November 07, 2022

Nunca há duas aulas iguais

 

É uma das coisas que gosto nesta profissão. Estou a começar o tema da filosofia da religião e hoje comecei por contextualizar o tema no programa do 11º ano, que é todo focado na epistemologia, de maneira que a questão implícita é: qual é o lugar de Deus no mundo actual da tecnociência? 

Antes de entrar no tema, propriamente dito, pus os alunos a dizer que conceitos lhes vêm à mente quando pensam em Deus e na religião e escrevi uma nuvem de 'tags' a serem abordadas ao longo do trabalho. O programa de filosofia da religião é redutor e segue a 'lógica' da abordagem dos temas em geral nesta nova orientação: que argumentos a favor e que objecções. Só que eu prefiro uma metodologia em espiral -para usar o termo do formador do mini-curso que fiz na semana passada- que vá avançando em círculos cada vez mais abrangentes, sem perder a ligação ao fundo e, já que falamos no tema, discutimos as questões que interessam aos alunos, cuja maioria professa uma religião.

Fiz isto nas duas turmas do 11º ano e os resultados foram diferentes, de maneira que, à medida que iam dizendo palavras e íamos discutindo a introdução delas na nuvem, a discussão tomou sentidos diferentes em cada uma das turmas. Nunca há duas aulas iguais. 

Numa das turmas tenho um aluno muito engraçado. Perguntou-me como podia tornar-se eloquente e eficaz a discutir as questões, mas de uma maneira rápida. lol  Respondi-lhe que é como ter 5 anos e perguntar como pode ter já 21 mas sem ter que passar pelos 6, 7, etc. 'Como é que a professora faz?' Leio, leio, leio e discuto com outras pessoas. 'Mas isso leva tempo. Tenho que ler, não basta pensar?' Não, se quer argumentar um assunto com eloquência e eficácia tem de ter bons e bastantes conhecimentos sobre o assunto, senão não tem conteúdo para desenvolver argumentos e contra-argumentos e, já agora um bom vocabulário para a questão da maleabilidade mental, senão nem as palavras tem para defender as suas ideias. 

Este é um dos grande problemas da educação: todos, a começar pelos ministros, falam como se a aprendizagem e a educação fossem imediatas - tens uma aula de cidadania e transformas-te em bom cidadão; tens 45 minutos por semana de inglês e ficas a falar inglês; dás 300 faltas a matemática mas ficas a saber de matemática; fazes um questionário online e tens imediatamente a solução. Depois os miúdos não têm noção (nem os pais muitas vezes) que assimilar, acomodar e transformar informação em conhecimentos é um processo lento e trabalhoso durante muito tempo. 

Enfim, tirei uma fotografia dos quadros nas duas turmas porque tenho de garantir que não fica nenhum conceito por discutir, enquadrar, etc. No fim espero que saiam deste mini-curso de filosofia da religião com organização conceptual, algumas respostas e pistas para pensar.





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