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July 11, 2023

Outra coisa com piada

 



Não sei se os critérios de classificação de Matemática são como os de Filosofia onde se descarta tudo o que de errado o aluno fez e vai-se repescar apenas as coisinhas melhores, mas se for (e deve ser porque tudo agora marcha ao som do chicote de sua excelência alienada) estes resultados são uma desgraça muito maior do que se pensa. Muito maior. E, se alguém se desse ao trabalho de ver para que curso vão estes alunos que tiram negativa a matemática nestas condições feéricas, ia ver que vão quase todos para cursos onde a Matemática é a cadeira específica de maior importância. De maneira que já vejo vir aí uma reforma curricular com as aprendizagens essenciais das essenciais.

Ontem li duas notícias. A Irlanda está como nós nos preços das casas e na emigração de jovens qualificados. A Alemanha precisa de 1 milhão e meio de imigrantes por ano e quer produzir na UE os produtos que importava da China. Onde vão buscar os imigrantes, qual o papel que nós, tugas, vamos ter na UE e porque é que Costa e Costa querem que os portugueses que menos têm, passem pela escola pública só com o essencial do essencial do essencial?

Provas nacionais do 9.º ano. Quase 60% teve negativa a Matemática


Cerca de 78,2% dos alunos conseguiram ter positiva na prova de Português, mas a Matemática a maioria (58%) teve negativa.

July 08, 2023

Exames nacionais

 


Ontem seis horas nisto, hoje cinco. É quase impossível ter má nota nestes exames, quer dizer, é preciso ser mesmo calão e cábula porque o exame está feito para os alunos não terem que estudar muito. Só a escolha múltipla vale mais de metade do teste e mesmo nesse grupo, há perguntas que, tendo mau resultado, são descartadas. Só contam os melhores resultados. No resto do exame é a mesma coisa: os alunos respondem a seis questões, mas o programa só conta quatro: as que têm melhores resultados (naturalmente aqui os palhaços dos classificadores têm que ver tudo...). Portanto, a lógica é a seguinte: para que os alunos não tenham que estudar tudo, fazem perguntas sobre tudo mas só contam as melhores de maneira que eles possam falhar uma série delas. Neste contexto, exames que têm respostas desastrosas têm notas razoáveis ou até boas. Basta que tenham feito a maioria da escolha múltipla bem (são fáceis) e mais duas das outras, por exemplo. O resto pode estar miserável ou podem até nem fazê-las. Até os descritores para classificar cada pergunta são construídos de maneira que a resposta pode estar fraca mas como diz uma palavra ou uma frase, já leva pontos de cotação. Por exemplo, o aluno não argumenta a sua posição mas tem "uma intenção argumentativa"... enfim...


February 04, 2023

Escrever sobre educação para contribuir para o ruído




Este senhor escreve um longo artigo contra a existência de exames, mas em vez de adiantar argumentos, adianta, sobretudo, acusações, demagogias e preconceitos contra os que são a favor de haver exames. Logo a começar pelo título, 'o altar-palco dos exames' que tem sub-entendido que todos os que são a favor de exames são fanáticos que idolatram os exames como deuses e que tudo não passa de uma representação. Portanto, logo pelo título ficamos a saber que o autor é, acima de tudo, contra os que defendem exames e que escreve para chocar.

1. Neste primeiro parágrafo o autor fala numa batalha dos bons (os que têm a coragem de assumir e inovar) contra os maus: os que querem exames. Portanto, isto é uma guerra dos bons (que não querem exames) contra os maus (os que defendem exames). Não há um único argumento a favor do fim dos exames. 

2. Neste parágrafo ridiculariza os que defendem exames. Não há um único argumento a favor do fim dos exames.

3. Neste parágrafo, o autor lamenta que muitos queiram ir para certos cursos e não entrem por causa de décimas em exames. Ora, como é evidente, não é pelas décimas que não entram, mas por não haver vagas para todos. Não havendo exames teriam de arranjar outro modo de fazer uma seriação porque o problema é: os lugares são em número limitado e não cabem todos. 

4. Neste parágrafo, o autor fala da não entrada num curso como uma catástrofe para a vida, equivalente à notícia de ter um cancro em fase adiantada, por exemplo, mas não é. Se calhar o erro está em as famílias e os professores alimentarem a ideia de que para cada aluno só há uma única possibilidade na vida e que falhando essa possibilidade toda a vida falha. E não é verdade que cada professor saiba o nome de todos os que não entraram exactamente onde queriam. Se calhar só aqueles que têm essa visão redutora e pobre da vida.

5. Neste parágrafo, o autor fala como se o Estado fosse um papá que deve acompanhar como tutor a vida das ovelhas do seu rebanho (é tal qual o ministro a falar), mas isso não cabe ao Estado: dizer a cada um o que deve fazer da sua vida. E depois fala-se no privado como se fosse uma associação de inúteis onde só se vai parar se não se tiver nota para o ensino público, o que também me parece exagerado e errado.

6. Neste parágrafo, o autor entra em contradição com o anterior e diz que do privado saem profissionais com carreiras brilhantes que tiveram nota inferior nos exames nacionais. Em primeiro lugar, volta a falar de objectivos de vida em termos de carreiras brilhantes, o que a mim me parece extremamente redutor enquanto perspectiva de vida (porque razão uma vida falha se não se tiver uma carreira brilhante?) e não é argumento nenhum a favor de não haver exames; em segundo lugar, esquece que, regra geral, muitos dos que saem das universidades privadas têm uma rede de conhecimentos a que recorrem para fazer a tal carreira e isso nada tem a ver com notas de exames.

7. Neste parágrafo, há muitos adjectivos dramáticos como, 'delírio' e 'aterrador', muitas petições de princípio, mas nenhum argumento.

8. Neste parágrafo há demagogia e contradição: os empresários preferem contratar gente com vigor e diligentes que gente com um diploma. Bem, se um diploma não serve para nada, porquê insistir em que os alunos tenham de entrar todos na universidade? E depois: as empresas fazem testes aos candidatos (a não ser que entrem com uma cunha vinda de cima) de maneira que quem tem não sabe lidar com testes e exames fica logo ali.

9. Neste parágrafo o autor fala como se não houvesse, 2ª fase, 3ª fase, etc. e um aluno só tivesse uma hipótese, uma vez na vida de fazer um exame. Isto é falso...

10. Neste parágrafo o autor fala do peso dos exames (50%) ser exagerado, o que também concordo, mas não argumenta de modo válido, apenas se mostra chocado. Não chega.

11. Neste parágrafo o autor, infelizmente, não argumenta as razões dessa desconfiança e os modos de resolver o assunto. Mais uma vez, só se indigna e diz que não pode ser. Se não há argumentação, não há discussão, só há, ou obediência, ou recusa.

12. Neste ponto concordo com o autor. O pagamento da logística dos exames de acesso à universidade devia ser obrigação do ensino superior e não das escolas secundárias.

13. Neste parágrafo, o autor faz uma falsa dicotomia: ou o exame é um mecanismo de aprendizagem ou é de classificação, mas na realidade é as duas coisas. Por um lado dá ao aluno uma medida do seu nível de aprendizagem numa escala finita de avaliação (daí que se façam testes e trabalhos ao longo do ano) mas também o incluem numa seriação, dado que, mais uma vez, não há lugares para todos nas universidades.

14. Neste parágrafo, em vez de tentar dar resposta ou analisar as próprias questões que faz, o autor, mais uma vez, apenas faz afirmações de princípio e não oferece nenhum argumento.

15. Neste parágrafo, mais uma petição de princípio infundada: o ensino secundário desbaratou a sua dignidade. Nenhuma análise, nenhum argumento.

16. Aqui, outra vez, constata que há descrença nas notas do secundário mas não pensa porquê, nem como resolver. Ora, as coisas não chegaram onde estão sem um caminho que foi percorrido e é esse caminho que tem de ser percebido. Não basta indignação.

17. Aqui o autor propõe que as universidades se aproximem das escolas secundárias e que se imponha nas universidades os métodos de aprendizagem das escolas porque os professores das universidades não são bons. (impor é a palavra preferida do ministro da educação) Independentemente dos professores das universidades poderem melhorar pedagogicamente, reparo que o autor, depois de acusar as universidades de desconfiarem gratuitamente dos professores das escolas, ele mesmo desconfia gratuitamente dos professores universitários.

18. Por incrível que pareça, depois de falar contra o secundário estar feito como caminho para os cursos superiores, aqui vem defender que os professores das universidades devem estar nas escolas para os alunos ficarem logo a saber o que esse espera deles quando lá entrarem. Como se a educação tivesse como fim único pôr alunos em universidades e as universidades fossem uma espécie de finishing schools à antiga e não tivessem, cada um dos ciclos, os seus propósitos específicos.

19. Neste parágrafo, o autor faz ruído: também eu me queixo do decréscimo do nível cultural dos alunos que me chegam às mãos no 10º ano, mas só por ignorância ou grande ingenuidade, alguém pode pensar que isso é um sintoma das escolas e que seria resolvido se os professores universitários estivessem nas escolas, que é o mesmo que defender que os seus colegas professores não têm nível e que a convivência com professores universitários lhes daria, por osmose, um grande nível. Não sei se era isto que queria dizer, mas foi isto que disse. Portanto, queixa-se das universidades não confiarem nos professores do secundário mas depois defende que eram precisos professores universitários nas escolas para elevar o nível das escolas que não são de confiança. Não faz sentido. (E a senda deste ministro em aceitar que pessoas de qualquer formação venham a ser professores não ajuda à credibilização do ensino, parece-me.)

20. Isto não é verdade, a não ser talvez nos congressos de educação do ME que concluem sempre demagogicamente o que ele quer impor. A inovação de práticas nada tem que ver com exames. Se calhar os exames é que estão mal concebidos, o que é diferente. Toda a vida tentei inovar e passo muito tempo a pesquisar (e vejo imensos colegas fazerem o mesmo) e nunca me fez diferença que houvesse exames, apesar de os exames terem entrado numa caminho que não concordo, mas isso fica para o post a seguir.

21. Os currículos têm que ser coerentes com os métodos e com os instrumentos de avaliação (ou o oposto) e é isso que tem de ser melhorado. Não se acabam com os empregos com o argumento de não termos tempo de ler ou ir ao cinema. Melhora-se a organização do trabalho e dos tempos de lazer de maneira que haja tempo para as duas coisas. Na educação é igual. Já houve esse tempo, mas os exames enveredaram por caminhos anti-pedagógicos.

22. Aqui, o autor entra em contradição com o que disse anteriormente, mas como diz muita coisa com muito ruído pelo meio, já se perdeu no caminho.

23. Quando chegamos aqui à conclusão percebemos: este professor é um apoiante do ministro da educação e até as palavras lhe fogem para as práticas do ministro, o meu aplauso sonoro à presente e corajosa intimação do ME... intimação, que significa ordenar, mandar, exigir, impor a sua autoridade.

24. Este último parágrafo é de demagogia pura. Comparar os exames com a segunda guerra mundial e com a ditadura nazi e os alunos os com os que morreram na Normandia... que falta de seriedade e de sentido de decência, não?

(fui ver quem é este professor, Rui Correia. É o vencedor do prémio de melhor professor de 2019. Sou só eu que fiquei a desconfiar deste prémio apoiado pelo ME??))



O altar-palco dos exames nacionais

Rui Correia


1. (...) combate feroz que hoje se trava – finalmente - entre os ministérios que tutelam o ensino superior e o ensino básico e secundário. A batalha é ancestral mas assume agora uma feição histórica. O Ministério da Educação – que tutela o ensino básico e secundário – parece estar a recrutar a vontade política de enveredar por uma via que ninguém acreditava ter a coragem de assumir: o fim dos exames do secundário no acesso à universidade. Do outro lado do ringue, o Ministério que tutela o ensino superior pretende ampliar o peso a atribuir à nota dos exames nacionais para o acesso aos bancos das universidades, dos actuais 30% para 50%.

2. Escusado será dizer que logo pularam de todas as tocas aqueles que não têm nem querem ter alunos do secundário todos os dias pela manhã e que acham que têm coisas a dizer. É um direito e uma maldição ao mesmo tempo. Um mundo sem exames, dizem, não existe. Mesmo que não meçam o que deviam medir, os exames servem, ao menos, para mostrar alguma “realidade” do sistema que, sem eles, fica “cego” ao que se passa dentro das escolas.

3. Que ninguém o duvide: por causa dos exames, são milhares os jovens que todos os anos, merecendo perfeitamente ascender no ciclo de estudos e na carreira que ambicionam, morrem na praia apenas porque não estiveram bem em dois dias da sua vida, por melhor que tenham estado durante os últimos três, seis, oito ou doze anos do seu percurso escolar.

4. Cada professor sabe os nomes de dezenas e dezenas de alunos seus que, faltando-lhes uma décima ou umas centésimas na sua nota final, não conseguiram entrar nos cursos que desejavam.

5. Quando isto sucede, assiste-se ao cortejo dos condenados. O Estado nada tem para lhes dizer. (...) quem tem dinheiro e não tem nota suficiente, entra no ensino privado. Quem tem dinheiro, não tem nota e não quer ir para o privado, vai para o estrangeiro (...)

6. (...) todos os anos excelentes médicos que entraram no privado com notas inferiores às exigidas no público. E fazem carreiras brilhantes. Alguns deles são pioneiros no seu ramo. Não é, decididamente, através dos exames que seleccionamos os melhores candidatos.

7. Mas voltemos atrás. Qual é o problema da existência de exames no secundário? Afinal, a vida é mesmo assim. Quem, em situação de stress emocional não se aguenta e tira más notas num exame, não merece entrar à frente daquele que, em circunstâncias semelhantes, reagiu impecavelmente. É até justo que não entre, certo? Errado. Mas errado mesmo. Era tão bom que assim fosse. Mas não é.

Há pelo menos, dois erros clamorosos nesta tese: primeiro, os seres humanos não são ratos de laboratório, nem vivem em tubos de ensaio transparentes. Em educação não há, nunca houve, “circunstâncias semelhantes” e muito menos idênticas, em situação nenhuma. É um delírio. Um devaneio caro. Era interessante que houvesse, mas seria demasiado aterrador.

8. Aliás, aqueles que são muito a favor dos exames são exactamente os mesmos que aplaudem quando ouvem dizer que muitos empresários preferem de longe contratar um tipo com – como dizer isto? - vigor e diligência, a dar o litro pela empresa, do que um candidato indolente com um diploma.

9. O outro erro básico é que todos sabemos de jovens que simplesmente tiveram azar num dia marcado que, por acaso, era o dia do exame nacional.

10. É que este “sistema” não tem qualquer problema em olimpicamente ignorar tudo quanto o jovem foi ao longo dos últimos anos, no que diz respeito ao seu desempenho escolar. E na sua classificação de acesso ao ensino superior quer-se colocar num prato da balança – repare-se bem – aquilo que ele foi capaz de fazer em duas horas - e no outro prato da balança tudo quanto o jovem foi capaz de fazer nos últimos três anos. E pretende-se que valham exactamente o mesmo.

11. O sistema defende, assim, que um exame nacional consegue medir em duas horas – com tolerância de 30 minutos - aquilo que professores habilitados não conseguem medir em três anos de secundário.

E é esta desacreditação que aqui se condena. A confiança que se atribui a uma matriz de exame é igual à que se atribui às dezenas de professores que estudaram, orientaram, conheceram, acompanharam e classificaram esse aluno. Durante três anos. Esta desconfiança institucionalizada no ensino secundário é intolerável e tem de terminar. E todos ganham com isso. Todos.

12. Além do mais é incompreensível que seja o ensino secundário a pagar logisticamente todo o orçamento do acesso à universidade. Outros quinhentos.

13. O exame tem essa função mediadora entre o que temos e o que queremos obter. Entender o exame como a jusante de uma aprendizagem é saber quase nada sobre aprendizagem. O exame é muito melhor como mecanismo de aprendizagem do que como dispositivo de classificação.

14. A pergunta que permanece por responder é sempre a mesma: por que razão se desconfia tanto dos professores? Por que motivo as classificações obtidas durante o secundário não servem para recrutar os estudantes de uma qualquer faculdade? O que julgam que vão encontrar com os exames nacionais? Os melhores? Desenganem-se. Muitos dos meus melhores alunos não entraram nos cursos que queriam, por quase nada.

15. Os exames não podem converter-se no altar-palco da discriminação sem que alguém ou algum ministério se imponha. Os exames não podem continuar a ser a foz do ensino secundário. O secundário tem de recuperar uma dignidade e uma autonomia que desbaratou.

16. O ensino secundário tem em Portugal uma tradição de competência e qualidade que ninguém contesta. Os professores sabem o que fazem. Sabem como avaliar os seus alunos. Imagine-se um sistema em que, sendo mesmo inevitável impor numerus clausus, temos de fazer uma selecção entre os alunos que terminam o secundário. Por que motivo a classificação dos últimos três anos não é aceite como o mais competente e longitudinal retrato de um candidato? Só existe uma forma de entender isto: não se acredita nos professores do secundário.

17. Imagine-se o que podíamos todos ganhar com uma maior articulação entre ciclos de ensino: por um lado, os professores do superior podiam envolver-se com novos formatos de aprendizagem e avaliação que teimam em não se impor no ensino superior e são correntes no secundário. Ganhávamos melhores professores do superior.

18. Por outro, a presença regular de professores do superior no secundário tornaria ainda melhores os professores do secundário, que desse modo se actualizariam cientificamente numa base de comunicação fluente e regular entre ciclos. Ganhava-se melhores alunos no superior porque já vinham com um amplo entendimento do que deles se espera no superior.

19. (Basta escutar o que dizem os professores do superior acerca da “qualidade” dos alunos que vêem entrar nas suas salas de aula. Não têm conto as vezes que amigos meus, docentes do politécnico ou do superior, me desabafam como é frustrante assistir ao decréscimo de nível cultural das gerações que lhes chegam às mãos). Todos ganhamos com este diálogo.

20. Quem anda por este país em congressos sobre educação sabe que quase todos os especialistas concluem que a necessária modernização das práticas docentes e métodos de aprendizagem encontra sempre um travão implacável: os exames nacionais.

21. Professores do secundário que queiram inovar ou que queiram fazer as coisas de um modo que vá ao encontro do que os nossos tempos lhes impõem, não o fazem por uma razão simples: os conteúdos que saem no exame têm de ser dados num curto espaço de tempo. Muitas vezes sem ligar àquilo que os alunos sabem fazer, porque não há tempo para experimentações ou contemporaneidades.

22. O secundário converteu-se numa antecâmara do superior. Está transformado numa linha de montagem de classificações onde o saber e o conhecimento produtivo, crítico e original, não têm qualquer cabimento. Porque não serão medidos.

23. Daqui o meu aplauso sonoro à presente e corajosa intimação do Ministério da Educação. É hora de acabar com o que não faz sentido nenhum. Nem estatístico – porque mede mal o que se pretende que meça bem – nem pedagógico – porque ignora demasiado do que cada candidato na realidade é e, consistentemente, tem sido ao longo da sua vida escolar.

24. Quem, ainda assim, considera que os exames nacionais são um mal menor, com um institucional e mensurólatra interesse estatístico, não visitou essa Normandia onde todos os anos desembarcam e morrem, sob fogo inimigo, tantos filhos dos portugueses. A equidade não é a sua praia.

July 08, 2020

Acerca do exame de Filosofia



Foi fácil mas desinteressante e com uma pergunta que considero muito mal feita. Perguntar a um aluno, se 'em sua opinião', o fundamento da filosofia de Descartes é um fundamento sólido, não tem sentido. Desde quando um aluno neste nível de ensino tem opiniões filosóficas próprias? Nem os professores têm. Repetem opiniões alheias. É evidente que os alunos vão repetir a argumentação, ou do próprio se quiserem responder que sim, ou de Hume se quiserem responder que não. Depois os professores correctores vão considerar errado porque, dizem, não é a opinião pessoal do aluno e foi isso que foi pedido. Já vi isto acontecer várias vezes.
O problema da fundamentação do conhecimento é tão complexo que são precisos indivíduos da envergadura de Descartes, de Hume, de Kant ou outros do género para lhe pegar, mas um aluno do 11º ano tem uma posição filosófica própria sobre a questão? Uma pessoa leva tantos anos a construir uma posição sobre as questões. Uma opinião com coerência e fundamento e espera-se que miúdos com 17 anos tenham posições próprias sobre estes assuntos?
E qual é a vantagem de perguntar a opinião em vez de pedir reflexão ou problematização que é muito mais importante saber fazer do que dar opiniões?
Lá está... eu devo ser muito burra... se me pedissem a mim uma opinião sobre o fundamento filosófico de Descartes, confesso que o discutia com argumentos alheios, de outros filósofos e que não desenvolvi uma filosofia própria original acerca desse problema tão complexo. Nem sequer tenho uma posição única de ser a favor desta ou daquela teoria porque todas elas têm dificuldades e aporias - ou pelo menos, becos sem saída. No entanto, os fazedores de exames estão à espera que os alunos de 17 anos tenham opinião própria sobre o assunto. Vejo grande demérito nestas perguntas. Um aluno que responda a isto, dizendo, 'em minha opinião Descartes está certo ou errado, mostra nem sequer ter noção da complexidade do problema. Não digo que no meio de tantos alunos não se possa apanhar, de 100 em 100 anos, um Leibniz, mas é muitíssimo improvável. Estas perguntas, quanto a mim, dizem alguma coisa sobre as pessoas que as fazem, o que pensam que da filosofia e do seu ensino.
A última questão é a única que se presta mais à reflexão, mas o mais certo é os alunos despejarem os argumentos que aprenderam sobre a questão da religião.

April 09, 2020

Ouvi as perguntas e respostas do primeiro-ministro sobre a abertura das escolas e da realização de exames



Continuo sem perceber esta obsessão pelos exames. Os alunos do 12º que vão entrar para a faculdade, como o próprio primeiro-ministro disse, já tiveram 8 dos 9 trimestres obrigatórios, dado que as disciplinas a que têm exame (Português e Matemática) são tri-anuais, de modo que a nota deles já foi aferida 8 vezes. Por conseguinte, qual é a razão de não poderem concorrer com a nota do último trimestre de aulas que foi o 2º período deste ano? Quanto ao 11º ano, o caso é o mesmo. Dos 6 períodos que têm de cumprir e em que a sua avaliação é aferida, 5 já cumpriram.

Não compreendo esta obsessão pelos exames. Não compreendo porque não se aproveitam estes meses para, em vez de pôr em marcha todo o aparato de exames que mobiliza praticamente todos os professores das escolas (uns no agrupamento de exames, outros no secretariado de exames e outros nas vigilâncias - que aliás obrigam a um contacto de muito perto com os alunos, para verificar os dados pessoais e outras questões no decorrer da prova), para se preparar o próximo ano lectivo que vai ser extremamente exigente e, pode dar-se ainda o caso de ter uma nova paragem por segunda vaga de pandemia. Isso, preparar o próximo ano, parece-me o mais importante.

Não percebo como é que se vai pôr professores e alunos nas salas de aula. Onde se vai buscar professores para dar aulas pois se dividirem as turmas em três, ou metade, que seja, dobram o número de turmas e precisam de contratar professores. E vão garantir máscaras para todos ou vai-se para lá à balda?

Não percebo porque não se empurra o fim do ano ou se faz o contrário. Declara-se aqui o fim deste ano lectivo e antecipa-se o início do próximo para se ter tempo de compensar o trabalho deste ano que não foi acabado. Aproveitava-se o tempo para preparar o próximo ano.

Podia à mesma haver a tele-escola e trabalho com os alunos à distância, no sentido de consolidar aprendizagens, se se antecipasse o início do próximo ano lectivo ou, pelo contrário, se se empurrasse o fim deste ano lectivo mais para a frente, com o 3º período a começar em meio de Junho e a acabar em final de Julho isso não era necessário.

Para mim, qualquer uma das soluções é preferível a esta em que, para se fazerem exames, vão comprometer-se as aprendizagens que não ficaram dadas em todos os outros anos/disciplinas sem exames, pois não podem ser dadas se se começa o ano lectivo no tempo do costume por causa do tempo que os exames consomem (dois meses) e do atraso que isso significa para todo o trabalho restante.

Esta é, para mim, a pior solução e não a compreendo. Ou melhor, só a compreendo num contexto que é o contexto do ministro da educação, o secretário de Estado, o primeiro ministro e os reitores das faculdades não terem confiança no trabalho dos professores, acharem que as notas dos professores não são resultado de um trabalho sério e quererem os exames para aferir do trabalho dos professores.

April 04, 2020

Elementar, meus caros Costa e Costa



E Inglaterra decidiu o mesmo.

Toutes les épreuves du bac et du brevet sont remplacées par le contrôle continu

Le ministre de l’Éducation nationale Jean-Michel Blanquer a annoncé ce vendredi 3 avril que toutes les épreuves du bac 2020 seraient validées par le biais du contrôle continu.

À circonstances exceptionnelles, mesures exceptionnelles.