January 27, 2020

Words



A fool I was to sleep at noon,
And wake when night is chilly

Christina Rosseti


Chopin ao entardecer




A Fantaisie-Impromptu de Chopin transcrita para harpa é completamente onírica.

Mesmo 😄




1917



Fui ver este filme. O filme é menos sobre a guerra e mais sobre o heroísmo de que são capazes algumas pessoas. Nem sequer ficamos a perceber ao certo como era a vida nas trincheiras embora se perceba muito bem a dimensão gigantesca das trincheiras, de ambas as partes e, o horror que são todas as guerras: caos, violência gratuita, sofrimento e perda.
Uma realização muito boa, bons actores. Quase todo filmado num tom sépia que faz lembrar lama seca. Uma música espectacular.

Finalmente vou acabar a LPC




Estou um bocado farta de inventar exercícios de Lógica (cada turma leva 2 versões, são 3 turmas...) e isso não é o mais importante na Filosofia. Só me consolo em pensar que fico com uma base de dados grande para depois editar em outros anos. Amanhã e quarta vou dar teste às turmas e depois mudo de tema.
Há bocado, à conversa com o meu filho, cheguei à conclusão que, ao contrário de muitas pessoas que conheço (a maioria) que ao entrarem na reforma ficam meio perdidas sem saber o que fazer, eu entrava na reforma na boa. Enfim, se não me dessem uma reforma miserável... o que quero dizer é que, apesar de gostar do meu trabalho, de trabalhar com adolescentes alunos e por vezes me entusiasmar muito com uma turma ou com um projecto e isso, se amanhã me reformasse ficava bem. Tenho uma pilha de livros para ler, muitos coisas para escrever, algumas começadas, muita arte para ver, música para explorar, amigos com quem conversar, gosto de cozinhar e nos últimos anos deixei um bocado isso, gosto de viajar, gosto de caminhar e se um dia tivesse um neto/a gostaria dessa relação. Acho que tenho um pendor para a pedagogia...

Já fiz na minha profissão tudo o que havia a fazer (excepto estar na Direcção que é coisa que não me cativa) e tudo o que tinha a provar já provei e tenho resultados que o mostram. Agora só trabalho para ajudar alunos a desenvolver o seu potencial (isso é o que mais gosto na profissão e sei que o faço bem, quer dizer, muitos alunos que estão bloqueados e nem o sabem e eu sei como desbloqueá-los - é um desafio), dentro do que me deixam. Se deixo coisas inacabadas, como no ano que fiquei doente e fui de baixa o 3º período sabendo que os alunos ficavam sem professor, isso incomoda-me, caso contrário, findo o ano arrumo o assunto e faço outras coisas.

Nos anos que estive em Bruxelas não me lembro de uma única vez ter acordado com saudades da escola. Estava tão ocupada a explorar, a ler, a estudar, a conhecer países, a visitar museus e ainda por cima fiz lá uma amiga, de modo que nunca tive saudades da rotina do trabalho. De algumas pessoas, colegas, sim.
Acho que é por isso que muita gente fica perdida. Porque lhe faltam interesses. Mas isso tenho de sobra, felizmente. Quando vim morar para Setúbal achei a cidade tão culturalmente pobre que resolvi fazer da minha casa uma ilha cultural (senão tinha voltado para Lisboa porque me é difícil viver sem esses bens) e, logo depois quando tive um filho, ainda o fiz mais conscientemente, quer dizer não deixar que o sítio onde ia crescer condicionasse os seus horizontes. Herdei isso da minha mãe que era uma pessoa especial. Enchi a casa de livros e de música e de arte e de jogos - no que era por vezes estranhada, dado o dinheiro que gastava nestas coisas, mas parecia-me, e parece-me ainda que, se vimos ao mundo e não sabemos nem fruímos das suas possibilidades, não vivemos, verdadeiramente. Além disso, quando o mundo exterior fica difícil, o mundo interior salva-nos.
E sei desde muito nova que educamos pelo exemplo, não pelos sermões.

Acaba de cair-me no email o resultado das análises ao sangue de hoje de manhã. Vou ver. Ciao.

Não é verdade que baste um homem louco



... para criar Auschwitz, como ouço dizer a alguns agora mesmo na TV.
É preciso muita gente. Muitos actos de cedência, de cumplicidade e de conivência, activa e passiva. Os diários de Victor Klemperer (1881-1960), judeu alemão, mostram isso muito bem. A decadência gradual do quotidiano, os pequenos passos que levaram à normalização dos grandes crimes.

Estes diários são um excelente instrutor porque Victor Klemperer era um indivíduo muito lúcido e empresta-nos a sua lucidez, a sua reflexão sobre o alcance dos pequenos passos que via todos os dias serem dados no caminho do mal. De modo que ajuda-nos a reconhecê-los, no nosso próprio quotidiano.

Acontece-me frequentemente ver certas pessoas fazer certas acções e transpô-las imediatamente para outras dos diários dele e reconhecê-las pelo que são: passos dados em direcção ao mal.




A educação em França está a ferro e fogo há mais de 1 ano ininterruptamente



Primeiro, pela reforma educativa, depois pelas mudança do regime de reformas. Nós por cá é que somos mansos.


Plus de 50 chefs d’établissements scolaires parisiens demandent que « cessent les blocages »

« La liberté de protester ne doit pas exclure la liberté d’étudier », déclarent des chefs d’établissement inquiets d’actions « de plus en plus agressives ».

S.T.O.P.



Um grupo de professores, apoiado pelo S.T.O.P., angariou 8430,77 euros com o objetivo de suportar o desencadeamento de uma ação judicial contra o Ministério da Educação. Se necessário, a ação pode chegar ao Tribunal Europeu segundo o sindicato.

Note to self




Nunca ser um elo na cadeia que farpa os outros. Nem em coisas graves nem em menos graves, seja de uma maneira ou de outra porque há várias maneiras de deixar os outros mal, física e psicologicamente. Sou muito anormal, sei disso, e muito mais cega do que penso ser -isso de vez em quando bate-me na cara com toda a força porque geralmente julgo os outros como muito melhores do que depois venho a saber que são- mas estúpida não sou. Fazer as coisas com malícia, fazer coisas para enganar e prejudicar os outros ou diminui-los ou vingar dos males e das injustiças... o que chamamos ser uma pessoa estúpida... isso não sou, de um modo muito consciente. Não quero ser e evito-o a todo o custo. Tenho muito medo da frase que Platão põe na boca de Sócrates, 'mais vale sofrer uma injustiça que cometê-la.' Como poderíamos depois viver connosco próprios às costas? Já basta os erros que uma pessoa faz sem querer. Não uso máscaras (não quero ser uma pessoa não-real como vejo tantas e tantas) nem sou boa a arranjar desculpas para mim própria dos erros que cometo e geralmente anuncio-os logo em voz alta e tudo. Também não sei fingir que não vejo, o que só me traz problemas. Enfim, não quero ser um elo na cadeia que farpa os outros.



Educar é um bem público e pensar é uma actividade heurística e exploratória, imprevisível nos seus resultados, incerta e indeterminada



Hoje é o dia Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. Fui buscar este texto pois a educação, acredito, é o único meio de impedir que o demens humano se sobreponha ao sapiens.



Hannah Arendt: thinking versus evil por Jon Nixon


 Arendt e o valor das universidades como lugares de pensamento em conjunto.
Universidades são lugares onde as pessoas se encontram para pensar em conjunto. Hannah Arendt, apesar de ter passado por várias universidades, definia-se, não como uma académica, mas como uma pensadora. Uma das coisas em que pensou foi sobre o próprio pensamento, a sua natureza e objectivo, o seu significado ético e político, o seu potencial para o bem e para o mal, a sua fundação na comunidade da consciência humana.

Hannah Arendt, como se sabe, nasceu na Alemanha, foi aluna e amante de Heidegger (numa relação emocionalmente profunda de ambas as partes - ela com 18 anos, ele com 36 ), fugiu ao regime nazi e depois de uma breve prisão em França e de uma passagem por Praga e Lisboa, embarcou para os EUA onde viveu o resto da vida, primeiro como apátrida, depois com a cidadania americana.

Arendt distingue o pensamento conduzido em isolamento (como Heidegger cada vez mais isolado na cabana e no silêncio da Floresta Negra, esse lugar hoje de peregrinação) e o pensamento que constitui o diálogo do pensamento com os outros. Porque o pensamento é, ao mesmo tempo, uma inflexão interior e exterior, está fundado na experiência comum e não é uma prerrogativa de uns poucos, mas uma faculdade de todos.

Pensar é o que nos liga a nós próprios e aos outros. Arendt desenvolveu uma suspeição desse pensar isolado como um labirinto mitológico onde não se entra sem ficar preso e desligado do resto do mundo -como a obra de Heidegger que ela compara a um labirinto de raposa para atrair incautos. É aliás por isso, por pensar Heidegger, ele próprio, encurralado no seu labirinto e alienado do mundo exterior que ela lhe perdoa o seu envolvimento nazi.

A ideia de 'pensamento' joga um enorme papel na análise do Totalitarismo, ou melhor, a ausência de pensamento. Um mundo esvaziado de pensamento, de vontade e de juízo seria um mundo habitado por autómatos, como Eichmann, desprovidos da liberdade da vontade e de qualquer capacidade de juízo independente.

O caso de Eichmann levantou uma questão crucial para Arendt: "Pode a actividade do pensamento enquanto tal, o hábito de examinar o que acontece, independentemente dos resultados, pode esta actividade estar entre as condições que levam o ser humano a abster-se de acções más ou até, condicioná-lo contra elas?"

A questão surge, em grande parte, da sua experiência do totalitarismo nazi mas também da opressão do McCarthyismo nos anos 50, nos EUA e, de um modo geral, das linhas ideológicas presentes na Guerra Fria. Ela também via com apreensão o crescimento imparável do consumismo do Sonho Americano. Nem Hitler nem Estaline tinham esgotado, ao que parecia, todo o potencial do totalitarismo. Daí a urgência da questão.

Ora, uma vez que o pensamento obriga a que se páre e pense, pode condicionar-nos contra o mal.

Sem o pensamento em diálogo com os outros não pode haver juízo informado, nem possibilidade de acção moral ou de acção colectiva - o que há é ausência de preocupação pelo mundo [no care for the world]. A educação é, em seu entender, uma expressão dessa preocupação: "decidimos se amamos o mundo ao ponto de nos responsabilizarmos por ele".

A educação dá-nos um espaço protegido dentro do qual podemos pensar contra a opinião recebida: um espaço para questionar e desafiar, para imaginar um mundo de diferentes perspectivas, para reflectir sobre nós próprios na relação com os outros e, ao fazê-lo, compreender o que significa 'assumir responsabilidade'.

Hanna Arendt tinha observado, em primeira mão, como a opinião pode cristalizar-se em ideologia: a ideologia requer assentimento, funda-se em certezas e determina o nosso comportamento em horizontes de expectativas fixados; ora pensar, pelo contrário, requer dissidência, vive da incerteza e expande os horizontes reconhecendo a nossa actividade.

É tarefa da educação -e, portanto, da Universidade- assegurar que um tal espaço permaneça aberto e acessível. Mas, só pode fazê-lo se não [se]enclausurar [em]o espaço que disponibiliza. Há duas barreiras a esse propósito: a primeira é assumir que o resultado do pensamento pode ser pré-especificado. Contra isto devemos manter presente que o pensamento é discursivo, que pensar é uma actividade heurística e exploratória, imprevisível nos seus resultados, incerta e indeterminada. Sai fora do enquadramento de qualquer premissa pedagógica de objectivos, medidas, metas pré-assumidas.

A segunda barreira tem a ver com a categorização académica. Ela entende a importância das fronteiras metodológicas e disciplinares mas está ciente do modo como se podem transformar em barreiras de modo que insiste que se pense fora das tradicionais categorias académicas. Como ela própria diz nas suas aulas sobre a filosofia política de Kant: "O importante é pensar com uma mentalidade alargada - o que significa que treinamos a mente para ir visitar".

A educação providencia um espaço intermédio entre o público e o privado, um espaço semi-público onde podemos testar as nossas opiniões, interpretações e juízos. Nos seus seminários -recorda Jerome Kohn- cada aluno era um 'cidadão', chamado a intervir e inserir-se nessa polis em miniatura e a tentar melhorá-la. Esta iniciação de inserção na polis faz-nos realizar o nosso potencial enquanto pessoas e cidadãos.

Arendt realça a necessidade de pedagogias que reconheçam a diferença e a diversidade, que desafiem e questionem, que estimulem e provoquem. Enquadramentos curriculares que possibilitem a mentalidade de 'visitação' e propósitos educacionais que se foquem no florescimento e desenvolvimento do potencial individual.

Acima de tudo Hanna Arendt lembra-nos que a educação é um bem público: quanto mais nele participarmos maior o seu potencial de retorno para o bem-estar da sociedade como um todo e para a vitalidade do seu corpo político. Contra aqueles que vêem a educação como uma mercadoria para ser comprada e vendida com vista ao lucro, Arendt insiste que ela está fundada na nossa capacidade partilhada de pensar e que pensar é pensar em conjunto.

Os problemas colectivos que agora enfrentamos são globais e requerem soluções globais, que por sua vez requerem a capacidade e a vontade de pensar através das nossas diferenças. Num mundo profundamente dividido, pensar em conjunto talvez seja o nosso recurso mais válido e a universidade [as escolas em geral, digo eu, embora a outro nível] talvez seja um dos poucos lugares dentro dos quais esse recurso do pensamento pode ainda encontrar um valor incondicional.

(traduzido e adpatado livremente por mim)

Rui Pinto: para denunciar a lavandaria de Isabel dos Santos é bom mas para se meter no futebol já é mau




Advogado e plataforma de denunciantes dizem que Rui Pinto é a fonte dos Luanda Leaks

Pretty much





January 26, 2020

Fazer turismo em Lisboa




Hoje resolvi ir ao Convento de S. Vicente de Fora onde não ia há mais de 20 anos. Está muito diferente. Para melhor. Entretanto, um dos claustros parece um matagal.


Não subi às torres da Igreja porque estampei-me na terça-feira e tenho a perna esquerda num caos de hematomas e inchaços e para chegar ao convento é preciso andar por aquelas ruelas íngremes da Graça que são piores que o Quebra-Costas de Coimbra - agora me lembro porque fazia tanto tempo que não ia ali para os lados de Santa Engrácia... enfim, o convento tem exposto o tesouro, que é riquíssimo nas custódias e pratas. Paramentos também tem alguns e adornos dos cardeais. Aliás, foi lá que vi este saturnino de cardeal no meio de vestimentas todas de brocado de seda e damasco, debruadas a fio de ouro, como o chapéu. Nem a casa Prada produz tamanha riqueza cardinalícia. Uma vaidade própria de reis, aquelas roupas todas de veludo, seda, brocado e ouro, no meio do povo pobre da época...



 Na.capela ao lado do panteão dos bispos e cardeais andamos em cima de pequenas urnas com o coração e vísceras de vários reis. Uns têm a pedra já tão gasta que não se consegue ler as letras. Não estas:


Depois fui ao Panteão, já que estava ali perto, olhar aquela cúpula lindíssima.
Não sabia que o Humberto Deladado estava no Panteão. Se já é duvidoso que a Amália e o Eursébio estejam lá na companhia do Garret, do Camões, do Teóphilo, etc., o Humberto Delgado é chocante... então diz lá no túmulo que foi porque foi candidato às eleições e deu a vida pela Pátria. Homessa! A quantidade de gente que morreu pela Pátria! Só em África... Então agora por isso vão todos lá parar?
Não sei quem lá o pôs. O Mário Soares para ver se depois o punham a ele...? Achei despropositado. Uma coisa é porem-no algures em destaque outra enfiarem-no no Panteão ao lado do Camões, do Albuquerque, do Vasco da Gama, do Garret... enfim, não se percebe.
Os únicos túmulos que têm flores frescas são os da Amália e do Eusébio.







Depois, como a minha irmã tinha 50% de desconto naquela aplicação, The Fork, fomos almoçar a um restaurante caríssimo que saiu barato 🙂 onde comi um creme de lavagante que me limpou a alma...

É isto...





Comenda, Setúbal



Alguém comprou o palácio da Comenda in extremis. Ao abandono e completamente vandalizado já não ia durar um par de Invernos. Pois agora queixam-se, os que o vandalizavam, que o novo dono fechou o Parque das Merendas e o estacionamento de Albarquel. Para conservar é preciso cuidar... não se pode querer, ao mesmo temo, tudo e o seu contrário...
A Câmara quer que os terrenos do Parque das Merendas e de Albarquel continuem a ser abertos ao público. Não fazem nada, ficam à espera que alguém dê os 50 milhões por aquilo e depois aparecem a querer que deixem os outros usar e estragar o que é seu..?


O palácio da Comenda, na Arrábida, em Setúbal, é uma das obras mais belas do arquitecto Raul Lino, tendo sido construído entre 1903 e 1908.

O ministro alucinado




É o do ambiente, é o da administração interna, é o da educação, é o dos negócios estrangeiros...

Presidente da Câmara da Trofa pede saída do Governo do ministro “alucinado” do Ambiente

Sérgio Humberto, presidente da Câmara da Trofa, reagiu ao silêncio do ministro afirmando: “o ministro João Matos Fernandes, para utilizar um termo simpático, é um alienado e um alucinado no Governo”.

“E digo isto, primeiro, porque ele não vive na realidade. Segundo, porque está preocupado em fazer extensões [do metro] na Área Metropolitana do Porto, onde o PS é poder, ou no município do Porto, onde tem intenção de se candidatar à câmara municipal. Terceiro, porque ele não dignifica o cargo que exerce”, acrescentou o autarca da coligação PSD-CDS, que lidera o município da Trofa.

Nesta quarta-feira, relembrando ter sido há uns anos “aprovada por todos os partidos na Assembleia da República
a vinda do metro até à Trofa”, Sérgio Humberto enfatizou que, “10 dias depois, este ministro, alucinado e alienado da realidade, teve a lata e o descaramento de dizer: “metro até à Trofa, nunca"”.

😄