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December 29, 2023

Exige-se aos professores que aceitem ser servos mal-tratados mas leais a seus amos

 


A discussão da recuperação do tempo de serviço roubado pelos governos de Sócrates e de PPC (que Costa manteve quase na totalidade aos professores: dos mais de 9 anos de congelamento, Costa devolveu apenas 2 e tal aos professores e 7 e tal a todos os outros FP) vem desde 2015. Não é de ontem. Acabou 2023: 8 anos se passaram. 

No ensino público, nos últimos 10 anos reformaram-se 16.500 professores. Nos 2 primeiros anos da troika tinham-se reformado 10 mil professores. Portanto, temos que, desde 2010/11 até hoje, o número de professores reformados foi de 26 mil, portanto, há menos 26 mil pessoas a beneficiar dessa recuperação de tempo roubado. 

Tendo em conta que o número de reformas anuais anda pelos 3 mil (este ano 3.500) e tendo em conta que essa recuperação não seria feita de uma vez só (como aconteceu com os juízes e outros técnicos da FP que há muito tiveram a recuperação total ou quase total do tempo congelado, apesar deste artigo dar a entender o oposto), isto significa que, na prática, nem sequer a metade dos que tiveram o seu tempo congelado viria a beneficiar dessa recuperação, dado estarem já reformados. Talvez um terço ou menos ainda. 

É preciso notar que no tempo da troika foram despedidos 20 mil contratados dos 38 mil que existiam em 2011-11 e dos poucos que sobraram vinculou-se uns 1000 a custo zero. Nessa altura, Casanova de Almeida, SE do ME, Nuno Crato, gabava-se de não gastar um tostão com a educação, E quanto custa a vinculação destes professores? Nada, garantiu o governante. “Esta medida foi pensada para não custar nada”, afirmou Casanova de Almeida.

Portanto, a educação e dentro dela, os professores, têm sido sempre pensados como encargos de custo que se quer de zero (ou abaixo de zero) e não como valores e, desse modo, tem-se escolhido o descuido, o desinteresse e o prejuízo como estratégia de desviar dinheiro para coisa importantes como, grupos de estudo, consultores, ajustes directos, contratação de primos, etc. O descuido e até o mau-trato dos professores (este ministro foi campeão de denegrir os professores à maneira da Rodrigues) é um desinvestimento na própria educação: faltam professores, mas também faltam funcionários, faltam psicólogos, assistentes sociais, condições físicas, falta material (os computadores são de 1900 e troca o passo, por exemplo). No tempo da pandemia os encargos com as aulas à distância -PCs, internet- foram atirados para cima dos professores. Os professores têm aceitado tudo, ano após ano, com os custos que agora se vêem na destruição da escola pública para níveis dos anos 80 do século passado. No ano passado disseram, 'basta!'

Quanto mais empobrecidos são os alunos menos hipótese têm numa escola depauperada de professores e de condições.

Porém, esta senhora continua na senda dos que advogam que os professores têm de continuar a conformar-se com a desvalorização da profissão e das suas condições de vida e de trabalho e ir alegres e motivados para as escolas porque a simples justiça de pagar aos professores (aos que ainda restam) o tempo que trabalharam, só isso, faz implodir a sociedade.

Leio que se motivam outros FP que já tiveram tiveram o tempo de serviço congelado todo (ou quase todo) recuperado: "Funcionários da Segurança Social que ultrapassaram meta de cobrança de dívida, garantem uma recompensa de 1,43 milhões de euros. Há trabalhadores que terão bónus de 500 euros mensais. Os trabalhadores do Fisco terão direito a um prémio de 53,6 milhões de euros.

Um aluno bem formado, em termos académicos (formação geral e profissional) vale menos que uma dívida cobrada? Já desistimos da democracia como um regime de igualdade de oportunidades? Já desistimos da democracia como um regime de equidade?

Não há professores nas escolas. Há mais de 50 mil alunos sem professor nesta altura do ano e isto tendo em conta que os professores do quadro estão cheios de horas extraordinárias de turmas a mais que lhes foram atribuídas para não deixar esses alunos sem professores. Com as mais de 3000 mil reformas por ano, daqui a 3 ou 4 anos, haverá dezenas de milhar de alunos sem professores durante, não um período ou um ano, mas anos a fio. Já agora se contratam curiosos que não só não têm especialização para ensinar como nem sequer estudaram os assuntos que vão ensinar. 

Pois nem mesmo assim estas pessoas percebem o que se passa e continuam a exigir que os professores aceitem ser servos mal-tratados mas leais a seus amos.

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O caderno de encargos para 2024, em matéria de educação, reclama uma ação responsável, precisa e generosa das duas classes de atores que relevam: governantes e professores. Dos primeiros, incluindo os novos ministros da Educação e das Finanças, espera-se um plano progressivo e sustentável de valorização dos professores, sem, contudo, abrir uma caixa de Pandora que, se alargada a toda a Função Pública, faria implodir o sistema. De um lado existem as reivindicações legítimas e do outro o espetro de possibilidades orçamentais.

Os alunos vivem tempos instáveis, marcados pelos canais digitais, que ora ajudam ora dispersam; pela luta dos professores; e pela clássica tensão entre as mudanças da sociedade e as respostas da escola. Todavia, continuam a encontrar no professor o ponto nevrálgico da sala de aula, uma referência que nunca é neutra. Por isso, é fundamental que a classe docente esteja motivada a envolver-se ativamente com as turmas e com a escola. Não é isso que tem acontecido.

Felisbela Lopes
JN

December 24, 2023

O ministro slogan

 


Trabalhar para resolver problemas não é com ele. Ele é mais tachos e slogans.



Estudo revela que há mais 48% de casos de violência escolar do que se pensava

Investigador, que é chefe da PSP, aponta para “ocultação” de informação nos relatórios oficiais.

December 23, 2023

Um podcast sobre a escola

 

É a opinião de uma directora de um agrupamento.

Estou de acordo com uma parte da sua análise e outra não.

De acordo: 

- imensos pais não se comprometem com a educação escolar dos filhos, muitos porque também no seu tempo, não valorizavam a educação de maneira que os filhos estão na escola sem horizontes, apenas porque é obrigatório; vão lá depositá-los e esperar que a escola os 'solucione'.

- os alunos em geral não têm objectivos porque o fim da linha -desemprego, salários muito baixos que não permitem uma vida autónoma- não incentiva o comprometimento numa caminho e o esforço, mas sim o shortcut, para obtenção de prémio imediato.

- os pais criam grupos no WhatsApp e, sem saberem o contexto das aulas e do que lá se passa, amplificam as percepções subjectivas e infantis/adolescentes dos filhos ao ponto de tratarem os professores de uma maneira completamente anti-pedagógica, em frente dos filhos, e contrárias aos próprios interesses dos filhos.

Em desacordo:

- Competências e conhecimentos. As competências, ao nível do 12º ano, serem a assiduidade e a pontualidade, que foram os exemplos que esta professora deu, parecem-me completamente desadequadas ao nível de ensino. Essas são competências ao nível do início do percurso escolar (escola primária) e não do fim. As competências ao nível do secundário têm que ver com, saber fazer uma pesquisa, saber seguir um protocolo científico, saber tomar anotações das aulas (competências de metodologia), saber fazer e conseguir seguir um plano de estudo, saber problematizar um tópico, saber convocar os conhecimentos para situações de pico, como os exames, saber lidar com a pressão das avaliações, saber apresentar um trabalho em frente ao grupo-turma, etc. Estas competências não estão desligadas dos conhecimentos, pois que se desenvolvem com e sobre os conhecimentos.

- Mudar de área e não saber o que querem. Esta professora defende que os alunos mudam de curso porque não sabem o que querem. Parece-me que eles sabem o que querem mas não sabem como lá chegar. Os alunos querem ganhar dinheiro, ter uma actividade que lhes permita ganhar dinheiro. É o que a esmagadora maioria dos meus alunos dizem, de há uns bons anos para cá. Acontece que não sabem como lá chegar. Têm certos cursos idealizados para esse fim (medicina, economia e certas áreas da engenharia) mas não têm as tais competências necessárias para poderem lá chegar de maneira que não conseguem as classificações que precisam e mudam de curso para as conseguir. 

- Há mais crianças com necessidades especiais. Não sei se há mais. Detectam-se melhor esses problemas, o que é bom, mas depois não há um acompanhamento especializado. A maioria é acompanhada por curiosos que por vezes começam a acreditar ser especialistas e até quase proprietários desses alunos. As coisas não estão bem nesse campo porque o ME, como sempre, faz as leis mas não quer gastar um cêntimo com a sua implementação. Por outro lado, há muitos casos em que esses problemas de dificuldades são apenas problemas do não desenvolvimento de competências nas idades adequadas: no básico, não aprenderam a estudar, a ser ser assíduos, pontuais, a saber estar na sala de aula, a ter um atitude de investimento na aprendizagem, no seu próprio sucesso, etc. Claro que a certa altura têm muitos problemas de aprendizagem... 

Telemóveis: foi dito tudo e o seu contrário: os telemóveis são úteis nas aulas, se controlarmos o seu uso mas... não conseguimos controlar o seu uso... então como podem ser úteis...? Nas aulas é bom que usem, mas no intervalos, que são os tempos livres deles, aí não devem poder usar... A questão não é fácil, mas estas posições são uma contradição que não ajudam às soluções.


Po

December 20, 2023

Pisa 2022: os factos e o responsável




Pisa 2022: os factos e o responsável

Santana Castilho

Em síntese, eis os factos e o responsável por esta derrocada sem precedentes.
Testados 6793 alunos de 224 escolas portuguesas, o PISA 2022 confrontou-nos com os piores resultados desde 2006. Portugal foi protagonista de um grave retrocesso na aprendizagem dos seus alunos, caindo em todos os domínios considerados. Os alunos portugueses com 15 anos de idade pioraram os resultados a Leitura, Ciências e Matemática, relativamente a anteriores avaliações. A percentagem de bons alunos diminuiu e a de maus alunos aumentou.

Portugal integra a lista dos 19 países que baixaram mais de 20 pontos a Matemática, referindo-se o tombo tanto a alunos carenciados como a estudantes de classes privilegiadas. Os nossos alunos obtiveram 472 pontos a Matemática, ou seja, menos 14,6 pontos por comparação com 2012 e menos 20,6 pontos relativamente a 2018. Três em cada dez não demonstraram conhecimentos rudimentares a Matemática, não chegando sequer ao nível dois, numa escala de seis níveis. Apenas 7% atingiram os níveis mais elevados da escala classificativa (5 e 6) a Matemática.

Em Leitura, os resultados médios também pioraram: os nossos alunos obtiveram 477 pontos, o que representa uma descida de 12,8 pontos face a 2012 e de 15,2 pontos em relação a 2018. Apenas 5% conseguiram obter um nível 5 ou 6.

Em Ciências, chegaram aos 484 pontos, menos 7,3 pontos do que em 2012 e 2018. Apenas 5% tiveram desempenhos muito bons (nível 5 e 6).

Se olharmos para a evolução dos resultados do PISA até 2015, vemos Portugal sempre a crescer. Faz pois todo o sentido analisar o que nos aconteceu a partir desse ano para que se tivesse invertido tão drasticamente esse ciclo positivo. Nesse ano, João Costa assumiu funções de secretário de Estado e os resultados não mais pararam de descer, como consequência das suas políticas bizantinas de destruição da escola pública: esvaziamento curricular, com programas revogados e substituídos por indigentes aprendizagens essenciais; nefastas políticas de flexibilidade curricular e pseudo-inclusão; abolição de avaliações rigorosas, internas e externas, e sucesso imposto, com passagens de ano praticamente obrigatórias; numa palavra, toda uma ideologia de cordel, de que os delírios Ubuntu, MAIA e quejandos são exemplos caricatos.

A polémica sobre as vantagens e desvantagens da realização de exames, com carácter universal, é velha e verifica-se em todos os sistemas de ensino. Mas a verdade é que são abundantes os estudos sérios que concluem que a sua abolição e substituição por provas sem consequências para alunos, professores e escolas, aquilo que João Costa fez, gera desresponsabilização generalizada e termina sempre com a degradação acentuada dos resultados escolares.

E não nos venha João Costa com a história da pandemia, porque a trajetória descendente das aprendizagens dos nossos alunos a partir de 2015 não está apenas documentada em sede de PISA. O mesmo se retira dos relatórios TIMSS 2019 (Matemática e Ciência) e PIRLS 2021 (Leitura).
Em vez de reconhecer os erros, João Costa optou agora por um discurso insidioso de pura propaganda educacional, onde brilha esta pérola: a falta de cabimento orçamental foi sempre o fundamento a que recorreu para negar a recuperação integral do tempo de serviço dos professores. Mas em recente entrevista à Renascença, disse que, com Pedro Nuno Santos, será possível satisfazer tal reivindicação, que considerou “justa e legítima“. Estamos falados sobre o carácter político falso, demagogo e hipócrita do declarante.

Os oito anos do ministério de João Costa foram de verdadeira cegueira ideológica. Foram oito anos a promover devaneios, indecifráveis pelo senso comum, a mirabolantes inovações educacionais.
João Costa não tem como fugir às suas responsabilidades. E devia perceber que aquilo que têm em comum os sistemas educativos do Japão, Coreia do Sul, Singapura, Taiwan, Hong Kong e Macau é integrarem sociedades que têm um profundo respeito pelos professores e pela sua autoridade e exigem aos alunos, na escola, rigor, trabalho e disciplina. Tudo valores que João Costa e seguidores destruíram.

Seria importante que na campanha política para a eleição de 10 de Março todos os partidos dissessem que valores estão preparados para defender, antes de a escola pública perder definitivamente o seu ancestral significado.

December 19, 2023

Entristece-me viver num país cheio de governantes estúpidos e medíocres

 


Um colega que se reformou há uns meses, um excelente professor, muito dedicado, muito profissional e exigente consigo próprio e com uma ética de trabalho exemplar, leva uma reforma de 1100 euros que daqui a um par de anos não vai dar para pagar, nem as contas fixas. Entristece-me viver num país cheio de governantes estúpidos e medíocres. Para onde vai o dinheiro dos nossos impostos que todos os anos desaparece pelo ralo em esquemas da banca e dos governos, do qual este, à semelhança do de Sócrates, tem sido campeão de desperdício de biliões em amigos, incompetência, corrupção e clientelismo?


Estamos na épocas das avaliações

 


E o que vemos são apreciações comuns dos professores acerca das turmas, hoje-em-dia, chegarem ao 10º ano sem saber fazer uma percentagem, por conta do nível de exigência baixíssimo do Projecto MAIA (essa excrescência inventada por este ME e seus amanuenses), aplicado ao ensino básico. Os alunos chegam infantis e completamente impreperados para o trabalho no secundário. Há alunos muito focados e muito trabalhadores sem as competências mínimas da língua e do pensamento. Um desperdício. Alguns, porque são muito motivados ou porque têm ajuda em casa, vão à luta, mas a maioria não tem esses recursos internos nem externos e desmotiva-se pela frustração. O Projecto MAIA é um erro descomunal, dificulta o crescimento intelectual e psicológico dos alunos e, como consequência, faz com que cada crise de desenvolvimento própria da passagem de um ciclo a outro, seja mais difícil de superar positivamente. Não valoriza o esforço, não incentiva ao desenvolvimento. Incentiva à estagnação, à vitimização.

Tem ainda outros efeitos muito, muito, muito nefastos nas escolas, dos quais não posso falar. Um dia...


December 16, 2023

Anita Vai Aos Jornais Dizer Coisas



Não saber de educação e não pensar nunca coibiu a nossa 'elite cultural' de 'dizer coisas'. No entender de MEC o professor é um ignorante que não percebe que tem em sua frente 20 sábios (gostava de saber onde as turmas têm só 20 alunos...). Isto é aquele cliché de que os alunos nascem cheios de curiosidade e talentos e a escola estraga-os. É um slogan oco, mas as pessoas repetem-no como carneiros. O outro cliché é que somos todos completamente diferentes e precisávamos que cada aluno fosse uma turma.

Se MEC trabalhasse com alunos sabia que a maioria dos alunos não tem nenhum talento especial e o mais que sabem é se têm mais jeito para aprendizagens práticas ou teóricas, para humanidades ou ciências ligadas à matemática ou à experimentação ou às artes. São pouquíssimos os que têm talentos definidos, o que aliás bate certo com a Teoria da Evolução. Nós não nascemos determinados para cumprir esta ou aquela função (MEC instrumentaliza os alunos nesse aspecto), mas em contrapartida somos seres abertos e podemos aprender quase tudo e, é na aprendizagem desse, 'quase tudo', que os alunos vão percebendo o que fazem melhor. É certo que há pessoas que nascem com talentos que são muito cedo visíveis, mas são raros. 

Os alunos são pessoas em desenvolvimento e por vezes, é no fim da adolescência que se interessam por um assunto em particular. Também podem passar a vida sem nenhum talento ou gosto particular, ou com muitos gostos e talentos em paralelo. Daí que a escola os ponha em contacto com muitas áreas do saber e do fazer, para que, nesse contacto, possam evoluir como pessoas e também, se for o caso, descobrir ou desenvolver áreas de interesse. Imagine-se que 'especialistas' atribuíam a um aluno um certo talento e depois esse aluno só fosse alimentado com comida dessa área: que pessoas pobres  teríamos, enquanto seres humanos. Amputados.

Na realidade é nas escolas e é no contacto com os temas e as práticas das disciplinas que os alunos se vão revelando e somos nós professores quem o percebe e lhes vai dizendo, porque percebemos neles, seja um talento que de facto parecem ter, seja uma facilidade de aprendizagem de certa disciplina ou certa prática ou certo tipo de raciocínio. É na observação do desenvolver do seu trabalho que o percebemos e que eles o percebem. Nenhum especialista instantâneo lhes diz isso em testes de perguntas - isso seria uma espécie de magia ao contrário que os prejudicaria, à maneira do comunismo que advogava que a sociedade descobrisse o talento/função de cada pessoa e a encaminhasse para ser produtivo nessa função. Os especialistas em educação somos nós, mas não somos especialista instantâneos ou mágicos como MEC parece acreditar que existem fora dos contos de fadas. 

Já tive alunos que tinham talento numa área mas rejeitaram-na. Por exemplo, uma miúda que há uns bons anos foi minha aluna, filha de um colega de matemática, tinha imenso talento para a matemática e para a lógica. Tirou excelentes notas nos exames, entrou para um curso da área da economia ou gestão e no fim do ano disse que ia mudar para história de arte. A família apoiou-a mas disse-me, 'isto custa porque ela tem muito talento para a matemática e para o raciocínio lógico'. Quem sabe se esta miúda, um dia, não desenvolve um trabalho qualquer na Arte, ligado a esse talento que tem...? Portanto, as pessoas não são máquinas determinadas à nascença para um especialista afiar como quem afia um lápis e dizer que tipo de desenho devem fazer. 

De resto, se os alunos lêem poucos livros é porque em casa não têm esse exemplo e a sociedade contraria esse valor e diz-lhes frequentemente que podem deitar fora os livros que agora está tudo no telemóvel à distância de um clique: outro cliché idiota.

Nós somos tão parecidos enquanto humanos que tomamos os mesmos medicamentos para as mesmas maleitas e resulta em quase todos, somos tão parecidos que sabemos e antecipamos que perguntas os miúdos vão fazer em cada tema, o modo como vão resolver certos problemas, as dúvidas que lhes vão surgir, os exemplos que dão, quais os filmes em que vão chorar, que personagens os vão revoltar, etc, os assuntos em que têm mais dificuldade em pensar. 

É claro que cada um tem a sua particularidade, quer dizer, todos temos sinais no corpo, mas cada um tem os seus distribuídos de um certo modo. O facto de cada um ter os seus, não os torna completamente diferentes dos outros e se vão a um médico, são examinados com os mesmos instrumentos. E hoje-em-dia até já existem medicamentos específicos para aquela pessoa em particular, mas são idênticos, funcionam com o mesmo princípio activo, sendo que o que muda é a dose, certos componentes, porque a pessoa tem colesterol ou tem alergias, etc. Mas não são completamente diferentes. Por exemplo, todos os alunos beneficiam de aprender Lógica, porque todos os nossos pensamentos, raciocínios e argumentos são construídos sobre esses fundamentos e é bom que os saibamos usar validamente. O que é diferente é que uns gostam mais de Lógica que outros, uns têm mais facilidade que outros, uns precisariam de mais tempo com certos sub-temas da Lógica, etc. (para isso, ter turmas de 20 alunos em vez de 30 ajudava muito) 

Nós estamos tipificados e a larga maioria cabe perfeitamente no baralho. Há muito poucas pessoas que são cartas fora do baralho e que necessitam de uma abordagem muito diferente. Existem, de facto, mas são muito poucas. A maioria dos alunos tem os mesmos anseios mais ou menos na mesmas idades, as mesmas dúvidas, as mesmas referências culturais, os mesmos gostos. 

MEC é uma prova de como quase todas as pessoas são iguais. Sendo uma pessoa culta, poderíamos pressupor que pensa antes de falar (bem sei que fala muito e quem fala muito corre risco de também falhar mais) e que poderia ser diferente, nomeadamente, de não embandeirar pelos clichés que a nossa 'elite cultural' vomita a propósito da educação sem estar por dentro dos assunto. Pois, mas não. É como os outros: não percebe nem tem experiência de educação escolar, mas aí está ele a 'cagar sentenças' como diz o povo, sobre os professores serem ignorantes, os alunos pequenos sábios ávidos de saber e como a escola lhes desperdiça os talentos. Esta crónica é uma espécie de, 'Anita, Vai Aos Jornais Dizer Coisas'.


A turma de um só aluno

Se considerarmos que todos nós temos jeito para uma coisa ou outra, faz sentido gastar tempo e dinheiro a descobrir os talentos de cada um

Miguel Esteves Cardoso

As crianças gostam de pôr os insectos de pernas para o ar. É como se dissessem ao escaravelho: “Pronto, já vi a carapaça que mostras ao mundo: és muito bonito. Agora deixa lá ver como és realmente...”

Depois de examinar o chassis, a criança volta a endireitar o insecto. O adulto censura-a: “Deixa lá estar o pobre do bicho!” Mas a criança tem razão: tem agora uma ideia mais completa do escaravelho.

Façamos o mesmo com uma sala de aula em que temos 20 alunos à frente de um professor: 20 ignorantes à volta de um sábio.

Agora vire-se a aula ao contrário e ponhamos 20 sábios e um ignorante, em que é o ignorante que manda. Como é que vai aproveitar aquela sabedoria toda ali concentrada? A coisa mais importante que pode descobrir são os talentos que ainda não sabe que tem.

Se considerarmos que todos nós temos jeito para uma coisa ou outra, faz sentido gastar tempo e dinheiro a descobrir os talentos de cada um.
A pior maneira de fazer isto é obrigando toda a gente a aprender as mesmas coisas, em aulas onde cada um se perde na multidão. Essa é a melhor maneira para descobrir quem é que não tem jeito para nada.

Se aos 5, 10, 15 e 20 anos, cada jovem fosse longamente entrevistado por 20 especialistas, só com o objectivo de descobrir os talentos que tivesse, os resultados desses encontros não seriam mais úteis para o indivíduo – e para a sociedade – do que exames e outros exercícios massificados em que nada é talhado à medida de cada um?

Em vez de dizer “Leiam livros, que vos faz bem!”, os 20 sábios poderiam dedicar-se a descobrir os livros que aquele indivíduo particular e diferente, com gostos próprios, poderia gostar de ler.

Duas horas com 20 sábios, de cinco em cinco anos, são só oito horas para o jovem, mas terão certamente um efeito benéfico para toda a vida.

Dá pouco jeito que sejamos todos diferentes? Pois dá. Mas somos.

Nem que fosse só pelo prazer de mais tarde nos podermos rir todos das recomendações dos sábios.

Não há professores e os que saíram foram substituídos pelo fulano que ia a passar na esquina




Porém, apesar desta situação catastrófica, estrelas sociais como JMT continuam a defender que não se deve atender aos problemas dos professores porque são como pensionistas. PNS diz que este ME, Costa, é o melhor ministro de educação de sempre e no meio disto ninguém quer saber da educação. Qualquer dia as escolas estão numa rebaldaria total com curiosos apanhados ao virar da esquina a fingir que ensinam.


1.º período acaba com mais de 50 mil alunos sem professor

Balanço dos primeiros meses do ano letivo não é positivo. Diretores escolares, sindicatos e professores mostram grande preocupação pela escassez de docentes nas escolas. Dezembro arrancou com milhares de alunos sem professor a uma ou mais disciplinas e um recorde de aposentações.

Esta sexta-feira, final do 1.º período escolar - as escolas que estão em regime de semestre ainda têm aulas na próxima semana -, mais de 50 mil alunos estavam sem professor atribuído, situação que se agravou com a saída de 389 docentes por aposentação (o número mais elevado desde o início do ano e o mais alto da última década), num total de 3521 docentes aposentados em 2023 Davide Martins, professor e um dos colaboradores do blogue ArLindo (um dos mais lidos no setor da Educação), explica a matemática dos números "preocupantes" no que diz respeito à falta de professores.

"A falta de qualidade do ensino não é aceitável"

Para Paulo Guinote, de 55 anos, professor de História do 2.º ciclo, a falta de professores que marcou o 1.º período levou à falta de qualidade do ensino, com escolas a recorrer a professores sem habilitação para "encobrir" o problema.

"Mascarou-se a falta de professores com a atribuição de horas extraordinárias a professores que não as querem e há orientações diretas, feitas por telefonema, para atribuir as horas a quem não tem formação. O que o ME quer é as horas atribuídas, seja de que forma for. Para mitigar o problema também se recorreu a substituições por professores que já saíram do ensino há muito tempo e que precisam de tempo para aprender novos mecanismos burocráticos ou docentes jovens sem preparação no que se refere à carga de trabalho invisível, aquele que não é feito em sala de aula", explica. E, segundo Paulo Guinote, "as condições em que as aulas são asseguradas são questionáveis". Neste momento, assegura , "a falta de qualidade do ensino não é aceitável".

December 14, 2023

Em vez de pensar repetir clichés

 

É o que faz este indivíduo. Veja-se o nível: 'o conhecimento está à distância de um clique com os telemóveis'. Em primeiro lugar confunde o acesso à internet com o objecto de acesso -o telemóvel-, o que significa que valoriza, não a qualidade da informação mas a rapidez; em seguida confunde a informação, que "está à distância de um clique", como diz, com o conhecimento, que é um processo bio-psico-social interno. Critica o ensino onde se transmitem conhecimentos mas defende -sem se dar conta da contradição- a aprendizagem enquanto aquisição de conhecimentos, só que via internet. Defende o "conhecimento instantâneo", como se isso existisse: agora não tens conhecimentos e depois por magia o telemóvel transfere conhecimentos para o teu cérebro - fala como se o conhecimento fosse um processo meramente cerebral. E são estes ignorantes que decidem as políticas educativas. Não admira o estado em que as coisas estão. 
Pessoalmente não tenho nenhuma esperança no futuro das políticas de educação, pois se este é o discurso dos lá estão, o discurso dos que querem ir para lá, não é melhor: os alunos são clientes, os professores são pagos para servir, logo têm que obedecer aos clientes... nesta perspectiva, podemos dizer, por exemplo, que os crentes são os clientes dos padres, que lhes pagam a subsistência e por isso os padres têm que obedecer aos crentes. E tudo não passa de um negócio. Que pobreza...

Hoje, li isto num artigo de JMT, no Público:
Em boa verdade, isto é mais um divertimento de analistas políticos do que um cenário plausível. Nem a IL quer coligar-se com o PSD, nem o PSD quer coligar-se com a IL, pela simples razão de que Luís Montenegro está mortinho por cair nas boas graças de pensionistas, professores e demais dependentes do Estado, o que jamais poderá ser uma prioridade para a IL.
Portanto, a educação e nós, professores, somos como pensionistas que fazemos nada e estamos só à espera do salário no fim do mês. É esta a ideia que estes ignorantes fazem dos professores. Todos que estão ao serviço do país, em seu entender são pessoas que fazem nada e não produzem nada, como se o nosso trabalho fosse uma quimera e valesse zero e como se não pagássemos impostos para que os filhos dele possam estudar e ir ao médico quando precisam. Portanto, repito, não tenho esperança nenhuma na melhoria da educação porque saem de lá os medíocres nº 1 para irem para lá os medíocres nº 2.

A única esperança que tenho está depositada nos professores individuais, porque as escola têm ainda muita gente dedicada e com brio que acredita no que faz e acredita nos alunos. Somos as últimas pessoas que apostam nos alunos e quando saem da escola, tirando as famílias, nunca mais ninguém quer saber deles - a não ser que sejam filhos do presidente disto ou daquilo, do político x ou do JMT e outras estrelas sociais que escrevem nos jornais ou entram en novelas ou algo do género.

O PISA, o eduquês e a aprendizagem genuína

Quando, perante a utilização dos telemóveis, muitos os querem banir nas escolas porque, alegadamente, prejudicam as relações entre pares, estamos a andar às arrecuas.

José Manuel Silva

Afinal, tudo o que temos andado a fazer desde há pelo menos três décadas, e nada a ver com os saudosistas do tempo em que a escola era para seriar e expulsar, não para incluir. O problema é que a sociedade evoluiu muito mais rápido do que as escolas, existe até aquela frase que diz mais ou menos que “Se ensina com os métodos do século XIX, com a organização escolar do século XX, e os estudantes do século XXI”, o que tem tudo para correr mal.

O problema da escola portuguesa não é voltar ao passado, é acelerar para o futuro, é ter em consideração que o cérebro das crianças e jovens está a mudar, que os métodos tradicionais não funcionam, a organização escolar tem de mudar profundamente, o papel dos professores não tem nada a ver com o que era quando constituíam a fonte principal de transmissão de conhecimento.

Quando perante a utilização dos telemóveis, que são hoje um dos mais potentes instrumentos de aprendizagem, andam no bolso de toda a gente e permitem aceder ao conhecimento e aos outros instantaneamente, muitos os querem banir nas escolas porque, alegadamente, prejudicam as relações entre pares, estamos a andar às arrecuas.

Portugal precisa de um choque educativo, é verdade, mas para se projetar para os níveis mais avançados que a revolução tecnológica comunicacional e digital já permite. Parece ridículo, quando o acesso ao conhecimento está à distância de um clique, que se continue a funcionar nalgumas escolas como se estivéssemos no tempo da ardósia e do quadro preto.

December 06, 2023

O festim pidesco de um governo morto





O festim pidesco de um governo morto

Santana Castilho

1. Por entre os temas que dominam os noticiários, passou de fininho uma sinistra proposta do Governo (Proposta de Lei n.º 89/XV), que pretendia, entre outras coisas e de sorrelfa, criminalizar o pensamento, a palavra livre e a opinião que expressasse críticas sobre convicções políticas ou ideológicas alheias.
A proposta, entretanto abandonada, tem relevância para lá do que tentou. Com efeito, foi mais uma manifestação da continuada conduta desrespeitadora de direitos constitucionais, por parte de António Costa.

Sim, porque foi ele que, em plena gestão da pandemia, assumindo a Constituição da República Portuguesa (CRP) como um estorvo, que não como a referência que devia respeitar e cumprir, teve o topete de dizer que se faria o que ele decidisse, dissesse a CRP o que dissesse.

Sim, porque foi sob sua égide, como secretário-geral do PS, que foi ensaiado um conúbio com o PSD para promover uma revisão constitucional que visava suprimir o direito à liberdade, consignado no Artº 27º da CRP, para que os cidadãos pudessem ser detidos sem ordem judicial, para que a livre circulação pudesse ser proibida sem necessidade de decretar o estado de emergência e para que o Estado pudesse devassar as comunicações privadas, com a mesma ligeireza com que a PIDE devassava o correio.

Sim, porque António Costa ficará para a posteridade como o primeiro-ministro que mais vezes recorreu a mecanismos de excepção para impedir greves e permitiu os maiores atropelos ao seu exercício, de que são exemplos as discutíveis requisições civis de enfermeiros e professores, polícias a baterem à porta de motoristas de viaturas de transporte de matérias perigosas e polícia de choque usada para intimidar grevistas e proteger fura-greves, no caso dos estivadores.
Por outro lado, a proposta em análise apresentou-se simplesmente coerente com o festim pidesco de um governo morto, bem ilustrado pelos casos que se seguem.

2. A directora do Agrupamento de Escolas Júlio Dinis, em Gondomar, foi acusada de violação dos deveres de imparcialidade e lealdade porque, na sede do agrupamento que dirige, um grupo de docentes afixou uma tarja onde se lê “Estamos a dar a aula mais importante das nossas vidas”. Ao que consta, a “nota de culpa” propõe agora a sanção de suspensão, que implica a perda de salário, e a perda de mandato.
Não há o delito de opinião no ordenamento jurídico vigente, muito menos admitido no conceito de Estado de Direito Democrático, expresso no Artº 2º da CRP. Portanto, só a hipocrisia de quem manda e a coluna vertebral gelatinosa de quem obedece explica este grosseiro atropelo ao Artº 37º da CRP, que institui o direito à liberdade de expressão e informação, exercido pela comunidade de docentes do Agrupamento de Escolas Júlio Dinis.

Neste caso, não assistimos apenas à submissão da Inspeção-Geral da Educação e Ciência (IGEC) aos desígnios políticos da casta que se apossou do Ministério da Educação (ME) e à sua utilização para exercer um execrável controlo ideológico sobre tudo e todos. Assistimos, também, ao resvalar das intervenções da IGEC, outrora respeitável e independente, para metodologias de cariz pidesco.

3. Como é sabido, o poder judicial já havia declarado ilegais os serviços mínimos impostos para dias de aulas e para as avaliações finais dos 5.º, 6.º, 7.º, 8.º e 10.º anos. Agora, conhecemos um novo acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa (TRL), que declarou ilegais os serviços mínimos impostos à greve às avaliações dos anos com provas finais ou exames (9.º, 11.º e 12.º anos). Depois desta exposição do ME como vulgar fora de lei na matéria, ficaria bem uma palavra de contrição. Mas das consciências cavernosas dos governantes só nos chegou um cobarde silêncio.

4. Num belo lance de grosseira demagogia, um comunicado do ME deu-nos a conhecer que a Direção-Geral da Educação (DGE) passou a ter um conselho consultivo de alunos, que participarão nas reuniões mensais de dirigentes daquele órgão, podendo, entre outras atribuições, discutir propostas no âmbito da competência da DGE. Entendamo-nos, ministro João Costa: quem poderia opinar neste contexto são os professores, não alunos em processo de formação e crescimento. Enxergue-se, ministro João Costa! Mesmo a demagogia tem limites!


Uma medida que por si só não resolve nada



Já vão em oito anos de políticas de estética de estatística, assente no desrespeito pelo conhecimento, pelos seus processos, pelo esforço e pelo estudo e, se esse respeito não for reposto, nada resolve haver exames.



Matemáticos pedem exames de final de ciclo para melhorar desempenho

Relatório mostra quebra acentuada dos alunos portugueses nos resultados de matemática. Para inverter a situação, especialistas defendem que currículos da disciplina devem ser mais claros e rigorosos. E que existam também mais momentos de avaliação intermédia.


December 05, 2023

Só quem não trabalha nas escolas não sabe desta realidade

 


O relatório, divulgado esta terça-feira, em Paris, também revela que cerca de um terço dos alunos portugueses assume que se distrai nas aulas com os telemóveis.

Nos questionários, 62% dos diretores responderam que a capacidade das escolas para lecionar é prejudicada pela falta de professores, sendo que 27% consideram que o corpo docente é “inadequado” ou “pouco qualificado” (mais 4 pontos percentuais do que em 2018). Com as aposentações a atingirem números recorde, recorde-se, o Governo alargou a possibilidade de ingresso em mestrados em ensino a candidatos de outras áreas. E o número de licenciados [pós-Bolonha] sem mestrado a dar aulas nas escolas tem aumentado nos últimos anos.

JN

December 01, 2023

"Considerados ilegais os serviços mínimos decretados para as avaliações finais dos professores"



O tribunal considerou ilegais os serviços mínimos decretados para as greves às avaliações finais dos alunos do 9.º, 11.º e 12.º anos, realizadas no passado ano letivo, revelou esta quinta-feira a plataforma de sindicatos que convocou a paralisação.

“Foi agora divulgado novo Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa (TRL) que declara ilegais os serviços mínimos impostos à greve às avaliações sumativas finais dos anos com provas finais ou exames”, ou seja, do 9.º, 11.º e 12.º anos, avança em comunicado a plataforma de nove estruturas sindicais, da qual fazem parte a Fenprof e a Federação Nacional de Educação (FNE).

https://portocanal.sapo.pt/noticia/

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Portanto, o ME agiu sempre de modo ilegal e a violar os direitos dos professores à greve. É este senhor que foi escolhido para ser o diapasão da educação na OCDE - uma pessoa que dá um exemplo público de não respeitar os direitos dos outros - o pináculo dos ideais da educação democrática... É é também este indivíduo que Pedro Nuno Santos considera o melhor ministro da educação do mundo - podemos daqui inferir o respeito que PNS tem pelos direitos legais dos professores. 

November 30, 2023

Educação: oito anos perdidos

 


Educação: oito anos perdidos 

A escola pública arrisca transformar-se em tragédia até 2030 por falta de planeamento estrutural e por políticas cínicas e ineficazes. Em breve, vamos precisar de uma espécie de troika para a educação

Carlos Ceia

Observador

Fechando-se o ciclo de 8 anos de governação socialista na educação, fechando-se também o ciclo maior dos últimos 27 anos, dos quais governou 20, a única coisa que não podemos aceitar é o branqueamento da responsabilidade socialista no estado actual da educação portuguesa, em particular da escola pública. Mas é isso que já está a acontecer: prevalece um discurso sem autocrítica, distribuem-se já comendas e louvores dentro da grande família socialista, e finge-se que vivemos no melhor dos mundos. 

As visões de fora são também trabalhadas para que a realidade vivida aqui não seja nunca citada. O Governo socialista especializou-se em visões do País como um eterno Jardim do Éden, onde apenas existem as coisas belas. Os que cá vivem têm uma visão bem diferente da utopia que construíram.

A redução do abandono escolar precoce é uma boa medida? É, mas não é um triunfo de nenhum governo em particular, porque todos temos contribuído para isso desde 1974. E nos últimos 27 anos (20 de governação socialista), foi entre 2011 e 2015 (mandato de Nuno Crato) que se registou a maior redução (11 pontos percentuais); e em 2016 até subiu o abandono escolar, muito por causa do fim do ensino vocacional que nunca foi justificado. 

O muito glorificado Programa Qualifica, como o anterior Novas Oportunidades, serve apenas para construir estatísticas nacionais de formação escolar. Melhora a auto-estima de quem se forma, mas despreza-se aquilo que se aprende efectivamente e não se estabelece nenhuma relação com as actividades profissionais que deviam acolher tais diplomados e melhorar assim a produtividade. Nunca vi ninguém preocupado com aquilo que se passa nas salas de aula destes programas, com a baixíssima exigência daquilo que se espera ser aprendido, com a facilidade com que se distribuem diplomas a troco da capacidade de saber fazer um exercício elementar de copia e cola ou de saber perguntar o nome em Inglês para se ficar qualificado com um diploma do ensino básico ou secundário (multipliquem-se estes exemplos reais por milhares de outros e terão um bom retrato do sucesso pedagógico destes programas). A educação de adultos e os programas vocacionais para alunos que não acompanham a escolaridade regular são fundamentais em qualquer sistema educativo avançado, mas não têm de ser mascarados politicamente de programas de sucesso garantido por amor às estatísticas da educação portuguesa.

A redução das taxas de retenção são uma boa notícia? O Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar é uma ilusão óptica: fica bem na fotografia dos relatórios internacionais, mas omite uma realidade e o preço real desse investimento. O fim dos exames nacionais de final de ciclo, a continuada aposta em exames de aferição inúteis e que apenas servem para roubar tempo a ensino efectivo, o aumento da burocracia administrativa para justificar a retenção dos alunos, a complexificação do processo de avaliação por domínios do conhecimento em desfavor de uma avaliação simples dos conhecimentos efectivamente adquiridos, a confiança extrema num Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória que nada de bom trouxe ao sistema público de educação, por uma forçada obrigação de tudo ter de se ajustar mecanicamente a um conjunto de “princípios, visão, valores e áreas de competências comuns” que descaracterizaram tudo o que importa fazer na sala de aula real, nada disto contribuiu para o desejado “currículo para o século XXI”. O resultado desta política de quimeras conduziu a péssimos resultados gerais de aprendizagem.

Hoje, aprende-se muito menos e, contraditoriamente, avalia-se muito mais e de forma mais ilegível e infundada, com conceitos adulterados em tantas grelhas de avaliação, com uma insustentável descrição dos resultados académicos em fórmulas facilmente viciadas, mascarando até ao limite todas as situações de efectiva incapacidade para aprender de forma regular. 

Estatisticamente, Portugal é um caso único de resultados académicos gerais positivos; em termos de aprendizagens reais adquiridas, os próximos resultados PISA irão certamente desmentir esta ilusão; aquilo que todos aqueles que vivem nas escolas reais ou com elas trabalham sabem que a escola pública ficou devastada na sua organização interna, no modelo de (sobre)avaliação das aprendizagens e na ausência de um modelo eficaz de recuperação dessas aprendizagens quando ficam praticamente proibidas as retenções (a questão maior de reter ou não reter não pode ser discutida em poucas palavras).

Quisemos copiar, e bem, a maior parte dos países que não têm modelos de retenção, mas em vez de criarmos boas condições alternativas para quem não aprende de forma satisfatória, optou-se pelo caminho mais absurdo: baixando a exigência do que se deve aprender, superburocratizando o acto de avaliação das aprendizagens e dando-lhes ainda um quadro conceptual confuso e mal justificado teoricamente. Enquanto pai de um aluno numa escola pública, nunca tive tanta dificuldade em compreender o que é que está a ser ensinado e o que é que está a ser avaliado como hoje e isso diz-me tudo da falência do sistema.

A avaliação das aprendizagens é hoje melhor? Foi uma das grandes apostas do Governo socialista nos últimos oito anos. Numa estranha escola inclusiva, cujo conceito foi adulterado em nome de uma falsa integração de alunos com dificuldades especiais de aprendizagem, numa desastrosa organização do ensino geral e igual gestão de recursos humanos, num contexto de erradicação prática das retenções sem um plano eficaz para recuperar as aprendizagens ou quem não aprende ou não quer aprender de forma regular, num cenário em que o currículo ficou reduzido injustificadamente à sua expressão essencialista, em contextos escolares cada vez mais heterogéneos e multiculturais, num sistema autocrático de governo de agrupamentos de escolas muitas vezes adoptando medidas mais excessivamente zelosas do que a lei permite e num contexto de avaliação de desempenho docente cuja eficácia é nula na melhoria da profissionalidade de cada professor, o que nos pode autorizar a concluir que o ensino público melhorou e assim também o sistema de avaliação “inovador” que o socialismo utópico do PS fez renascer? Nada nos pode autorizar tal conclusão.

Costumo acompanhar os exames nacionais de 12º ano, em especial os de Português, porque tive a responsabilidade de fazer parte do júri nacional na década de 1990. Nos últimos anos, o grau de exigência desses exames tem caído a pique. 

Devia envergonhar-nos a todos aquilo que são hoje os exames de Português do 12º ano. Ironicamente, antes de termos um Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (desde 2017), o currículo nacional era mais exigente, os exames eram mais exigentes e os alunos tinham um perfil mais próximo do que se espera à saída da escolaridade obrigatória, que é, não esquecer, o mesmo que trazem à entrada de um curso de Ensino Superior (ES). Os alunos que recebemos hoje e vamos continuar a receber à entrada do ES não estão minimamente preparados para o nível de exigência, que não baixou, felizmente, de todas as áreas disciplinares.

Perderam-se oito anos e lamento ter contribuído um pouco para isso: em 2015-16, estava convicto de que o sistema de flexibilidade curricular, aliado às metas curriculares exigentes, podia ganhar em legibilidade se lhe acrescentássemos versões simplificadas para uma melhor gestão do currículo. Assim, aceitei ser consultor das aprendizagens essenciais de Português (e das línguas estrangeiras informalmente). Inexplicavelmente, o Despacho n.º 6605-A/2021 veio revogar as metas curriculares e transformar o que era o sumário de cada currículo disciplinar no currículo único e fundamental de cada disciplina. Para mim, este foi o maior erro da governação socialista e algo difícil de perdoar, porque trouxe consequências desastrosas para o ensino público.

Temos, assim, montado um processo curricular odioso que pode demorar muitos anos a corrigir: glorificou-se a simplificação do currículo nacional e deu-se igual glória a um sistema de avaliação das aprendizagens desse currículo com base numa pseudo-inovadora tríade de elementos (“conhecimentos, capacidades e atitudes”), acompanhada por uma doutrinação mágica sobre essa avaliação, que tem conduzido as escolas, os alunos, os professores e os educadores a um estado de burn-out pedagógico e epistemológico que convém mesmo esconder dos retratos internacionais onde vendemos a nossa alegada boa imagem educativa. (Podia escrever uma tragicomédia com as interpretações e práticas avaliativas que hoje vemos nas nossas escolas públicas ao som da música de embalar do Maia.)

Em que estado ficou a carreira dos professores? No Ensino Pré-Escolar, Básico e Secundário, a teimosia em não respeitar o mesmo direito de recuperação do tempo de serviço prestado em comparação a outras carreiras especiais (a narrativa cínica do Governo socialista omite sempre as comparações evidentes para tentar isolar o problema dos professores) conduziu a uma situação insustentável: um docente com mais de 45 anos não conseguirá chegar ao topo da carreira sem uma significativa perda financeira (e muitos ficarão a meio da subida íngreme dos escalões) e sem a possibilidade de se reformar com a expectativa de uma carreira normal. Se juntarmos a isto uma promessa, que vem dos programas de Governo desde 2015, de correcção da injustiça da falta de apoio aos docentes deslocados da sua área de residência (acordar agora para o problema e circunscrevê-lo apenas a quem é colocado em Lisboa ou no Algarve faz parte da política despudorada de fingir que se dá muito dando pouco a poucos), perguntamo-nos que espécie de dignidade profissional se dá a esta profissão fundamental no desenvolvimento de um país e que espécie de motivação se espera de quem a exerce em tais condições?

Outro exemplo: ouvem-se os panegíricos em causa própria sobre a redução das distâncias nos quadros de zona pedagógica, mas esconde-se a armadilha de obrigar depois a concorrer de novo a nível nacional a quem por aí for. A justiça na política de carreiras profissionais começaria, por exemplo, pelo candidato a secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, se aceitasse dar aos professores deslocados os mesmos 750 euros que reclamou para si próprio de subsídio de alojamento por ter residência a mais de 150 km de Lisboa. A lei amiga dos políticos deslocados existe desde 1980, mas, neste caso, convinha acabar com o cinismo de querer proteger a equidade nas carreiras quando falamos dos professores deslocados. Convinha que o socialismo governante não tivesse receio de dar aos outros o que sempre deu a si próprio.

Ficou resolvido o problema da falta de professores? Respondo, sem tentar repetir o muito que já escrevi sobre este assunto. Neste momento, aguardamos a publicação de um novo diploma sobre formação inicial de professores que recupera o sistema de estágios remunerados, e que por si só é uma medida consensual. O que se lamenta é não ter sido possível fazer isso logo após o primeiro sinal de que essa falta seria inevitável (está no preâmbulo do DL nº 79/2014 e está logo nos relatórios iniciais do CNE: “Formação inicial de professores”, Fev, 2016, e Estado da Educação 2018). Esta renovação da formação inicial, num diploma não isento de problemas de organização logística do novo modelo e que nunca foi acompanhado do reforço financeiro das instituições de ES, para que pudessem aumentar as vagas dos cursos nucleares, não vai resolver por si a falta de professores. 

O que os jovens hoje querem, no momento de pensar se é para esta profissão que querem seguir, é simples. Interrogam-se: É bem paga? Não. Compensa arriscar uma deslocação para longe da minha área de residência e sobreviver com o vencimento de um professor do 1º escalão (1080 euros após descontos)? Não. Sem resposta positiva a estas duas questões práticas, dificilmente conseguiremos atrair mais jovens para esta profissão, mesmo que a sua motivação inicial aponte para aí.

A escola pública arrisca transformar-se numa tragédia até 2030 por falta de planeamento estrutural e por políticas cínicas e ineficazes. Em breve, vamos precisar de uma espécie de troika para a educação em Portugal e quem vier a seguir pode ter já a sua agenda completa só para reverter o mal que foi feito. E, como sempre faz, o socialismo utópico vai dizer que a culpa da tragédia não é do seu tempo nem da sua responsabilidade. Perditio temporis.

Professor catedrático da FCSH da Universidade Nova de Lisboa

O ME é maldoso ou é só incompetente?

 




November 29, 2023

O nome correcto do ME é MCE - ministério contra a educação/educadores




A Confederação de pais tem sido cúmplice na destruição da profissão de professor e dizer mal dos professores é o seu desporto de eleição. E os outros pais acordaram tarde. Agora apercebem-se da situação gravíssima em que estamos. Hoje à saída das aulas estava com alguns colegas a contar o número de colegas que vão reformar-se no fim deste ano e dos próximos e que se juntam aos outros dos últimos 5 ou 6 anos. São imensos. Falo em dezenas, só na minha escola. Há grupos disciplinares que para o ano que vem ficam só com 2 pessoas. Pois mesmo assim, todos os dias saem artigos em jornais a destruir a profissão, por parte dos amanuenses e avençados dos entachados que governam: os professores não aprendem nada com os anos de trabalho; os professores não percebem nada; os professores só sabem faltar às aulas; os professores ensinam como no tempo da revolução industrial; os professores põem baixas fraudulentas; as professoras ficam grávidas só para poderem aproximar-se de casa; os professores ganham mais que todos os outros licenciados; os professores têm uma carreira privilegiada; os professores não são avaliados e progridem automaticamente sem fazer nada; o melhor é tirar os alunos da escola e ensiná-los em casa; as aplicações ensinam melhor que os professores; os professores envelhecem de propósito para prejudicar os alunos... todos os dias é isto.
O nome correcto do ME é MCE - ministério contra a educação/educadores.

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Movimento cívico Pais Em Luta Pela Educação acusa o Governo de não estar a cumprir a Constituição ao negar a garantia do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar para todos os estudantes.

Pais criam petição exigindo professores para todos os alunos

O PELPE responsabiliza o Estado pelo não-cumprimento da Constituição e relembra que, segundo o documento, cabe ao Governo “assegurar o Ensino Básico universal, obrigatório e gratuito, bem como garantir a educação permanente e eliminar o analfabetismo”, entre outros deveres.

“Isto não pode continuar. Não pode haver tanta falta de professores e tantos alunos prejudicados na sua aprendizagem. A petição vem no sentido de apelarmos aos governantes para que façam cumprir a lei. E a lei é clara em relação aos direitos dos alunos. O que está a acontecer é um prejuízo e uma discriminação muito grande“, explica ao DN Luís Gomes, um dos autores da petição.

O documento elaborado pelo PELPE relembra o número de alunos sem professor a uma ou mais disciplinas, principalmente em Lisboa e no Algarve, desde o início do ano letivo, que arrancou com “mais de 100 mil alunos sem professores”. E foi precisamente em setembro, no início das aulas, que nasceu o PELPE, com a criação de um grupo de WhatsApp, por parte de Luís Gomes.

O grupo “cresceu de tal forma” que, conta, foi necessário “criar grupos de trabalho”, um dos quais responsável pela elaboração da petição.

A acrescer à elevada adesão de pais e encarregados de educação “preocupados pela falta de professores” está o receio de que “a solução para o problema da falta de docentes se arraste e, até, que piore”. “Tenho uma filha mais velha que já sofreu com a falta de professores no Algarve. A minha filha mais nova, de 2 anos, poderá passar pelo mesmo problema, e é um problema que me preocupa muito enquanto pai”, explica.

O objetivo do PELPE é “atingir as 7500 assinaturas para que a questão seja debatida pelo próximo Governo e se encontrem soluções efetivas”. As medidas, explanadas na petição não se centram apenas em soluções a longo prazo, mas também mudanças a curto prazo. “Devem ser completados horários incompletos de professores com aulas de recuperação das aprendizagens, criar programas ocupacionais para os períodos sem aulas, bem como reforçar a vigilância, flexibilizar – em termos de burocracia – a colocação de professores, desde que qualificados a nível científico-pedagógico, pagar subsídios de deslocação e alojamento para professores nos mesmos moldes de outras classes profissionais, nomeadamente políticos, médicos e oficiais de justiça, envolver os Conselhos-Gerais das escolas e câmaras municipais com o objetivo de proporcionar alojamento acessível para os professores, criar outras políticas de incentivo urgente para que professores de outras zonas do país aceitem deslocar-se, e criar outras políticas de incentivo urgente, para que professores que abandonaram a profissão, a reintegrem”, pode ler-se na petição.

Estas medidas, explica Luís Gomes, permitiriam colmatar, desde já, as situações mais graves e evitar mais prejuízo aos alunos, principalmente aos que serão sujeitos a exame nacional. “A questão dos exames é altamente discriminatória, não há cumprimento da lei. Os alunos nesta situação não conseguem competir com os pares, sejam do público ou do privado, e muitos não têm condições para pagar explicações”, sublinha. Luís Gomes quer medidas imediatas para os alunos que vão fazer exames, que podem até passar por “uma comparticipação que lhes permita ter aulas extra pagas, garantidas pelos Estado”.

Ao próximo Governo, o PELPE pede a “elaboração de turmas e horários mais cedo, permitindo a colocação atempada de professores, considerando o mês de julho para o efeito, a criação de um sistema de quotas para que alunos prejudicados, em disciplinas sem professores, possam ser avaliados e concorrer em pé de igualdade com os pares, o reforço da contratação de técnicos especializados (terapeutas, psicólogos, assistentes sociais, professores da educação especial…) para apoiar os alunos prejudicados com a falta de professores, o aumento do investimento na educação, destinando pelo menos 6% do Orçamento de Estado em 2024, de acordo com padrões internacionais”. Medidas que, refere Luís Gomes, convergem todas na valorização da carreira docente para “atrair jovens para a profissão, mas também recuperar docentes que abandonaram o ensino”.

Arlindovky

November 24, 2023

Estilos de parentalidade?

 


Outro dia assisti a esta cena: estava num hospital, sentada, num corredor (não muito largo nem muito comprido) com mais umas sete pessoas, à espera para entrar numa consulta médica. Um casal novo com uma filha com uns 3 ou 4 anos vai a passar em minha frente quando a miúda diz, 'mãe, quero fazer cocó'. A mãe disse-lhe, 'está bem, vamos ali à casa de banho' - que é a uns 20 metros de distância. O pai interrompeu-a e proferiu sentença. 'não se stressa uma criança! Se quer fazer cocó, é aqui mesmo. Agacha-te e faz'. A miúda, que ainda usava fraldas, agachou-se ali no meio do corredor, a menos de um metro de mim. A mãe ficou visivelmente embaraçada mas não quis desautorizar o marido e calou-se. Foi sentar-se umas cadeiras mais à frente com o telemóvel. A miúda gritou logo que a queria ali ao pé dela e o pai pôs-se a sossegá-la como se a mãe a tivesse abandonado. Esteve ali um tempo e o pai começou a dizer-lhe para se despachar. Começou a cheirar mal. O pai resolver ir esperar sentado ao lado da mãe e a miúda ralhou com ele, mas foi a arrastar-se atrás. Estava a entupir a entrada no corredor. (Estão a ensinar a miúda a não ter noção do que são espaços públicos e códigos de conduta social) Esta cena durou uns 10 minutos, ao fim dos quais, quando cheirava horrivelmente no corredor todo, ela anunciou que tinha feito o que tinha a fazer. O pai levantou-se e disse, 'agora é que vamos à casa de banho tirar a fralda'.

Isto é um estilo de parentalidade...? Eu só pensava, 'um professor vai ter que aturar esta miúda a fazer xixi no chão da sala de aula em vez de ir à casa de banho ou a ralhar com ele e fazer birras quando lhe disser que não pode fazer qualquer coisa na sala de aula porque não tem nenhuma resistência à frustração nem noção do que é o espaço público. E esse e outros hão-de ter que aturar o pai a queixar-se que os professores dizem a palavra não à filha e ela fica stressada. 

Chamam a isto a educação positiva. Eu chamo-lhe a educação para a imbecilidade profissional.


Em Inglaterra os professores fazem greve por razões do comportamento violento dos alunos e dos pais



As escolas de hoje não são as escolas de ontem e fico sempre pasmada quando leio pessoas que sabem zero de educação escolar e da complexidade do que são as escolas hoje (alunos com todo o género de necessidades especiais, excesso de trabalho não lectivo, sobretudo burocrático, excesso de reuniões, disciplinas em que o professor vê os alunos 45 minutos ou 90 por semana, alunos com comportamentos violentos ou perturbadores e pais que apoiam estes comportamentos) dar imensas soluções de bancada a partir de pressupostos falsos e de total ignorância sobre tudo.

Este problema da violência está a aumentar e em parte deve-se à falta de controlo e intervenção dos pais.
No ano passado, uma colega cujo filho é estudante, dizia-me que tinha saído do grupo de WhatsApp dos pais da turma por causa do nível de baixeza de linguagem e de agressividade contra os professores. 
Por exemplo, um pai punha na aplicação uma fotografia de um teste de... geografia, vamos supor e depois chamava o professor de fdp para cima porque não concordava com o exercício onde se tinha que fazer um gráfico, por exemplo. Como se percebesse alguma coisa de geografia ou de didáctica da disciplina. 

Há pais que nos dizem que tiveram de entrar para o grupo por serem pais da turma mas que nem lá vão porque os incomoda o nível de baixeza da linguagem, às vezes com ameaças e tudo aos professores. 
Nada que surpreenda. Quando lemos os comentários nos jornais, nos TikToks, no FB, nos blogues, há tante gente ignorante e ordinária a comentar...

Agora que os pais têm o nosso email de trabalho, há pais que dia sim dia não enviam grandes textos a queixar-se da vida ou a dizer mal de professores ou a dizer coisas parvas, como por exemplo: acho que o professor x não devia usar a caneta encarnada porque é traumatizante; acho que o professor x não devia abrir a janela porque o meu filho queixa-se do frio (traga um casaco); dia 23 de Dezembro, ao fim da tarde: "queria que fosse justificar a falta da minha filha. Passou uma semana e ainda não está justificada" (esta aconteceu-me a mim há uns 6 anos); queria que o professor x repetisse o teste porque os alunos não estudaram e tiveram más notas (tivessem estudado); queria que a professora vigiasse a minha filha e me dissesse se ela anda com rapazes (não sou polícia) acho que os professores deviam ser obrigados a repor as aulas quando faltam (se a senhora pagar o salário que foi descontado, mais o subsídio de refeição, mais o dia de férias -quando é o caso); acho que o professor x já devia ter entregue os testes porque foram feitos há uma semana (os alunos fazem 6 testes mas os professores classificam 100, 150, 200 ou mais, no meio de ter de fazer relatórios, reuniões, actas, formações, preparação de fichas, etc. - e às vezes apetece acrescentar, 'e gastar horas a responder a perguntas, exigências e queixas parvas'). Às vezes aparecem papéis médicos nestes termos: queria pedir aos professores que justificassem as faltas e não fizessem avaliações a este rapaz até ele se sentir melhor (que pode ser dali a dois anos ou três). 

Há um par de anos esteve lá na escola um professor novo, no seu segundo ano de ensino e com uma Direcção de Turma pela 1ª vez. A turma tinha 4 ou 5 alunos sempre com problemas disciplinares. Pais complicados. Tinha uma mãe que lhe fazia bullying. Todas as semanas escrevia um email quilométrico a dizer que o filho era um génio (com relatos da sua vida desde a mais tenra infância), que os professores não compreendiam que o seu mau comportamento se devia a ser excepcional (era completamente normal excepto no comportamento), queria ir assistir às aulas para explicar aos professores como deviam ensinar... era psicóloga e pensava que isso lhe dava conhecimentos e experiência, mágicos, sobre educação escolar e gestão de comportamento em sala de aula. Isto durou um ano inteirinho. Esse colega disse-me muitas vezes que nunca mais queria ser DT, que os pais não tinham nenhuma noção dos filhos quando em grupo. Andava sempre stressado e tenso por causa do comportamento dessa turma e, muito particularmente, dessa mãe. Hoje-em-dia ninguém quer ser DT.

Isto é assim porque as tutelas, apoiadas por gente das faculdades de formação de professores, são um conjunto de pessoas ignorantes e que pensam por modas e slogans. Atingiu-se um nível que ultrapassa o absurdo e as escolas não têm defesas legais nem apoio da tutela para se proteger destas pressões e às vezes, bullying. Os professores estão completamente exaustos.

Como a regra de todos os responsáveis da educação, desde a Lurdes Rodrigues é: os pais têm razão em tudo e os professores não prestam e agora, com os meios digitais, os pais têm acesso aos professores 24 horas por dia, estas situações de indisciplina e violência, que são uma minoria, são um enorme desgaste. 

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Richard Adams, 
Editor de educação

Especialistas em educação concordam com a directora do Ofsted quando esta afirma que muitos pais ignoram regras que antes eram tidas como garantidas

Ao apresentar o seu último relatório anual como inspetora-chefe das escolas em Inglaterra, Amanda Spielman afirmou: "O contrato social entre pais e escolas foi fracturado por confinamentos e encerramentos". E avisou: "Esse contrato social levou anos para ser construído e consolidado e levará tempo para ser restaurado."

Tom Bennett, conselheiro do Ministério da Educação para a política comportamental, disse que os confinamentos da era pandémica "quebraram o feitiço" das crianças e dos pais que construíram as suas vidas e hábitos em torno da ida à escola.

A crença inquestionável de que a escola deve ser frequentada explodiu. É previsível e expetável ver que, para algumas famílias, esses hábitos têm sido difíceis de reconstruir. E, inevitavelmente, são as famílias que já têm dificuldades, que lutaram mais para os construir", disse Bennett.

Mas alguns directores de escola pintaram um quadro ainda mais negro de pais hostis que deixaram de responder aos pedidos da escola, com alguns a utilizarem fóruns privados nas redes sociais para criticar professores e directores de escola sobre decisões de comportamento ou políticas de assiduidade.

Um diretor de escola disse que ficou chocado ao ver os líderes orquestrarem campanhas contra as tentativas de reforçar as políticas de comportamento e apoiar os alunos que se recusam a obedecer a instruções ou a utilizar as redes sociais durante as aulas.

Geoff Barton, secretário-geral da Association of School and College Leaders e antigo diretor de uma escola secundária, afirmou que os comentários de Spielman estavam de acordo com o que tinha ouvido de muitos directores de escolas.

"Os pais estão cada vez mais dispostos a desafiar as regras da escola. Isto aplica-se a uma minoria de pais e alunos, mas é um problema significativo, que absorve tempo e energia e coloca os dirigentes escolares e o pessoal sob enorme pressão e stress adicionais.

"Apelamos aos pais para que compreendam que as regras da escola existem para o bem de toda a comunidade escolar e para apoiar as suas escolas", afirmou Barton.

Uma escola em Kent registou uma deterioração tal que os professores do Sindicato Nacional da Educação entraram em greve esta semana na academia Oasis, na Ilha de Sheppey.

Nick Childs, um diretor regional sénior do NEU, afirmou: "O comportamento na escola é atualmente completamente inaceitável. As aulas são regularmente perturbadas e a segurança e o bem-estar do pessoal são postos em risco. Deve ser introduzida uma abordagem de tolerância zero, incluindo uma tarifa de exclusão fixa para agressões e ameaças de violência contra o pessoal e os alunos".


Bennett afirmou que as greves de professores por causa do comportamento significam que "algo está muito errado e que devemos ouvir com atenção". A melhoria do comportamento não foi ajudada pelo facto de as autoridades locais pressionarem as escolas para evitarem o recurso a sanções como a exclusão, afirmou.

Spielman disse que as taxas de absentismo persistentemente elevadas desde a Covid-19 também estão a ser impulsionadas por mudanças nas atitudes da classe média, afirmando que ficou impressionada com os relatos de que "já não existe qualquer estigma em torno das férias escolares".

Precisamos de saber se a criança está em segurança": por que razão as escolas do Reino Unido estão a contratar agentes de absentismo escolar

"Os trabalhistas darão prioridade à reconstrução da relação destruída entre as famílias, as escolas e o governo, a fim de promover os padrões elevados e crescentes de educação que os nossos filhos merecem", afirmou Phillipson.

The Guardian

November 21, 2023

Métodos Pedagógicos Emergentes: nem inovadores, nem diversos

 

do blog: https://dererummundi.blogspot.com/

NEM INOVADORES NEM DIVERSOS. UMA ANÁLISE DOS MÉTODOS PEDAGÓGICOS EMERGENTES

Manuel Montanero Fernández, professor de Ciências da Educação, estará, pela sua formação (licenciatura em Psicologia e em Ciências da Educação e doutoramento em Pedagogia), especialmente habilitado para analisar os efeitos, na aprendizagem, dos múltiplos métodos pedagógicos que, em tempos mais recentes, têm sido apresentados como "emergentes". Num estudo de 2019, que só agora li, detêm-se num conjunto apreciável de métodos que cabem nessa designação, organiza-os em categorias, descreve-os e interpreta-os. A sua conclusão é a que apresento de seguida, tendo nela incluído alguns elementos interpretativos.



Os princípios de ensino que sustentam a inovação didática tal como afirmada neste século são basicamente os mesmos que inspiraram os métodos clássicos, propostos, há mais de um século, como alternativas à educação designada por tradicional.

Portanto, os métodos emergentes têm menos elementos inovadores do que se faz crer na sua apresentação, sobretudo a que acontece nos meios de comunicação social. Pode dizer-se que retomam ideias pedagógicas do século passado, mas adornadas com as atraentes roupagens das neurociências e das tecnologias da informação e da comunicação.

Recorrendo, em diversos momentos, à "teoria da carga cognitiva", formulada por Kirschner e colaboradores em 2006, Montanero explica, com base numa extensa e relevante bibliografia, que essas metodologias pelo facto de recusarem a "instrução directa", alegando que ela é tradicional e centrada no professor, tendem a sobrecarregar a memória de trabalho dos alunos, dificultando-lhes o acesso a recursos cognitivos capazes de lhes permitir chegar a processos de raciocínio complexo, sobretudo à crítica e à criatividade, que tanto invocam.

Ora, para os alunos chegarem a estes processos, é preciso que o professor lhes preste a "ajuda" necessária e suficiente, proporcionando-lhes tarefas sequenciadas por ordem de aprendizagem, que orienta de perto; tarefas que os alunos não conseguiriam realizar por si mesmos.

É, na verdade, arriscado pensar que, para a maioria dos alunos, as tecnologias da informação e da comunicação aliadas aos diversos modos de aprendizagem por pares, por descoberta, cooperativa, imersiva, gamificada, por projectos, de resolução de problemas, investigativa, etc., podem, mesmo com a ajuda pontual dos professores, resolver as normais dificuldades de aprender o que a escola deve ensinar.

Parece, pois, razoável não descuidar a instrução direta, guiada pelo professor, pelo facto de ela proporcionar conhecimento de tipo declarativo e procedimental, ambos essenciais para que os alunos reorganizem o seu pensamento, chegando, desejavelmente, ao conhecimento meta-cognitivo, ou seja, ao conhecimento que permite pensar sobre o conhecimento adquirido e, eventualmente, ir além dele.

Situando-nos no domínio cognitivo do desenvolvimento humano (deixando aqui de lado os domínios afectivo e motor, que a educação escolar contemplará em pé de igualdade), a instrução directa, adequada sobretudo nos primeiros estágios de um determinado processo pedagógico, deverá estimular não só a capacidade de aquisição de conhecimento mas outras capacidades, como a compreensão, a aplicação, a análise e a síntese... E também capacidades de topo como a avaliação, a crítica, a criatividade.

Assim, a instrução direta, como modo de ensino-aprendizagem, não é incompatível com muitos dos modos ditos "inovadores". Assentando estes em conhecimento relevante e inscrevendo-se no propósito de desenvolvimento da inteligência, dão-lhe continuidade, conduzem os alunos à concretização de capacidades superiores, actuando com orientações pontual do professor ou por sim mesmos.

Isto significa que a instrução directa, orientada pelo professor, prepara os alunos para se tornarem autónomos no quadro de cada processo pedagógico. Como Vigostsky disse: o aluno faz agora com a ajuda do professor, o que no futuro fará sozinho.

Ainda que este raciocínio faça sentido à luz do saber disponível, Montanero adverte-nos para o seguinte: a pressão imposta aos professores para levarem os seus alunos a alcançarem bons resultados em provas de avaliação externa (que tendem a contemplar áreas restritas de aprendizagem e apenas algumas capacidades) revela-se de difícil compatibilização com o tempo que é preciso à exploração, cooperação, à formação da consciência.

Assim, se por um lado, se lhes transmite a necessidade e a urgência de deixar de lado a instrução directa e adoptar modos de ensino "inovadores", por outro lado, retira-se-lhes o tempo e o contexto que eles implicam. Resulta daqui a insistência numa falsa dicotomia e a criação de uma impossibilidade.

O autor do artigo nota ainda a insuficiência da investigação objectiva e desapaixonada acerca de muitos dos "métodos. emergentes". Os estudos sérios que os comparam com a instrução direta tendem a focar-se nos efeitos imediatos em termos da aquisição do conteúdo de aprendizagem, o que poderá explicar algumas das desvantagens que lhe são atribuídas. Se, como acima disse, tais métodos apelam a esse conteúdo para os alunos pensarem sobre ele se exprimirem a partir dele, as capacidades que requerem não são propriamente fáceis de avaliar e muito menos o são a curto prazo.

by Helena Damião
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Referência do artigo: Montanero Fernández, M. (2019). Métodos pedagógicos emergentes para un nuevo siglo ¿Qué hay realmente de innovación?. Teoría de la Educación. Revista Interuniversitaria, 31(1), 5–34. https://doi.org/10.14201/teri.19758