Hoje começámos a abordagem do tema dos Valores e passámos a aula toda a discutir cenários e a problematizar hipóteses ligadas com o tema. Discutimos os problemas do subjetivismo dos valores e da questão cultural associada. Lemos uma carta de Bertrand Russel a Sir Oswald Mosley (mais abaixo).
Sir Oswald Mosley, fundador e líder da União Britânica de Fascistas, pediu a Bertrand Russell (que escrevia nos jornais contra o fascismo), pouco tempo antes do seu 90º aniversário, para ir discutir consigo os méritos do fascismo enquanto organização social.
Bertrand Russel recusou, como se lê na carta. Os alunos perceberam a recusa dele. Porém a questão que pus aos alunos é a seguinte: se todos se recusarem a discutir com os adversários assumindo que é impossível estabelecer um campo comum e se em vez disso nos cancelamos ou bloqueamos uns aos outros, o que nos acontece enquanto sociedade? Como tomamos decisões em assuntos fundamentais?
Tarefa difícil: pensar em soluções para ultrapassar as incompatibilidades que derivam do subjectivismo dos valores. Discutir o assunto com os pais, os amigos... basicamente chatear toda a gente com o assunto e aparecer com ideias, mesmo que pareçam absurdas.
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Carta de Bertrand Russel a Sir Oswald Mosley:
“Caro Sir Oswald,
Obrigado pela sua carta e pelos anexos. Reflecti um pouco sobre a nossa recente correspondência. É sempre difícil decidir como responder a pessoas cujo ethos é tão estranho e, de facto, repelente ao nosso. Não é que eu não esteja de acordo com os pontos gerais apresentados por si, mas porque cada grama da minha energia tem sido dedicado a uma oposição activa ao fanatismo cruel, à violência compulsiva e à perseguição sádica que tem caracterizado a filosofia e a prática do fascismo.
Sinto-me obrigado a dizer que os universos afectivos que habitamos são tão distintos e, no fundo, opostos, que nada de frutuoso ou sincero poderia resultar da nossa associação.
Gostaria que compreendessem a intensidade desta convicção da minha parte. Não é por qualquer tentativa de ser rude que o digo, mas por tudo o que valorizo na experiência humana e na realização humana.
Com os melhores cumprimentos,”
Bertrand Russell
“Caro Sir Oswald,
Obrigado pela sua carta e pelos anexos. Reflecti um pouco sobre a nossa recente correspondência. É sempre difícil decidir como responder a pessoas cujo ethos é tão estranho e, de facto, repelente ao nosso. Não é que eu não esteja de acordo com os pontos gerais apresentados por si, mas porque cada grama da minha energia tem sido dedicado a uma oposição activa ao fanatismo cruel, à violência compulsiva e à perseguição sádica que tem caracterizado a filosofia e a prática do fascismo.
Sinto-me obrigado a dizer que os universos afectivos que habitamos são tão distintos e, no fundo, opostos, que nada de frutuoso ou sincero poderia resultar da nossa associação.
Gostaria que compreendessem a intensidade desta convicção da minha parte. Não é por qualquer tentativa de ser rude que o digo, mas por tudo o que valorizo na experiência humana e na realização humana.
Com os melhores cumprimentos,”
Bertrand Russell
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