December 14, 2025

Estamos num momento crucial. É preciso escolher o caminho certo

 


Um dos maiores receios — especialmente para a Bélgica, que detém a custódia de 180 mil milhões de euros das reservas russas através da Euroclear e que, até agora, se tem oposto ao plano — é a exposição a processos judiciais por parte do Kremlin. 

A Rússia é especialista em «guerra jurídica» e, na sexta-feira, o banco central russo entrou com uma ação judicial num tribunal de Moscovo contra a Euroclear por causa dos ativos congelados. 

Para resolver isso, os Estados-membros da UE estão a discutir uma garantia colectiva para proteger a Bélgica de quaisquer danos. Deveriam adoptá-la imediatamente, embora a probabilidade de a Rússia ter sucesso num tribunal internacional seja insignificante.

Outro argumento que tenho ouvido repetidamente é que confiscar as reservas da Rússia tornaria a Europa um lugar menos atraente para outros governos manterem o seu dinheiro. A minha resposta é simples: não haverá uma Europa na qual valha a pena investir se a Rússia puder continuar sem controlo. A próxima invasão será na Estónia, Letónia, Lituânia ou Polónia. Esse caminho leva diretamente a uma guerra entre a NATO e a Rússia.

(...)
A decisão de Trump de cortar a assistência militar retirará 40% do financiamento da Ucrânia assim que o pacote actual se esgotar, o que deve ocorrer no final deste ano. A Europa fornece o restante. No início do próximo ano, a Ucrânia estará novamente na posição desesperadora que enfrentou no primeiro dia da guerra: contando quantas semanas de munição ainda restam.

Entretanto, o «plano de paz» mediado pelos EUA forçaria a Ucrânia a capitular — a render territórios que a Rússia não conseguiu conquistar em batalha, a limitar o seu próprio exército e a deixar-se vulnerável a uma nova invasão assim que a Rússia se rearmar. Para qualquer líder europeu, trata-se de uma proposta grotesca.

Mas se a Europa usar esses ativos russos congelados, a Ucrânia não será mais coagida pela dependência. Zelensky, apoiado por uma Europa financeiramente auto-suficiente, pode dizer não a um mau acordo de paz.

As forças armadas da Rússia estão exaustas. Os seus soldados no Donbass rastejam por trincheiras sob fogo de drones para conquistar algumas centenas de metros de terreno. As suas perdas são catastróficas. Putin está a contar com o cansaço ocidental e com o esgotamento das munições da Ucrânia. Se a Europa desbloquear este dinheiro, esse cálculo entra em colapso. 

A Ucrânia poderia manter a linha durante pelo menos mais três anos — tempo suficiente para forçar negociações sérias, em vez de manobras performativas para manipular Washington.

A Europa enfrenta agora uma escolha histórica. Se aproveitar essas reservas e as converter em artilharia, drones, sistemas de defesa aérea e munições, não só ajudará a Ucrânia a sobreviver, como também ajudará a evitar um futuro muito mais sangrento para todos nós.

Mesmo que os líderes da UE não cheguem a um acordo esta semana, a lógica é incontornável. Eles voltarão à mesa de negociações. Não há alternativa que preserve a segurança europeia.

Já vi isto antes. Levei 15 anos a persuadir 35 países a adotar a Lei Magnitsky, que visa com sanções os violadores dos direitos humanos e os cleptocratas. Essa ideia foi rejeitada como radical, irrealista, impossível — até ao momento em que se tornou política global.

Este é outro momento semelhante. A Europa tem de agir.

Sir Bill Browder

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