September 25, 2023

Pensar



Vou levar estas três frases para estas aulas de início do 10º ano. Este ano tenho turmas do 10º ano. São difíceis porque é preciso partir muita camada de verniz que trazem da educação da sociedade e das redes sociais que lhes embotou o espírito. Fazê-los ver e compreender por dentro que aquilo que julgam serem opiniões próprias e pensamentos sobre as questões são meras arbitrariedades cheias de pré-conceitos e vulgaridades sem nenhuma qualidade. 

Estamos a falar do pensamento, de como se progride de um pensador inconsciente e insipiente que nem sequer se dá conta de que há problemas para um pensador crítico excelente, o que implica interiorizar metodologias com padrões de qualidade do pensamento até que se tornem um hábito sem esforço consciente. Então, estamos a abordar os padrões a que deve obedecer o pensamento para fazer essa progressão.

Leva muito tempo. Ao contrário das outras disciplinas que têm e conhecem desde há anos, a Filosofia é uma coisa nova e ainda por cima estranha, muito diferente das outras disciplinas - tudo é discutido e esmiuçado até não haver mais nada para clarificar e eles não terem dúvidas, porque preciso que 'vejam' que esta metodologia não é apenas uma obrigação para tirar boas notas a Filosofia, mas sim um caminho para pensar bem, em qualquer área do conhecimento ou da vida.

Tenho que exemplificar, provocar as respostas deles para depois as desmontar nos seus erros e falhas. É um processo difícil porque muito resistem. Vêm com aqueles clichés do conhecimento estar já todo na internet à distância de um clique. Numa das aulas da semana passada usei frases do Eça para mostrar a diferença entre informação e conhecimento e como se pode extrair conhecimento da informação dada.
É difícil mas é um desafio interessante.

Pois estas frases que tirei do texto do post anterior vão servir muito bem para a aula de hoje. A primeira é uma provocação: que interessa pensar se não se chega a lado nenhum? vai servir para perceber que muitas vezes as perguntas são mais importantes que as respostas. As outras duas vão servir para enfiar o diálogo dentro da alma, como diria Platão, quer dizer, treinar a instrospecção e o aviso contra si próprio. Vamos ver.

o pensamento é "por natureza, uma actividade sem resultados"  [diria mais, sem uma paragem final, como uma viagem de comboio com imensas paragens, ramais, linhas paralelas e sem um destino final]

o pensamento é um diálogo entre interlocutores internos - um diálogo que se desenrola silenciosamente dentro de mim, entre mim e mim próprio"
 
pensamento requer, portanto, algo como uma democracia interna"



2 comments:

  1. Não está mal para começo. Se atender à especificidade de cada turma. Partir da pseudo-sabedoria que possuem e chegar por si ao reconhecimento do que, em geral, está em falta no acto de pensar é, em última análise, situá-los na dúvida.
    Boa sorte

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