December 09, 2024

Está a começar 'Intriga Internacional' na TV

 


Com o Cary Grant, um indivíduo que desde muito novo tinha um instinto apurado acerca de como vestir um fato e chamar a atenção - e que mesmo quando não é para ter piada, tem.



Queixinhas mode II

 


Amanhã vou ter com o cirurgião. Espero que me dê autorização para falar e para comer coisas quentes. Estou farta de saladas e gelatinas e sinto falta do leite com café ao pequeno-almoço. A única coisa fria de que não me farto são os queijinhos frescos de Palmela e Azeitão.


Queixinhas mode

 


A classificar testes, essa actividade de ler dezenas de respostas mais ou menos iguais com os mesmos erros e tudo. 

Os testes testam conhecimentos mas também testam competências e faço sempre perguntas que testam competências variadas. Este foi um teste de filosofia da religião. 

Duas concepções de Deus que abordámos foram a teísta e a deísta, sendo a primeira a crença num Deus único, omnipotente, comum às religiões abrâamicas, criador do Universo e que interfere na existência humana: revela-se ao ser humano, dá-lhe leis, indicações, castigos, etc. e a segunda a crença num Deus único omnipotente que não interfere na existência humana, à maneira de um relojoeiro que cria o mecanismo complexo e depois deixa as peças a moverem-se sozinhas. Numa das questões perguntei, "O Deus dos deístas poderia parar a guerra da Rússia na Ucrânia?" Responderam todos que não porque o Deus deísta não interfere na existência humana. Mas não foi isso que perguntei, o que perguntei foi se Ele o podia fazer. Claro que podia, caso contrário não seria omnipotente. Seria diferente se tivesse perguntado, 'O Deus dos deístas pararia a guerra da Rússia na Ucrânia?" Não, não pararia, porque não interfere na existência humana. Porém, não é porque não o possa fazer. Isto é falta de atenção e de rigor.

Em outra questão peço para fazerem um esquema conceptual sobre as respostas e posições possíveis relativamente às provas da existência de Deus. Põem lá as provas todas de São Tomás de Aquino e de Santo Anselmo mais as objecções, mas esquecem-se que uma resposta e posição possível é a de negar que Deus seja demonstrável ou que isso seja sequer relevante, como o fazem os fideístas. Isto deve-se a fazerem tudo à pressa. (Alguns destes esquemas conceptuais parecem as vielas da Mouraria)

Enfim, um teste que não obrigava a escrever muito, tinha tempo de sobra para poderem pensar com cuidado, mas que obrigava a rigor de pensamento, concentração, aplicação de conceitos a casos práticos. Pus uma questão com uns versos de uma canção dos Xutos e Pontapés, "Se Deus existisse escutava-nos e tirava-nos o sofrimento, fazia-nos felizes e tal' e perguntei que posição está ali expressa -ateísmo, fideísmo ou agnosticismo- e porquê. Mais de metade errou. Sabem a resposta mas ficam indecisos e vão responder mal.

Ai, ai, ai, ai.


Trump's MAGA



classy


"Não fiz nada de errado"

 


Em parte percebemos Biden. Trump vai perdoar-se a si mesmo, vai perdoar os que entraram no Capitólio para derrubar o governo e até matar algumas pessoas e vai nomear procuradores especiais para perseguir e meter na cadeia todos os que fizeram ou disseram algo contra ele mais as suas famílias. Vão ser 4 anos disto, se é que ele não arranja maneira de tomar o poder e ficar lá putinizado.


Quando até o Papa transforma a religião em ideologia...

 




Na Síria começou o saque

 


Despesas de defesa dos países da NATO (2015-2024)

 



Deep_Space52

Exportações da UE para os EUA




u/gorillaz0e


Administração Trump - subtítulo, 'como a oligarquia venceu a democracia'

 


Uma imitação da administração oligarca de Putin.




Administração Trump por religião

 

A administração de Trump. Escolhas por afiliação religiosa. Actualizado para incluir as nomeações mais recentes. Não há agnósticos nem ateus e são quase todos homens, como acontece com as instituições católicas ou de inspiração católica e religiosa em geral.



por Mission-Guidance4782

Dust of Snow

 


Dust of Snow

by Robert Frost

The way a crow
Shook down on me
The dust of snow
From a hemlock tree

Has given my heart
A change of mood
And saved some part
Of a day I had rued.


Winter Morning by Joseph Farquharson (1846–1935)


O que não se vê é com se não existisse

 


Quase metade dos alunos do 5.º ao 12.º anos dormem menos de oito horas por noite nos dias de semana. São os alunos mais novos que dizem descansar mais durante a semana, dormindo mais de oito horas, ao passo que os mais velhos dormem menos de sete horas por noite, revelam os dados do estudo mais recente do Observatório da Saúde Psicológica e do Bem-Estar.

Ao fim-de-semana, o cenário é, contudo, diferente: 76,9% dos estudantes dizem dormir oito ou mais horas. A psicóloga Margarida Gaspar de Matos, coordenadora do observatório, faz notar a relevância que o sono tem no desenvolvimento das crianças e jovens, admitindo que, nestas idades, deviam dormir entre oito e nove horas. E alerta para esta discrepância “preocupante” nas horas de sono entre a semana e o fim-de-semana: “Quando há uma diferença de mais de três horas entre as horas de sono à semana e ao fim-de-semana, consideramos que a criança ou o adulto está em privação de sono. E está muito ligado ao insucesso escolar, ao desinteresse pela escola, ao consumo de substâncias, à violência, às dores de cabeça.”

E esse é um dos efeitos mais negativos que a exposição aos ecrãs pode ter nestes adolescentes: “Quando o sono não é de qualidade é um grande preditor associado ao mal-estar.”

Alunos passam quatro horas por dia em frente a ecrãs

Mais de metade (52,8%) destes alunos do 5.º ao 12.º anos admitem passar quatro ou mais horas por dia em frente a um ecrã. São os do 12.º que mais horas lhes dedicam (quase cinco), ao passo que os do 5.º ano são os que dizem passar menos tempo em frente a ecrãs — ainda assim quase três horas. Ao fim-de-semana o tempo de ecrã é consideravelmente maior: quase dois terços (63,3%) dos alunos passam cinco ou mais horas por dia com ecrãs à frente.

Para a psicóloga, seja na escola, seja em casa, este deve ser um tema discutido com os jovens. “Sabemos que a punição e a proibição não são uma estratégia educativa maior.

Olhando para os estilos de vida destes alunos (...) Já em relação aos consumos, a grande maioria dos alunos diz não fumar (91%) nem beber (76,4%). São os mais velhos os que mais o fazem: 9,9% dos alunos do 12.º ano fumam todos os dias e 26,2% bebem pelo menos uma vez por semana, mas não todos os dias.

Cristiana Faria Moreira, publico.
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"A punição e a proibição não são uma estratégica educativa maior", mas a questão que se trata aqui não é a da educação mas a do consumo de uma droga viciante. As redes sociais são uma droga viciante que os alunos consomem durante 4, 5 ou mais horas por dia. Quando se proibiu o fumar em quase todo o lado isso foi considerado uma má estratégia educativa? Não, porque se tratava de acabar com um consumo viciante que que provoca doenças graves. Só porque as consequências do consumo de redes sociais não são visíveis como um cancro no pulmão, não quer dizer que não existam. Existem e são muito graves.

Há estudos nos países nórdicos desde os anos 90 que mostram que o uso precoce das tecnologias fez descer o QI das pessoas em níveis preocupantes. Operações matemáticas que mais de 90% dos alunos sabia fazer no fim da escola primária, agora só 4% o consegue. Não chega a 2 dois alunos por turma. Há estudos que mostram que as redes sociais são causa de depressão, ansiedade, reforço de comportamentos agressivos, desmotivação e desinteresse pelo estudo, incapacidade de concentração, perda de foco, perda de vocabulário, excesso de estimulação sensorial, vício na pornografia e sei lá mais o quê, mas continua a dizer-se que temos de educar as crianças a usar o telemóvel para estar 4, 5 ou mas horas por dia na internet responsavelmente.

Acerca da presidência de Trump

 




December 08, 2024

A passacaille de Haendel-Halvorsen na Notre-Dame de Paris

 


A queda da Síria também se deve à Ucrânia

 


Se a Ucrânia não tivesse desfalcado completamente as tropas e recursos russos nesta guerra que Putin pensava ir ganhar em 3 dias, Putin não teria desistido da Síria. 


Para os que insistem que o 25 de Novembro não tem importância e que a democracia ia de vento em popa

 


Uma entrevista com Rui Vilar que viveu os acontecimento por dentro do governo. A entrevista é muito interessante a vale a pena lê-la toda. Deixo aqui uns excertos que dão para perceber que Vasco Gonçalves era um idiota proto-autoritário a mando do PCP  - sua eminência parda, ministro sem pasta estava lá para o manobrar. Sem o 25 de Novembro teríamos saído da ditadura do Salazar directamente para a ditadura do PCP.

“A máscara de moderado de Vasco Gonçalves caiu logo em Dezembro de 74”



Como ministro da Economia, Rui Vilar acompanhou por dentro o lado mais delirante dos primeiros governos de Vasco Gonçalves, assistindo à crescente radicalização do discurso do então primeiro-ministro.

Cristina Ferreira e Nuno Ferreira Santos 

(...)
Qual era o ambiente dentro do I Governo Provisório?
A seguir às reuniões dos Conselhos de Ministros, o ministro da Economia [Vieira de Almeida] reunia todos os secretários de Estado e fazia um briefing sobre o que se passara. Pereira de Moura, ministro Sem Pasta, apresentava muitas propostas que implicavam com a Economia. Certa vez, sugeriu um salário mínimo de 6600 escudos, que rebentava com o PIB, e depois de muita discussão ficou em metade, em 3300 escudos. Numa outra vez, disse que o turismo era a prostituição do país e Vasco Vieira de Almeida pediu-me que desse uma entrevista a contrariá-lo. E foi o que fiz, falei com José Vacondeus, do Diário de Lisboa, a desdizer o ministro de Estado Pereira de Moura.
(...)
O que leva o quadro político do I Governo Provisório, moderado, para um contexto cada vez mais extremado?
No I Governo Provisório, a Comissão Coordenadora do MFA cumpriu na íntegra o seu programa: entregou o poder à Junta de Salvação Nacional, constituída por generais e almirantes, criou um Conselho de Estado para fiscalizar a constitucionalidade das leis, e um Governo provisório de civis, onde apenas o ministro da Defesa, o general Firmino Miguel, era militar. E a coordenadora do MFA afastou-se.


Mas no final do I Governo Provisório já havia muitas contradições?
A crise Palma Carlos opera uma mudança radical na atitude da comissão coordenadora, que impõe a presença de muitos militares no II Governo Provisório. O general Spínola começa por indicar Firmino Miguel para ser primeiro-ministro, que ainda tenta formar Governo e ainda me convidou. Mas não consegue.

Porquê?
Por oposição da Comissão Coordenadora do MFA. E é Vasco Gonçalves que é nomeado primeiro-ministro e é quem convida muitos militares da comissão coordenadora para o Governo. Firmino Miguel mantém-se como ministro da Defesa; entram Vítor Alves e Ernesto Melo Antunes, ambos ministros sem Pasta; Costa Martins, do Trabalho; Costa Brás, da Administração Interna; e José Augusto Fernandes, do Equipamento Social e Ambiente. Lembro-me do major Sanches Osório, que era engenheiro e depois se fez advogado, ter a pasta da Comunicação Social.

Já se sentem as divisões políticas dentro do MFA?
As distinções entre sensibilidades ainda não eram perceptíveis. Nem era claro que o próprio Vasco Gonçalves estivesse já alinhado com o PCP, pois quando lhe perguntei qual era a política económica do Governo, respondeu-me: "Sou a favor do capitalismo desenvolvimentista, contra o capitalismo selvagem." Insisti para que explicasse o significado, ele repetiu a fórmula. E ficou por aí.

Entre 16 de Maio de 1974 e Agosto de 1975, o secretário-geral do PCP, Álvaro Cunhal, foi ininterruptamente ministro Sem Pasta...
Nos primeiros governos comportava-se como moderado, mantinha a abordagem de que a situação era complexa e era preciso ouvir todas as partes. Mas quando Vítor Alves disse que era preciso fazer um programa de Governo, e que cada ministro apresentasse o seu plano, só dois o fizeram: Vitorino Magalhães Godinho, ministro da Educação, e Salgado Zenha, ministro da Justiça, que, aliás, propõe o ombudsman, que daria o provedor de Justiça, uma das poucas medidas que tiveram o aplauso quase unânime do Governo.

O que leva ao fim do II Governo Provisório?
Teve uma duração curta. A grande tensão era entre a coordenadora do MFA e Spínola, a propósito do programa do MFA. Para usar a linguagem actual, o “tema fracturante” era a descolonização. (...)

(...)

Quando é que percebe que Vasco Gonçalves se aproximou do PCP e MDP/CDE?
Tive uma experiência logo no começo do III Governo Provisório. Vasco Gonçalves foi ao Porto, a 5 de Outubro de 1974. Ele veio de Lisboa de carro e fui esperá-lo no limite do distrito, dadas as minhas origens do Porto. Acompanhei-o à Câmara Municipal do Porto, onde assisti ao discurso que Vasco Gonçalves fez da varanda, já muito inflamado e radical. E, pela primeira vez, fala da via socializante. Portanto, diria que a partir desse dia, 5 de Outubro, passou a ser claro para mim a mudança operada no primeiro-ministro.

A rápida transformação surpreendeu-o?
Aliás, essa percepção acentuou-se quando depois do almoço, no quartel-general — em que, coincidência das coincidências, o único civil era eu —, apareceu como protagonista o major Corvacho, da ala comunista, apesar do comandante da região militar ser o comandante Passos Esmeriz. Enquanto eu fiquei à conversa com os militares, na situação típica dos quartéis de beberem uns uísques depois do almoço, Vasco Gonçalves foi dormir uma sesta.

E depois?
Regressámos a Lisboa. Na viagem, feita num avião militar, já a caminho do aeroporto, Vasco Gonçalves começa a defender que é preciso mandar prender os correspondentes da imprensa estrangeira que estão a difundir notícias falsas sobre a situação do país. E eu passei a viagem a dizer: “Senhor primeiro-ministro, não faça isso porque isso vai levar ao nosso isolamento.” Felizmente, consegui fazer vingar algum bom senso e não mandou prender ninguém.

Como é que interpretou a mudança de padrão na actuação do primeiro-ministro?
Só conto isto: a meio da viagem, mandou dizer aos pilotos que já não queria aterrar na Portela, que fôssemos aterrar noutro sítio. E ainda que lhe explicassem que havia uma programação de voo para o Aeroporto da Portela, insistiu. E acabámos por ir aterrar à Granja do Marquês, em Sintra, onde não havia carros à nossa espera, pois os motoristas estavam estacionados na Portela.

Reportou a algum ministro que a intenção de Vasco Gonçalves era prender os jornalistas internacionais?

Falei com Mário Soares e Salgado Zenha, mas estavam preocupados com outras coisas e não deram importância. O dia seguinte [6/10/74] foi o dia “do salário para a nação” proposto por Costa Martins. E lembro-me de ir a Alcochete, onde ficavam as secas do bacalhau, fazer um discurso, porque um dos problemas que se começavam a sentir e que me preocupavam, por causa do Natal, era a escassez de bacalhau porque os pescadores deixaram de pescar.

(...)

Os ministros trabalhavam em cima do joelho?
No II Governo, tive de fazer à pressa a Lei da Caça, pois os caçadores já estavam no terreno e recebi a ajuda de Gonçalo Ribeiro Teles, subsecretário de Estado do Ambiente. Como o Presidente da República estava de férias no Buçaco, um dos chefes de gabinete foi lá levar-lhe o documento para ele assinar. Isto foi antes do dia 26 de Setembro, quando há a tentativa do Spínola de apelar a uma manifestação da “maioria silenciosa” [iniciativa de apoio ao Presidente da República] e o Governo cai a 30 de Setembro. E o general Spínola é afastado.

Quando é que se inicia a discussão sobre o novo modelo económico?
Começou no II Governo Provisório, mas ainda conduzida por Vítor Alves, numa altura em que a situação já era de grandes dificuldades. Mas só no III Governo Provisório, a 18 de Outubro, é que o Governo decide elaborar um plano económico de emergência, cuja coordenação é entregue a Melo Antunes.

Como é que Vasco Gonçalves aceita delegar em Melo Antunes a definição do plano económico do seu Governo?
A contragosto, em linha com as posições que ia tomando. Mas nem o PCP se pronunciou, porque havia a sensação de que era preciso atacar os problemas económicos. E Melo Antunes foi um óptimo coordenador, escreveu muitos textos no documento. Toda a introdução é da sua pena e, referindo-se ao ambiente reivindicativo, Melo Antunes escreveu uma frase que nunca esqueci: “A ultra-impaciência é contra-revolucionária.

A 13 de Dezembro de 1974 os ministros mais moderados percebem que o processo se vai radicalizar?
Foi outro momento de viragem, que veio confirmar o que já tinha percebido a 5 de Outubro. Na madrugada de 13 de Dezembro, por volta da 1h, somos chamados ao gabinete de Vasco Gonçalves, eu [Economia], Salgado Zenha [Justiça] e Silva Lopes [Finanças]. O primeiro-ministro comunica-nos que iam ser presos os “sabotadores da economia”. E quem eram? O presidente Jorge Brito e administradores do BIP e os irmãos Silva [Agostinho e José], da Torralta.

O que responderam?

Há a célebre frase de Zenha: “Se o senhor primeiro-ministro respeitar os prazos da prisão preventiva, não valia a pena ter-nos acordado...” Silva Lopes diz que “há muito piores do que esses”. E fala num “senhor Morais”. E acaba por ser preso um outro “senhor Morais”, da Sociedade Financeira Portuguesa. De madrugada, já o MDP/CDE [Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral] distribuía na rua panfletos com três datas: “25 de Abril – 28 de Setembro – 13 de Dezembro. A Revolução Avança”.

Recorda o que se passou no Conselho de Ministros seguinte?
O primeiro-ministro foi interpelado sobre a razão pela qual o MDP, antes das prisões, já ter posto a circular o panfleto. E Vasco Gonçalves acaba a reconhecer que houve uma fuga do seu gabinete. Nesse Conselho de Ministros, há uma frase de Álvaro Cunhal de que não me esqueço. Quando se discutem as prisões, ele olhou para o Zenha, para o Mário Soares e para mim e disse: “Se estas prisões desagradam a alguns, agradam a muitos.” E os “muitos” era ele e os seus. Foi aí que, para mim, a máscara de moderado de Vasco Gonçalves caiu completamente.

O “Plano Melo Antunes” teria evitado as divisões que culminaram nas prisões de empresários e banqueiros, nas nacionalizações, no PREC?
O plano ficou pronto no final de 1974. E o Presidente Costa Gomes, na mensagem de Ano Novo, anunciou-o com a perspectiva de que o Conselho de Ministros o aprovasse no início de Janeiro.

E antes de começar a discussão fragmentária sobre a unicidade sindical?
Sim. O MFA, depois de reunido, veio declarar-se “por unanimidade” favorável à unicidade sindical, só que depois veio a saber-se que tinha havido votos contra. E quando a solução foi votado pelo Governo no final de Janeiro, houve também votos contra e abstenções. Quer Álvaro Cunhal, quer os ministros militares — pois o MFA declarara-se por unanimidade favorável — votaram a favor. Eu, Maria de Lurdes Pintasilgo e Almeida Santos abstivemo-nos, dizendo que não havia condições para uma decisão. Já Mário Soares e Salgado Zenha votaram contra e comunicaram que a continuidade do PS no Governo ia ser equacionada.

Todo o mês de Janeiro é ocupado a discutir a unicidade sindical. O tema surgiu para esvaziar a discussão em torno do “plano Melo Antunes”?
Foi um atraso que muito prejudicou o sucesso do plano. (...)

(...)

Ainda assim, o Governo aprova-o a 7 de Fevereiro. Como votou Vasco Gonçalves?
Não votava, não houve votos contra. O único ministro que teve um elogio para o documento foi Salgado Zenha — de resto, ninguém se manifestou. Tanto que no preâmbulo Melo Antunes escreveu: “Obra colectiva do Governo provisório.”

E o documento é apresentado a 21 de Fevereiro?
No Palácio Foz, quando já decorrem as ocupações de empresas e de terras. E na apresentação estão jornalistas estrangeiros que nos questionam se achávamos que, sendo o documento moderado, era compatível com o que se passava no terreno. O plano tinha 70 medidas urgentes e começo a trabalhar nelas, mas já não havia condições. Em Fevereiro ainda vou à Noruega negociar vários apoios e quando ocorre o [golpe de] 11 de Março, participo no Conselho de Ministros e vou ao Palácio das Necessidades assinar um acordo de comércio com a Suécia.

O 11 de Março e as nacionalizações enterram de vez o “plano Melo Antunes”...
É verdade. Depois foi criado o Conselho da Revolução e decretadas as nacionalizações. E, no IV Governo, Melo Antunes assume a pasta dos Negócios Estrangeiros. E quem passa a comandar a Economia? Mário Murteira, que vinha do tempo de Marcello Caetano, dos católicos, e acabou numa vertigem revolucionária. Eu saio a seguir ao 11 de Março e só regresso em 1976, no I Governo Constitucional.

Nessa altura visitam Portugal muitos dirigentes europeus...
Convidei Pierre Mendès France [ex-primeiro-ministro francês] e Christopher Soames, vice-presidente da CEE, e vieram ambos em Fevereiro de 1975. Soames fala com Costa Gomes e com Vasco Gonçalves — assisti às duas conversas. Com o Presidente da República houve cordialidade, mas com Vasco Gonçalves nem tanto, porque o primeiro-ministro falava em “capitalismo selvagem” e dizia que não queria que Portugal fosse explorado pelas multinacionais.

Ficou atrapalhado?
Estava habituado, não era novidade. Já depois da reunião o Soames comentou: “Vocês precisam de muita coragem...”

Vasco Gonçalves e outros oficiais vieram apelar ao voto em branco nas primeiras eleições democráticas (25 de Abril de 1975), por faltar aos portugueses "consciência plena do que iam fazer.” O Governo debateu o tema?
Álvaro Cunhal defendia que na Assembleia Constituinte devia estar o MFA. Mas há uma declaração curiosa de Otelo [Saraiva de Carvalho, o comandante do Copcon] a defender que o MFA não deve estar na Constituinte, apesar de a corrente que ele representava o defender. Ele era assim… Mas, no fundo, foi importante tê-lo dito.

Para si, quais são os protagonistas que permitiram que o projecto de democratização do país acabasse por vingar?
As duas pessoas que garantiram que as eleições de 25 de Abril de 1975 se realizassem: o Presidente Costa Gomes e o tenente-coronel Costa Braz. Costa Gomes marcou-as e assegurou que se realizavam, apesar de muito pressionado pelas correntes antieleições, cujos chefes de fila eram Álvaro Cunhal e Vasco Gonçalves. E teve o bom senso de as adiar para 25 de Abril, por causa do 11 de Março. Como ministro da Administração Interna, Costa Braz fez o recenseamento oficioso, ao contrário do que queria Cunhal, que defendia o recenseamento voluntário. Ambos, Costa Gomes e Costa Braz, foram fundamentais para que houvesse eleições com a garantia de serem livres.

Público

Se a Europa não investe na ciência fundamental fica -ainda- mais para trás do que já está

 


Maria Leptin: em ciência, “quem investe mais, ganha mais” e a Europa ficou para trás

A presidente do Conselho Europeu de Investigação avisa que é necessário mais dinheiro para a ciência. Maria Leptin defende que a Europa não precisa de ser líder, mas tem de voltar ao grupo da frente.

Tiago Ramalho


O tom de Maria Leptin é optimista, apesar dos desafios que a ciência europeia tem pela frente. A presidente do Conselho Europeu de Investigação (ERC, na sigla em inglês) quer mitigar a distância da Europa para o grupo da frente – onde estão China e Estados Unidos. A ciência europeia ficou para trás e agora a tarefa é mais difícil do que parece.

Entre as principais reivindicações, inclusive da presidente desta casa das bolsas milionárias que financiam quase mil projectos de ciência fundamental todos os anos, está a duplicação do financiamento do ERC e do próximo programa europeu para a ciência. Precisamente para que a Europa deixe de ser uma figura de segunda linha. “Por exemplo, das empresas de inteligência artificial, quantas estão na Europa? Praticamente nenhuma”, exemplifica Maria Leptin

O programa Horizonte Europa (destinado ao período 2021-2027) já vai a mais de meio e os 95 mil milhões de euros atribuídos ao actual programa-quadro parecem insuficientes. No novo programa de financiamento (o FP10), pretende-se o dobro do orçamento: cerca de 200 mil milhões de euros para o período 2028-2034. Esta duplicação tem sido defendida pelos relatórios sobre o futuro europeu publicados pelo antigo presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi (sobre competitividade) e pelo ex-ministro da Ciência português Manuel Heitor (sobre o futuro da ciência). Ou mesmo o relatório de Enrico Letta, do antigo primeiro-ministro italiano, que defendeu a criação da quinta liberdade do mercado único europeu: a investigação e inovação, para que a aplicação da ciência seja mais transversal a toda a União Europeia (UE).

No entanto, esta ambição de duplicação do orçamento para a investigação poderá sair gorada, sobretudo atendendo ao foco mais premente na despesa militar e de defesa, por exemplo. A duplicação do orçamento atribuído ao ERC – actualmente de cerca de 16 mil milhões – poderá ser mais fácil, dado que o salto é menor. Ainda assim, as respostas só chegarão em meados de 2025, quando for submetida a proposta legislativa para o FP10.

De passagem por Portugal para o primeiro evento ERC-Portugal, organizado na última semana pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), o optimismo de Maria Leptin sobre as verbas para o ERC contrastam com a sua preocupação face ao parco investimento dos governos nacionais.

Defendeu a duplicação do orçamento do ERC e do FP10. Ainda considera isto possível?
Porque não seria possível? Não é como se o ERC recebesse uma grande parte do orçamento global da UE. Algumas pessoas defenderam a duplicação de todo o orçamento da UE, a pensar na necessidade de a Europa crescer em conjunto e de fazer mais – se todo o orçamento da UE fosse duplicado, já seria muito dinheiro.

Tenho defendido ambas as coisas, duplicando o orçamento global do programa-quadro de investigação e inovação da UE – é uma quantia razoável de dinheiro. Ou duplicar apenas o orçamento do ERC, e não é muito. Acho que é claro que é possível, só é preciso vontade política para o fazer.

Vivemos um período em que muitos países têm feito cortes na ciência, como os Países Baixos, a França ou mesmo Portugal. Não vê isso como uma tendência?
O momento actual é difícil. E é claro que temos novos desafios. Para alguns países é a guerra, para outros é a energia. Não é um momento fácil, mas o que tento realçar, tal como fizeram outras pessoas, como Mario Draghi e Manuel Heitor, nos seus recentes relatórios, é que, numa altura em que enfrentamos desafios e problemas, reduzir o nosso potencial para encontrar novas soluções para estes problemas não é muito sensato. E novas soluções exigem novos conhecimentos. Adivinhe de onde vêm esses novos conhecimentos: da investigação fundamental. Simplesmente, não é um passo inteligente fazê-lo.

Compreendo perfeitamente a necessidade e o interesse dos países em gastar dinheiro na resolução de problemas mais próximos, mas também temos de pensar nos problemas que ainda não conhecemos e que nos atingirão dentro de dez anos. A melhor forma de nos prepararmos para um futuro incerto é dar aos nossos melhores investigadores a liberdade de seguirem a sua curiosidade científica e desbravarem novos caminhos.

Vê essa vontade política de que falava?
Sim, acho que sim. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o orçamento para a investigação fundamental precisa de ser duplicado e que o ERC precisa de ser reforçado

Mas vivemos numa democracia e numa democracia as pessoas têm opiniões diferentes – e isso é normal. Ou seja, nem todos terão exactamente o que querem, terá de haver um compromisso. Espero que os convincentes argumentos apresentados nos relatórios de Mario Draghi e de Manuel Heitor sejam ouvidos e compreendidos.

Não é como se nós, cientistas, quiséssemos mais dinheiro no bolso. De todo. Todos queremos ter mais dinheiro no bolso, mas esta é uma visão externa de pessoas [Mario Draghi e Manuel Heitor] que reconhecem que a investigação é a base para a riqueza, no sentido mais lato do termo.

Em discursos e entrevistas tem mencionado que a falta de financiamento é o motivo para a ciência europeia estar a ficar para trás, sobretudo na comparação com os nossos maiores concorrentes – China e Estados Unidos.
Em grandes temas políticos como este, é muito difícil saber se há uma relação de causa e efeito. No entanto, as correlações são notórias. Os Estados Unidos gastam cerca de 700 mil milhões de euros [em investigação], a China gasta 600 mil milhões de euros e a Europa gasta agora 400 mil milhões de euros.

E depois podemos ver o mesmo nas publicações científicas altamente citadas, que têm um peso importante na ciência. No caso dos Estados Unidos, podemos argumentar que sempre foi assim e que existe um cultura de longa data no financiamento da ciência. No caso da China, não é assim.

Há dez anos, a China estava extraordinariamente atrasada. Há 20 anos, praticamente não tinha peso, excepto em alguns campos de investigação onde eram fortes. Agora são relevantes em todos os campos emergentes porque investiram imenso dinheiro. E, na verdade, nós nem precisamos de ir tão longe como a China.

Existe pelo menos uma correlação muito, muito forte, que provavelmente até é uma relação de causa e efeito: quem investe mais, ganha mais.


E como vê a relação da Europa com estes países?
Ao nível dos cientistas é muito boa e espero que continue assim. Muitos dos nossos estudantes vão para os Estados Unidos, agora as idas para a China também estão a aumentar. Constroem-se relações em que ambos os lados confiam na relação – e é muito importante nutrir estas relações.

Consigo compreender perfeitamente a preocupação relativamente aos países que estão envolvidos em acções hostis e que, por exemplo, roubam a nossa propriedade intelectual. Sabemos que isso já aconteceu, seria ingénuo não olhar para isso.

Mas isso não acontece a todos os níveis e, portanto, afectar todas as áreas seria errado e imprudente. Especialmente tendo em consideração que, em algumas das tecnologias verdadeiramente de ponta, estes países estão à nossa frente. Perdemos mais se não cooperarmos.

O atraso da ciência europeia é só uma questão de investimento?
Agora está a perguntar sobre a inovação. Não sou eu que o digo: os relatórios que citei comentaram isso [a necessidade de promover a inovação na Europa]. Noutros contextos, por exemplo, Jean Tirole, economista vencedor do Nobel, também comentou o mesmo.

Muitas vezes as pessoas gostam de culpar os cientistas por não terem um espírito suficientemente empreendedor. Não é isso que vejo entre os nossos cientistas. Há muitos que adoram inventar coisas e aplicá-las para servir a humanidade. Portanto, essa é uma das acusações geralmente feitas.

Outra é que as universidades não fazem o suficiente para apoiar a transferência [da academia para a sociedade] e para colmatar o fosso entre a ciência e o mercado. Talvez essa seja uma componente importante, mas o que é perfeitamente claro nas pessoas que referi anteriormente (Mario Draghi, Enrico Letta, Manuel Heitor ou Jean Tirole) é a fragmentação da Europa.

Por exemplo, alguém inventou algo em Barcelona, como ​uma prova de conceito [uma demonstração inicial de um produto ou tecnologia] que vai para o mercado e tem todas as licenças. Agora querem encontrar um investidor que os ajude a abrir uma empresa para vender isso. Têm azar. O mercado para eles é Espanha, enquanto outro colega faz o mesmo nos Estados Unidos e o mercado são todos os Estados Unidos. E são também as grandes empresas, como as farmacêuticas: transferir [produtos e tecnologia] entre países é difícil.

É a isto que também devemos prestar atenção. Os governos nacionais têm de colocar o parque europeu comum à frente do seu próprio parque nacional nesta matéria.

Há uma meta, proposta pela Comissão Europeia, para que todos os Estados-membros atinjam os 3% do PIB investido em ciência até 2030. Será ainda possível atingi-la nestes cinco anos restantes?

Se me estiver a perguntar se é possível atingir os 3% em média [da EU], talvez possa ser um pouco optimista. Se me perguntar se cada país atingirá esta meta… Costuma-se dizer que o comportamento passado é a melhor previsão do comportamento futuro. E parece-me que alguns países não percebem o sentido de investir seriamente em ciência e inovação.

Não consigo compreender como não. Não consigo compreender como é que os governos não vêem que o processo tecnológico é absolutamente fulcral para a riqueza e a prosperidade. E este processo tecnológico depende do conhecimento técnico. Para isso é necessária formação e investigação dentro do seu próprio país. Mas parece que nem todos partilham esta perspectiva. E se não o fazem, provavelmente não investem.

Vejo ministros de muitos países a tentar convencer os seus governos e, por isso, normalmente os ministros da investigação concordam. Mas talvez tenham de lutar contra outros ministros [pelo financiamento].

A ciência não é um tema sexy para vender aos eleitores.
Como cientista, isso é difícil para mim entender isso.

A falta de políticas públicas baseadas em ciência tem sido estudada. Ainda há trabalho a fazer neste campo?
Há sempre mais trabalho a fazer. A certos níveis, penso que [a ciência] é ouvida. Por vezes, a ideologia está em primeiro lugar e a contribuição científica passa para segundo plano. Mas, em geral, tenho confiança de que a ciência é ouvida a nível político.

Também relaciona o facto de a ciência ser ouvida a nível político com a confiança que se tem na ciência? Houve um pico durante a covid-19, mas essa confiança tem caído.
Os cientistas ainda estão entre os profissionais em quem as pessoas mais confiam, ​​se atentar nos relatórios anuais [como os barómetros da UE].

O facto de as pessoas estarem tão disponíveis para ouvir as ditas “verdades” não científicas que não se baseiam em factos é preocupante. Embora seja compreensível, porque torna-se muito mais complicado pensar através de factos científicos.

Os cientistas, se forem bons, não dizem “esta é a verdade”. Dizem “tanto quanto sabemos” ou “isto é o que sabemos hoje”. O que significa que o amanhã pode parecer diferente. Mas isto é mais difícil de compreender para as pessoas do que uma verdade absoluta. Os cientistas têm de trabalhar arduamente para convencer o maior número de pessoas possível a entender como funciona o método científico.

Falou da necessidade de aumentar o investimento em ciência. Por que razão deve a Europa ser líder na ciência?
Não creio que seja esse o cerne da questão. Não se trata de ser líder em ciência, mas sim de estar na zona da frente quanto aos investigadores e à capacidade de trabalhar com a ciência que se desenvolve. Por exemplo, das empresas de inteligência artificial, quantas estão na Europa? Praticamente nenhuma.

Precisamos de dinheiro para lidar com os problemas que enfrentamos e que a nossa sociedade enfrenta. Os países precisam de riqueza e já dissemos centenas de vezes de onde ela surge: da investigação.

Podemos olhar para o ERC. Só financiamos investigação fundamental motivada pela curiosidade e isso tem realmente valido a pena. O trabalho dos bolseiros do ERC conduziu a inúmeras descobertas, muitas patentes e startups, e até a 14 Prémios Nobel durante estes primeiros 17 anos de existência.

Não se trata apenas de fazer descobertas, mas também de formar os recursos humanos que serão capazes de lidar com os desafios que vamos enfrentar no próximo ano, na próxima década e no próximo século. Não se trata de liderar a ciência, mas sim de estar na dianteira e não ficar para trás – e esta é uma enorme diferença.

Público

Trump is not to be trusted

 


Trump está em low mode até fazer o juramento. Daí este modo de charme. Depois é outra história. Ele não é de confiança e os que o vão rodear ainda menos. Elon... Diz-se que Tulsi Gabbard está na folha de pagamentos de Moscovo. Certo, certo é sabermos que Trump admira homens fortes e despreza vulneráveis. A Ucrânia tem de se armar, usar as suas armas para destruir todas as infraestrutura de petróleo e gás russos, usar os seus mísseis de fabrico próprio e começar a fazê-los cair na Rússia todos os dias até destruir todos os sítios militares de onde os atacam (porque os aliados não fecham os céus da Ucrânia), fortalecer os laços com os europeus, os vizinhos próximos e os distantes (esperemos que os alemães façam a sua parte e substituam Scholz) e tem de arranjar um par de armas nucleares capazes de atingir Moscovo e São Pertersburgo. E é assim que se destrói Putin e o seu bando de malfeitores. De Trump, conta-se com poucochinho mas espera-se sempre o pior e é para o pior que têm de preparar-se. A Europa tem de estar preparada para se unir na ajuda à Ucrânia sem os EUA. É a realidade.


Beba poesia sem moderação