November 24, 2023

Em Inglaterra os professores fazem greve por razões do comportamento violento dos alunos e dos pais



As escolas de hoje não são as escolas de ontem e fico sempre pasmada quando leio pessoas que sabem zero de educação escolar e da complexidade do que são as escolas hoje (alunos com todo o género de necessidades especiais, excesso de trabalho não lectivo, sobretudo burocrático, excesso de reuniões, disciplinas em que o professor vê os alunos 45 minutos ou 90 por semana, alunos com comportamentos violentos ou perturbadores e pais que apoiam estes comportamentos) dar imensas soluções de bancada a partir de pressupostos falsos e de total ignorância sobre tudo.

Este problema da violência está a aumentar e em parte deve-se à falta de controlo e intervenção dos pais.
No ano passado, uma colega cujo filho é estudante, dizia-me que tinha saído do grupo de WhatsApp dos pais da turma por causa do nível de baixeza de linguagem e de agressividade contra os professores. 
Por exemplo, um pai punha na aplicação uma fotografia de um teste de... geografia, vamos supor e depois chamava o professor de fdp para cima porque não concordava com o exercício onde se tinha que fazer um gráfico, por exemplo. Como se percebesse alguma coisa de geografia ou de didáctica da disciplina. 

Há pais que nos dizem que tiveram de entrar para o grupo por serem pais da turma mas que nem lá vão porque os incomoda o nível de baixeza da linguagem, às vezes com ameaças e tudo aos professores. 
Nada que surpreenda. Quando lemos os comentários nos jornais, nos TikToks, no FB, nos blogues, há tante gente ignorante e ordinária a comentar...

Agora que os pais têm o nosso email de trabalho, há pais que dia sim dia não enviam grandes textos a queixar-se da vida ou a dizer mal de professores ou a dizer coisas parvas, como por exemplo: acho que o professor x não devia usar a caneta encarnada porque é traumatizante; acho que o professor x não devia abrir a janela porque o meu filho queixa-se do frio (traga um casaco); dia 23 de Dezembro, ao fim da tarde: "queria que fosse justificar a falta da minha filha. Passou uma semana e ainda não está justificada" (esta aconteceu-me a mim há uns 6 anos); queria que o professor x repetisse o teste porque os alunos não estudaram e tiveram más notas (tivessem estudado); queria que a professora vigiasse a minha filha e me dissesse se ela anda com rapazes (não sou polícia) acho que os professores deviam ser obrigados a repor as aulas quando faltam (se a senhora pagar o salário que foi descontado, mais o subsídio de refeição, mais o dia de férias -quando é o caso); acho que o professor x já devia ter entregue os testes porque foram feitos há uma semana (os alunos fazem 6 testes mas os professores classificam 100, 150, 200 ou mais, no meio de ter de fazer relatórios, reuniões, actas, formações, preparação de fichas, etc. - e às vezes apetece acrescentar, 'e gastar horas a responder a perguntas, exigências e queixas parvas'). Às vezes aparecem papéis médicos nestes termos: queria pedir aos professores que justificassem as faltas e não fizessem avaliações a este rapaz até ele se sentir melhor (que pode ser dali a dois anos ou três). 

Há um par de anos esteve lá na escola um professor novo, no seu segundo ano de ensino e com uma Direcção de Turma pela 1ª vez. A turma tinha 4 ou 5 alunos sempre com problemas disciplinares. Pais complicados. Tinha uma mãe que lhe fazia bullying. Todas as semanas escrevia um email quilométrico a dizer que o filho era um génio (com relatos da sua vida desde a mais tenra infância), que os professores não compreendiam que o seu mau comportamento se devia a ser excepcional (era completamente normal excepto no comportamento), queria ir assistir às aulas para explicar aos professores como deviam ensinar... era psicóloga e pensava que isso lhe dava conhecimentos e experiência, mágicos, sobre educação escolar e gestão de comportamento em sala de aula. Isto durou um ano inteirinho. Esse colega disse-me muitas vezes que nunca mais queria ser DT, que os pais não tinham nenhuma noção dos filhos quando em grupo. Andava sempre stressado e tenso por causa do comportamento dessa turma e, muito particularmente, dessa mãe. Hoje-em-dia ninguém quer ser DT.

Isto é assim porque as tutelas, apoiadas por gente das faculdades de formação de professores, são um conjunto de pessoas ignorantes e que pensam por modas e slogans. Atingiu-se um nível que ultrapassa o absurdo e as escolas não têm defesas legais nem apoio da tutela para se proteger destas pressões e às vezes, bullying. Os professores estão completamente exaustos.

Como a regra de todos os responsáveis da educação, desde a Lurdes Rodrigues é: os pais têm razão em tudo e os professores não prestam e agora, com os meios digitais, os pais têm acesso aos professores 24 horas por dia, estas situações de indisciplina e violência, que são uma minoria, são um enorme desgaste. 

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Richard Adams, 
Editor de educação

Especialistas em educação concordam com a directora do Ofsted quando esta afirma que muitos pais ignoram regras que antes eram tidas como garantidas

Ao apresentar o seu último relatório anual como inspetora-chefe das escolas em Inglaterra, Amanda Spielman afirmou: "O contrato social entre pais e escolas foi fracturado por confinamentos e encerramentos". E avisou: "Esse contrato social levou anos para ser construído e consolidado e levará tempo para ser restaurado."

Tom Bennett, conselheiro do Ministério da Educação para a política comportamental, disse que os confinamentos da era pandémica "quebraram o feitiço" das crianças e dos pais que construíram as suas vidas e hábitos em torno da ida à escola.

A crença inquestionável de que a escola deve ser frequentada explodiu. É previsível e expetável ver que, para algumas famílias, esses hábitos têm sido difíceis de reconstruir. E, inevitavelmente, são as famílias que já têm dificuldades, que lutaram mais para os construir", disse Bennett.

Mas alguns directores de escola pintaram um quadro ainda mais negro de pais hostis que deixaram de responder aos pedidos da escola, com alguns a utilizarem fóruns privados nas redes sociais para criticar professores e directores de escola sobre decisões de comportamento ou políticas de assiduidade.

Um diretor de escola disse que ficou chocado ao ver os líderes orquestrarem campanhas contra as tentativas de reforçar as políticas de comportamento e apoiar os alunos que se recusam a obedecer a instruções ou a utilizar as redes sociais durante as aulas.

Geoff Barton, secretário-geral da Association of School and College Leaders e antigo diretor de uma escola secundária, afirmou que os comentários de Spielman estavam de acordo com o que tinha ouvido de muitos directores de escolas.

"Os pais estão cada vez mais dispostos a desafiar as regras da escola. Isto aplica-se a uma minoria de pais e alunos, mas é um problema significativo, que absorve tempo e energia e coloca os dirigentes escolares e o pessoal sob enorme pressão e stress adicionais.

"Apelamos aos pais para que compreendam que as regras da escola existem para o bem de toda a comunidade escolar e para apoiar as suas escolas", afirmou Barton.

Uma escola em Kent registou uma deterioração tal que os professores do Sindicato Nacional da Educação entraram em greve esta semana na academia Oasis, na Ilha de Sheppey.

Nick Childs, um diretor regional sénior do NEU, afirmou: "O comportamento na escola é atualmente completamente inaceitável. As aulas são regularmente perturbadas e a segurança e o bem-estar do pessoal são postos em risco. Deve ser introduzida uma abordagem de tolerância zero, incluindo uma tarifa de exclusão fixa para agressões e ameaças de violência contra o pessoal e os alunos".


Bennett afirmou que as greves de professores por causa do comportamento significam que "algo está muito errado e que devemos ouvir com atenção". A melhoria do comportamento não foi ajudada pelo facto de as autoridades locais pressionarem as escolas para evitarem o recurso a sanções como a exclusão, afirmou.

Spielman disse que as taxas de absentismo persistentemente elevadas desde a Covid-19 também estão a ser impulsionadas por mudanças nas atitudes da classe média, afirmando que ficou impressionada com os relatos de que "já não existe qualquer estigma em torno das férias escolares".

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"Os trabalhistas darão prioridade à reconstrução da relação destruída entre as famílias, as escolas e o governo, a fim de promover os padrões elevados e crescentes de educação que os nossos filhos merecem", afirmou Phillipson.

The Guardian

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