Estou a corrigir e classificar testes. Um aluno diz que os cientistas que adoptam o método científico clássico, como não têm nenhuma hipótese que operacionalize as observações, "andam aos gambozinos" ahahah. (não estava à espera desta)
Estou a corrigir e classificar testes. Um aluno diz que os cientistas que adoptam o método científico clássico, como não têm nenhuma hipótese que operacionalize as observações, "andam aos gambozinos" ahahah. (não estava à espera desta)
Hoje tive a última aula com uma turma do 11º ano. Uma turma que possuía as três características que mais aprecio numa turma: simpáticos, educados e com sentido de humor. A acrescer a essas qualidades ainda tinha um grupo grande de alunos interessados. Alguns muito interessados e bastante bons alunos. Os pais também muito interessados e colaborativos. Todas estas qualidades reunidas numa turma vão sendo raras, de maneira que de certeza vou sentir falta deles. Despedi-me deles hoje. Passaram todos. Desejei-lhes coisas boas e entre elas, construirem-se como optimistas e activos que o mundo está cheio de problemas para resolver e é uma época cheia de possibilidades. Bateram-me palmas. Nunca tal me tinha acontecido. Outras coisas sim, mas não isso. Ainda me disseram coisas simpáticas. Enfim, tenho aquela impressão de fim de ciclo, mas num sentido positivo.
Este ano sobraram-me 3 aulas com uma das turmas do 11º ano que é um ano com um programa que se consegue cumprir sem stress, desde que não haja percalços que obriguem a faltar. Como penso que falta ao programa de Filosofia um tema de conclusão dos dois anos do curso resolvi preparar 3 aulas sobre a Felicidade e a Boa Vida. Vou lançar o tema com umas frases de filósofos pertinentes para discutir e depois pô-los a organizar as ideias com umas fichas com questões para pensar no tema, seguindo o lema de Sócrates, 'conhece-te a ti mesmo'. Fiz 10 fichas, cada uma com um problema relacionado com o tema e com uma indicação de como transformar o problema em acção com vista à felicidade, pois como dizia William James,
A acção pode não trazer felicidade, mas não há felicidade sem acção.Isto das fichas é que deu muito trabalho porque não quero lamechiches, nem frases de auto-ajuda de FB, mas sim instrumentos que ajudem a pensar, a conhecer-se a si mesmo e a transformar esse conhecimento em acção útil na construção de uma vida com sentido e felicidade.
Outro dia apanhei na escola dois representantes da editora do Manual de Filosofia adoptado. Perguntaram-me se gostava do caderno de actividades e como o usava. Disse a verdade: não o uso. Os alunos que o têm usam-no para fazer exercícios mas eu gosto de ser eu fazer as fichas de trabalho significativas. Então e usa muito o Manual? Nope... raramente. Uso ou outro capítulo esporádico porque a maneira como organizam os temas e os autores que escolhem nem sempre vão ao encontro da minha maneira de abordar os temas. Então e as aulas digitais? Pois, isso digo aos alunos e eles usam se quiserem, mas eu gosto de fazer os meus materiais digitais. Não sei se gostaram destas respostas, mas é a verdade.
Todos os dias à hora do jantar há discussões por causa de mim, segundo ele diz. Porquê?
Outro dia levei para a aula este anúncio que estava na minha caixa do correio. Veio a propósito porque estamos a trabalhar o Tema da Filosofia das Ciências e estivemos a falar no critério de cientificidade de Karl Popper, que traça a fronteira entre a ciência e a pseudo-ciência.
Ora a astrologia é um dos exemplos que Popper dá de pseudo-ciência, de maneira que este anúncio veio mesmo a calhar.
Hoje, ainda a propósito de valores e porque queria que percebessem que há uma diferença entre fazer juízos de facto -descrever objetivamente as situações- e juízos de valor mostrei, numa turma, esta pintura de Francis Bacon, que é um auto-retrato e perguntei-lhes o que seriam capazes dizer sobre a obra.
"É estranha", diz logo um. "Está tudo fora do sítio" diz outro. Volta-se um miúdo e diz, "ele não estava a fazer o retrato da sua cara, mas do seu lado emocional. Se calhar é como ele se sentia por dentro. Todo fora do sítio". Confesso que não estava à espera desta observação. O miúdo tem 15 ou 16 anos. Os alunos às vezes surpreendem-nos
Na segunda-feira passada, numa das turmas do 10º ano, dei à turma uma ficha de auto-determinação de valores fundamentais. Estamos a trabalhar essa questão dos valores e estamos na parte dos valores serem guias de acção na vida. Desafiei os miúdos a dizerem, por ordem, quais as 5 'coisas' que mais valorizam na vida. Alguns ofereceram-se para dizer e escrevi no quadro essas listas. Diziam mais ou menos a mesma coisa, embora em ordem diferente: a família, os amigos, o amor, a saúde, o dinheiro, a justiça ou a independência. Depois de as escrever inventei cenários para cada uma das listas em que tinham de tomar decisões difíceis entre a família e o amor, por exemplo, ou o dinheiro e a saúde, de maneira a levá-los a alterar constantemente a ordem dos seus valores ou até a ter que substituir valores por outros diferentes. O meu objectivo era que tomassem consciência da facilidade com que atraiçoamos valores que pensamos fundamentais, ao sabor das circunstâncias. Dei-lhes uma ficha (falei dela num posto anterior) para saberem auto-determinar os seus 5 valores fundamentais e como transformá-los em guias de acção para a vida. A ficha ajuda a responder à questão de saber, 'quem sou eu, como me vejo, no trabalho e na vida e com que valores me oriento'. A ficha ficou interessante e os miúdos compenetraram-se muito e em completo silêncio, naquela tarefa de descobrir quais são os seus valores fundamentais. No fim da ficha perguntei se alguém queria partilhar os seus 5 valores e duas alunas partilharam. Uma delas tinha como 2º valor, o 'poder', o que foi inesperado, do meu ponto de vista, mas interessante. A outra tinha em primeiro lugar, 'fazer a diferença'. Enfim, lembrei-me que podia fazer outra actividade que respondesse à questão, 'como é que os outros me vêem', o que se desvia um bocado do tema filosófico em discussão, mas pareceu-me que era interessante e de algum modo completava bem a ficha, porque os miúdos estão numa idade da adolescência em que precisam de referências para o auto-conhecimento - e vinha a propósito. Então propus-lhes uma actividade que faço às vezes nas aulas de psicologia, que consiste em cada um escrever o seu nome numa folha em branco e a folha passar por todos para que escrevam um valor positivo referente a cada um dos colegas. Meu Deus! A excitação que isto causou... Isto é numa aula às três da tarde em que eles geralmente já vêm muito cansados e estão meio moles, mas aquilo foi uma espécie de injecção de adrenalina. O alarido que a actividade causou... Quando saí da escola vi grupos deles com as folhas na mão a mostrarem uns aos outros o que estava escrito nas suas folhas, ainda em grande excitação sobre o assunto (espero que tenham ficado a pensar na questão dos valores). E é por isto que gostamos do ensino.
Estou aqui há três horas a meio-inventar ('meio' porque fui-me inspirar numa ideia de um professor de filosofia americano e juntei-a com um exercício que faço às vezes com os alunos - ando há 4 ou 5 dias a pesquisar ideias) uma ficha sobre o tema dos Valores para tornar as coisas mais interessantes, porque se é tudo muito teórico e eles não vêem aplicação prática, desinteressam-se.
Tendo em conta que os adolescentes -e suspeito que muitos adultos- tomam decisões meio à balda e sem consciência de quais são os seus valores fundamentais e se estão a realizá-los ou a atraiçoá-los nas suas acções, o que significa uma vida com propósito incerto, resolvi fazer uma ficha para ajudar os miúdos a avaliarem-se nessa dimensão e determinarem os seus valores fundamentais. Depois escolher cinco, pô-los de modo a poderem retirar deles um guia de acção, ordenados por prioridades e que finalmente devem colar num sítio onde esteja sempre visível quando tenham que tomar decisões: no ecrã do PC, como fundo do telemóvel ou que seja. Deu muito trabalho para ficar um bocadinho desafiador mas não demasiado trabalhoso ao ponto de desencorajar e, acima de tudo, útil - acho que ficou fixe.
o pensamento é "por natureza, uma actividade sem resultados" [diria mais, sem uma paragem final, como uma viagem de comboio com imensas paragens, ramais, linhas paralelas e sem um destino final]
o pensamento é um diálogo entre interlocutores internos - um diálogo que se desenrola silenciosamente dentro de mim, entre mim e mim próprio"
pensamento requer, portanto, algo como uma democracia interna"
Hoje perguntei a uma aluna, que tem estado mal, o que se passava quando veio entregar-me uma justificação de faltas. Disse-me que anda há um mês com um caroço no peito, que tem andado no hospital aqui da cidade de médico para médico, ninguém lhe sabe dizer o que é, marcaram-lhe exames para fim de Agosto (!) e entretanto o primeiro médico que a viu disse-lhe que, dado haver casos de cancro na sua família, podia ser um cancro da mama... !?! mas isto é coisa que se diga a uma miúda de 16 anos assim de chofre? Antes de fazer exames, antes de saber qualquer coisa objectiva? Chiça. Há médicos que tiraram o curso na universidade das cavalgaduras... a rapariga anda num estado de ansiedade brutal, escusadamente.
Hoje entreguei uma medalha de mérito a uma aluna, em nome da escola. A medalha é entregue aos 3 melhores alunos da escola, desse ano de escolaridade. Portanto, ela está no 11º ano e a medalha refere-se ao 10º ano. Tirei-lhe uma fotografia com a medalha, na aula, para me memória futura, dela e da EE a quem enviei a fotografia. Não a ponho aqui porque não pedi autorização. É inteiramente merecida, não só porque é uma excelente aluna como também é uma rapariga muito bem formada enquanto pessoa.
Esta turma onde ela está, no ano passado tinha três alunos que a estragavam um bocado porque arrastavam uma meia-dúzia atrás para a dispersão e porque eram ainda muito infantis. Os alunos chegam agora ao 10º ano muito novos e muito infantis. No ano passado foi uma direcção de turma muito complicada, porque foi preciso resolver muitos conflitos e problemas sérios de uma maneira que não desconcentrasse a dezena de alunas que já mostravam ter um potencial muito bom e de maneira a não deixar os mais fracos resvalar para a desmotivação. Este ano cresceram, desses três, dois saíram e a turma concentrou-se e ficou uma turma bastante boa - são interessados, provocadores, participativos, argumentativos, concentrados, persistentes e bem educados. Nunca se queixam da quantidade de trabalho e têm sentido de humor que é uma característica essencial para podermos estar durante dois anos imensas horas juntos de maneira proveitosa. Foi uma turma que veio de menos a mais, o que é, de todas as situações possíveis, a melhor. É uma espécie de Passacaglia de Handel naquele crescendo que satisfaz.
É uma das coisas que gosto nesta profissão. Estou a começar o tema da filosofia da religião e hoje comecei por contextualizar o tema no programa do 11º ano, que é todo focado na epistemologia, de maneira que a questão implícita é: qual é o lugar de Deus no mundo actual da tecnociência?
Antes de entrar no tema, propriamente dito, pus os alunos a dizer que conceitos lhes vêm à mente quando pensam em Deus e na religião e escrevi uma nuvem de 'tags' a serem abordadas ao longo do trabalho. O programa de filosofia da religião é redutor e segue a 'lógica' da abordagem dos temas em geral nesta nova orientação: que argumentos a favor e que objecções. Só que eu prefiro uma metodologia em espiral -para usar o termo do formador do mini-curso que fiz na semana passada- que vá avançando em círculos cada vez mais abrangentes, sem perder a ligação ao fundo e, já que falamos no tema, discutimos as questões que interessam aos alunos, cuja maioria professa uma religião.
Fiz isto nas duas turmas do 11º ano e os resultados foram diferentes, de maneira que, à medida que iam dizendo palavras e íamos discutindo a introdução delas na nuvem, a discussão tomou sentidos diferentes em cada uma das turmas. Nunca há duas aulas iguais.
Numa das turmas tenho um aluno muito engraçado. Perguntou-me como podia tornar-se eloquente e eficaz a discutir as questões, mas de uma maneira rápida. lol Respondi-lhe que é como ter 5 anos e perguntar como pode ter já 21 mas sem ter que passar pelos 6, 7, etc. 'Como é que a professora faz?' Leio, leio, leio e discuto com outras pessoas. 'Mas isso leva tempo. Tenho que ler, não basta pensar?' Não, se quer argumentar um assunto com eloquência e eficácia tem de ter bons e bastantes conhecimentos sobre o assunto, senão não tem conteúdo para desenvolver argumentos e contra-argumentos e, já agora um bom vocabulário para a questão da maleabilidade mental, senão nem as palavras tem para defender as suas ideias.
Este é um dos grande problemas da educação: todos, a começar pelos ministros, falam como se a aprendizagem e a educação fossem imediatas - tens uma aula de cidadania e transformas-te em bom cidadão; tens 45 minutos por semana de inglês e ficas a falar inglês; dás 300 faltas a matemática mas ficas a saber de matemática; fazes um questionário online e tens imediatamente a solução. Depois os miúdos não têm noção (nem os pais muitas vezes) que assimilar, acomodar e transformar informação em conhecimentos é um processo lento e trabalhoso durante muito tempo.
Enfim, tirei uma fotografia dos quadros nas duas turmas porque tenho de garantir que não fica nenhum conceito por discutir, enquadrar, etc. No fim espero que saiam deste mini-curso de filosofia da religião com organização conceptual, algumas respostas e pistas para pensar.
Hoje, uma colega de Biologia, num intervalo , veio ter comigo e perguntou-me se no ano que vem dava Psicologia. Disse-lhe que não porque estou com turmas do 10º ano e para o ano estou com as mesmas turmas no 11º ano. Ahh, disse, pois foi o que eu disse aos pais. - Pais? Estivemos a falar de ti na minha reunião de pais. Vários dos pais foram teus alunos no ano da turma da Marlene e do Bruno -lembras-te?- e no ano anterior noutra turma. (claro que me lembro e tenho alguns no FB. O Bruno encontro-o de vez em quando na Gulbenkian) É que estávamos a falar das opções que eles vão escolher no 12º ano e os pais disseram-me que já tinham falado com eles. Que eles queriam uma disciplina onde desse para tirar boas notas mas onde se aprendesse algo novo e que queriam escolher a Psicologia, mas que queriam que eles te apanhassem como professora porque adoraram as tuas aulas 😍💪 de maneira que queriam que te perguntasse se ficavas com eles.
Estas coisas é que têm valor na profissão, porque o resto... os governos, o salário, as injustiças, as perseguições que uma pessoa sofre e outras cenas fazem da profissão um deserto onde ninguém quer entrar... mas os alunos? Ah, isso vale a pena.
Tenho uma turma onde os alunos, um em particular, acha que sou uma espécie de conselheira de sabedoria e então todas as aulas faz perguntas... engraçadas, às vezes impertinentes. Mas não é por mal. Então hoje, a falar no de Stuart Mill e no princípio filosofia dele, a felicidade da maioria, que é o objectivo da acção ética, e estando a falar no que é para ele a felicidade -o prazer ou ausência de dor- perguntou-me, 'oh, professora, como é que sei se sou feliz? Que critério devo usar para aferir da minha felicidade?' E falámos disso e depois perguntou-me se eu acreditava na felicidade e eu disse que não acredito na felicidade plena como coisa permanente, mas que acredito em momentos felizes e em desenvolver recursos internos para saber gerar momentos de prazer em momentos de crise e infelicidade. Então e quem não tem esses recursos, como faz? Aprende a desenvolver. E quem não é capaz? Bem, disse, alguns acabam no psiquiatra a pedir medicação, mas há outros maneiras de lidar com o problema antes de ir aí.—No anos 70 os músicos não buscavam esses estados na droga, perguntou? - Sim e muitos morreram antes do 30 anos à conta disso. —A professora já procurou na droga esse estado de felicidade? — What?? Não lhe parece que essa pergunta é impertinente? Pediu desculpa. Não foi por mal, disse, foi por curiosidade. Não lhes falei no Aldous Huxley que defendia o uso de drogas como portal para certo tipo de experiências porque são muito novos e o mais certo era perceberem de uma maneira inconveniente. Mas disse-lhes que não preciso de tomar cenas para ver cenas porque tenho a imaginação e outras coisas. Isto foi mesmo no fim da aula e tocou para sair. Mas todos as aulas há perguntas sobre cenas que levam a outras cenas.
Hoje a aula, numa das turmas, foi diferente. É uma turma onde a maioria dos alunos tem sempre algo a dizer 🙂 e todos gostam de perguntar e de discutir. Um dos alunos, já não sei a propósito de quê disse que tinha andado a ler sobre os estóicos e gostava da perspectivas deles sobre a vida [portanto, anda a pensar no sentido da vida]. Ninguém na turma sabia quem eram os estóicos e ele explicou o que tinha lido sobre o que eles pensavam ser o sentido da vida. Isso deu alguma discussão. Depois perguntou-se se eu era estóica e disse-lhe que não - quis saber porquê. A seguir pergunta-me qual é, então, o sentido da vida. Disse-lhe que não é algo que uma pessoa possa ditar para as outras, que cada um tem que construir o seu sentido e que a Filosofia pode ser uma grande ajuda nisso. Diz uma, 'tenho tempo de pensar nisso'. Contei-lhe o caso do meu ex-aluno que faleceu há menos de um mês devido a uma cena que alguém lhe pôs na bebida. Ficaram calados. Depois um diz que gostava de morrer atropelado porque é poético. LOL Fartei-me de rir. É claro que lhe disse que não há poesia nenhuma em morrer atropelado. É um sofrimento horrível. 'Mas é poético, dizia ele, deixamos a vida conscientes de que é tudo um sofrimento. [bem...]O que eu gostava mesmo era de não morrer, diz outro. Pois, digo, eu, lamento desiludir, mas isso... not gonna happen de maneira que o melhor é começar a pensar na direcção que quer dar à sua vida. Diz outro, 'pensar? O meu lema é mesmo não pensar muito e fazer as coisas com boa disposição, com os amigos'. —Ah, isso de se ter boa disposição na vida geralmente requer uma muita experiência e boa dose de pensamento, digo eu, mas pode tornar-se um epicurista. 'Epicurista? Isso é o quê? Explique, explique' 🙂 Estes miúdos são muito vivos e têm muito potencial humano.
Estava numa turma na semana passada e estávamos a falar do que são os problemas humanos e a questão do sentido da vida estar ligado à felicidade foi trazida à colação por uma miúda e eu disse, 'não sei o que entende por felicidade'. Depois perguntei à turma qual é a ideia deles de felicidade. Uma aluna disse logo, 'não acredito que haja uma coisa que dê toda a felicidade. Há várias coisas que vão dando felicidade'. Um rapaz disse, 'para mim a felicidade está ligada a atingir objectivos'. Outra aluna, 'para mim a felicidade é ter paz' (percebi logo tanta coisa desta aluna...); outra: para mim é estar bem com os outros e sentir-me bem'; outro: precisamos de ter coisas para podermos depois tratar de procurar a felicidade'. As respostas foram todas neste tom. Tenho expectativas muito positivas com esta turma.
Há qualquer coisa de esperança no mundo quando vemos miúdos no começo da vida já tão engagées.
Tenho na lista de amigos do FB muitos ex-alunos. Um deles é um rapaz que foi meu aluno há uns 13 ou 14 anos, numa turma de um curso de Desporto. A turma era terrível no 10º ano e arranjou tantos problemas aos professores que ninguém os suportava, de modo que só eu e outro professor ficámos com eles no ano a seguir. Por essa altura já me dava tão bem com eles que nem me passaria pela cabeça largar a turma. No 10º ano, no entanto, por duas ou três vezes me fizeram perder a cabeça e nessas alturas em que me fazem perder a cabeça, que são raras, mas acontecem, tenho a tendência de me saírem pela boca fora muitas verdades, ditas à bruta e, pior, ditas às vezes com sarcasmo corrosivo. Lembro-me de perder a paciência várias vezes com este rapaz e uma das vezes com uma frase que ainda hoje me persegue. Não dava nada por ele. Pois agora, quase todos os dias ele e a vida dele me batem na cara, por assim dizer. Não é que tenha um sucesso extraordinário, mas tem uma boa vida. É casado, tem uma filha e está à espera de outro filho. Ele e mulher gostam mesmo um ao outro e apreciam-se. Isso vê-se. Trabalha com imenso entusiasmo, sempre sorridente e bem disposto. O tipo de pessoa em que se tornou é algo que nunca esperaria. Erro meu a ajuizar. Vejo-o por lá pelo FB com frequência e de cada vez que o vejo, vejo o meu erro. É um marcador pedagógico. Uma grande lição.
A minha turma de artes mandou-me um mail, assinado, os procrastinadores :) com muitas saudades e muitos beijinhos. Também tenho saudades, que eles são muito engraçados. E beijinhos também, porque não?