November 21, 2023

Métodos Pedagógicos Emergentes: nem inovadores, nem diversos

 

do blog: https://dererummundi.blogspot.com/

NEM INOVADORES NEM DIVERSOS. UMA ANÁLISE DOS MÉTODOS PEDAGÓGICOS EMERGENTES

Manuel Montanero Fernández, professor de Ciências da Educação, estará, pela sua formação (licenciatura em Psicologia e em Ciências da Educação e doutoramento em Pedagogia), especialmente habilitado para analisar os efeitos, na aprendizagem, dos múltiplos métodos pedagógicos que, em tempos mais recentes, têm sido apresentados como "emergentes". Num estudo de 2019, que só agora li, detêm-se num conjunto apreciável de métodos que cabem nessa designação, organiza-os em categorias, descreve-os e interpreta-os. A sua conclusão é a que apresento de seguida, tendo nela incluído alguns elementos interpretativos.



Os princípios de ensino que sustentam a inovação didática tal como afirmada neste século são basicamente os mesmos que inspiraram os métodos clássicos, propostos, há mais de um século, como alternativas à educação designada por tradicional.

Portanto, os métodos emergentes têm menos elementos inovadores do que se faz crer na sua apresentação, sobretudo a que acontece nos meios de comunicação social. Pode dizer-se que retomam ideias pedagógicas do século passado, mas adornadas com as atraentes roupagens das neurociências e das tecnologias da informação e da comunicação.

Recorrendo, em diversos momentos, à "teoria da carga cognitiva", formulada por Kirschner e colaboradores em 2006, Montanero explica, com base numa extensa e relevante bibliografia, que essas metodologias pelo facto de recusarem a "instrução directa", alegando que ela é tradicional e centrada no professor, tendem a sobrecarregar a memória de trabalho dos alunos, dificultando-lhes o acesso a recursos cognitivos capazes de lhes permitir chegar a processos de raciocínio complexo, sobretudo à crítica e à criatividade, que tanto invocam.

Ora, para os alunos chegarem a estes processos, é preciso que o professor lhes preste a "ajuda" necessária e suficiente, proporcionando-lhes tarefas sequenciadas por ordem de aprendizagem, que orienta de perto; tarefas que os alunos não conseguiriam realizar por si mesmos.

É, na verdade, arriscado pensar que, para a maioria dos alunos, as tecnologias da informação e da comunicação aliadas aos diversos modos de aprendizagem por pares, por descoberta, cooperativa, imersiva, gamificada, por projectos, de resolução de problemas, investigativa, etc., podem, mesmo com a ajuda pontual dos professores, resolver as normais dificuldades de aprender o que a escola deve ensinar.

Parece, pois, razoável não descuidar a instrução direta, guiada pelo professor, pelo facto de ela proporcionar conhecimento de tipo declarativo e procedimental, ambos essenciais para que os alunos reorganizem o seu pensamento, chegando, desejavelmente, ao conhecimento meta-cognitivo, ou seja, ao conhecimento que permite pensar sobre o conhecimento adquirido e, eventualmente, ir além dele.

Situando-nos no domínio cognitivo do desenvolvimento humano (deixando aqui de lado os domínios afectivo e motor, que a educação escolar contemplará em pé de igualdade), a instrução directa, adequada sobretudo nos primeiros estágios de um determinado processo pedagógico, deverá estimular não só a capacidade de aquisição de conhecimento mas outras capacidades, como a compreensão, a aplicação, a análise e a síntese... E também capacidades de topo como a avaliação, a crítica, a criatividade.

Assim, a instrução direta, como modo de ensino-aprendizagem, não é incompatível com muitos dos modos ditos "inovadores". Assentando estes em conhecimento relevante e inscrevendo-se no propósito de desenvolvimento da inteligência, dão-lhe continuidade, conduzem os alunos à concretização de capacidades superiores, actuando com orientações pontual do professor ou por sim mesmos.

Isto significa que a instrução directa, orientada pelo professor, prepara os alunos para se tornarem autónomos no quadro de cada processo pedagógico. Como Vigostsky disse: o aluno faz agora com a ajuda do professor, o que no futuro fará sozinho.

Ainda que este raciocínio faça sentido à luz do saber disponível, Montanero adverte-nos para o seguinte: a pressão imposta aos professores para levarem os seus alunos a alcançarem bons resultados em provas de avaliação externa (que tendem a contemplar áreas restritas de aprendizagem e apenas algumas capacidades) revela-se de difícil compatibilização com o tempo que é preciso à exploração, cooperação, à formação da consciência.

Assim, se por um lado, se lhes transmite a necessidade e a urgência de deixar de lado a instrução directa e adoptar modos de ensino "inovadores", por outro lado, retira-se-lhes o tempo e o contexto que eles implicam. Resulta daqui a insistência numa falsa dicotomia e a criação de uma impossibilidade.

O autor do artigo nota ainda a insuficiência da investigação objectiva e desapaixonada acerca de muitos dos "métodos. emergentes". Os estudos sérios que os comparam com a instrução direta tendem a focar-se nos efeitos imediatos em termos da aquisição do conteúdo de aprendizagem, o que poderá explicar algumas das desvantagens que lhe são atribuídas. Se, como acima disse, tais métodos apelam a esse conteúdo para os alunos pensarem sobre ele se exprimirem a partir dele, as capacidades que requerem não são propriamente fáceis de avaliar e muito menos o são a curto prazo.

by Helena Damião
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Referência do artigo: Montanero Fernández, M. (2019). Métodos pedagógicos emergentes para un nuevo siglo ¿Qué hay realmente de innovación?. Teoría de la Educación. Revista Interuniversitaria, 31(1), 5–34. https://doi.org/10.14201/teri.19758

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