June 05, 2020

Não sei



Não sei mais 
se vou se venho
se foi se tenho
noite sem astro
des-astre






GERALD PETIT


Um coração polvilhado de estrelas











Calcite em ametista. Da mina de Medina, Artigas, Uruguay. Tem quase meio metro de altura e pesa 11 quilos.
Photo: Russ Behnke

Uma espécie de paz


“A poesia é uma arma carregada de futuro”

~ Gabriel Celaya


Marcus Cederberg

What a mess. Just like life...



Quando se vê em pormenor (é clicar no nome ali ao lado) como ele pintou as raízes, as hastes das flores a despontar, aquelas florzinhas, pontos luminosos que parecem pólens, tudo num emaranhado de aparência caótica e selvagem mas cada vida na sua vida a crescer e a ocupar o seu espaço na terra e debaixo do sol. Isto é tão bonito que até dói. A vida invisível das coisas que se emaranham em nós.




Albrecht Durer

Isto é numa rua de Minneapolis




De mais a menos



Da primeira mulher gosta-se. A presidente da Comissão Europeia. Pelo menos até agora. Está muitos furos acima dos dois que a precederam. Mas muitos, mesmo. Já fez mais em orientação positiva em meia dúzia de meses que eles em 10 ou 15 anos ou lá o que foi. Gente de negociatas e lobbies. Deixaram, esses dois, a UE, em frangalhos, completamente dividida. Da segunda, que é a chefe da Europa, gosta-se intermitentemente. Tem fases muito distintas. Oscila entre a cegueira dogmática e a coragem de ver mais longe... agora anda bem. Do chefe da macrónia é difícil gostar. É um fatinho. Melhor que os antecedentes mas pouco. Muito pouco.

Por Uma Democracia de Qualidade




A última 'judiaria' parlamentar do PS

José Ribeiro e Castro 

A controvérsia mostrou que foi tudo embrulhado em desconhecimento ou desinformação. Provou que, não sendo por anti-semitismo ou fobia aos judeus, não há razão para alterar a lei, cuja aplicação corre bem de um modo geral, dentro do escopo pretendido: tratar como parte da comunidade nacional as comunidades sefarditas de ascendência portuguesa. Permitiu realçar que, diversamente do que andou a propalar-se, a lei de 2013, em vigor, já exige a estes candidatos à naturalização “demonstração da tradição de pertença a uma comunidade sefardita de origem portuguesa” e “requisitos objectivos comprovados de ligação a Portugal”. E tornou claro que qualquer inquietação séria que possa existir quanto a eventuais abusos pode ser respondida por afinação regulamentar, a cargo do Governo, dentro da moldura legal actual.

Na verdade, não é defensável querer alterar leis por processos ínvios e com fundamentos inconsistentes e não provados. Numa democracia de qualidade, isso não passa.

Espero que não transformem necessidades em erros



As desigualdades não têm que ver com o ensino à distância. O ensino sem aulas presenciais nesta pandemia só o evidenciou de forma que as autoridades já não podem fingir que não sabem, da mesma maneira que os telemóveis a filmar os negros a serem vítimas de brutalidade nos EUA tornou impossível o fingir que não se sabe de nada.
Alunos não terem equipamento informático e internet de banda larga nos tempos que correm é como não ter sapatos. No ensino presencial, um aluno que não tem estes recursos está restringido no seu trabalho, na organização da sua vida, no acesso à informação e ao conhecimento, na produção de trabalho, etc.
Espero que entendam isso e não partam do princípio que o ensino à distância é uma alternativa ao ensino presencial, porque não é. É uma remediação porque teve que ser, assim como temos que afastar-nos dos outros, mas isso é uma perda de vivência e um empobrecimento social e não uma alternativa a podermos andar de braço dado ou sentar perto uns dos outros, partilhar um bolo, etc.

Covid-19. Governo aprova 400 milhões de euros para universalização da Escola Digital


O Governo vai lançar um programa para assegurar a universalização do acesso e utilização de recursos educativos digitais, um investimento no valor de 400 milhões de euros, anunciou o primeiro-ministro, esta quinta-feira.

“Esta crise demonstrou bem como é essencial combater as desigualdades, designadamente aquelas do ensino à distância”, afirmou António Costa em conferência de imprensa, no final da reunião do Conselho de Ministros, sublinhando a necessidade de assegurar o acesso ao ensino digital em suporte digital.

Os artigos sobre a avaliação dos alunos têm sempre um ror de erros e são capciosos



Pandemia "é oportunidade" para retirar peso aos testes escritos na avaliação

Há uma desmotivação geral quando um aluno teve um trabalho excelente - no qual se esforçou, para investigar e ser criativo, tudo o que se pede agora [no mercado de trabalho] - e depois falha num teste de memorização, de atenção.

O trabalho de um professor deve passar por "privilegiar a proximidade com o aluno, a aprendizagem contínua", a única forma de "perceber se há dificuldade na aquisição de conhecimentos" e de "valorizar a sua participação ativa", diz a dirigente da ANP. "Assim, estaríamos a dizer ao aluno: 'tu és sempre importante'" e não apenas a considerá-lo no derradeiro momento de expor os seus conhecimentos num teste comum. "Devíamos desconstruir completamente o sistema."


A avaliação não tem que ser a favor ou contra os testes. Há um lugar para tudo: há assuntos, temas, disciplinas que requerem avaliações diferentes. Os testes não avaliam apenas atenção e memória, como todos sabemos, de modo que se pergunta: esta pessoa que escreve isto, tem uma agenda, como dizem os americanos? A grande dificuldade dos alunos nos testes não são as perguntas que requerem memorização mas as que requerem pensamento: ser capaz de seleccionar, entre os conhecimentos, os que são relevantes para responder à questão/resolver o problema, fazendo relacionamento entre vários assuntos, técnicas necessárias para o efeito.
Mesmo que os teste só avaliassem atenção e memória, já era importante em muitas situações: quem quer atravessar uma ponte construída por uma pessoa incapaz de atenção (concentração) e memória? Quem quer ser tratada por um médico ou enfermeiro incapaz dessas dois recursos mentais? 

Que agora o mercado de trabalho só quer pessoas criativas e que investiguem é um disparate porque a imaginação e a criatividade exercem-se sobre os conhecimentos e a as técnicas interiorizadas e não sobre o vazio. Ou a pessoa que escreve isto acha que o Einstein não tinha conhecimento e técnicas e não trabalhava arduamente nelas, antes de pensar as teorias e que as inventou do nada só com imaginação?

Seguidamente, confunde-se o professor com um psicólogo motivacional: o objectivo da avaliação não é motivar alunos. É dar-lhes uma medida do seu progresso em diversas áreas do conhecimento e das técnicas. Se não, seria como estar a treinar uma pessoa para a maratona e aldrabar os tempos e as distâncias que a pessoa correu para motivá-la. Motivar não é distorcer.

O professor deve ser próximo dos alunos? Nem todos os alunos andam no infantário ou no 1º ciclo. Há inúmeros estilos de professor e há professores que são distantes e são bons professores. Nós professores não somos a segunda mãe ou o segundo pai ou a tia ou o tio dos alunos. A sala de aula e a escola não são uma extensão da família.
Há muitas maneiras de avaliar e a avaliação depende do que se quer atingir, de modo que depende também do que se avalia: não se avalia a Lógica como a Estética. Há disciplinas onde é mais difícil fazer grandes variações na avaliação, como a Matemática, por exemplo, dadas as condições de insucesso em que o ME põe as escolas e os professores.

Esta pandemia não é um exemplo de melhores práticas de avaliação. Sei de fonte directa, AKA, os alunos, que imensos alunos fizeram testes, trabalhos e pesquisas, com o explicador online. Às vezes o explicador até é um professor.

Andei três semanas a pensar um trabalho para os alunos que queiram a oportunidade de subir 1 valor na nota, de maneira a evitar fraudes, porque agora é difícil controlar isso. Portugal é um país de corrupção, tráfico e chico-espertismo. Todos o sabemos e é na escola que começam essa 'carreira'.

Devíamos desconstruir o sistema? Mas esta pessoa acha que a destruição do ensino e das escolas por reformas contraditórias umas a seguir às outras bem como a destruição do trabalho e da carreira do professor que tanto afecta os alunos, foi pouco e quer destruir ainda mais? A destruição é uma coisa boa? Positiva?

A questão é: alguém, não sei quem, inventou há uns anos (e impôs-nos a todos, sem perguntar se estávamos de acordo) a ideia de que era bom para a sociedade todos os alunos passarem por uma educação universitária. Ora, para isso acontecer, perverteu-se o objectivo de um curso universitário e teve que baixar-se o padrão dos estudos universitários (Bolonha). Como sabiam que isso iria formar profissionais com grandes falhas, deixaram medicina e arquitectura na mesma... o problema é que, quando começam os processos de decadência e entropia, é muito difícil pará-los e esse aplanar de dificuldades também já chegou a esses cursos. Daí, haver hoje em dia uma grande disparidade na qualidade dos médicos. E talvez dos arquitectos, mas aí não sei porque não tenho conhecimentos para o dizer. Certo é que baixaram também o nível escolar, para que todos possam aparecer nas estatísticas (que os governos exibem como se aquilo fosse sério) como sucessos a ingressar na universidade e retiraram do programa e dos manuais tudo o que são espinhas e só deixaram a carninha molezinha, mas mesmo assim ainda acham muito e hoje em dia, como se vê por este artigo, a escola e o ensino têm como objectivo fazer com que os alunos se sintam bem e felizes, consumíveis, mesmo que aprendam nada e depois se tornem uns profissionais medíocres, como já acontece.


Good morning



June 04, 2020

As ruas como arames farpados



Conheço esta paisagem, já a vi na Rússia. Quando vamos a São Petersburgo não vemos Leninegrado. Estamos sempre a ver S. Petersburgo, com as suas cores alegres, a imponência dos palácios e da catedral com as cúpulas em ouro, os canais e as pontes. Opulência, graça e elegância. O Hermitage e aquele excesso de Belo da arte que encerra pôs-me um bocadinho aérea. Durante dias procurei Leninegrado e não via nada de nada que evocasse a cidade, sendo que tinha consciência, todo o tempo, de estar na cidade do poema de Brecht acerca dos soldados nazis que ofereciam presentes às namoradas, que mandavam das cidades conquistadas e de Leninegrado só chegavam caixões.
Só quando saí da cidade, para Sul, em direção ao Peterhof, vi Leninegrado, e foi isto que vi. Edifícios gigantescos, com uma casa de banho para cada 100 apartamentos, dum castanho, não escuro, mas sujo. Enfiados no meio de ruas que parecem arame farpado, com estátuas de heróis soviéticos de bronze escuro todos iguais a Lenine - aquele boné, a mão estendida ligeiramente para cima. Uma comoção opressiva porque imediatamente imaginamos a vida das pessoas naquele prédios medonhos e insanos de cubículos sem privacidade nem espaço, como celas de prisão. A guia contou que a Câmara estava a oferecer casas a jovens mas nem mesmo oferecidas as queriam. Ali perto, um bocadinho antes, um monumento aos heróis da Segunda Guerra, bastante bonito, sóbrio e sem propaganda. Depois saímos da cidade e passa completamente esta impressão opressiva e voltam as cores alegres, a elegância e a opulência.
Este pintor pintou a minha impressão ao passar naquele bairro. Exactamente isto. As ruas como arame a farpar as pessoas.

Nikolaj Tretiakov (Russian 1925 -2014). Cheliabinsk in 1960-70s

Does it matter?



A nuvem negra a pairar sobre a mulher já se lhe pegou à cabeça como um chapéu que a cobre. Ela e tudo o que é vivo, como figuras fantasmagóricas. Só o chão do campo, dum verde fresco e cheio, traz alívio à paisagem gótica. A vida começa com violência. O primeiro acto do ser humano neste mundo está envolvido em grande violência.

Gertrude Abercrombie - The Stroll (1943)

Sintomas




O que vai acontecer aos fundos europeus? O mesmo sumiço que no passado?



FUNDOS EUROPEUS (exemplares): Em 1995, a UGT dirigida por TORRES COUTO foi acusada pelo Ministério Público por fraude na obtenção de subsídios (em 1988/89) do FUNDO SOCIAL EUROPEU, num valor superior a 1,8 milhões de euros. Torres Couto, então secretário-geral da UGT, conseguiu a prescrição do procedimento criminal em que era acusado, graças a uma “conveniente” falha processual: “por ter sido notificado numa data posterior a todos os restantes acusados”. Era (e é!) esta a Justiça em Portugal. Torres Couto continuou a sua vida, o dinheiro nunca mais ninguém o recuperou.
Se é para repetir este tipo de fraudes, para criar uns quantos milionários e os portugueses continuarem pobres, é melhor que não venha mais dinheiro da Europa.


Paulo de Morais

E porque é que muita gente quer continuar em tele-trabalho?



Por terem síndrome de ficar em casa, medo de sair? Nah.. não querem é voltar à vida de merde que tinham: 2 horas de transportes públicos (agora de máscara e com risco) para lá, mais outras tantas para cá para estar fechado num cubículo 8 horas, sem respirar, sempre com alguém em cima a chatear.

"Oh I am sick of brick and stone" (Masefield)


tirei o som a este.






Uma questão à AR: nós professores devemos aconselhar as raparigas e os rapazes a enveredarem pela carreira de prostitutas/os?



O que é que a AR anda a pensar fazer? Legalizar a violência contra mulheres (sobretudo, mas não só).
Hoje chamaram uma prostituta porque têm quatro mil assinaturas a pedir que a prostituição seja considerada um trabalho como outro qualquer. Todos sabemos que a prostituição é violência sobre mulheres (associada vem a pornografia que é uma imensa violência e degradação das mulheres), que onde ela existe, existe escravatura, drogas, armas e ligação à pedofilia, mas de vez em quando vem a conversa de legalizar a prostituição (a força de algum lobby de chulos, quem sabe com ligações importantes...) e considerá-la 'um trabalho como outro qualquer.' Quer isso dizer que passa a constar na lista das profissões e, por exemplo, nós professores devemos aconselhar as raparigas e os rapazes a enveredarem pela carreira de prostitutas/os ou trabalhos que lhes estão associados, como chulo, angariador de clientes para casas de prostituição, material humano para satisfação de clientes com necessidades especiais, etc.? É que, se é um trabalho recomendado pelos deputados da AR passa a ser respeitável e encarado como um projecto de vida. É por volta dos 16 anos ou até antes, que os miúdos começam a desenhar os seus projectos de vida profissional. E quando alguém for ao centro de emprego podem mandá-lo/a ir trabalhar como prostituta/o, sendo um trabalho como outro qualquer? E se não for perde o subsídio?
Temos um Parlamento cada vez mais inútil, dominado por lobbies e vergonhoso.

Legalização da prostituição discutida no Parlamento

Acompanhante de luxo [termo eufemistico para prostituta, mas mais cara, para gente endinheirada] vai ser ouvida hoje na Assembleia.
"Há mulheres cada mais jovens, a iniciarem-se na prostituição. Se for legalizada será regulamentada. Pretendo que esta atividade seja proibida a menores de 21 anos, a mulheres que estejam ilegais no País e a punição de clientes que procurem prostitutas abaixo dos 21 anos, bem como quem as acolha nas suas casas", diz Ana.


Esta argumento de, 'vamos legalizar isto porque muita gente quer', como se legalizássemos o roubo, por exemplo, por muitos quererem ser ladrões, faz lembrar o dos pedófilos quando defendem a legalização da pedofilia dizendo que há muitos miúdos a quererem e muitos são já prostitutos que procuram clientes. Há cada vez mais gente muito jovem a querer [degradar-se], diz a prostituta de luxo... logo, vamos prostitui-los.
A prostituição devia ter o mesmo tratamento que a droga: sendo ilegal, por não querermos tornar legal a violência contra as mulheres (como se já houvesse pouca), no entanto, não se criminalizam as prostitutas, porque muitas são empurradas desde miúdas por traficantes, bandidos, chulos  e os próprios pais para essa vida, mas criminaliza-se os chulos e os clientes. Porque o que queremos é um mundo onde as pessoas não se usem de outras como objectos para degradar com vista ao lucro e não um mundo onde tudo é consumível e se institucionaliza o vício.
Já agora se vê pais a abusarem das filhas para as iniciarem na prostituição, imagine-se se a tornam legal e os pais vêem nisso uma oportunidade de negócio fácil. Fazem-se campanhas contra a violência doméstica e depois pensa-se em legalizar a própria violência.

June 03, 2020

"Oh I am sick of brick and stone" (Masefield)



"Mountains overawe and oceans terrify, while the mystery of great forests exercises a spell peculiarly its own. But all these, at one point or another, somewhere link on intimately with human life and human experience. They stir comprehensible, even if alarming, emotions."
-from "The Willows" by Algernon Blackwood

Art: Rain in an Oak Forest, Ivan Shishkin (1891)
via The Thinker's Garden

A Wanderer's Song



"Oh I am sick of brick and stone, the heart of me is sick,
For windy green, unquiet sea, the realm of Moby Dick;
And I'll be going, going, from the roaring of the wheels,
For a wind's in the heart of me, a fire's in my heels."

-from "A Wanderer's Song" by John Masefield
Puget Sound on the Pacific Coast by Albert Bierstadt (1870)