Showing posts with label educar. Show all posts
Showing posts with label educar. Show all posts

August 28, 2023

O ME francês proibiu o uso da abaya nas escolas




Acho bem. As abayas, tal como as burcas e os Hijab não são símbolos de religião, são símbolos de opressão religiosa. Todos os países teocráticos oprimem e escravizam as mulheres obrigando-as a tapar a cara e/ou o corpo. Não há ninguém que não saiba da luta das iranianas que são presas e mortas por não usarem o Hijab ou das afegãs que são lapidadas se não saírem sempre completamente cobertas de maneira a apagarem as suas identidades.

A Europa é um espaço de emancipação e de igualdade de direitos e as escolas públicas não podem ser lugares de aceitação de símbolos de opressão. 

Ademais, existe um código de vestuário nas escolas, independentemente da cultura de cada um. Não se aceita que cada um apareça como quer. Hoje-em-dia temos muitos alunos brasileiros e alguns são guarani. Nunca vi nenhum vir nu/nua para a escola por ser essa a tradição da sua cultura.

Os muçulmanos vêm para a Europa à procura de liberdade e de emancipação mas depois querem impor aos europeus a sua cultura de opressão religiosa. Nós já tivemos isso aqui, antes do Iluminismo. 


Gabriel Attal anuncia a proibição do uso da abaya nas escolas

O Ministro da Educação francês declarou que pretende estabelecer "regras claras a nível nacional" sobre o uso deste traje controverso.

"A laicidade é a liberdade de se emancipar através da escola", insistiu o ministro. Logo que foi nomeado para a Rue de Grenelle, no final de julho, afirmou que entrar na escola com uma abaya era "um gesto religioso, destinado a testar a resistência da República ao santuário laico que a escola deve constituir", prometendo ser "firme nesta questão". "Quando se entra numa sala de aula, não se deve poder identificar a religião dos alunos só de olhar para eles", defendeu novamente no noticiário das 8 horas da TF1.

Os directores das escolas estavam à espera de regras claras.

A questão do uso da abaya, que não é um símbolo religioso muçulmano de acordo com o Conseil français du culte musulman (CFCM), já foi objeto de uma circular emitida pelo Ministério da Educação francês em novembro passado. Neste texto, as abayas são consideradas - tal como as bandanas e as saias compridas, que também são mencionadas - como peças de vestuário que podem ser proibidas se forem "usadas de forma a manifestar ostensivamente uma filiação religiosa".

De acordo com uma nota do governo, cuja cópia foi obtida pela AFP, os ataques ao laicismo, que aumentaram significativamente desde o assassinato de Samuel Paty, aumentaram 120% entre os anos lectivos de 2021-2022 e 2022-2023. O uso de sinais e de vestuário, que são responsáveis pela maioria dos ataques, aumentou mais de 150% durante o último ano letivo.

Desde a lei de 15 de março de 2004, "nas escolas públicas, colégios e liceus, é proibido o uso de sinais ou de vestuário através dos quais os alunos manifestem ostensivamente uma filiação religiosa".

July 21, 2021

Na alimentação, como no desporto, o objectivo desviou-se exclusivamente para o lucro

 


Uma das coisas que se diz no vídeo é que cada vez mais se 'embrulha' a comida em artifícios engraçados, brilhantes, divertidos, açucarados, para que as crianças comam, esquecendo [a falta de] qualidade do interior- Isto faz-me lembrar a educação, cada vez mais embrulhada em artifícios e slogans para que as 'crianças' a comam, esquecendo a falta de qualidade do interior.


February 11, 2021

Educar

 


John Dewey disse, 'A educação é um processo de viver e não um mero processo de preparação para uma vida futura'.

As crianças e os adolescentes que andam nas escolas não são 'pet projects', não são sequer projectos de vida futura, potencialidades económicas para o país. São vidas actuais. São pessoas num certo estádio de desenvolvimento com certo tipo de características e necessidades. Fazer currículos e horários escolares a pensar neles como meros instrumentos de um ideário político-económico nacional futuro, é negar as suas vidas actuais. 


January 27, 2020

Educar é um bem público e pensar é uma actividade heurística e exploratória, imprevisível nos seus resultados, incerta e indeterminada



Hoje é o dia Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. Fui buscar este texto pois a educação, acredito, é o único meio de impedir que o demens humano se sobreponha ao sapiens.



Hannah Arendt: thinking versus evil por Jon Nixon


 Arendt e o valor das universidades como lugares de pensamento em conjunto.
Universidades são lugares onde as pessoas se encontram para pensar em conjunto. Hannah Arendt, apesar de ter passado por várias universidades, definia-se, não como uma académica, mas como uma pensadora. Uma das coisas em que pensou foi sobre o próprio pensamento, a sua natureza e objectivo, o seu significado ético e político, o seu potencial para o bem e para o mal, a sua fundação na comunidade da consciência humana.

Hannah Arendt, como se sabe, nasceu na Alemanha, foi aluna e amante de Heidegger (numa relação emocionalmente profunda de ambas as partes - ela com 18 anos, ele com 36 ), fugiu ao regime nazi e depois de uma breve prisão em França e de uma passagem por Praga e Lisboa, embarcou para os EUA onde viveu o resto da vida, primeiro como apátrida, depois com a cidadania americana.

Arendt distingue o pensamento conduzido em isolamento (como Heidegger cada vez mais isolado na cabana e no silêncio da Floresta Negra, esse lugar hoje de peregrinação) e o pensamento que constitui o diálogo do pensamento com os outros. Porque o pensamento é, ao mesmo tempo, uma inflexão interior e exterior, está fundado na experiência comum e não é uma prerrogativa de uns poucos, mas uma faculdade de todos.

Pensar é o que nos liga a nós próprios e aos outros. Arendt desenvolveu uma suspeição desse pensar isolado como um labirinto mitológico onde não se entra sem ficar preso e desligado do resto do mundo -como a obra de Heidegger que ela compara a um labirinto de raposa para atrair incautos. É aliás por isso, por pensar Heidegger, ele próprio, encurralado no seu labirinto e alienado do mundo exterior que ela lhe perdoa o seu envolvimento nazi.

A ideia de 'pensamento' joga um enorme papel na análise do Totalitarismo, ou melhor, a ausência de pensamento. Um mundo esvaziado de pensamento, de vontade e de juízo seria um mundo habitado por autómatos, como Eichmann, desprovidos da liberdade da vontade e de qualquer capacidade de juízo independente.

O caso de Eichmann levantou uma questão crucial para Arendt: "Pode a actividade do pensamento enquanto tal, o hábito de examinar o que acontece, independentemente dos resultados, pode esta actividade estar entre as condições que levam o ser humano a abster-se de acções más ou até, condicioná-lo contra elas?"

A questão surge, em grande parte, da sua experiência do totalitarismo nazi mas também da opressão do McCarthyismo nos anos 50, nos EUA e, de um modo geral, das linhas ideológicas presentes na Guerra Fria. Ela também via com apreensão o crescimento imparável do consumismo do Sonho Americano. Nem Hitler nem Estaline tinham esgotado, ao que parecia, todo o potencial do totalitarismo. Daí a urgência da questão.

Ora, uma vez que o pensamento obriga a que se páre e pense, pode condicionar-nos contra o mal.

Sem o pensamento em diálogo com os outros não pode haver juízo informado, nem possibilidade de acção moral ou de acção colectiva - o que há é ausência de preocupação pelo mundo [no care for the world]. A educação é, em seu entender, uma expressão dessa preocupação: "decidimos se amamos o mundo ao ponto de nos responsabilizarmos por ele".

A educação dá-nos um espaço protegido dentro do qual podemos pensar contra a opinião recebida: um espaço para questionar e desafiar, para imaginar um mundo de diferentes perspectivas, para reflectir sobre nós próprios na relação com os outros e, ao fazê-lo, compreender o que significa 'assumir responsabilidade'.

Hanna Arendt tinha observado, em primeira mão, como a opinião pode cristalizar-se em ideologia: a ideologia requer assentimento, funda-se em certezas e determina o nosso comportamento em horizontes de expectativas fixados; ora pensar, pelo contrário, requer dissidência, vive da incerteza e expande os horizontes reconhecendo a nossa actividade.

É tarefa da educação -e, portanto, da Universidade- assegurar que um tal espaço permaneça aberto e acessível. Mas, só pode fazê-lo se não [se]enclausurar [em]o espaço que disponibiliza. Há duas barreiras a esse propósito: a primeira é assumir que o resultado do pensamento pode ser pré-especificado. Contra isto devemos manter presente que o pensamento é discursivo, que pensar é uma actividade heurística e exploratória, imprevisível nos seus resultados, incerta e indeterminada. Sai fora do enquadramento de qualquer premissa pedagógica de objectivos, medidas, metas pré-assumidas.

A segunda barreira tem a ver com a categorização académica. Ela entende a importância das fronteiras metodológicas e disciplinares mas está ciente do modo como se podem transformar em barreiras de modo que insiste que se pense fora das tradicionais categorias académicas. Como ela própria diz nas suas aulas sobre a filosofia política de Kant: "O importante é pensar com uma mentalidade alargada - o que significa que treinamos a mente para ir visitar".

A educação providencia um espaço intermédio entre o público e o privado, um espaço semi-público onde podemos testar as nossas opiniões, interpretações e juízos. Nos seus seminários -recorda Jerome Kohn- cada aluno era um 'cidadão', chamado a intervir e inserir-se nessa polis em miniatura e a tentar melhorá-la. Esta iniciação de inserção na polis faz-nos realizar o nosso potencial enquanto pessoas e cidadãos.

Arendt realça a necessidade de pedagogias que reconheçam a diferença e a diversidade, que desafiem e questionem, que estimulem e provoquem. Enquadramentos curriculares que possibilitem a mentalidade de 'visitação' e propósitos educacionais que se foquem no florescimento e desenvolvimento do potencial individual.

Acima de tudo Hanna Arendt lembra-nos que a educação é um bem público: quanto mais nele participarmos maior o seu potencial de retorno para o bem-estar da sociedade como um todo e para a vitalidade do seu corpo político. Contra aqueles que vêem a educação como uma mercadoria para ser comprada e vendida com vista ao lucro, Arendt insiste que ela está fundada na nossa capacidade partilhada de pensar e que pensar é pensar em conjunto.

Os problemas colectivos que agora enfrentamos são globais e requerem soluções globais, que por sua vez requerem a capacidade e a vontade de pensar através das nossas diferenças. Num mundo profundamente dividido, pensar em conjunto talvez seja o nosso recurso mais válido e a universidade [as escolas em geral, digo eu, embora a outro nível] talvez seja um dos poucos lugares dentro dos quais esse recurso do pensamento pode ainda encontrar um valor incondicional.

(traduzido e adpatado livremente por mim)