April 09, 2020

Max Richter - Meeting Again



'O desgrenhamento das ramagens'





Ben Chiang

A Espanha, nem com a crise em que está recua no primismo



Encarnación Burgueño, la gestora de la crisis de las residencias casi sin experiencia sociosanitaria 

María Encarnación Burgueño, hija del artífice de los planes privatizadores en la sanidad madrileña, mantiene su currículum en Linkedin, que se resume en tres áreas: teleoperadora, jefa de ventas y directora de desarrollo y proyectos en una consultoría.

Elegante pensamento



Não sei onde é que fica esta escadaria com este corrimão lindo mas gostava muito de saber quem era a pessoa que tinha um interior conceptual e estético assim tão elegante.



Ágnes Bircher Gaál Ferencné

Que grande chatice... odeio este coronacoiso



Agora recebo 100 emails por dia e ainda não entrámos no 3º período com 120 alunos e duas dezenas de colegas a trocar emails. Estes são só de negócios que querem sobreviver com entregas em casa. Que chatice. Uma das coisas que me fez ficar a dar aulas (sim, tive algumas ofertas de trabalho nestes anos, mas optei por ficar a dar aulas) foi o horror a trabalhar oito horas por dia a uma secretária, a ver papéis, agora emails... e no fim, aqui estou eu nisto de estar sentada a tratar de emails...


The five stages of crisis management




juliette kayyem

Diário da quarentena 26º dia - 2 minutos de Bach por dia nem sabe o bem que lhe fazia




Coronavirus LI Wenliang - pôr as coisas em perspectiva para quem ainda acha tudo um exagero e uma histeria



A crise do ébola estendeu-se por dois anos, de 2014 a 2016, em 10 países, quase todos africanos, ou seja, sem sistemas de saúde sofisticados, sem medicamentos, sem equipamentos, sem protecção para médicos e enfermeiros, etc.

Nesses dois anos, na totalidade dos países, houve 28.646 infectados reportados e morreram 11.323 pessoas, das quais cerca de 500, foram pessoal da saúde.

A crise do Coronavirus LI Wenliang dura há apenas quatro meses e meio - já se estendeu a mais de 150 países, já infectou 1.503.900; já matou 89.931 pessoas; só em Itália, já morreram mais de 100 médicos, sem contar com enfermeiros e outros trabalhadores de hospitais;  Espanha, ontem, ia em 94 médicos. Fora os outros 150 países. Já deve ir nos 500, só em médicos, ao fim de 4 meses e meio. Sem contar com o resto do pessoal que trabalha nos hospitais.

Para quem pensa que isto é só uma gripe e que toda a gente é histérica e catastrofista, pergunto: quantos médicos e enfermeiros precisam de fatos de astronauta para se aproximarem de doentes com gripe e quantos médicos e enfermeiros morrem no tratamento de pessoas com gripe? Onde é que, para tratar gripes, tem de escolher-se quem vive e quem morre como numa guerra?

A SIDA, ou melhor, complicações associadas à SIDA, matam mais pessoas por ano. Cerca de 750.000, mas não é uma doença transmissível pelo ar. É preciso contacto sexual ou de sangue para se infectar. Um médico não precisa de vestir-se de astronauta para tratar um doente de sida, a não ser em cirurgias, que metem cortes e sangue. O cancro mata 10 milhões por ano e as doenças cardíacas ainda mais mas não infectam os saudáveis e não são doenças que se apanham no dia 1 do mês e no dia 14 já se está sete palmos debaixo da terra.

Há pessoas que para perceberem as coisas tinham que ser enfiadas num hospital na ala dos doentes durante uma semana e vê-las com os próprios olhos. Se não é visível não acreditam que seja sério; ou então pertencem àquele grupo de pessoas que pensam que até é bom que morram muitos porque o planeta tem gente a mais e o país tem gente velha a mais e assim pagam-se menos reformas.

Ouvi as perguntas e respostas do primeiro-ministro sobre a abertura das escolas e da realização de exames



Continuo sem perceber esta obsessão pelos exames. Os alunos do 12º que vão entrar para a faculdade, como o próprio primeiro-ministro disse, já tiveram 8 dos 9 trimestres obrigatórios, dado que as disciplinas a que têm exame (Português e Matemática) são tri-anuais, de modo que a nota deles já foi aferida 8 vezes. Por conseguinte, qual é a razão de não poderem concorrer com a nota do último trimestre de aulas que foi o 2º período deste ano? Quanto ao 11º ano, o caso é o mesmo. Dos 6 períodos que têm de cumprir e em que a sua avaliação é aferida, 5 já cumpriram.

Não compreendo esta obsessão pelos exames. Não compreendo porque não se aproveitam estes meses para, em vez de pôr em marcha todo o aparato de exames que mobiliza praticamente todos os professores das escolas (uns no agrupamento de exames, outros no secretariado de exames e outros nas vigilâncias - que aliás obrigam a um contacto de muito perto com os alunos, para verificar os dados pessoais e outras questões no decorrer da prova), para se preparar o próximo ano lectivo que vai ser extremamente exigente e, pode dar-se ainda o caso de ter uma nova paragem por segunda vaga de pandemia. Isso, preparar o próximo ano, parece-me o mais importante.

Não percebo como é que se vai pôr professores e alunos nas salas de aula. Onde se vai buscar professores para dar aulas pois se dividirem as turmas em três, ou metade, que seja, dobram o número de turmas e precisam de contratar professores. E vão garantir máscaras para todos ou vai-se para lá à balda?

Não percebo porque não se empurra o fim do ano ou se faz o contrário. Declara-se aqui o fim deste ano lectivo e antecipa-se o início do próximo para se ter tempo de compensar o trabalho deste ano que não foi acabado. Aproveitava-se o tempo para preparar o próximo ano.

Podia à mesma haver a tele-escola e trabalho com os alunos à distância, no sentido de consolidar aprendizagens, se se antecipasse o início do próximo ano lectivo ou, pelo contrário, se se empurrasse o fim deste ano lectivo mais para a frente, com o 3º período a começar em meio de Junho e a acabar em final de Julho isso não era necessário.

Para mim, qualquer uma das soluções é preferível a esta em que, para se fazerem exames, vão comprometer-se as aprendizagens que não ficaram dadas em todos os outros anos/disciplinas sem exames, pois não podem ser dadas se se começa o ano lectivo no tempo do costume por causa do tempo que os exames consomem (dois meses) e do atraso que isso significa para todo o trabalho restante.

Esta é, para mim, a pior solução e não a compreendo. Ou melhor, só a compreendo num contexto que é o contexto do ministro da educação, o secretário de Estado, o primeiro ministro e os reitores das faculdades não terem confiança no trabalho dos professores, acharem que as notas dos professores não são resultado de um trabalho sério e quererem os exames para aferir do trabalho dos professores.

Coronavirus Li Wenliang - ainda acerca de metáforas, a crise na UE



Não é verdade que estejamos todos no mesmo barco, como muitos dizem (ainda agora ouvi Durão Barroso dizê-lo na TV), acerca da UE, para tentar convencer os países do Norte, sobretudo a Alemanha, a Holanda e a Finlândia a ajudar os outros. É verdade que estamos todos no mesmo mar e as ondas agitam a todos, mas uns estão a navegá-las em porta-aviões, outros em iates e outros em traineiras ou barcos a remos. E os países do Norte sabem que estão em porta-aviões e resistem muito melhor ao mar agitado e não querem abrir as suas portas a refugiados que andam em traineiras e barcos a remos porque não querem partilhar a sua vantagem com os outros, com medo de perderem alguns dos aviões que têm no hangar. E esse é que é o problema. Quem mais tem é quem menos quer dar. Até dá, às vezes, por caridade, como o Bill Gates deu uns milhões dos seus biliões, mas fá-lo como uma operação única e não a troca por acções que ajudem à partilha da riqueza com os que menos têm. Não me lembro do Gates ter vendido computadores a 10 dólares, o que podia ter feito, pois vendia aos milhares de milhões e teria à mesma uma enorme fortuna. Não, vendeu-os a centenas de dólares. Acumulou biliões. É o mesmo que se passa com os países do Norte. Ainda hoje ouvia o ministro alemão dizer, 'não sei porque não havemos de usar o mecanismo de estabilidade que temos usado até agora. Tem servido bem'. Tem serviço bem, para ele, para meter aviões no hangar do seu porta-aviões.
De modo que não, não estamos todos no mesmo barco. Há barcos muitos diferentes a navegar no mesmo mar.

Coronavirus Li Wenliang - o que me incomoda nas metáforas de guerra acerca da pandemia



''Não estamos ganhando a guerra contra o vírus'', diz ONU


A primeira tem que ver com a hierarquia: quem está a combater, quem são os soldados e os generais. 
Como bem sabemos, numa guerra, os soldados são quem vai para a frente de batalha dar a vida, muitas vezes mal armados, porque os generais, que são os militares no topo, os que não saem dos ministérios e quartéis, os políticos e os homens das empresas de armas e de dinheiro, em suma, os decisores, muitas vezes desviam o dinheiro do equipamento para interesses próprios e abandonam os soldados à sua sorte.

No fim, aplaudem-nos e chamam-lhes heróis. A alguns até dão medalhas. Depois mandam-nos para casa para as mesmas vidas difíceis que tinham e nunca mais se lembram deles, ficando eles, os decisores, que se resguardaram durante a guerra, com os despojos da guerra e o poder de se resguardarem dos efeitos colaterais das guerras. Alguns, durante a guerra, fazem donativos que parecem grandes, mas são uma ínfima parte do que desviaram dos outros em tempos de paz.

Nesta pandemia, a metáfora de guerra serve para mandarmos os médicos, enfermeiros e outro pessoal que trabalha em hospitais para a guerra, com muitas palmas e títulos de heróis, sem ter que lhes dar condições permanentes de vida aceitáveis para o trabalho que fazem, muitos deles.

Em tempos como estes de pandemia, todos os trabalhadores que são tratados como soldados e são atirados para aquilo que chamam a frente de batalha deviam estar a receber um subsídio de risco.
E também outros cujos contratos de trabalho nunca incluíram risco de vida, como os trabalhadores dos supermercados, cuidadores de lares de idosos, etc., o deviam receber.

Estes trabalhadores hão-de voltar a ter que fazer 20 greves para que lhes subam 1 euro no salário, esquecidos já, os decisores, de como precisaram deles. E os outros hão-de voltar a ter que fazer 20 greves para que lhes permitam contratar um médico ou um enfermeiro em vez de ter apenas tarefeiros. 

Em segundo lugar, a retórica da guerra traz consigo toda a linguagem e o comportamento que lhe é associado: veja-se como os líderes dos países, em vez de colaborarem uns com os outros, adoptaram uma linguagem e comportamento de conflito uns para com os outros e como em alguns países se fala de medidas de controlo de população de excepção, de recolher obrigatório, de economia de guerra, etc. e se usa essa retórica para militarizar a sociedade e diminuir e/ou enfraquecer os seus mecanismos democráticos. 

O único campo onde faz sentido usar essas metáforas é aquele em que se movem os investigadores científicos e médicos que estão a tentar perceber as armas e defesas do vírus para o matar.

Agora, os políticos e dirigentes tinham que ser capazes de traduzir essa linguagem bélica para uma linguagem política de cooperação social positiva, intra e inter-nações. 

A sociedade não está a combater numa guerra; quem está a combater são os investigadores, epidemiologistas, etc., os médicos que tratam os doentes e os enfermeiros. Todos os outros estão a apoiar esses com medidas sociais e políticas, não bélicas e o discurso dos líderes políticos devia ser esse: estamos a cooperar uns com os outros para apoiar os que trabalham no terreno, para que possam fazer o seu trabalho, que reverte a nosso favor.

Não será aceitável que no fim da crise se envie essas pessoas para casa com muitas palmas de heróis e umas medalhas de consolação e sem nenhuma mudança naquilo que ficou exposto como uma má organização social e política e uma má gestão dos recursos.

Coronavirus Li Wenliang - coisas preocupantes



Os novos leprosos? Uma coisa é as autoridades sanitárias saberem e monitorizarem quem está infectado ou não é imune, outra diferente é haver uma aplicação para cada um detectar e apontar a dedo os 'leprosos'. E um certificado de imunidade: quem não o tem por qualquer razão, o que lhe acontece? Nunca mais pode trabalhar, viver?


França quer criar aplicação para controlar pessoas infetadas com covid-19


Alemanha equaciona passar 'certificados de imunidade' à Covid-19


Coronavirus Li Wenliang - mais uma professora que morreu com a doença



Professora de 40 anos morre com coronavírus após se queixar da linha SNS 24

Áurea Silva lecionava Matemática numa escola de Matosinhos. Usou um grupo do Facebook a 21 de março porque não conseguia contactar a Linha SNS 24.
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Alertava para o facto de o marido ser hipertenso, motorista de pesados, poder contaminar terceiros. Dizia que ele já tinha ido ao Hospital de S. João, no Porto, fazer o teste para o coronavírus, que tinha dado negativo. Mas mesmo assim estava assustada e ninguém na linha criada para responder a estes problemas a atendia. A chamada caía após a primeira triagem.

Nesse dia, Áurea já tinha ido - e saído - do hospital. Dia 11 de março tinha sofrido um deficiência respiratória, foi internada, teve alta a 17. Diagnosticaram-lhe início de pneumonia, fizeram-lhe também o teste para Covid-19 a 21 de março. Deu igualmente negativo.

A história de Áurea a partir daí é muito rápida. Voltou a manifestar sintomas, dia 25 fez novo teste no Hospital de S. João, no Porto. Afinal, tinha Covid-19, estava infetada.

A professora só esteve internada três dias. Foi tratada ao vírus - poderá ter sido isso que lhe destruiu as defesas - e não resistiu. O funeral foi terça-feira, em Celorico de Basto, a sua terra natal, mas já tinha morrido no fim de semana.

O marido continua a lutar contra a doença. Já estará melhor, agora nas redes sociais são muitas as manifestações de pesar pela morte da professora. E também os gritos de revolta: onde se diz que as escolas fecharam provavelmente "tarde demais", já a doença estava disseminada. "Agora, em nome dos exames nacionais querem um retorno (só para alguns). Que não lamentemos mais perdas. Sentidos pêsames à família e aos colegas do agrupamento", escreve uma professora num grupo chamado ‘faceprof’ (professores no Facebook).

NÃO, NÃO HOUVE PICO DE INFECTADOS! E COMO SABER POR SI MESMO SEM OUVIR TELEJORNAIS



NÃO, NÃO HOUVE PICO DE INFECTADOS! E COMO SABER POR SI MESMO SEM OUVIR TELEJORNAIS
Jorge Buescu
Mereceu grande destaque na Comunicação Social a reunião de ontem à porta fechada no Infarmed, entre a classe política e as autoridades sanitárias, na qual terá sido afirmado que o “pico” poderia ter ocorrido em Março passado. Esta afirmação, de paternidade nunca assumida, foi dada em todos os telejornais em cambiantes ligeiramente diferentes: poderia ter sido na semana de 23 a 27 de Março, no dia 26 de Março ou em “finais de Março”. O Expresso noticiava à noite 26 de Março, tendo entretanto alterado para “finais de Março”).
Vou supôr, em todo este artigo, que esta afirmação se refere ao pico de infectados activos, que é a variável relevante dos modelos epidemiológicos do tipo SIR e em termos práticos é a que realmente nos interessa como cidadãos: é o número de doentes que hoje têm a doença. E reafirmo que, como sempre fiz, os meus cálculos têm por base exclusiva os Boletins da DGS, que tomo como bons.
Será então verdade que o pico desta curva foi atingido em Março?
A resposta é o mais rotundo “NÃO!”
Não sei de onde surgiu a afirmação fantasiosa de que o pico de infectados já teria sido atingido. Qualquer pessoa que faça modelação, como a minha equipa, ou mesmo que faça um simples fit aos dados, como há tantos cidadãos a fazer, sabe que a curva dos infectados activos passou o ponto de inflexão, deixando a fase exponencial, em 31 de Março-1 de Abril, e está agora na fase sigmóide de subida para o pico. A manterem-se os parâmetros actuais este será atingido nunca antes da segunda quinzena de Abril, mais provavelmente para o final do mês.
Dizer que houve um pico de infectados em Março é não apenas uma afirmação errada como, na minha opinião, extremamente perigosa pois induz em erro, transmitindo a uma sensação de falsa segurança e a um eventual relaxamento no cumprimento das medidas de contenção. Estamos em plena subida para o pico dos infectados activos, que é a altura mais perigosa do surto.
É muito fácil compreender que é errada. O leitor pode detectar no conforto de sua casa quando é atingido o pico no número de infectados activos, da forma que vou explicar. O número de infectados activos em cada instante é o número de novos infectados, ou casos confirmados (C), surgido de um dia para o outro, subtraído do número de casos de doentes entretanto removidos (R), que são os recuperados mais os óbitos.
Portanto a receita para calcular o número de novos infectados activos a partir dos Boletins da DGS é muito simples: sendo os números que aparecem nos Boletins os totais acumulados, basta comparar Boletins da DGS de dois dias consecutivos e fazer as diferenças para saber os números de novos casos, novos recuperados e novos óbitos de um dia para o o outro. Basta fazer três contas de subtrair.
Calculamos o número de novos infectados fazendo a diferença entre os casos confirmados (NC) de um dia e os do dia anterior; calculamos o número de novos recuperados (NR) e de novos óbitos (NO) da mesma forma. E agora fazemos a diferença, para calcular o número de novos infectados activos: NA= NC – (NR+NO). Enquanto este número for positivo, ainda estamos a crescer em direcção ao pico pois o saldo é positivo. Quando este número passar a negativo, passámos o pico, passando a ter cada vez menos infectados activos. O mais provável é que esta transição não seja brusca, num só dia, e que quando estivermos a passar pelo pico este número tenha pequenas flutuações diárias entre positivo e negativo – o famoso “planalto” de que fala a DGS.
Mas, que não haja dúvidas: ainda estamos muito longe dele!
Dou um exemplo destes cálculos com as contas de hoje. Anexo os Boletins da DGS de hoje e de ontem (note-se que os dados do Boletim de cada dia são sempre relativos ao dia anterior). Neles podemos verificar que, no Boletim de 7/4/2020, havia os acumulados de 12442 confirmados, 184 recuperados e 345 óbitos. No de hoje, 8/4/2020, há o acumulado de 13141 confirmados, 196 recuperados e 380 óbitos. Portanto NC = 699, NR = 12, e NO = 35. Consequentemente, o número de casos activos teve a variação NA = 699 - (12+35) = 652. Há mais 652 casos activos do que ontem. Contra factos não há argumentos: estamos a subir a montanha dos infectados em direcção ao pico, que ainda está longe.
Esqueçamos afirmações vagas e enganadoras: a partir de hoje cada um de nós pode fazer as contas no conforto do lar, por si próprio, a partir dos boletins da DGS, e extrair a conclusão sobre o que está na realidade a acontecer, sem ler jornais ou ouvir telejornais. E ter a certeza de quando é atingido o pico, e ver quanto tempo ficaremos no planalto, e verificar quando a curva começa a descer, e a que ritmo essa descida se dará. Mas isto ainda está tudo no futuro: nunca acontecerá antes da segunda quinzena de Abril, e isto se mantivermos a nossa disciplina colectiva como até aqui.
A afirmação de que teríamos atingido o pico, além de errada, parece-me extremamente perigosa, pois induz uma falsa sensação de segurança na população, levando-a a pensar erradamente que "já conseguimos", afrouxando os comportamentos que tão bons resultados têm dado, alterando os parâmetros e pondo em risco a evolução futura das curvas. E isso, numa altura como a Páscoa, transmite todos os sinais errados à população.
Pessoalmente, estou muito desiludido com a falta de rigor com que este assunto está a ser tratado. Como escrevi ontem, afirmações erradas como esta lançam falsas expectativas para consumo geral, dando a ideia de que somos tratados como crianças que não estão preparadas para ouvir a verdade e têm de a ir recebendo em doses homeopáticas. Para que o sacrifício de todos nós compense é necessário que toda a informação seja rigorosa e passe a ser comunicada com as maiores transparência e clareza.
Jorge Buescu
8/4/2020
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Por um serviço público e universal de internet




Agora mais do que nunca: não deveria existir um serviço público e universal de internet?



Os alunos do Ensino Básico (até ao 9º ano) vão ter aulas a partir da televisão na RTP Memória.O canal que recupera o excepcional arquivo da RTP vai recuperar desta vez a Telescola, uma ideia de escola por televisão que funcionou lá para os anos 1960. De 1960 a 2020 muita coisa mudou mas no que toca a comunicações a televisão continua a ser a mais universal delas todas. Graças à existência de um serviço gratuito de televisão, composto por seis canais (quatro dos quais de um serviço público de televisão), todos podem ter e ver televisão. Só têm de ter um aparelho e um descodificador que, regra geral, custa tuta e meia.

Mas então e a internet?

O Covid-19 encerrou escolas, universidades e politécnicos por todo o mundo. Em Portugal, as semanas antes das férias da Páscoa foram, para alunos e professores, períodos de habituação forçada a uma nova realidade: aulas à distância por videochamada e trabalhos de casa entregues através da internet. De repente, a comunidades escolar e académica viram-se obrigadas a aprender a funcionar com ferramentas como o Zoom ou o Moodle, e a tentarem manter a normalidade do seu trabalho através da internet… que nem todos têm.

Há cerca de 20% de famílias sem internet e mais de 20% sem banda larga, "o que inclui cabo, ADSL e fibra. Mas, destas, só a fibra garante velocidades rápidas e ligações fiáveis, essenciais para a realização de aulas por videochamada – principalmente se, num mesmo lar, mais do que uma pessoa precisar de estar ligada em simultâneo."

Em 2015, o compromisso Agenda Portugal Digital definiu que, num prazo de 5 anos (ou seja, até 2020), toda a população teria acesso a internet de pelo 30 Mbps, pelo menos 50% das casas teriam 100 Mbps e que existiria coesão territorial e investimentos em áreas rurais que promoveriam igualdade de oportunidades. Mas a realidade é que zonas mais rurais e também bairros mais pobres, onde as operadoras não têm garantias de retorno financeiro, são particularmente afectadas por ligações à internet de baixa velocidade e/ou fiabilidade.

Porque deixou de existir financiamento público para a orientar a implementação de redes de fibra óptica no território e porque esse investimento é privado, Portugal tem estado à mercê das leis do mercado e de onde as empresas de telecomunicações (MEO, NOS, Vodafone) conseguem maior rentabilidade. Ainda assim, com a ajuda da União Europeia, tem existido um esforço para contrariar o abandono das áreas rurais; a DSTelecom é uma empresa privada que está a instalar infra-estrutura de fibra óptica em pontos mais remotos do país para depois ser alugada aos operadores para comercialização ao cliente.


A universalidade


Num país a duas velocidades, a internet não é rápida para quem a tem, muito menos universal. Se nas áreas metropolitanas de Lisboa ou Porto a cobertura de fibra óptica está próxima dos 100%, à medida que nos afastamenos desses pólos a realidade é outra, tornando difícil um país, de repente, adaptar-se ao ensino à distância e ao trabalho remoto a partir de casa. A universalidade é importante nestas situações, em que coberturas de 80% ou próximas de 100% não chegam – basta uma pessoa ficar de fora para existir um problema, para ser motivo de preocupação.

Contudo, não é só uma ligação à internet lenta ou inexistente que pode interferir com o modelo de ensino à distância, mas também a disponibilidade de equipamentos de acesso. Arlindo Ferreira, especialista em Estatísticas da Educação e autor do blogue Blog DeAr Lindo, realizou um inquérito online, tendo recolhido cerca de 400 respostas de Encarregados de Educação sobre os seus educandos: 20,8% não tem computador em casa. Um movimento da sociedade civil chamado #SomosSolução está a criar uma onda de solidariedade para resolver este problema onde ele existe; a ideia é oferecer material informático às escolas e alunos que dele precisem. A iniciativa deu frutos de imediato com a uma fabricante a disponibilizar 20 computadores portáteis e uma outra empresa a oferecer cinco impressoras a escolas.

O Ministério da Educação, entretanto, sugeriu também algumas soluções, como as escolas imprimirem as fichas de trabalho para os seus alunos, articularem com os CTT a entrega e levantamento dos TPCs ao domicílio ou criar exercícios que possam ser realizados numa chamada telefónica ou por SMS. Todas essas soluções vão coexistir com uma nova que deverá arrancar já no início do 3º trimestre, após as férias da Páscoa: uma nova Telescola. Através do canal RTP Memória, disponível na TDT, alunos até ao 9º vão ter aulas que servirão de complemento ao trabalho que os professores já começaram a desenvolver no final do trimestre passado.
E um serviço público e universal de internet?

Só a televisão e os correios são verdadeiramente universais. Através da TDT, é garantido que toda a gente tem acesso a seis canais de televisão (quatro deles do serviço público de televisão prestado pela RTP) e, no actual Estado de Emergência decretado em Portugal, se for necessário, as operadoras têm de garantir o sinal de televisão mas não o de internet. Também os correios estão garantidos; o chamado serviço postal universal está concessionado aos CTTe garante que, em todo o país, é possível enviar e receber correspondência, jornais e encomendas. Existiu ainda um serviço de telefone fixo, que garantia uma linha telefónica a qualquer pessoa independentemente da localização geográfica e por um preço fixo. Contudo, o serviço, prestado pela NOS, tinha apenas dois clientes à data de Abril do ano passado, pelo que por recomendação da ANACOM foi terminado em Maio desse mesmo ano. Mantém-se apenas as cabines telefónicas, serviço prestado pelo MEO.

Quanto ao telefone móvel ou à internet, não existe nenhuma universalidade. As operadoras não têm qualquer obrigação de assegurar a cobertura da totalidade do território nacional, mas, apesar de existirem encargos definidos com base o conjunto do território nacional e não as diferentes regiões, continuarão a existir zonas sem rede de telemóvel, sem 4G, sem banda larga fixa, sem fibra óptica.

É difícil imaginar toda a situação de pandemia que estamos a viver sem internet. Essa é a realidade de muitos. Não seria já altura de pensarmos num serviço público e universal de internet? Um serviço que desse a todos uma ligação rápida e fiável à internet e que coexistisse com a TDT ou a substituísse (afinal, dá para ver televisão online). Um serviço a que todos pudessem aceder com a mesma velocidade e qualidade, sem discriminação pela geografia em que vivem. Um serviço que desse acesso aos conteúdos da televisão pública da RTP Play, aos arquivos da RTP, à arte e espólio de museus de toda a Europa, ao conhecimento da Wikipédia, à informação digital de jornais e revistas de referência… Um serviço ajustado às exigências e comodidades do século XXI e que permita alargar horizontes além da programação televisiva, limitada e enquadrada. Talvez com um serviço público e universal de internet, Portugal estivesse mais apto quer para o ensino à distância como para o trabalho remoto, sem precisar de recorrer a soluções que parecem saídas do século passado.

Bom dia



Norah Jones toca I Am Missing You para o pai, o músico Ravi Shankar, que faria 100 anos.

April 08, 2020

De facto, quem vê caras não vê corações



Estive mesmo agora a ver, na RTP3, um documentário sobre este chinês que infelizmente morreu pouco depois de ter fugido para a Indonésia, em circunstâncias misteriosas depois de ter sido contactado por alguém do governo chinês. 

Quem olha para ele com aquele ar franzino e discreto, muito sensível, com um grande amor pela mulher, não adivinha o espírito dele, a força de vontade, a coragem e determinação que moram, moravam, dentro dele. Fugiu para se salvar e fez o sacrifício de deixar a mulher na China, mas foram atrás dele na mesma.

Como é que pessoas fazem certas coisas a outras pessoas é algo que nunca hei-de conseguir assimilar.
 
Porque é que estas pessoas incomuns no sentido em que este chinês, Sun Yi, foi, quer dizer, incomuns no extremo positivo: nobreza de caráter, espírito livre e grande coragem mas, ao mesmo tempo dóceis, sem brutidade, são tão raras e as outras, no outro extremo, as capazes de fazer grande maldade ao próximo não só não são raras como até são bastante comuns? Não deviam ambos os extremos ser raros? Mas a verdade é que não são. Isto é um assunto interessante de pensar.


How An Activist's Secret SOS Helped End China's Labour Camp System
Such camps were virtually unheard of in the West until Sun Yi, a Falun Gong devotee, turned the world's attention on them.
By

Caylan Ford, Contributor

Precisamos do tal Jorge que o dragão já o temos








Saint George Slaying the Dragon," by Carlo Crivelli, 1470

Ai sim? Os espanhóis gostam muito do Costacenteno e de Rui Rio?



Epá, levem-nos para lá mais os 70 ministros e secretários de Estado e os filhos e primos que vagueiam pelos ministérios. Fiquem com eles.

O espanhol Público faz ainda notícia afirmando que o "discurso do líder da oposição em Portugal faz inveja em Espanha". Um "patriotismo real", caracteriza o jornal. No Twitter multiplicam-se os elogios espanhóis mencionando a oposição de Rio e as duras críticas ao governo de Sánchez. "Tanto temos de aprender com os nossos vizinhos" ou "Viva Portugal" são algumas das publicações feitas na rede social Twitter. Também António Costa conquistou o povo espanhol após defender Espanha contra as declarações polémicas do ministro das Finanças holandês. "Bravo señor Costa", podia ler-se nas redes sociais, onde surgiram vários elogios ao primeiro-ministro português.

Coronavirus Li Wenliang, - os factos são estes



Exceptuando saber-se que quem é mais novo e mais saudável, em princípio resiste melhor, ninguém sabe porque é umas pessoas resistem bem ao vírus e outras não. 
Como isto não se sabe e ainda não se sabe o comportamento do vírus e o que o melhor o combate, não se sabe diferenciar um doente de outro de modo a adequar o tratamento a cada um, como fazem, por exemplo, nos cancros, onde preparam um tratamento tendo em conta o estadio e a tipologia de cada tumor. O que se sabe é que, nos doentes que por qualquer razão, não conseguem combater o vírus com os medicamentos, o desfecho dá-se em 3 ou 4 dias (às vezes até menos), o que não dá tempo para pensar em outros tratamentos, em alternativas, etc.
Em média, o que acontece, é: a pessoa fica infectada, passados uma semana fica com sintomas de gripe, passados dois dias entra no hospital a respirar por si e passados quatro dias ou começa a melhorar ou já está morto. 
Não sei como é que alguém pode ainda desvalorizar a situação.


Next fortnight is crucial to Boris Johnson’s chances of survivalTom Whipple

Wednesday April 08 2020, 12.01am BST, The Times

From the intensive care unit there are two routes out: death or discharge. 
...
What we do know from experiences abroad is that the next fortnight is crucial. As more of Mr Johnson’s cells die they will be sloughed into his lungs, clogging them with fluid and debris. At the same time, doctors now believe, he will be in danger of a “cytokine storm”, in which the immune system overreacts, rushing in defensive cells and opening up blood vessels — causing damage and leading to yet more fluid on the lungs.

If he can battle that and come out the other side then, on average, we would expect to see Mr Johnson give a wave — albeit a feeble one — from the steps of St Thomas’ about 18 days after symptoms began, the weekend after next.

Patients who do not survive leave, on average, four days after that.