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July 29, 2020

Bielorrúsia - old habits die hard



Não é à toa que traz o nome da Rússia no nome. A Rússia Branca como é chamada. O presidente, um soviético convicto nos modos e propósitos, pela primeira vez em muito tempo (ocupa o cargo há 25 anos) está com medo da oposição e começa a notar-se. E porque é que está com medo da oposição? Porque, pela primeira vez, tem uma oposição que pode fazê-lo cair da cadeira - ver mais abaixo


Belarusian authorities claim Russian mercenaries plotting unrest ahead of elections

President Alexander Lukashenko has dismissed Belarusian opposition as puppets of foreign governments aiming to sow violence



 Svetlana Tikhanovskaya



Un défi féminin enflamme la présidentielle biélorusse

Presa, intimidada e excluída, a oposição bielorrussa foi agora encarnada, para surpresa de todos, numa mãe professora, tornada a maior ameaça à quinta reeleição de Alexander Lukashenko, no poder há 25 anos.

Veronika Tsepkalo (à esq.) e Maria Kolesnikova rodeia Svetlana Tikhanovskaya, candidata atrás da qual a oposição faz barreira contra Alexandre Loukachenko. — © Vasily Fedosenko/Reuters

Uma troika feminina pretende minar a reeleição programada para 9 de Agosto, do presidente da Bielorrússia Alexander Lukashenko, 65 anos, que detém o poder desde 1994. Contra todas as expectativas neste país de nove milhões e meio de habitantes, a oposição reagrupou-se, a 16 de julho, atrás de Svetlana Tikhanovskaïa, 37 anos, uma professora e intérprete, completamente neófita na política. O único candidato independente que o regime concordou em registrar para a eleição presidencial.

A seu lado, numa fotografia histórica, Maria Kolesnikova, líder da campanha do candidato preso, Viktor Babariko (um banqueiro muito popular) e Veronika Tsepkalo, esposa de outro candidato desqualificado, ex-diplomata, Valeri Tsepkalo. O contraste é máximo com o de um presidente com posturas patriarcais na fronteira com o omnipresente. Alexander Lukashenko sugeriu de imediato uma revisão da Constituição, defendendo que o cargo de presidente deve ser reservado para indivíduos que tenham servido sob a bandeira. Em suma: homens.

A necessidade é a mãe de todo o engenho. O surgimento inesperado de Tikhanovskaya é o resultado de uma poda sistemática de qualquer candidatura ameaçadora para Alexander Lukashenko. O marido da candidata, Sergei Tikhanovsky, foi a primeira vítima. Um popular bloguista da oposição no YouTube, foi preso em 29 de Maio, pouco depois de se candidatar à presidência. Saltando imediatamente para o lugar de seu marido, Svetlana Tikhanovskaïa desafiou o poder reunindo mais de 100.000 assinaturas de apoio, uma formalidade obrigatória para qualquer candidato. Longas filas se formaram em todas as cidades do país, o que pela primeira vez consciencializou os bielorrussos da extensão do descontentamento, num contexto de total controle do regime sobre a televisão e da proibição de todas as sondagens políticas.

Enfrentando uma força policial reunida rapidamente para realizar prisões brutais, a troika feminina iniciou uma tourné de reuniões por todo o país. A primeiro foi realizada em Minsk, num domingo, reunindo entre 7.000 e 10.000 pessoas nos arredores da capital, um número descrito como, sem precedentes, pela oposição bielorrussa. A campanha agora é liderada por essa professora com habilidades oratórias limitadas e dirigida, por sua própria admissão, "pelo amor" de seu marido. Objetivo declarado se for eleita: organizar imediatamente novas eleições livres e democráticas. Como resume a jornalista Hanna Lioubakova: "Quem mais, senão Lukashenko?" "Bem, qualquer pessoa!"

Diante de Svetlana Tikhanovskaya, encontramos o aparato estatal da Bielorrússia que garantiu quatro reeleições esmagadoras para Alexander Lukashenko - sob condições descritas, de todas as vezes, pela OSCE como nem democráticas nem livres. O regime é suspeito de ter assassinado três oponentes em 1999. Hoje, três candidatos e sete bloguistas estão presos, várias dezenas de opositores estão sob supervisão judicial. Pelo menos 200 pessoas foram presas (incluindo 40 jornalistas) durante protestos. A perseguição aos dissidentes é realizada por um órgão que ainda é chamado de KGB(!) e tem uma forte capacidade de intimidação. Por isso, Svetlana Tikhanovskaya preferiu passar os seus filhos, às escondidas, para fora do país, depois das autoridades ameaçarem prendê-los se ela não encerrasse a sua campanha. É o que diz Natalia Radina, uma jornalista que afirma ter ajudado a candidata a passar os seus filhos para um "país da União Europeia".

Improvisação e imprevisibilidade definem a atmosfera desta eleição presidencial sem precedentes. “O menos interessante nestas presidenciais da Bielorrússia é a pontuação final: entre 75 e 85% para Lukashenko. Mas, além desse número, ele não pode ter certeza de nada", disse o empresário da Internet Dmitri Navocha. “A saída da sociedade do coma, no início da campanha, foi abrupta e inesperada para todos. É a súbita percepção de que uma clara maioria quer mudar. "Todos os observadores citam dois catalisadores: a deterioração dos padrões de vida e a gestão desastrosa da pandemia por um presidente abertamente corona-cético. A Bielorrússia possui uma das maiores taxas de contaminação per capita da Europa, juntamente com a Suécia e o Luxemburgo.

Apesar da assimetria desproporcional de forças, o momento beneficia a oposição. "A campanha unida realiza um trabalho muito eficaz, apesar da baixa qualificação dos seus líderes e funcionários", observa Maryna Rakhlei, cientista política da Bielorrússia no Fundo Alemão Marshall dos Estados Unidos. Por outro lado, "a perda de sua popularidade e o apoio passivo da população deixam Lukashenko visivelmente nervoso". O presidente agora é apelidado de, "o 3%" em referência à sua suposta popularidade. O esforço para deslegitimar o regime pode dar frutos após o término da campanha? Para o investigador, "a politização e a mobilização atual de camadas muito amplas da sociedade podem realmente levar a uma divisão nas elites, no aparato político, militar e burocrático em torno de Lukashenko".

Emmanuel Grynszpan (traduzido por mim)

[entretanto, hoje mesmo soube-se que o presidente Lukashenko, que aconselhava a beber vodka para evitar o vírus, está infectado com o Covid-19]
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Hoje: This is absolutely nuts. A week and a half before Alexander Lukashenko’s biggest fight in 26 years to stay in power, Belarus accuses Russia of sending Wagner mercenaries to overthrow him! @maxseddon

June 04, 2020

As ruas como arames farpados



Conheço esta paisagem, já a vi na Rússia. Quando vamos a São Petersburgo não vemos Leninegrado. Estamos sempre a ver S. Petersburgo, com as suas cores alegres, a imponência dos palácios e da catedral com as cúpulas em ouro, os canais e as pontes. Opulência, graça e elegância. O Hermitage e aquele excesso de Belo da arte que encerra pôs-me um bocadinho aérea. Durante dias procurei Leninegrado e não via nada de nada que evocasse a cidade, sendo que tinha consciência, todo o tempo, de estar na cidade do poema de Brecht acerca dos soldados nazis que ofereciam presentes às namoradas, que mandavam das cidades conquistadas e de Leninegrado só chegavam caixões.
Só quando saí da cidade, para Sul, em direção ao Peterhof, vi Leninegrado, e foi isto que vi. Edifícios gigantescos, com uma casa de banho para cada 100 apartamentos, dum castanho, não escuro, mas sujo. Enfiados no meio de ruas que parecem arame farpado, com estátuas de heróis soviéticos de bronze escuro todos iguais a Lenine - aquele boné, a mão estendida ligeiramente para cima. Uma comoção opressiva porque imediatamente imaginamos a vida das pessoas naquele prédios medonhos e insanos de cubículos sem privacidade nem espaço, como celas de prisão. A guia contou que a Câmara estava a oferecer casas a jovens mas nem mesmo oferecidas as queriam. Ali perto, um bocadinho antes, um monumento aos heróis da Segunda Guerra, bastante bonito, sóbrio e sem propaganda. Depois saímos da cidade e passa completamente esta impressão opressiva e voltam as cores alegres, a elegância e a opulência.
Este pintor pintou a minha impressão ao passar naquele bairro. Exactamente isto. As ruas como arame a farpar as pessoas.

Nikolaj Tretiakov (Russian 1925 -2014). Cheliabinsk in 1960-70s