June 06, 2023

Onde há excesso de poder há abusos




O machismo estrutural de Boaventura de Sousa Santos


João Miguel Tavares
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Boaventura promete, a partir de agora, “ser cada vez mais vigilante”, não só ao nível “epistemológico”, mas também na “prática, emocional e interpessoal”, de forma a evitar “gerar opressão em qualquer eixo de dominação”.

Os homens abusadores poderiam ter a sua vida mais facilitada, mas é errado hoje como era errado há 300 anos. O heteropatriarcado tem as costas largas. E o assédio sexual é um derivado do abuso de poder, que é o problema central dos Boaventuras de Sousas Santos deste mundo – gente com o ego insufladíssimo que cria uma corte de aduladores e que, do alto dos seus altares, não consegue controlar os impulsos típicos de macho alfa. Leiam o que Naomi Wolf escreveu sobre o professor Harold Bloom em 2004. É exactamente a mesma história do CES e de Boaventura, só que em Yale.

Embrulhar isto numa conversa geracional desculpabilizadora, apontando o dedo a um qualquer machismo estrutural, é patético. Convém defender a honra dos velhinhos nascidos em 1940, ou até há mais tempo. Um senhor de 83 anos pode participar menos nas tarefas domésticas do que um de 33, e pode pedir mais vezes à esposa para ir buscar uma cerveja ao frigorífico enquanto vê a bola – mas não, não há qualquer razão para assediar com mais entusiasmo uma jovem mulher. A tese de Boaventura é uma treta. Não é uma questão de gerações. É uma questão de poder e de carácter.

A ideia de que isto é um hábito de pessoas idosas com “comportamentos inapropriados” é mentirosa e é perigosa. Numa instituição profundamente endogâmica como é o caso da universidade portuguesa, cheia de gente em situação precária e com senhores professores doutores todo-poderosos, não há milagres. Onde há excesso de poder há abusos, e onde há abusos há assédio, seja ele sexual ou laboral. O problema de Boaventura não é ser velho – é ser o guru de uma seita que durante décadas esteve à sua inteira disposição.

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