May 11, 2022

Estas coisas é que têm valor na profissão

 


Hoje, uma colega de Biologia, num intervalo , veio ter comigo e perguntou-me se no ano que vem dava Psicologia. Disse-lhe que não porque estou com turmas do 10º ano e para o ano estou com as mesmas turmas no 11º ano. Ahh, disse, pois foi o que eu disse aos pais. - Pais? Estivemos a falar de ti na minha reunião de pais. Vários dos pais foram teus alunos no ano da turma da Marlene e do Bruno -lembras-te?- e no ano anterior noutra turma. (claro que me lembro e tenho alguns no FB. O Bruno encontro-o de vez em quando na Gulbenkian) É que estávamos a falar das opções que eles vão escolher no 12º ano e os pais disseram-me que já tinham falado com eles. Que eles queriam uma disciplina onde desse para tirar boas notas mas onde se aprendesse algo novo e que queriam escolher a Psicologia, mas que queriam que eles te apanhassem como professora porque adoraram as tuas aulas 😍💪 de maneira que queriam que te perguntasse se ficavas com eles. 

Estas coisas é que têm valor na profissão, porque o resto... os governos, o salário, as injustiças, as perseguições que uma pessoa sofre e outras cenas fazem da profissão um deserto onde ninguém quer entrar... mas os alunos? Ah, isso vale a pena.

Tenho uma turma onde os alunos, um em particular, acha que sou uma espécie de conselheira de sabedoria e então todas as aulas faz perguntas... engraçadas, às vezes impertinentes. Mas não é por mal. Então hoje, a falar no de Stuart Mill e no princípio filosofia dele, a felicidade da maioria, que é o objectivo da acção ética, e estando a falar no que é para ele a felicidade -o prazer ou ausência de dor- perguntou-me, 'oh, professora, como é que sei se sou feliz? Que critério devo usar para aferir da minha felicidade?' E falámos disso e depois perguntou-me se eu acreditava na felicidade e eu disse que não acredito na felicidade plena como coisa permanente, mas que acredito em momentos felizes e em desenvolver recursos internos para saber gerar momentos de prazer em momentos de crise e infelicidade. Então e quem não tem esses recursos, como faz? Aprende a desenvolver. E quem não é capaz? Bem, disse, alguns acabam no psiquiatra a pedir medicação, mas há outros maneiras de lidar com o problema antes de ir aí.—No anos 70 os músicos não buscavam esses estados na droga, perguntou? - Sim e muitos morreram antes do 30 anos à conta disso. —A professora já procurou na droga esse estado de felicidade? — What?? Não lhe parece que essa pergunta é impertinente? Pediu desculpa. Não foi por mal, disse, foi por curiosidade. Não lhes falei no Aldous Huxley que defendia o uso de drogas como portal para certo tipo de experiências porque são muito novos e  o mais certo era perceberem de uma maneira inconveniente. Mas disse-lhes que não preciso de tomar cenas para ver cenas porque tenho a imaginação e outras coisas. Isto foi mesmo no fim da aula e tocou para sair. Mas todos as aulas há perguntas sobre cenas que levam a outras cenas.


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