March 24, 2021

Por falar em degradação

 


Agora mesmo reparei que a plataforma do Sapo tem uma rúbrica nova chamada, 'Womanlife'. Sendo que me diz respeito, fui ver o conteúdo. Deparei-me com o seguinte:

- como ficar com as pernas em forma; nasceu mais um neto à rainha Isabel II; Orlando Bloom queixa-se que faz pouco sexo com Kate Perry; Cristina Ferreira posa em biquini no Dubai; Ariana Grande compra 3ª casa no espaço de um ano; Kate Midleton evita polémicas; três receitas leves e deliciosas para fazer na Primavera. Etc.

É tudo assim, notícias sobre a aparência do corpo, sexo e celebridades. Quando os meios de comunicação social, que nos invadem a toda a hora e, portanto, são um importante instrumento formador das mentalidades culturais, difundem uma imagem das mulheres como pessoas que só se interessam por aparências e coscuvilhices, é difícil mudar as mentalidades na sociedade e, se as mentalidades não mudam, as práticas também não: discriminação, desigualdade no acesso a cargos, à educação superior, etc.

Não têm vergonha? Uma plataforma que tem mais de um milhão de visitas por dia, a promover produtos culturais estupidificantes e associá-los ao modo de vida das mulheres?

Não quer dizer que uma pessoa não leia esses títulos, mas em primeiro lugar, tanto os lêem as mulheres como os homens e, em segundo lugar, eles não ocupam o centro da vida das mulheres. 

Uma pessoa todos os dias leva com estas coisas na cara. É por isso que os alunos chegam culturalmente deformados às aulas do secundário e que é difícil formá-los. É preciso destruir camadas e camadas grossas de estupidificação de revistas, novelas, concursos e coisas do género.

Tenho assistido neste mês, a uma série de webinares sobre plataformas digitais interessantes para usar nas aulas. Há tanta coisa gira... ... mas a questão é lembrarmo-nos que esses instrumentos, se usados como centro das aulas e não acessórios, promovem a distracção, a superficialidade e o artifício. É preciso muito cuidado em não purpurinar o ensino e reforçar a superficialidade estupidificante do horizonte cultural que a sociedade inculca nas crianças e adolescentes.


2 comments:

  1. Gosto do termo "purpurinar"...mas já reparaste que, quando o homem comum se refere às crianças e mesmo às adolescentes as chama de "princesas"? É princesa pra cá, princesa pra lá ou então é guerreira. Este último termo irrita-me em particular! Tudo é infantilizado como se nós, mulheres, pertencessemos a uma banda desenhada da Marvel....😡

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  2. acho que inventei o purpurinar - um neologismo.

    sim, a cena das princesas irrita. e se tentamos explicar que é de pequenino que se torce o pepino, a resposta é que 'não tem mal', como se isto fosse uma questão de confessionário.

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