Anora, estupendo filme do norte-americano Sean Baker, foi considerado o melhor filme da 77ª edição de Cannes. Foi o seu regresso à competição, depois de Red Rocket, desta vez acompanhando (ou empurrando?) as movimentações da actriz Mikey Madison que interpreta uma escort que persegue o seu sonho. Uma espécie de Pretty Woman sem dourar a pílula, como se deu conta o realizador numa das entrevistas que deu: é um filme em duro exercício, em permanente actividade, em performance, portanto, por um território onde se sobrepõem o luxo e o detrito, a fantasia e o sórdido, o conto de fadas e o sexo.
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Milhões de filmes que já se fizeram. Os homens são quase sempre heróis, as mulheres quase sempre prostitutas. Quando não são prostitutas são cinderelas que entram nos filmes para validar os maridinhos.
Como é que as raparigas podem ter modelos positivos se se escondem as mulheres reais e se apresentam estes estereótipos do superficial imaginário masculino? Há e houve milhões de mulheres com vidas interessante e importantes mas os homens só têm curiosidade nas prostitutas e nas cinderelas?
Mas os homens são assim tão vulgares e superficiais que só pensam em mulheres que vivem de lhes prestar favores sexuais? Que desilusão.
Hoje comprei um Dicionário de Escritoras Portuguesas. São 340 páginas de entradas de nomes de escritoras e dos livros que escreveram. Não conheço a maioria delas. Porque não se conhecem as escritoras portuguesas? Não se publicam, não se estudam, não se divulgam...
De vez em quando as alunas perguntam-me, 'não há filósofas?' Respondo que sim, mas em muito menor número que os homens, pois até ao século XX as mulheres não podiam estudar, a não ser as matérias «femininas» e eram desincentivadas de pensar. 'Há alguma filósofa importante do século XX?' Sim. A Hanna Arendt, por exemplo. 'Porque é que não a estudamos?' Porque o programa é feito por homens, sexo masculino. É a mesma razão pela qual só se estudam escritores homens na Literatura e se atiram as mulheres para a Oubliette.
Vem um artigo num jornal da semana passada preocupado porque as raparigas estão a deixar de escolher cursos de matemática ou engenharia. Como hão-de sentir-se à vontade para escolher um curso desses se a sociedade lhes devolve uma imagem de, ou prostituta ou maternal e se os homens discriminam as mulheres de uma maneira ordinária?
Sophia de Mello Breyner, Alice Vieira, Ana Luisa Amaral, Ilse Losa, Florbela, Maria Teresa Maia Gonzalez, Maria Judite de Carvalho, Cecília Meireles... Todos estes nomes, entre outros, constam do programa de leituras dos alunos portugueses.
ReplyDeleteEstar sempre com esse discurso feminista do feminismo feminista é redutor e mostra um visão estreita, pouco digna de quem procurar levar os alunos a pensar por si.
"pouco digna de quem procurar levar os alunos a pensar por si." lol.
DeleteOra vejamos:
Os autores que se estudam são todos homens, nem uma mulher, sequer.
As poucas mulheres que aparecem estão nos anos mais baixos (5º, 6º9, de obras infantis e, ou são à escolha, ou delas apenas se usa um pequeno excerto ou poema para exemplificar um estilo ou um tema.
Em geral, fazem parte do PNL que tem listas de obras para cada ano e os alunos escolhem apenas uma.
À medida que sobe na escolaridade desaparecem completamente e os autores que se estudam (e não apenas se refere 1 ou 2 poemas) são homens.
Não vi a Florbela em lado algum, nos programas.
Lista (onde há autores à escolha do PNL e autores dos quais se estuda um pequeno excerto como exemplo de um tema)
5ºano
à escolha:
Vírgína Woolf
La Fontaine
Esopo
Sophia
6º
à escolha:
Grimm
Manuel Pina
Daniel Defoe
Garret - excerto
7º
à escolha:
Robert Stevenson
Maria Alberta Meneres
excertos à escolha:
Teolinda Gersão
Miguel Torga
José Eduardo Agualusa
Alice Vieira
8º
à escolha:
Teófilo Braga
Trindade Coelho
Jorge Amado
Mia Couto
- José gomes Ferreira, Sophia - excerto
- Ilse Losa, Anne Frank – estes dois para escolher 1
9º
excertos:
Luísa Costa Gomes
António Gedeão
Manuel Pina
Anne Frank
Lobo Antunes ou Judite de Carvalho - à escolha
Vergílio Ferreira - excerto
Camões
Fernão Mendes Pinto
Pero Vaz de Caminha
Oscar wilde
Garcia-Marques
John Steinbeck
(escolher 1 destes 3)
10º
Camões
Pessoa
Oscar Wilde
Gil Vicente
Fernão Lopes
11º
Almeida Garret
Padre António Vieira
Cesário Verde
Antero de Quental
Eça de Queiroz
12º
Fernando Pessoa
Saramago
- Judite de Carvalho ou Mário de Carvalho, à escolha
– 2 poemas de Torga, Eugénio de Andrade, Alexandre O’Neill
Como vê, estudam-se homens; dá-se autorização para ler algumas mulheres (poucas) nos anos de escolaridade mais baixos, mas à escolha - portanto, podem nunca ler; quando fazem parte do conteúdo do programa, ou é à escolha ou apenas se usa um poema ou um excerto para exemplo.