June 05, 2020

Os artigos sobre a avaliação dos alunos têm sempre um ror de erros e são capciosos



Pandemia "é oportunidade" para retirar peso aos testes escritos na avaliação

Há uma desmotivação geral quando um aluno teve um trabalho excelente - no qual se esforçou, para investigar e ser criativo, tudo o que se pede agora [no mercado de trabalho] - e depois falha num teste de memorização, de atenção.

O trabalho de um professor deve passar por "privilegiar a proximidade com o aluno, a aprendizagem contínua", a única forma de "perceber se há dificuldade na aquisição de conhecimentos" e de "valorizar a sua participação ativa", diz a dirigente da ANP. "Assim, estaríamos a dizer ao aluno: 'tu és sempre importante'" e não apenas a considerá-lo no derradeiro momento de expor os seus conhecimentos num teste comum. "Devíamos desconstruir completamente o sistema."


A avaliação não tem que ser a favor ou contra os testes. Há um lugar para tudo: há assuntos, temas, disciplinas que requerem avaliações diferentes. Os testes não avaliam apenas atenção e memória, como todos sabemos, de modo que se pergunta: esta pessoa que escreve isto, tem uma agenda, como dizem os americanos? A grande dificuldade dos alunos nos testes não são as perguntas que requerem memorização mas as que requerem pensamento: ser capaz de seleccionar, entre os conhecimentos, os que são relevantes para responder à questão/resolver o problema, fazendo relacionamento entre vários assuntos, técnicas necessárias para o efeito.
Mesmo que os teste só avaliassem atenção e memória, já era importante em muitas situações: quem quer atravessar uma ponte construída por uma pessoa incapaz de atenção (concentração) e memória? Quem quer ser tratada por um médico ou enfermeiro incapaz dessas dois recursos mentais? 

Que agora o mercado de trabalho só quer pessoas criativas e que investiguem é um disparate porque a imaginação e a criatividade exercem-se sobre os conhecimentos e a as técnicas interiorizadas e não sobre o vazio. Ou a pessoa que escreve isto acha que o Einstein não tinha conhecimento e técnicas e não trabalhava arduamente nelas, antes de pensar as teorias e que as inventou do nada só com imaginação?

Seguidamente, confunde-se o professor com um psicólogo motivacional: o objectivo da avaliação não é motivar alunos. É dar-lhes uma medida do seu progresso em diversas áreas do conhecimento e das técnicas. Se não, seria como estar a treinar uma pessoa para a maratona e aldrabar os tempos e as distâncias que a pessoa correu para motivá-la. Motivar não é distorcer.

O professor deve ser próximo dos alunos? Nem todos os alunos andam no infantário ou no 1º ciclo. Há inúmeros estilos de professor e há professores que são distantes e são bons professores. Nós professores não somos a segunda mãe ou o segundo pai ou a tia ou o tio dos alunos. A sala de aula e a escola não são uma extensão da família.
Há muitas maneiras de avaliar e a avaliação depende do que se quer atingir, de modo que depende também do que se avalia: não se avalia a Lógica como a Estética. Há disciplinas onde é mais difícil fazer grandes variações na avaliação, como a Matemática, por exemplo, dadas as condições de insucesso em que o ME põe as escolas e os professores.

Esta pandemia não é um exemplo de melhores práticas de avaliação. Sei de fonte directa, AKA, os alunos, que imensos alunos fizeram testes, trabalhos e pesquisas, com o explicador online. Às vezes o explicador até é um professor.

Andei três semanas a pensar um trabalho para os alunos que queiram a oportunidade de subir 1 valor na nota, de maneira a evitar fraudes, porque agora é difícil controlar isso. Portugal é um país de corrupção, tráfico e chico-espertismo. Todos o sabemos e é na escola que começam essa 'carreira'.

Devíamos desconstruir o sistema? Mas esta pessoa acha que a destruição do ensino e das escolas por reformas contraditórias umas a seguir às outras bem como a destruição do trabalho e da carreira do professor que tanto afecta os alunos, foi pouco e quer destruir ainda mais? A destruição é uma coisa boa? Positiva?

A questão é: alguém, não sei quem, inventou há uns anos (e impôs-nos a todos, sem perguntar se estávamos de acordo) a ideia de que era bom para a sociedade todos os alunos passarem por uma educação universitária. Ora, para isso acontecer, perverteu-se o objectivo de um curso universitário e teve que baixar-se o padrão dos estudos universitários (Bolonha). Como sabiam que isso iria formar profissionais com grandes falhas, deixaram medicina e arquitectura na mesma... o problema é que, quando começam os processos de decadência e entropia, é muito difícil pará-los e esse aplanar de dificuldades também já chegou a esses cursos. Daí, haver hoje em dia uma grande disparidade na qualidade dos médicos. E talvez dos arquitectos, mas aí não sei porque não tenho conhecimentos para o dizer. Certo é que baixaram também o nível escolar, para que todos possam aparecer nas estatísticas (que os governos exibem como se aquilo fosse sério) como sucessos a ingressar na universidade e retiraram do programa e dos manuais tudo o que são espinhas e só deixaram a carninha molezinha, mas mesmo assim ainda acham muito e hoje em dia, como se vê por este artigo, a escola e o ensino têm como objectivo fazer com que os alunos se sintam bem e felizes, consumíveis, mesmo que aprendam nada e depois se tornem uns profissionais medíocres, como já acontece.


2 comments:

  1. Posso dar-te um exemplo concreto, no caso do ensino da Medicina. Quando a minha filha andava a estudar, a cadeira de Anatomia era anual e durava os dois primeiros anos do curso. Agora, tanto insistiram que a cadeira passou a ser semestral e só funciona no 1 ano....É difícil imaginar que um médico tenha conhecimento do corpo humano em pormenor em apenas seis meses....
    Manuela

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