É a opinião de uma directora de um agrupamento.
Estou de acordo com uma parte da sua análise e outra não.
De acordo:
- imensos pais não se comprometem com a educação escolar dos filhos, muitos porque também no seu tempo, não valorizavam a educação de maneira que os filhos estão na escola sem horizontes, apenas porque é obrigatório; vão lá depositá-los e esperar que a escola os 'solucione'.
- os alunos em geral não têm objectivos porque o fim da linha -desemprego, salários muito baixos que não permitem uma vida autónoma- não incentiva o comprometimento numa caminho e o esforço, mas sim o shortcut, para obtenção de prémio imediato.
- os pais criam grupos no WhatsApp e, sem saberem o contexto das aulas e do que lá se passa, amplificam as percepções subjectivas e infantis/adolescentes dos filhos ao ponto de tratarem os professores de uma maneira completamente anti-pedagógica, em frente dos filhos, e contrárias aos próprios interesses dos filhos.
Em desacordo:
- Competências e conhecimentos. As competências, ao nível do 12º ano, serem a assiduidade e a pontualidade, que foram os exemplos que esta professora deu, parecem-me completamente desadequadas ao nível de ensino. Essas são competências ao nível do início do percurso escolar (escola primária) e não do fim. As competências ao nível do secundário têm que ver com, saber fazer uma pesquisa, saber seguir um protocolo científico, saber tomar anotações das aulas (competências de metodologia), saber fazer e conseguir seguir um plano de estudo, saber problematizar um tópico, saber convocar os conhecimentos para situações de pico, como os exames, saber lidar com a pressão das avaliações, saber apresentar um trabalho em frente ao grupo-turma, etc. Estas competências não estão desligadas dos conhecimentos, pois que se desenvolvem com e sobre os conhecimentos.
- Mudar de área e não saber o que querem. Esta professora defende que os alunos mudam de curso porque não sabem o que querem. Parece-me que eles sabem o que querem mas não sabem como lá chegar. Os alunos querem ganhar dinheiro, ter uma actividade que lhes permita ganhar dinheiro. É o que a esmagadora maioria dos meus alunos dizem, de há uns bons anos para cá. Acontece que não sabem como lá chegar. Têm certos cursos idealizados para esse fim (medicina, economia e certas áreas da engenharia) mas não têm as tais competências necessárias para poderem lá chegar de maneira que não conseguem as classificações que precisam e mudam de curso para as conseguir.
- Há mais crianças com necessidades especiais. Não sei se há mais. Detectam-se melhor esses problemas, o que é bom, mas depois não há um acompanhamento especializado. A maioria é acompanhada por curiosos que por vezes começam a acreditar ser especialistas e até quase proprietários desses alunos. As coisas não estão bem nesse campo porque o ME, como sempre, faz as leis mas não quer gastar um cêntimo com a sua implementação. Por outro lado, há muitos casos em que esses problemas de dificuldades são apenas problemas do não desenvolvimento de competências nas idades adequadas: no básico, não aprenderam a estudar, a ser ser assíduos, pontuais, a saber estar na sala de aula, a ter um atitude de investimento na aprendizagem, no seu próprio sucesso, etc. Claro que a certa altura têm muitos problemas de aprendizagem...
Telemóveis: foi dito tudo e o seu contrário: os telemóveis são úteis nas aulas, se controlarmos o seu uso mas... não conseguimos controlar o seu uso... então como podem ser úteis...? Nas aulas é bom que usem, mas no intervalos, que são os tempos livres deles, aí não devem poder usar... A questão não é fácil, mas estas posições são uma contradição que não ajudam às soluções.
Po
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