May 25, 2024

Mais um filme sobre prostitutas... groundbreaking...



Anora, estupendo filme do norte-americano Sean Baker, foi considerado o melhor filme da 77ª edição de Cannes. Foi o seu regresso à competição, depois de Red Rocket, desta vez acompanhando (ou empurrando?) as movimentações da actriz Mikey Madison que interpreta uma escort que persegue o seu sonho. Uma espécie de Pretty Woman sem dourar a pílula, como se deu conta o realizador numa das entrevistas que deu: é um filme em duro exercício, em permanente actividade, em performance, portanto, por um território onde se sobrepõem o luxo e o detrito, a fantasia e o sórdido, o conto de fadas e o sexo.

-----------

Milhões de filmes que já se fizeram. Os homens são quase sempre heróis, as mulheres quase sempre prostitutas. Quando não são prostitutas são cinderelas que entram nos filmes para validar os maridinhos.

Como é que as raparigas podem ter modelos positivos se se escondem as mulheres reais e se apresentam estes estereótipos do superficial imaginário masculino? Há e houve milhões de mulheres com vidas interessante e importantes mas os homens só têm curiosidade nas prostitutas e nas cinderelas? 

Mas os homens são assim tão vulgares e superficiais que só pensam em mulheres que vivem de lhes prestar favores sexuais? Que desilusão.

Hoje comprei um Dicionário de Escritoras Portuguesas. São 340 páginas de entradas de nomes de escritoras e dos livros que escreveram. Não conheço a maioria delas. Porque não se conhecem as escritoras portuguesas? Não se publicam, não se estudam, não se divulgam... 

De vez em quando as alunas perguntam-me, 'não há filósofas?' Respondo que sim, mas em muito menor número que os homens, pois até ao século XX as mulheres não podiam estudar, a não ser as matérias «femininas» e eram desincentivadas de pensar. 'Há alguma filósofa importante do século XX?' Sim. A Hanna Arendt, por exemplo. 'Porque é que não a estudamos?' Porque o programa é feito por homens, sexo masculino. É a mesma razão pela qual só se estudam escritores homens na Literatura e se atiram as mulheres para a Oubliette.

Vem um artigo num jornal da semana passada preocupado porque as raparigas estão a deixar de escolher cursos de matemática ou engenharia. Como hão-de sentir-se à vontade para escolher um curso desses se a sociedade lhes devolve uma imagem de, ou prostituta ou maternal e se os homens discriminam as mulheres de uma maneira ordinária?

Miguel Gomes, 52 anos, que ganhou o prémio de melhor realizador em Cannes, explicou que “Grand Tour” é um filme “sobre a determinação das mulheres e a cobardia dos homens. Até que enfim que um homem desta indústria não desilude.







2 comments:

  1. Sophia de Mello Breyner, Alice Vieira, Ana Luisa Amaral, Ilse Losa, Florbela, Maria Teresa Maia Gonzalez, Maria Judite de Carvalho, Cecília Meireles... Todos estes nomes, entre outros, constam do programa de leituras dos alunos portugueses.
    Estar sempre com esse discurso feminista do feminismo feminista é redutor e mostra um visão estreita, pouco digna de quem procurar levar os alunos a pensar por si.

    ReplyDelete
    Replies
    1. "pouco digna de quem procurar levar os alunos a pensar por si." lol.

      Ora vejamos:
      Os autores que se estudam são todos homens, nem uma mulher, sequer.
      As poucas mulheres que aparecem estão nos anos mais baixos (5º, 6º9, de obras infantis e, ou são à escolha, ou delas apenas se usa um pequeno excerto ou poema para exemplificar um estilo ou um tema.

      Em geral, fazem parte do PNL que tem listas de obras para cada ano e os alunos escolhem apenas uma.

      À medida que sobe na escolaridade desaparecem completamente e os autores que se estudam (e não apenas se refere 1 ou 2 poemas) são homens.
      Não vi a Florbela em lado algum, nos programas.

      Lista (onde há autores à escolha do PNL e autores dos quais se estuda um pequeno excerto como exemplo de um tema)

      5ºano
      à escolha:
      Vírgína Woolf
      La Fontaine
      Esopo
      Sophia


      à escolha:
      Grimm
      Manuel Pina
      Daniel Defoe
      Garret - excerto


      à escolha:
      Robert Stevenson
      Maria Alberta Meneres

      excertos à escolha:
      Teolinda Gersão
      Miguel Torga
      José Eduardo Agualusa
      Alice Vieira


      à escolha:
      Teófilo Braga
      Trindade Coelho
      Jorge Amado
      Mia Couto

      - José gomes Ferreira, Sophia - excerto
      - Ilse Losa, Anne Frank – estes dois para escolher 1


      excertos:
      Luísa Costa Gomes
      António Gedeão
      Manuel Pina
      Anne Frank

      Lobo Antunes ou Judite de Carvalho - à escolha
      Vergílio Ferreira - excerto
      Camões
      Fernão Mendes Pinto
      Pero Vaz de Caminha

      Oscar wilde
      Garcia-Marques
      John Steinbeck
      (escolher 1 destes 3)

      10º
      Camões
      Pessoa
      Oscar Wilde
      Gil Vicente
      Fernão Lopes

      11º
      Almeida Garret
      Padre António Vieira
      Cesário Verde
      Antero de Quental
      Eça de Queiroz

      12º
      Fernando Pessoa
      Saramago

      - Judite de Carvalho ou Mário de Carvalho, à escolha
      – 2 poemas de Torga, Eugénio de Andrade, Alexandre O’Neill

      Como vê, estudam-se homens; dá-se autorização para ler algumas mulheres (poucas) nos anos de escolaridade mais baixos, mas à escolha - portanto, podem nunca ler; quando fazem parte do conteúdo do programa, ou é à escolha ou apenas se usa um poema ou um excerto para exemplo.

      Delete