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June 19, 2024

Quanto vale a vida de uma mulher?

 


Mais uma mulher assassinada. E uma encomenda ao Governo

A benevolência que se atribui aos homens em crimes contra mulheres, até aos criminosos condenados, é arrepiante.

Maria João Marques


Estamos (muito infelizmente) acostumados a ler sentenças de primeira instância ou acórdãos justificando penas suspensas a violadores e abusadores sexuais com o facto de estarem bem inseridos na sociedade e não terem antecedentes criminais. Desde que tenham emprego e uma vida estável, é violar à vontade, que os tribunais portugueses não têm nenhum pejo em proteger a vida organizada de criminosos sexuais quando estes, pobres homens, têm o azar de violar uma mulher demasiado espalhafatosa que não sabe que a sua obrigação é ficar calada e tratar do trauma sem aborrecer terceiros. E só porque um homem se inicia na vida de crime com uma violação, não quer dizer que não se lhe dê benevolência de primeiro crime, pois não? Não se vai estragar a vida a um homem (pessoa que conta) lá por estragar a vida a uma mulher (pessoa que não conta).

Os homens violentos são protegidos pelo sistema. E isso é um perigo para as mulheres. Desde logo porque a inexistência de punição funciona como incentivo à prática dos crimes. Mais: se os criminosos não são punidos quando praticam crimes graves sobre mulheres, vão repeti-los. Quando, em 2009, um polícia de Detroit descobriu um armazém com 11 mil kits de violação não testados e finalmente se testaram, descobriu-se inúmeros casos de mulheres que tinham sido vítimas de violadores em série – que a polícia nunca se tinha dado ao trabalho de investigar e que, portanto, continuaram sossegadamente a violar. É isto que acontece sempre que não se pune um violador ou um agressor doméstico: diz-se-lhe "pronto, vá procurar descansadamente a sua próxima vítima".

Os crimes de violência doméstica e sexual, quando, vá lá, são punidos, normalmente recebem ralhete em forma de pena suspensa. Em 2023, a CNN reportava que 65% dos condenados por crimes sexuais praticados contra crianças eram premiados com penas suspensas. Já em 2018, conforme escreveu o PÚBLICO, era igual a percentagem. Nesse ano, o Expresso noticiava que em seis anos 176 violadores condenados continuaram em liberdade (30% do total). Dos condenados por violência doméstica, as estatísticas conseguem ser ainda mais de arregalar os olhos: só cerca de 10% dos condenados cumprem penas de prisão efetiva.

Sucede que, afinal, nem a existência de antecedentes criminais são significativos na hora de maçar a vida de um homem violento.

Há semanas, uma mulher foi atropelada mortalmente por um ex-namorado. O assassino era repetente: havia sido condenado em 2010 por matar a namorada com facadas. Como a assassinada era uma mulher, coisa pouca, saiu da prisão ao fim de dez anos. Logo depois teve nova denúncia de violência doméstica. Abriu-se inquérito, que não andou por razões misteriosas, alegando-se a covid. Provavelmente: polícias e procuradores quiseram lá saber, mesmo tratando-se de um criminoso condenado. É certo que os serviços públicos andam todos a ritmos indigentes desde a covid, mas seria de esperar que perigos para a vida e o corpo das mulheres não fossem encarados com o mesmo marasmo.

A mulher assassinada – com um carro passando três vezes por cima dela – tinha apresentado queixa. A AIMA também. Inacreditavelmente – tratando-se de um denunciado já condenado por matar uma mulher e com outra denúncia de violência doméstica já depois de sair da prisão (i.e., via-se a olho nu que a reabilitação falhara) –, foi considerado um caso de baixo risco. Isto tem de ser negligência grosseira.

A benevolência que se atribui aos homens em crimes contra mulheres, até aos criminosos condenados, é arrepiante. Se na sociedade nos resta fazer pedagogia, já temos de nos perguntar em que raio os investigadores criminais se baseiam para aferir graus de risco. Se um assassino condenado e já com outra denúncia em cima não é um gritante risco para as mulheres que ameaça, ninguém é uma ameaça. A aferição do risco é feita consoante os palpites de cada dia dos agentes e procuradores? Não há guias de procedimento e automatismos determinando que homens com condenações ou outras denúncias (tenham seguido para acusação ou não) sejam encarados como riscos agravados? Por que carga de água se continua a proteger tanto agressores de mulheres, tratando-os como cidadãos exemplares?

Os momentos de apresentação de queixa de violência doméstica são particularmente arriscados para as vítimas. Porque continua a existir este desprezo pela segurança e pela vida das mulheres, não lhes dando proteção quando estão em grande risco? Como continuam a não existir mecanismos imediatos que garantam que o denunciado não se aproxima da vítima? (Pulseira eletrónica e botão de pânico – foi entregue à mulher no dia em que foi morta.) A descredibilização das queixas das mulheres é um dado adquirido; neste caso, foi agravado por ser uma venezuelana a apresentar a denúncia?

Na violência contra mulheres tudo continua errado. As polícias desvalorizam as queixas e o risco. Os procuradores são lentos a atuar. Os homens criminosos são protegidos e tratados com uma benevolência que demonstra o desvalor que se dá às mulheres suas vítimas. A covid é usada como desculpa para não se investigar. Os juízes usam de todas as manigâncias para desconsiderar e descredibilizar as vítimas e absolver ou libertar os agressores. E os legisladores mantêm penas ridiculamente baixas para crimes sexuais e de violência doméstica, bem como a iníqua pena de prisão suspensa – só deveria ser aplicada a crimes não violentos, mesmo se penas curtas.

Não gosto e não quero partidarizar a luta contra a violência contra mulheres. Mas este foi mais um tema em que os governos do PS escolheram fazer o mínimo: além da criação da equipa de análise retrospetiva depois de as mulheres serem assassinadas, quase nada.

Não sei das ideias da atual ministra da Justiça sobre o tema da violência sexual e doméstica. Nem sei se lhe dá prioridade. Sei que há no grupo parlamentar do PSD quem se ocupe destas matérias (e o tenha feito noutras legislaturas) e tenha ideias mais duras, digamos assim, sobre a resposta judicial. (Também há no PS, porém, não foram consideradas nos últimos anos. Preferiram-se as vozes que gritavam "populismo" de cada vez que se mencionavam as curtas sentenças destes crimes.) Uma coisa é certa: eu – e, acredito, muitas mulheres – vou cobrar ao PSD mudar este estado de coisas em que as mulheres são violentadas e assassinadas (quase) a eito.

May 26, 2024

Falar na discriminação ou na violência contra mulheres não é feminismo, é apelar à decência do respeito pelos direitos humanos




A cultura masculina de agressão física e psicológica contra mulheres persiste na geração dos filhos de Boaventura e, espantosamente, na dos seus netos. Uma cultura violenta, amenizada mas não extinta.

Boaventura de Sousa Santos, uma vez, tentou desculpar-se, na sequência do escândalo do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, com a idade. Assumia "actos inapropriados" que eram “naturais” no seu tempo e agora já não eram tolerados.

Há uma parte de verdade nisto. Quando Boaventura era novo, as mulheres eram praticamente propriedade dos maridos. Eram vistas como pessoas de segunda categoria em todo o lado, do trabalho às universidades (onde os professores as mandavam com frequência coser meias).

Era preciso uma resistência muito grande para fugir dos potenciais abusadores, o que envolvia uma grande quantidade de técnicas que passavam de mãe para filha, nomeadamente “não dar confiança”, para reduzir o risco. Era toda uma educação para evitar o abuso. Paradoxalmente, a manutenção da virgindade até ao casamento e a falta de liberdade sexual funcionava como uma protecção das mulheres perante a cultura dominante em muitos homens da época. Parece estranho, mas é assim.

Se a “obrigação” da virgindade oprimia as mulheres, a liberdade sexual poderia ter efeitos catastróficos numa cultura masculina altamente tóxica, nomeadamente quando havia filhos que nasciam fora do casamento, sustentados muitas vezes apenas pelas mães (e apenas educados por elas, porque o desaparecimento do pai era uma constante).

Nem se falava nesses tempos em violação — a expressão era “ele abusou dela”. No entanto, naquela geração, havia homens capazes de “respeito” — outra expressão antiga para referir os homens decentes com mais de 80 anos. Ser abusador sempre foi uma escolha.

O explorador de mulheres, no tempo de Boaventura, gozava de alta popularidade entre muitos dos seus amigos — vou excluir os homens decentes, que os havia — e gabava-se muitas vezes das conquistas, do “harém”, etc., etc. Infelizmente, essa cultura masculina de agressão física e psicológica persiste na geração dos filhos de Boaventura e, espantosamente, na dos seus netos. Uma cultura violenta contra as mulheres, amenizada mas, até hoje, não extinta.

Em Portugal não há “me too”, o que daria uma excelente tese para um instituto de estudos sociais. As mulheres não se queixam porque se tornam duplamente vítimas — no caso em que tenham uma carreira pública, por exemplo. Basta ver o que aconteceu a Bárbara Guimarães quando denunciou Carrilho por violência doméstica: um enorme prejuízo profissional e ainda bullying objectivo da juíza Joana Ferrer. A justiça acabou a condenar Carrilho por violência doméstica, mas “a namoradinha de Portugal” foi várias vezes vítima a seguir, nomeadamente através das declarações que Carrilho fez sobre a mãe dos filhos nos jornais. Como é que pode haver “me too” se o agressor conta com a complacência de um país minúsculo?

Esta semana, sete mulheres do colectivo de vítima do CES falaram com a jornalista Mariama Correia, da brasileira Agência Pública, que alguns jornais portugueses citaram. A mexicana Mariana Cabello, com 29 anos à altura dos factos, contou: “Fomos ver um documentário sobre direitos humanos. Boaventura sentou-se a meu lado. Quando as luzes se apagaram, colocou a mão na minha perna, na minha virilha (…) Ele continuou olhando para a frente, vendo o filme. Eu saí assustada.” Mariana Cabello diz que deixou de acompanhar o curso e passava o tempo no quarto. No jantar de encerramento, voltou a encontrar Boaventura. Depois de um exercício de lovebombing (uma táctica usada por abusadores e narcisistas, que consiste em elogiar desproporcionadamente a vítima, para a tentar manipular), Boaventura passa à segunda fase. “Eu estava em pé, ao lado da mesa dele. Ele, sentado, pôs a mão na minha cintura, nessa posição ficou com a cara no meu peito.” Na altura, a estudante optou por não denunciar porque “sabia que não ia acontecer nada com ele”.

Há relatos de Boaventura marcar reuniões com alunas para a casa dele, onde aparecia “vestido de robe e pijama” e “fazia comentários de carácter sexual sobre os corpos” das mulheres.

Élida Lauris estava a fazer o doutoramento em 2005, tinha 25 anos. “No último jantar em equipa em que participei com Boaventura, ele disse: ‘Você pode ter uma relação especial comigo porque, quando olho para você, quando vejo as suas pernas… Nunca fiz nada porque você era casada.” Élida passou a ter ataques de pânico.

Não, a vítima não tem sempre razão. Mas a cultura instituída neste país de não ouvir a vítima, de a tentar esquecer e menorizar, e tolerar os abusos — uma cultura ainda vigente, apesar de algumas mudanças — é de uma enorme violência contra as mulheres. Contra todas, todas, todas.

Ana Sá Lopes in https://www.publico.pt/

May 25, 2024

Mais um filme sobre prostitutas... groundbreaking...



Anora, estupendo filme do norte-americano Sean Baker, foi considerado o melhor filme da 77ª edição de Cannes. Foi o seu regresso à competição, depois de Red Rocket, desta vez acompanhando (ou empurrando?) as movimentações da actriz Mikey Madison que interpreta uma escort que persegue o seu sonho. Uma espécie de Pretty Woman sem dourar a pílula, como se deu conta o realizador numa das entrevistas que deu: é um filme em duro exercício, em permanente actividade, em performance, portanto, por um território onde se sobrepõem o luxo e o detrito, a fantasia e o sórdido, o conto de fadas e o sexo.

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Milhões de filmes que já se fizeram. Os homens são quase sempre heróis, as mulheres quase sempre prostitutas. Quando não são prostitutas são cinderelas que entram nos filmes para validar os maridinhos.

Como é que as raparigas podem ter modelos positivos se se escondem as mulheres reais e se apresentam estes estereótipos do superficial imaginário masculino? Há e houve milhões de mulheres com vidas interessante e importantes mas os homens só têm curiosidade nas prostitutas e nas cinderelas? 

Mas os homens são assim tão vulgares e superficiais que só pensam em mulheres que vivem de lhes prestar favores sexuais? Que desilusão.

Hoje comprei um Dicionário de Escritoras Portuguesas. São 340 páginas de entradas de nomes de escritoras e dos livros que escreveram. Não conheço a maioria delas. Porque não se conhecem as escritoras portuguesas? Não se publicam, não se estudam, não se divulgam... 

De vez em quando as alunas perguntam-me, 'não há filósofas?' Respondo que sim, mas em muito menor número que os homens, pois até ao século XX as mulheres não podiam estudar, a não ser as matérias «femininas» e eram desincentivadas de pensar. 'Há alguma filósofa importante do século XX?' Sim. A Hanna Arendt, por exemplo. 'Porque é que não a estudamos?' Porque o programa é feito por homens, sexo masculino. É a mesma razão pela qual só se estudam escritores homens na Literatura e se atiram as mulheres para a Oubliette.

Vem um artigo num jornal da semana passada preocupado porque as raparigas estão a deixar de escolher cursos de matemática ou engenharia. Como hão-de sentir-se à vontade para escolher um curso desses se a sociedade lhes devolve uma imagem de, ou prostituta ou maternal e se os homens discriminam as mulheres de uma maneira ordinária?

Miguel Gomes, 52 anos, que ganhou o prémio de melhor realizador em Cannes, explicou que “Grand Tour” é um filme “sobre a determinação das mulheres e a cobardia dos homens. Até que enfim que um homem desta indústria não desilude.







April 16, 2024

O primeiro-ministro [português] não acha que o corpo das mulheres lhes pertença

 


Em França, Emmanuel Macron fez com que aquele país se tornasse o primeiro do mundo a inscrever o direito ao aborto na Constituição, por entender que o “corpo das mulheres lhes pertence e ninguém tem direito a dispor dele em vez delas”, e porque assim garante que aquele direito não pode ser posto em causa pelo primeiro reaccionário misógino que se lembre disso.

Em sintonia com o caso francês e ciente das crescentes restrições, o Parlamento Europeu aprovou a inclusão de todos os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, com o direito ao aborto incluído, na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Falta que o Conselho Europeu aprove a recomendação dos eurodeputados. Mas nem todos os governos reconhecem esses direitos, e o português é um deles.

O primeiro-ministro está contra esse reconhecimento porque, ao contrário do Presidente francês, não acha que o corpo das mulheres lhes pertença.

Há uma agenda de direita misógina e retrógrada, alimentada pelo fundamentalismo católico, que se sente incentivada a sair das catacumbas e que reúne parte do PSD, CDS e Chega. É essa direita que defende a pertinência de criar o estatuto legal e fiscal para a “mulher dona de casa”, porque as mulheres são “mais propensas” a estar em casa, porque efectuam “actividades insubstituíveis” e porque, além disso, a “maternidade é reservada às mulheres”.

Até a diocese de Leiria-Fátima se associa à falsidade da conversão sexual de homossexuais, que foi criminalizada com os votos contra do PSD e Chega, como fez neste fim-de-semana, num congresso com o tema "Homens e Mulheres de Verdade", com base na crença de que a homossexualidade é uma perturbação psicológica.

Amílcar Correia in publico.pt

June 06, 2023

Onde há excesso de poder há abusos




O machismo estrutural de Boaventura de Sousa Santos


João Miguel Tavares
(...)
Boaventura promete, a partir de agora, “ser cada vez mais vigilante”, não só ao nível “epistemológico”, mas também na “prática, emocional e interpessoal”, de forma a evitar “gerar opressão em qualquer eixo de dominação”.

Os homens abusadores poderiam ter a sua vida mais facilitada, mas é errado hoje como era errado há 300 anos. O heteropatriarcado tem as costas largas. E o assédio sexual é um derivado do abuso de poder, que é o problema central dos Boaventuras de Sousas Santos deste mundo – gente com o ego insufladíssimo que cria uma corte de aduladores e que, do alto dos seus altares, não consegue controlar os impulsos típicos de macho alfa. Leiam o que Naomi Wolf escreveu sobre o professor Harold Bloom em 2004. É exactamente a mesma história do CES e de Boaventura, só que em Yale.

Embrulhar isto numa conversa geracional desculpabilizadora, apontando o dedo a um qualquer machismo estrutural, é patético. Convém defender a honra dos velhinhos nascidos em 1940, ou até há mais tempo. Um senhor de 83 anos pode participar menos nas tarefas domésticas do que um de 33, e pode pedir mais vezes à esposa para ir buscar uma cerveja ao frigorífico enquanto vê a bola – mas não, não há qualquer razão para assediar com mais entusiasmo uma jovem mulher. A tese de Boaventura é uma treta. Não é uma questão de gerações. É uma questão de poder e de carácter.

A ideia de que isto é um hábito de pessoas idosas com “comportamentos inapropriados” é mentirosa e é perigosa. Numa instituição profundamente endogâmica como é o caso da universidade portuguesa, cheia de gente em situação precária e com senhores professores doutores todo-poderosos, não há milagres. Onde há excesso de poder há abusos, e onde há abusos há assédio, seja ele sexual ou laboral. O problema de Boaventura não é ser velho – é ser o guru de uma seita que durante décadas esteve à sua inteira disposição.

November 13, 2022

É uma pena que tenha aceite colocar a canga dos Mullahs

 


Tendo plena consciência do que as mulheres sofrem às mãos dos islamitas. Teve medo de recusar. Em tempos fiz uma viagem ao Egipto. Entrei em todas as mesquitas da mesma maneira que os homens -apenas descalça- excepto em Alexandria onde nos disseram que as mulheres eram impuras e por isso tinham de entrar por uma porta lateral e ficar ali numa espécie de sala gradeada, enquanto os homens podiam entrar na mesquita pela porta principal e passear por onde quisessem. Evidentemente que não fui. O guia ficou muito surpreendido e perguntou-me se não queria ver a Mesquita Branca que tem fama de ser uma das mais bonitas. Claro que queria, mas não estava disposta a ser considerada impura e ficar num cantinho apertadinha a ver a Mesquita ao longe, através de grades como uma coisa vergonhosa que é preciso esconder da vista. Mas há mulheres machistas.

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"Have you lost your freedom?" A pergunta de Adam é provocatória, no final da visita guiada à Mesquita Fanar, integrada no Centro Cultural Islâmico em Doha. Evito a pergunta e o peso do hijab que aceitei colocar, tendo em contrapartida acesso à área masculina enquanto os fiéis atrasados terminam a oração.

Inês Cardoso in JN

August 29, 2022

A Hungria a caminho de uma ditadura misógina?




"A elevada presença das mulheres no Ensino Superior pode causar problemas demográficos, dificultando a procura de um parceiro". Esta pérola não saiu de um qualquer bafiento manual do século passado ou do preâmbulo de mais um decreto da sharia. É uma das conclusões de um estudo revelado esta semana e realizado pelo instituto de estatística da Hungria, que alerta para os perigos sociais e económicos do elevado nível de instrução feminina.


Sob o título "Fenómeno de educação cor-de-rosa na Hungria?", o relatório conclui que o número elevado de mulheres com formação universitária pode, pasme-se, colocar em perigo a economia, baixar a taxa de natalidade e a taxa de casamentos e, claro, prejudicar os homens. Mais: o sistema de ensino, dominado pelos cromossomas XX, subvaloriza "características masculinas" (a saber, competências técnicas, assunção de riscos e empreendedorismo), o que pode causar problemas mentais e de comportamento nos homens, que assim não conseguem desenvolver as suas capacidades especiais, e até levar ao colapso da vida em sociedade, porque não vai haver quem conserte um computador avariado ou uma torneira a pingar.

Esta alegada investigação realizada por um organismo próximo de Viktor Orbán - o mesmo que não quer "raças mistas", proíbe informação sobre temas LGBTQI+ e não convive bem com a democracia e a liberdade de imprensa e se senta no Conselho Europeu - está a causar indignação, o que é quase sempre sinónimo de impotência em regimes com tiques fascizantes.

Negar o acesso à educação, principalmente das mulheres, é uma estratégia clássica de controlo social e repressão política. E um traço definidor dos regimes totalitários. Embora esta doutrina pareça uma barbárie anacrónica na Europa, a verdade é que surge na mesma altura em que num país de democracia consolidada (Finlândia) se discutiu se uma primeira-ministra (Sanna Marin) que dança e canta numa festa tem competência para governar.

Apesar de todos os avanços civilizacionais, uma mulher culta e empoderada (ainda) é considerada um perigo.

Helena Norte in JN-
o-perigo-de-uma-mulher-culta

August 26, 2022

Liguei a TV no noticiário - continuam a falar na primeira-ministra finlandesa a dançar numa festa.

 


E em tom de crítica. Ora tomem lá o marechal e estadista finlandês Carl Gustaf Emil Mannerheim. O que vem atrás dele também está nu e outros a pé também. Uma festa ao estilo lady Godiva para homens? Pois, não interessa. Isto não fez escândalo na época. E já foi há muitos anos.


O ex-presidente finlandês Kekkonen com uma data de tipos todos nus em cima uns dos outros. Ninguém o pensa moralmente inapto por aparecer nu com outros também despidos. Já se fosse a primeira-ministra a aparecer toda nua com outras mulheres todas nuas... as mulheres são comentadas, sobretudo, pela aparência, independentemente da competência.



July 10, 2022

Há indivíduos que deviam preocupar-se com o tamanho da sua cabeça

 


Esta atriz tem sido assediada online por homens por ter ido assim para um desfile de moda. Não a assediam por ter ido com um vestido transparente sem sutiã, mas por ter um peito pequeno. Têm tentado envergonhá-la por mostrar o peito, sendo pequeno. Ter um peito pequeno é uma grande liberdade. Com um peito pequeno, que é que precisa de usar sutiã? Há indivíduos muito estúpidos que gostam de envergonhar as mulheres: ou são gordas, ou são magras demais ou têm o peito pequeno demais ou grande demais ou é da forma que não gostam ou outra coisa qualquer sem interesse nenhum a não ser na cabeça deles. Andam pelas ruas e por todo o lado a tentar fazer as mulheres sentirem-se mal consigo mesmas. Quem os ouve falar havia de julgar que são espécimes perfeitos...



September 28, 2021

Uma camponesa lutadora transformada numa pin-up de rabo à mostra

 


Isto é em Itália. A escultura devia representar a camponesa italiana do século XIX que abandonou tudo para lutar contra as injustiças dos Bourbons. O escultor, em vez de representar a sua determinação, sacrifício e luta, representou uma pin-up de rabo à mostra, vestido transparente colado ao corpo, ar de vamp. 

A escultura foi criticada e "o escultor defendeu-se, dizendo estar "confuso" com a reacção e esclarecendo que quando faço uma escultura, tenho sempre a tendência de cobrir o menos possível o corpo humano, independentemente do género... A escultura representa a consciência

Pois claro... acreditamos mesmo nisso... se lhe pedissem para fazer uma escultura do Presidente de Itália ou o Garibaldi, ele fazia uma escultura dos homens de calças transparentes, coladas ao corpo de maneira que se visse o rabo, as pernas e o sexo. Está-se mesmo a ver que o fazia. Seria muito dignificante! 

Mais valia que a tivesse feito nua. Os machistas são indivíduos que não se enxergam. 







August 26, 2021

Missas onde se promove a ideia de que as mulheres devem ser submissas aos maridos

 



Sempre que se cita essa passagem da epístola  de S. Paulo vem sempre alguém defender que São Paulo, na sua época era muito à frente. Pois devia ser, mas nesta época em que estamos é muito atrás, arcaico mesmo. Se a citação dissesse o oposto, 'Homens sejam submissos a suas esposas, como ao Senhor, pois a mulher é a chefe do marido, como Cristo é o chefe da Igreja” , há muitos séculos que isso não era lido ou, talvez, nunca tivesse sido escolhido para ser lido.

Não defendo que se apague isso da Bíblia, embora esta não seja uma mera obra literária pois funciona como uma Constituição para os crentes cristãos que lhe obedecem. 
No entanto, a Bíblia tem muitos textos e princípios que não são escolhidos nem lidos e esse podia ser um deles. Por exemplo, aqueles que ordenam que para se divorciar da mulher o homem tem que vendê-la a outro, ou que morto o marido, o irmão deve tomar o seu lugar na cama da mulher dele (para ficar tudo em família) ou o que defende que a mulher não pode dispor de seu corpo porque ele pertence ao marido, ou que diz não se poder arredondar o cabelo ou a barba ou fazer tatuagens ou o outro onde as mulheres são proibidas de ensinar e que na aprendizagem têm de ouvir em silêncio e que não podem usar ouro a rezar e mais mil e uma regras. Porque não se lêem esses textos nas missas? Porque nunca são escolhidos para ser lidos? Porque são considerados completamente ridículos nos tempos que correm. Os padres fazem homilias baseados nos textos que escolhem ler. O que diriam a partir desses textos? Para as raparigas irem para as escolas e ficarem em silencio submisso? Que devia despedir-se as mulheres professoras? Ridículo... Então, porque se escolhe o outro que manda as mulheres serem submissas aos homens e reconhecerem neles os seus chefes? Porque, como é evidente, os padres das igrejas não os consideram nada ridículos, muito pelo contrário, acham-nos muito actuais.  Isto mostra o desfasamento da igreja com a realidade e um desprezo pelo ponto de vista das mulheres que são metade dos crentes.

E não venham argumentar que a religião não é uma democracia porque sabemos bem que é uma ditadura de machos: escolheram os livros a integrar os evangelhos, os da Bíblia, deturparam os textos com traduções à medida dos seus interesses machistas, fizeram concílios onde inventaram regras e leis machistas que não vêm em lado nenhum, escreveram obras a demonizar as mulheres, etc.

Portanto, ridícula é a obsessão das igrejas em explorar, submeter, humilhar, silenciar, controlar de todas as formas, subalternizar e, em alguns países, escravizar e matar mulheres.

Hoje li que os isrealitas estão muito chateados com o Papa e querem explicações por ele ter dito que os livros da Tora -os primeiros livros da Bíblia que os judeus reconhecem e aceitam- são apenas leis e que não produzem vida. Os israelitas estão chateados porque isso é o mesmo que dizer que a sua religião é arcaica e já não faz sentido. Pois a mim o que me parece é que essa afirmação do Papa é um bocado, 'diz ao roto ao nu'...


A polémica ganhou asas após a leitura da Epístola de São Paulo aos Efésios em direto na Eucaristia Dominical da RTP, cuja passagem – não na íntegra – aqui reproduzimos: “As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja” ou “assim como a Igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos”. Faz sentido, em 2021, o Estado patrocinar uma plataforma que transmita conteúdos como este? E o que quer isto dizer? Deverá ser lido como uma metáfora, ou deverá ser lido à letra?

July 21, 2021

A equipa de Andebol da Noruega

 


We are forced to play with panties," Norwegian team captain Katinka Haltvik told reporters. "It is SO embarrassing!”

As mulheres são obrigadas a ir de jogar de cuecas pequenas e muito cavadas o que, para além de ser muito desconfortável de usar num desporto que obriga a saltar, onde se cai no chão muitas vezes, etc., (não por acaso elas usam-nas muito apertadas para não se moverem do sítio) ainda deve desconcentrar, quer dizer, estar a jogar, consciente de estar de cuecas para que os homens se sintam felizes a assobiar enquanto as vêem. Se isto que obrigam as mulheres a vestir é um 'uniforme', então, deviam obrigar os homens a também ir competir com este 'uniforme': de cuecas minusculas, tipo fio dental  e em tronco nu. Acho que se resolvia logo o assunto.




July 03, 2021

Os jornalistas de uma certa idade são todos machistas?

 


A propósito de um concurso de TV onde uma mulher aparece a enfeitar a pantalla vestida em roupa interior. Sim, o que ela traz vestido, pelo que vi nas imagens das notícias (não vi o tal programa) não é um vestido, mas a camisa interior (combinação ou sombra como se chamam) que se veste por debaixo dos vestidos ou às vezes para dormir.

Portanto, este senhor deste artigo que diz que quem chama a atenção para o despropósito de pôr mulheres em trajes interiores como enfeites sexualizados na TV, num canal não especificamente erótico ou pornográfico, mas que quer as audiências desses, está defender as burkas, raciocina como aqueles que acusam de extrema-direta quem critica a esquerda ou o oposto, acusam de extrema-esquerda quem critica a direita. Como se não houvesse uma quantidade de graus entre estas duas posições de falsa dicotomia. 

Se este senhor acha normal e dignificante ir assim vestido, de roupa interior, de um modo exarcebadamente sexualizado para o emprego, então:

1. Porque não defende e estranha que não haja nos programas normais de TV, homens a enfeitar a pantalla, de tronco nu, vestidos de shorts de cetim muito curtos, colados ao corpo? Onde estão eles? 

1. Também ¿acha normal e dignificante que uma professora ou um professor vão dar aulas vestidos desta maneira, em roupa interior sexaulizada; ¿que um ministro ou ministra vão trabalhar assim e apareçam na TV vestidos desta maneira, em roupa interior sexualizada; ¿que um jornalista se apresente vestido desta maneira, em roupa interior sexualizada para entrevistar alguém; ¿que um médico ou médica nos atendam assim vestidos desta maneira, em roupa interior sexualizada, etc. 

Na realidade, o machista que escreve este artigo, tem o seu pensamento vestido de roupa interior transparente de maneira que os erros de raciocínio dos seus argumentos falaciosos (a falácia deste título é a falsa dicotomia) estão todos à vista. E digo-lhe: não lhe é dignificante...



 

March 24, 2021

Por falar em degradação

 


Agora mesmo reparei que a plataforma do Sapo tem uma rúbrica nova chamada, 'Womanlife'. Sendo que me diz respeito, fui ver o conteúdo. Deparei-me com o seguinte:

- como ficar com as pernas em forma; nasceu mais um neto à rainha Isabel II; Orlando Bloom queixa-se que faz pouco sexo com Kate Perry; Cristina Ferreira posa em biquini no Dubai; Ariana Grande compra 3ª casa no espaço de um ano; Kate Midleton evita polémicas; três receitas leves e deliciosas para fazer na Primavera. Etc.

É tudo assim, notícias sobre a aparência do corpo, sexo e celebridades. Quando os meios de comunicação social, que nos invadem a toda a hora e, portanto, são um importante instrumento formador das mentalidades culturais, difundem uma imagem das mulheres como pessoas que só se interessam por aparências e coscuvilhices, é difícil mudar as mentalidades na sociedade e, se as mentalidades não mudam, as práticas também não: discriminação, desigualdade no acesso a cargos, à educação superior, etc.

Não têm vergonha? Uma plataforma que tem mais de um milhão de visitas por dia, a promover produtos culturais estupidificantes e associá-los ao modo de vida das mulheres?

Não quer dizer que uma pessoa não leia esses títulos, mas em primeiro lugar, tanto os lêem as mulheres como os homens e, em segundo lugar, eles não ocupam o centro da vida das mulheres. 

Uma pessoa todos os dias leva com estas coisas na cara. É por isso que os alunos chegam culturalmente deformados às aulas do secundário e que é difícil formá-los. É preciso destruir camadas e camadas grossas de estupidificação de revistas, novelas, concursos e coisas do género.

Tenho assistido neste mês, a uma série de webinares sobre plataformas digitais interessantes para usar nas aulas. Há tanta coisa gira... ... mas a questão é lembrarmo-nos que esses instrumentos, se usados como centro das aulas e não acessórios, promovem a distracção, a superficialidade e o artifício. É preciso muito cuidado em não purpurinar o ensino e reforçar a superficialidade estupidificante do horizonte cultural que a sociedade inculca nas crianças e adolescentes.


February 20, 2021

Relativamente às mulheres chamadas, neo-feministas, o que interessa

 


... não é constatar que estão a ficar agressivas, o que é verdade, em parte, porque chegaram ao ponto de dizerem que os homens são por natureza violentos sem remissão, que todo o acto heterossexual devia ser entendido como uma violação e que as mulheres que sentem desejo por homens são servas sem o saberem. 

O que interessa é perguntar, porquê? Porque é que, apesar das relações entre as mulheres e os homens, no Ocidente, terem melhorado imenso, não apenas em termos de direitos mas também de consciencialização, parece haver um número crescente de mulheres a ficar mais agressivas relativamente aos homens e não menos?

A resposta vem neste artigo: é que as neofeministas são uma resposta à permanência resiliente, agressiva e ofensiva do velho machismo que não se retira nem se reforma.

Estamos no século XXI mas no Japão consideram que uma perspectiva feminina é as mulheres irem enfeitar as reuniões sempre humildemente no seu lugar de gueixas. Uma mulher deve estar calada, ou seja, ser passiva, como convém ao seu sexo. De facto, são os homens que não abdicam de se erigirem como agressivos ao obrigarem as mulheres a representar o papel passivo.

Quer dizer, a ideia de que há uma hierarquia entre os sexos continua inatacável e, com ela, a imposição dos interesses dos homens às mulheres. O espaço público continua a ser masculino e as mulheres que nele irrompem incomodam, pois saem do seu papel de passividade e espera.

Se as mulheres falam demais ou de menos, isso não interessa, sequer: o que interessa é o que é feito e o que é feito, tem sido feito pelos homens porque eles é que ocupam os cargos de poder há milénios. E o resultado está à vista: um planeta cruel, à beira do desastre ambiental, à beira da extinção em muitas áreas, cheio de desigualdades, de corrupção, de tráfico de droga, tráfico sexual, pedofilia, tortura, perseguição, violações... ... isto é o resultado do trabalho que os homens, os seres masculinos, têm feito no planeta.

Portanto, de facto irrita que estes homens que têm contribuído para o estado de pré-catástrofe em que estamos, não só não tenham um átomo de capacidade de introspecção e revisão racional, como ainda gastem tempo a menorizar mulheres com os seus esquemas do tempo da Grande Guerra.

Veja-se que em Portugal, apesar dos comentadores de TV serem quase todos homens e quase todos sofrerem de verborreia e falarem (como MST costuma falar) sem coerência, sem se darem ao trabalho de garantir racionalidade no discurso e sem travão, de tal maneira que têm de ser mandados calar à força pelo moderador, alguns, como MST, completamente cego relativamente a si próprio, diz que as mulheres falam demais... ... contam-se pelos dedos de uma mão mutilada os comentadores e políticos com dois dedos de testa (alguns mesmo tolos) capazes de ter um discurso estruturado e sintético.

É para rir... ... ou, é para certas mulheres terem cada vez menos paciência para estes dinossauros -reparo que estes machistas empedernidos são quase todos idosos como o MST, vindos de uma época em que os homens tinham uma mentalidade muito... muçulmana.  

E é por isso que as neofeministas, como se lhes chama, estão a ficar radicais: porque não há paciência para continuar a ter que aturar estes machistas de outros tempos que deixaram uma péssima pegada no planeta, não apenas fisico, mas social, no dos direitos humanos e que já deviam estar calados de pantufas lá nas suas casas, mas não param de falar e em público.

Pode dizer-se, 'ah, mas se fossem as mulheres no poder, se calhar era igual'. Pois, talvez, não sabemos, porque os homens fazem um bullying tremendo às mulheres para as afastar do poder.


japao partido no poder vai permitir mulheres em reunioes mas sem poderem falar

Partido Liberal Democrático, partido no poder no Japão, apresentou uma proposta para permitir que cinco parlamentares do sexo feminino participar nas reuniões da cúpula do partido, apenas assistidas por homens, mas com uma condição: não podem intervir. Depois das reuniões, podem submeter as suas ideias e opiniões à secretaria.
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O antigo primeiro-ministro japonês notou que "o comité organizador [dos Jogos Olímpicos Tóquio2020] tem sete mulheres, mas elas sabem colocar-se no seu lugar", um comentário que motivou sorrisos entre vários responsáveis presentes na reunião...
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Esta discussão encontrou eco em Portugal, depois de Miguel Sousa Tavares ter defendido, no âmbito do seu espaço de comentário semanal às segundas-feiras, na TVI, que as afirmações de Yoshiro Mori não eram motivo para ser demitido. "Mori limitou-se a dizer uma coisa que muita gente diz, que as mulheres falam de mais. Foi um desabafo. Não foi uma declaração pública, entrevista, nada, foi um desabafo. E foi saneado aos 83 anos, coitado do senhor. Isto está a chegar a um extremo tal...", indicou o jornalista, atribuindo a polémica a alguma espécie de patrulhamento de linguagem.

February 04, 2021

Sociedades de possibilidades impossíveis

 


Tokyo Olympics chief Yoshiro Mori 'sorry' for sexism row

Este indivíduo, chefe do comité olímpico, não quer que as mulheres façam parte da direcção porque não tem paciência para ouvir mulheres. Acha que falam demais. Este é o homem típico, não apenas do mundo asiático mas também do mundo ocidental (dos outros, os do médio oriente, ou os africanos, nem falo, porque ainda estão mais atrás) - está habituado a falar com mulheres num âmbito social, apenas, em grande parte porque vive numa sociedade onde as mulheres são pressionadas para não ocuparem os mesmo espaços que os homens, estarem sempre um passo atrás deles e são castigadas quando desalinham dessa expectativa (como se vê pelas palavras dele e se estivéssemos há uns anos atrás o que ele disse era o que tinha feito e todos achariam normal, nada polémico). 
Por estar habituado a esse privilégio desde que nasceu e não ter que lidar com os obstáculos que as mulheres enfrentam -não estudar, não trabalhar, não falar, não ter iniciativa, não criar, não se fazer notar, não falar alto, não ser ambiciosa, não ser inteligente, para além do limite que põe em causa o seu papel de reprodutora e o lugar do homem na sociedade- não se apercebe que é essa constante opressão das mulheres que permite que, sendo um idiota que não se vê a si mesmo, tenha chegado tão longe.

A maioria dos homens é assim. Não têm noção de si mesmos porque tiveram obstáculos na vida e pensam que os venceram, mas não se apercebem que as mulheres também tiveram esses mesmos obstáculos mais os outros todos, numa base diária, que eles nunca tiveram nem fazem a mínima ideia do que são. 

Fazem-me lembrar Henry Miller, o escritor, muito celebrado na literatura, sobretudo por críticos homens. Os personagens principais de Henry Miller são homens, escritos à semelhança do que ele gostaria de ser nos seus sonhos -um sedutor irresistível- e pensava que era, justamente porque escreveu numa sociedade onde as mulheres era descritas por homens e portanto, sempre de um determinado modo. 
Na verdade os seus personagens principais, por quem as mulheres se apaixonam perdidamente, são misóginos patéticos e superficiais que praticam o bullying sem se aperceberem, sequer, de tal maneira estão encerrados na suas narrativas. 

Imensas mulheres repetem estas narrativas e clichés masculinos acerca delas mesmas, de uma maneira parecida à que vemos nos países do médio oriente muçulmano onde as brigadas de mulheres formatadas para a obediência cega andam na rua a assediar outras mulheres por causa dos lenços na cabeça, para gáudio dos homens, que inventaram o castigo.
Ainda ontem li um comentário a esta notícia, por parte de uma mulher, dizendo que também ela não tem paciência para ouvir mulheres porque falam demais em reuniões...

Vivemos num mundo cheio de possibilidades impossíveis porque são portas fechadas, pela razão da maioria das pessoas ter os olhos fechados, sobretudo para si mesmos.

December 17, 2020

Ainda a propósito de Jill Biden

 


... e de homens andarem a querer que ela não use o título académico com o argumento que 'doutor' é um título exclusivo de médicos.
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O termo, 'Doutor' vem de um termo latino referente a 'professor', do verbo docere, de onde vem também, 'docente', que significa, mostrar, ensinar, fazer saber. 'Doutor' quando se refere a um médico é um uso secundário do termo que os médicos adoptaram em tempos, na altura em que competiam com charlatões e outros médicos não formados academicamente numa universidade, justamente para demonstrar que tinham feito o curso numa universidade. Mas era a graduação na universidade que lhes conferia o título de “Dr.”, a eles e outros académicos não médicos, e não a prática médica. 

Referindo-se a Jill Biden, a expressão, "quem ela pensa que é?" ou "ela deve pensar que é melhor do que nós" claramente mostra o desconforto e algum complexo de inferioridade de algumas pessoas pelo facto de não terem um título académico, nomeadamente por não terem feito um doutoramento. Ela não é melhor nem pior que os outros mas investiu na carreira e fez um doutoramento que é um grau que dá muito trabalho a conseguir. Porque havia de escondê-lo?

Já não chega que se peça às mulheres que mudem a forma como se apresentam, caso isso deixe outras pessoas desconfortáveis, agora também têm que diminuir-se porque a sua realização profissional incomoda o pequeno ego alheio que precisa de reforço? 

E isto não é também um menosprezo à actividade docente que anda pelas ruas da amargura, não apenas nas escolas mas nas universidades onde os precários são a esmagadora maioria?
 👩‍🎓

December 16, 2020

What else is new?




Não me lembro de alguém ter incomodado a  Melania Trump pelas fotografias porno, porque claro está que uma mulher em poses porno é uma coisa desejável, agora uma mulher educada e inteligente? Epá... baixa aí  bolinha para os homens não se incomodarem...
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Ensaísta Joseph Epstein defendeu num artigo que Jill Biden deve abdicar do título de "doutora" por não ser médica.



September 16, 2020

Atletas

 


What a journey, from drowning, public discrediting, spinal fusion, sponsors dropping her, to establishing the women’s world record and then beating it while competing in the men’s division. Bravo @maya and bravo to the team. (Sebastian Steudtner)
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Maya Gabeira venceu o troféu XXL de maior onda do ano. Como ficou à frente de todos os homens, levaram 3 semanas a declararem-na vencedora e publicaram um artigo de 16 páginas com dados científicos de medição. Os homens não passam por este processo. Fazem umas medições mais ou menos aproximadas, mas nada de muito científico. Levaram tanto tempo a declará-la vencedora que quando o fizeram até passou despercebido.

Esta é uma atleta que teve uma lesão gravíssima na coluna numa onda da Nazaré há dois anos ou três no que aliás lhe disseram, na altura, que não devia ter ido surfar ali porque é muito perigoso - para uma mulher, era o que queriam dizer. Perdeu os patrocinadores, mas não desistiu e este ano voltou e competiu com os homens e ficou à frente deles. Como também bateu o record da maior onda surfada por uma mulher é só isso que referem...

September 14, 2020

Questões:

 


Só se fala na mulher: 'uma mulher envolveu-se com um professor'; 'uma mulher foi vista em cenas íntimas'; 'foi afastada de funções depois de várias queixas.'... ómessa! então o professor homem com quem ela estava é o agente passivo nisto? E não foi visto como ela? Estava invisível? Ou não há problema por ser um homem? 


Psicóloga escolar de Odemira em cenas íntimas vistas por alunos

Mulher foi apanhada por lapso durante vídeoconferência.
A mulher envolveu-se com um professor e foram apanhados em cenas íntimas, por lapso, numa videoconferência com alunos.
... foi afastada de funções depois de várias queixas.