com muitas máscaras a representar papéis?

"Le masque, ce visage de carton que l'on met sur son masque..." - Michel de Ghelderode


via 'Amigos das Línguas Antigas'

March 06, 2024

António-Pedro Vasconcelos (1939-2024)




António-Pedro Vasconcelos foi o primeiro vulto cultural do meu tempo que defendeu e praticou uma arte para todos e, portanto, contrariou a pseudo-elite cultural portuguesa que sempre considerou que a arte ser popular era sinal de falta de qualidade. A linguagem artística teria que ser hermética, acessível apenas a uns eleitos intelectuais. Lembro-me de ver o filme dele, O Lugar do Morto, na TV, um ou dois anos depois da estreia. Não é que o filme seja uma obra-prima, mas era um filme nacional que não exigia ter lido Proust. Não tenha nada contra Proust e contra os filmes que exigem outra riqueza cultural, pelo contrário, gosto muito deles, mas não podem ser os únicos filmes. Algo está muito mal se as pessoas em geral não podem participar, nunca, da cultura do seu país. Eça de Queiroz, Pessoa, Camões e a Sophia, por exemplo, são grandes escritores/poetas e qualquer pessoa os entende. Houve um tempo que os grande poetas até eram cantados em fado. António-Pedro Vasconcelos teve essa virtude de mudar o registo do diálogo cinematográfico e artístico no nosso país. Tornou-os mais democráticos.


Morreu António-Pedro Vasconcelos, o cineasta que acreditava no grande público

Defensor de um cinema para o grande público, voz activa em vários debates do Portugal democrático, a ele se devem muitos êxitos de bilheteira e algumas obras-primas. Completaria 85 anos no domingo.




February 14, 2024

Aniversários - Leon Battista Alberti

 


Auto-retrato de Leon Battista Alberti, nascido a 14 Fevereiro de 1404 em Génova, Itália.

Alberti foi aquilo que hoje chamamos um «polimata». Um autêntico homem da Renascença. 

Um dos autores e arquitectos mais brilhantes e originais de todo o Renascimento, Leon Battista Alberti teve uma produção que abrangeu a engenharia, a topografia, a criptografia, a poesia, o humor, o comentário político e muito mais. 

Utilizou a ironia, a sátira e a alusão lúdica nas suas obras escritas e desenvolveu uma abordagem sofisticada da arquitetura que combinava o antigo e o moderno. 

Nascido na elite florentina, Alberti foi, no entanto, desfavorecido devido ao exílio e à ilegitimidade. Como resultado, tornou-se um analista perspicaz das instituições sociais do seu tempo, bem como um escritor profundamente existencial que se interessava intensamente pela condição humana. 

As suas preocupações pessoais e intelectuais levaram-no a envolver-se num espectro cada vez mais vasto da cultura renascentista.

Alberti escreveu a primeira gramática italiana. Escreveu códigos e cifras para o Papado e existe um código com uma máquina para o descodificar chamado Código Alberti. (Sarah Stackpoole)

Alberti era um platónico, como se chamava, na Renascença, aos que atribuíam à matemática o fundamento das Artes e das Ciências.

Na altura em que fez esta obra, já tinha dois diplomas universitários e praticava todas as artes. Tinha sido readmitido na sociedade florentina após 24 anos de exílio - sendo ilegítimo, tinha mais a provar e não há dúvida que se esforçou-se ao máximo para o fazer. Ele próprio nos diz que era extremamente atlético, um excelente cavaleiro e um músico soberbo. Há quem afirme que ele foi mais importante que Leonardo. (SS)

Ele próprio o parece pensar pois neste auto-retrato de bronze afina as suas feições para aparecer com a têmpera de um Imperador Romano. Existe um outro retrato dele feito por Filippino Lippi na Capela Brancacci. Este que se vê a seguir.

E, se este retrato é fidedigno, Alberto aprimorou-se no seu auto-retrato de bronze mais acima: a testa alta, o nariz direito, a boca firme e o olhar determinado no perfil de uma cabeça assente num pescoço sólido. A cabeça de um aristocrata, bem cuidada e de uma calma superior.

(Aquele olho alado que se vê mesmo debaixo do seu queixo era a sua insígnia.)

Vasari descreve Alberti como "um cidadão admirável, um homem de cultura... um amigo dos homens de talento, aberto e cortês com toda a gente. Viveu sempre de forma honrada e como o cavalheiro que era."

Alberti morreu em Roma a 25 de abril de 1472, com 66 anos de idade.


February 10, 2024

Morreu Robert Badinter, o homem que aboliu a pena de morte em França

 

Na noite de 8 para 9 de fevereiro, aos 95 anos de idade, Robert Badinter morreu na sua casa em Paris.
Advogado de profissão, Robert Badinter foi Ministro da Justiça de François Mitterrand e o arquiteto da abolição da pena de morte em França em 1981.
O seu empenhamento político foi marcado pela luta pela reabilitação dos presos, por uma série de alterações ao código penal e pela luta contra o anti-semitismo e a homofobia.
De 1986 a 1995, presidiu ao Conselho Constitucional, tendo depois sido senador pelos Hauts-de-Seine até 2011. Era um defensor de causas justas:
Uma grande figura intelectual e moral deixou-nos. Talvez devido ao facto da sua família ter sido atingida pelo horror do nazismo desde a infância, Robert Badinter pôs a procura da verdade, a exigência de humanidade e a esperança de paz no centro dos seus pensamentos e acções ao longo de toda a sua vida".   - Lionel Jospin
-----------

A maioria dos países europeus aboliu a pena de morte a seguir à Segunda Grande Guerra. A França só aboliu a pena de morte em 1981. A última execução aconteceu em 10 de setembro de 1977. Hamida Djandoubi, um imigrante tunisino, tornou-se a última pessoa executada em França, bem como a última pessoa executada na Europa ocidental. Foi guilhotinado mas não em público. A última execução pública em França é de Eugène Weidmann, um alemão, em 1939 e pode ver-se no YouTube - uma coisa horrível. 
Para se ter uma ideia de como a abolição da pena de morte foi difícil e tardia em França, a última execução conhecida em território português foi em 22 de Abril de 1849 (José Joaquim, em Lagos, de alcunha “o Grande” que matou a criada do padrinho a tiro), apesar de só muito mais tarde ter sido retirada da Constituição.



União Europeia: cronologia da abolição da pena de morte para crimes comuns e para todos os crimes.
A Bielorrússia é o único país do continente europeu que continua a realizar execuções. Na Rússia existe uma moratória.