August 07, 2024

Países islâmicos, esses paraísos míticos onde se matam raparigas adolescentes por não terem um pano na cabeça


O novo ME opta por seguir as pisadas do antigo

 


Em vez de valorizar a carreira dos professores, opta por diminui-la ainda mais (pôr os alunos a ter várias disciplinas com o mesmo professor - adeus ensino de rigor; dar até 10 horas extraordinárias em cima de horários já completos - toma lá trabalhar 50 horas por semana; atribuir mais horas lectivas a professores que têm redução de componente lectiva, etc.) e depois faz recomendações para que se faça o que há muito se faze, como fazer horários que facilitem a vida familiar das pessoas, sobretudo se moram longe, como se fossem ideias extraordinárias suas. 

O que os professores precisam é de ter uma carreira que lhes permita ficar perto de casa ou, não podendo ficar, que tenham compensação adequada para poderem alugar uma casa e trabalhar como deve ser, porque entrarem segunda-feira ao meio dia em vez de às 8.30h não resolve nenhum problema. E as situações dos horários são tão complexas que essas medidas podem valem zero. Por exemplo, no ano em que fiquei doente, ninguém me substituiu porque tinha um horário de entrar na segunda às 8,30h e sair na sexta às 17h - o que fazia sentido porque moro perto da escola. Até ficar doente e ninguém querer o meu horário por causa disso. Ora se agora vão dar a professores já com uma certa idade (que somos quase todos) e, por isso mesmo, com doenças próprias da idade, 10 horas extraordinárias, ou mesmo 4, é vê-los a ficar doentes. 

O ME e pelos visto mais ninguém tem ideia do esforço físico, psicológico e mental que representa cada aula, porque já deram umas aulas numa universidade qualquer, que não nada que ver com leccionar turmas do básico e secundário, mas pensam que é o mesmo trabalho. 

Quanto a pagar subornos para que professores reformados fiquem nas escolas, isso só vai acontecer com certo tipo de professores, e não vai resolver nada: já tentaram isso com os médicos numa altura em que podiam ter valorizado a carreira e as condições de trabalho dos médicos e também optaram por não o fazer. Se bem me lembro havia guerras dentro dos hospitais porque os que lá estavam tinham horas extra até aos olhos e os ex-reformados que na maioria quando sairam eram chefes que já só faziam o que queriam há muito tempo, voltaram para fazer uma horas e ganhar o dobro de quem lá estava. Foi uma guerra e o resultado está à vista: o SNS está moribundo. Pois é exactamente isso que este ministro quer fazer na educação. O resultado vai ser igual, ou pior, porque vai projectar uma imagem da profissão que ninguém quererá, como já não querem.


Ministério divulga orientações para 2024/2025, onde se frisa que “a leccionação da componente curricular tem absoluta prioridade”. Público

Quanto acabarem com toda a actividade não lectiva das escolas, isto é, transformarem-na numa fábrica de aulas, é que a escola será boa, nomeadamente como local de compensar as desvantagens dos que menos têm...

O MECI indica também que nos grupos de recrutamento (disciplinas) mais carenciados, ou seja, com mais falta de professores, a distribuição de serviço “privilegia a componente lectiva da disciplina e evita a atribuição de cargos que impliquem redução de horas com turma” Público

Portanto, os cargos de DT, tão importantes no sucesso das turmas, agora não são escolhidos pela competência das pessoas: boa sorte com a questão da indisciplina, da coesão da turma, da pacificação das escolas, do sucesso das aprendizagens... e se os professores das disciplinas em que há menos professores não podem ter outras actividades a não ser dar aulas, quem vai ajudar os alunos com dificuldades nessas disciplinas que são a matemática, a física e a geografia? A funcionária do bar?

Por outro lado, os docentes a quem não foram atribuídas horas de aulas devem ser mobilizados para o “desenvolvimento de actividades lectivas para alunos sem aulas, mesmo que não sejam da área disciplinar do docente em falta.” Público

Interpreto isto como: vão lá e façam uma merdice qualquer mesmo que não percebam nada do assunto, é preciso é que pareça que não há falta de professores. Aqui está a resposta à minha pergunta mais acima: quem vai ajudar? Não interessa, até pode ser um funcionário do bar. É preciso é parecer.

O ministério aconselha as escolas a recorrer a profissionais não-docentes “(...)  que poderá passar, por exemplo, por contratar psicólogos para desenvolvimento da medida Apoio Tutorial”, que se destina a alunos com um historial de retenção. Público

O que é que psicólogos percebem de leccionação e da didáctica das várias disciplinas? Que tem uma coisa a ver com outra.

O guião que seguiu agora para as escolas contempla várias das medidas incluídas no chamado Plano+Aulas+Sucesso, que foi objecto de negociações com os sindicatos de professores no mês passado, mas que ainda não foi plasmado em decreto-lei. 
Público

E chama a isto um plano de sucesso.

É o caso do chamado “completamento” de horários através do preenchimento de horas lectivas em várias escolas de um mesmo agrupamento. O MECI aponta que é uma forma de “evitar horários incompletos, dado que, sendo menos apelativos, potenciam maiores dificuldades ao nível da aceitação” por parte dos candidatos. Público

Isto traduz-se por os professores leccionarem em duas ou três escolas ao mesmo tempo e andarem a correr de umas para as outras a fazer um mau trabalho, pois como é possível trabalhar assim?

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Ouvi dizer que vão contratar técnicos especialistas para ajudarem os professores a desburocratizar. Como se precisássemos de gente que não percebe um boi do que se passa nas escolas a ensinar-nos como se fazem as coisas. É óbvio que vão contribuir para burocratizar ainda mais os processos, mas calculo que há muitos primos a pedir tachos... Investe-se em tudo menos na carreia dos professores. 

Todos os governos se recusam a mudar o seu paradigma para a escola pública que é: 'poupar dinheiro com essa gente'. Não vejo nenhum caminho, nas medidas tomadas, que não leve directamente ao aprofundamento do descalabro em vez de fazer uma inversão de marcha. E não vejo uma única medida para reconstruir, a médio e longo prazo, uma escola pública de qualidade que dê oportunidades de educação e formação a todos, em vez de contribuir, como está agora, para um apartheid de pobres pelos ricos. Foi o que fez o anterior governo e o anterior ao anterior e o anterior ao anterior do anterior. E este vai fazer o mesmo. Não digo que estou desiludida porque nunca estive iludida. Desde que li o programa da educação do PSD disse logo o que aí vinha: uma cópia do anterior. Mas é verdade que desmoraliza.

Natação artística

 


Confesso que não sou fã. Sei que é um desporto difícil e muito exigente, fisicamente. Recentemente uma nadadora ia morrendo debaixo de água e foi salva pela treinadora já sem sentidos e, portanto, próximo de se afogar porque o corpo continua a respirar debaixo de água. Elas ficam mais de 20 segundos sem respirar, com a cabeça próximo do fundo da piscina e perdem imenso oxigénio ao mesmo tempo que fazem exercícios que pedem muito esforço e energia ao corpo. E isto tudo sincronizado. Percebo que seja muito difícil e é verdade que não sei os aspectos técnicos da modalidade, de modo que avalio as prestações comparando-as com as dos filmes de Esther Williams e poucas chegam lá. Geralmente o que se vê é muito esbracejar e espernear. Agora vi o exercícios das nadadoras dos EUA e pareceu-me mais próximo da Esther Williams. Logo, pareceu-me bastante bom.


Este calor, que torpor...

 


Não aguento este calor - que nem sequer é muito. A praia, nadar e o sol deixam-me numa moleza tão grande que se me interrompem este torpor fico embirrenta como as crianças. Trouxe 4 livros para ler mas ainda não li nada porque assim que pego num começo logo a fechar os olhos. 

Ontem à noite consegui ver um filme que tinha aqui para ver há tempos, Black Narcissus. Mesmerizante. Passado na Índia, este filme inglês é baseado no romance de 1939 de Rumer Godden e estreou em 1947, um par de meses antes da independência. 

O filme é estranho. Tem um ambiente gótico, carregado de tensão sexual e drama psicológico de suspense. Passa-se tanta coisa neste filme que uma pessoa fica agarrada ao ecrã.

A cinematografia do filme ajuda muito ao ambiente do filme, onde tudo são extremos e contradições. O filme gira em torno das crescentes tensões dentro de um pequeno convento de irmãs anglicanas, (ex-casa de mulheres de prazer), que tentam estabelecer uma escola e um hospital num remoto e antigo palácio de um Raja indiano no topo de uma montanha, na borda de um despenhadeiro sobre um vale fértil nos Himalaias - como se vê nesta imagem de uma cena icónica do filme.

Inacreditavelmente, apesar de se passar nos Himalaias e ser completamente convincente nesse aspecto, foi filmado quase inteiramente nos estúdios Pinewood, em Inglaterra, com apenas um dia de filmagens exteriores, captadas nos jardins subtropicais de Horsham, West Sussex. Como li algures, "uma maravilha do engenho cinematográfico". O cinema britânico no seu melhor porque a visão dos picos dos Himalaias e o constante vento a soprar, fora e dentro do convento constroem uma atmosfera ambivalente entre o etéreo espiritual e o agreste material. 

Dado que o convento está num palácio que antes se dedicava ao prazer, está cheio de murais eróticos a evocar o Kama-Sutra e algum mobiliário estofado a brocado de seda azul e ouro. As salas azuladas e decoradas deste modo fazem um contraste gritante com a rigidez das freiras nos seus hábitos brancos, frios, que tapam todo o corpo, exceptuando a cara. Todo o ambiente sensual do convento e o isolamento nos píncaros de montanhas ventosas perto do céu atinge e perturba as freiras. 

Os hábitos das freiras são perturbados de várias formas: o Sr. Dean (David Farrar), um inglês branco que vive entre os indianos e serve de guia às freiras, perturba as mulheres com a sua masculinidade. Aparece sempre com uns calções demasiado curtos e uma camisa muitas vezes demasiado aberta. Um cínico inveterado, é o vértice de um triângulo amoroso reprimido com a Irmã Clodagh, a madre-superiora do convento (Deborah Kerr) e a Irmã Ruth (Kathleen Byron). 

O filme lida com as motivações das freiras (ficamos a saber que estas duas mulheres entraram para a ordem depois de desilusões amorosas e para tentarem superá-las); com a vida monástica como uma fuga do mundo (difícil é ser santo imerso no mundo); com o contraste entre as duas civilizações: a fria e racional britânica, reprimida e a quente e terrestre indiana, desinibida; com os estereótipos culturais (o modo paternalista-racista como falam dos indianos e o modo de desprezo com que os indianos falam dos hábitos dos ingleses) mas, acima de tudo, lida com fantasmas interiores (as cortinas constantemente a esvoaçar ao vento simbolizam-nos), com desejos sexuais tornados deletérios pelo celibato forçado, sublimados numa vida de zelo, puritanismo e vaidade - a vaidade de se considerar mais perto dos céus que os outros que vivem no mundo.

Como se a realidade pudesse ser enformada -deformada- num ideal inventado. Poder, pode, mas dá sempre mau resultado.

O nome do filme vem do perfume do Rajá indiano que aparece no convento, carregado de sedas e pedras preciosas (a vaidade de Narcisus) e pede para que o ensinem nos conhecimentos ocidentais. As freiras falam do seu perfume carnal como próprio dos indianos, apesar de nos ser dito que foi comprado no depósito do exército inglês. Também este general Rajá tem um papel no filme, mas o filme é tão complexo e passa-se tanta coisa no filme que estaria o dia todo a escrever sobre todos os seus pormenores significantes.

Por exemplo, quando o Rajá pede para ser ensinado a madre-superiora diz-lhe que a ordem não ensina homens, só crianças e mulheres mas que não se ofenda porque não lidam com nenhum homem e o Rajá diz, com surpresa. "mas Jesus, que adoram, é um homem". O filme tem muitos diálogos muito bons. 

Kathleen Byron no papel de Irmã Ruth

As interpretações, sobretudo destas três personagens, Sr. Dean, Irmã Clodagh, a madre-superiora e a Irmã Ruth, são mesmo, mesmo boas. A Irmã Ruth, que tem ciúmes da Irmã Clodagh e exterioriza a sua frustração sexual (a outra interioriza), no fim do filme assume o seu desejo e sai da ordem. A maneira como aparece caracterizada e como actua -o olhar e a energia sexual e violenta que emana dela- é terrível, como nos filmes de horror, que no entanto, nos mesmerizam.

Muito bom, o filme. Apesar de ter quase um século, a sua beleza ainda cativa. Tem cenas datadas, claro, mas não sobressaem. Merece ser visto uma outra vez.

O filme está todo no YouTube mas se não têm um ecrã muito bom é uma pena vê-lo por aqui porque a fotografia, a subtileza das cores e dos cenários são das melhores características do filme.




Young Prince: Do you like it, Sister Ruth? It's called Black Narcissus. Comes from the Army-Navy Stores in London.
Sister Ruth: Black Narcissus. I don't like scent at all.
Young Prince: Oh, Sister, don't you think it's rather common to smell of ourselves?


August 05, 2024

Como funcionam as coisas

 


Zelenskyy's update

 


Quem disse que não é possível derrubar ditaduras?

 


A robótica evita mortes na guerra

 


🇺🇦 is buying us time, but it's not infinite

 


Bangladesh - Mais uma ditadura que cai

 


Finally…. f16s flying over Ukraine

 


As paralelas assimétricas da ginástica feminina têm perdido diversidade devido às mudanças na pontuação

 


Os juízes agora valorizam a amplitude de movimento e a ligação de elementos. Certos elementos são muito difíceis e espectaculares mas dada a sua natureza, não permitem, nem grande amplitude de movimentos, nem ligação a outros e por isso, não valem o risco e deixaram de ser feitos. É uma pena porque tornaram este aparelho menos diverso e menos interessante. Nos anos oitenta e noventa era mais excitante e espectacular que nos dias de hoje, passados mais de vinte anos.

O aparelho da trave continua excitante de ver pela sua dificuldade e espectacularidade. Nunca se sabe o que vai acontecer. Hoje aconteceu duas italianas no pódio, uma com o ouro e Biles e Andrade fora do pódio - Biles caiu e Andrade fez um exercício de medo desinteressante.

O exercício da barra fixa da ginástica masculina é espectacular

 


Quando os ginastas fazem coisas difíceis. Infelizmente quando caem a queda também é espectacular porque a barra está muito alta. Está a dar a final. Até agora quase todos caíram e algumas quedas foram feias. 

Entretanto já acabou e no fim, foram ao pódio atletas que caíram da barra, o que mostra um nível pouco brilhante da ginástica masculina neste aparelho. O colombiano que fez o exercício mais difícil e espectacular ficou em 2º lugar.

A música do hino japonês é operática-cinematográfica.


Opiniões: Mudar o cálculo de Putin a curto e médio prazo é importante mas o Ocidente tem de reorientar totalmente o seu pensamento

 


Na maior troca de prisioneiros desde a Guerra Fria, a Rússia e os Estados Unidos concordaram em libertar 24 indivíduos atualmente detidos. A troca de espiões é tão antiga como a espionagem, mas não foi isso que aconteceu na quinta-feira. Embora alguns espiões ocidentais tenham sido libertados, a maioria dos libertados não era nada disso. 
Entre eles, destaca-se Evan Gershkovich, um conceituado repórter do Wall Street Journal, falsamente acusado de espionagem sob o mais frágil dos pretextos. A lista de dissidentes americanos, alemães e russos, de repórteres e de particulares perdidos naquilo a que a Rússia chama risivelmente o seu sistema judicial, e que foi divulgada hoje, constitui uma leitura extraordinária e revoltante. No momento em que escrevo, estão finalmente de volta às suas famílias. 

Então, porque é que não vou festejar? Sinto-me aliviado pelo facto de homens e mulheres corajosos respirarem de novo ar livre, mas e os próximos reféns feitos pelo Kremlin? E o que dizer do outro lado da balança - os homens que agora regressam a Moscovo como heróis?

Putin tem sido incentivado a continuar a prender pessoas inocentes.

Veja-se a lista de russos que acabámos de soltar no mundo. Inclui Vadim Krasikov, o assassino do Kremlin que assassinou um dissidente georgiano a sangue frio em solo alemão, Vadim Konoshchenok, que dirigia uma operação global de lavagem de dinheiro para o governo russo, Vladislav Klyushin, que ganhou 93 milhões de dólares na bolsa de valores com informações obtidas através de pirataria informática nos sistemas informáticos dos EUA para adquirir segredos empresariais, e Roman Seleznev, que dirigia uma rede de ciberfraude de 50 milhões de dólares.

Os Estados Unidos estão a trocar assassinos, piratas informáticos e burlões que actuam para minar existencialmente a aliança ocidental por uma série de jornalistas, políticos da oposição e turistas injustamente detidos, muitos dos quais foram encarcerados precisamente para serem utilizados neste tipo de troca de prisioneiros. 

Uma coisa é trocar semelhante por semelhante, espião genuíno por espião genuíno, mas uma série de linhas morais e estratégicas foram fatalmente ultrapassadas nesta troca desigual.

Em primeiro lugar, Putin foi incentivado a continuar a prender pessoas inocentes, na crença justificada de que o Ocidente entregará em troca activos russos reais. Em segundo lugar, os motivos para esta troca não foram humanitários, mas cinicamente políticos. 

A candidata democrata à presidência, Kamala Harris, estava lá para cumprimentar os americanos libertados na pista de aterragem, apenas duas semanas após o início da sua campanha eleitoral - uma foto-op perfeita. Por último, a troca não só de espiões presos, mas também de piratas informáticos e de um assassino, envia uma mensagem ainda mais mortífera. Uma coisa é libertar aqueles que foram enviados para recolher informações, outra coisa é libertar indivíduos culpados de sabotagem económica e de homicídio sancionado pelo Estado. Os agentes e assassinos de Putin poderão atuar sabendo que, mesmo que sejam apanhados, não enfrentarão prisão perpétua, e o regime sentir-se-á encorajado a cometer mais actos de sabotagem e assassínio em solo ocidental.

Só na Grã-Bretanha, a Rússia atacou duas vezes, primeiro matando horrivelmente Alexander Litvinenko em 2006 através de envenenamento por radiação, um método destinado a infligir o máximo de terror a potenciais desertores russos. A segunda tentativa, em 2018, também contra desertores, viu Sergei e Yulia Skripal serem alvo de um agente nervoso mortal. Os Skripals sobreviveram, mas um transeunte que foi acidentalmente exposto não sobreviveu. Desde então, a Rússia não demonstrou qualquer sinal de remorso ou hesitação, e o homem procurado pelas autoridades britânicas pelo assassínio de Litvinenko, Andrey Lugovoy, tem tido uma carreira política proeminente na Rússia, onde gosta de fazer ameaças grosseiras aos dissidentes que fogem para a Grã-Bretanha da segurança da Duma russa.

Estes envenenamentos, utilizando substâncias incrivelmente perigosas, puseram em perigo cidadãos britânicos não envolvidos, bem como desertores russos, e constituíram actos de terrorismo tão seguros como uma bomba numa estação de comboios. Em ambos os casos, a reação britânica e ocidental situou-se bem dentro dos limites que a Rússia poderia razoavelmente ter previsto e estava totalmente preparada para suportar, envolvendo expulsões diplomáticas e sanções menores. Esta recente troca de prisioneiros insere-se neste padrão de sub-retaliação perigosamente previsível e flexível a actos flagrantes de agressão e põe diretamente em perigo os cidadãos britânicos.

Numa altura em que estamos a confrontar Putin na Ucrânia, esta decisão terá consequências terríveis não só para nós, no Ocidente, mas também para aqueles que estamos a apoiar em Kiev. As nossas melhores hipóteses de dissuadir Putin de uma nova escalada e de o forçar a um acordo de paz vantajoso passam por mostrar força, crueldade e determinação. 

Se Putin acreditar que os líderes ocidentais estão dispostos a fazer sacrifícios e a infligir danos, e a continuar a fazê-lo a longo prazo, terá todos os motivos para travar a sua agressão. Mas se acreditar, como foi comunicado na passada quinta-feira, que será recompensado por actos ilegais e agressivos e que os dirigentes ocidentais capitularão perante a tomada de reféns, o assassínio e o terror, terá todas as razões para redobrar os seus esforços contra nós.

Então, o que é que devemos fazer em vez disso? 

Em primeiro lugar, a taxa de troca de um agente russo por um inocente injustamente condenado, se ocorrer, deve ser extremamente elevada - pensemos em 100 para 1, em vez de 2 para 1. Se o Governo russo quer os seus espiões de volta, tem de estar preparado para começar a esvaziar as suas prisões, e não apenas para trocar alguns reféns de cada vez. 

Quando se trata dos casos mais flagrantes, como a detenção de um proeminente jornalista americano sem base em provas, a resposta não deve ser qualquer tipo de troca, em primeira instância, mas sim uma retaliação imediata. Em vez de oferecer a Putin uma recompensa, ele deveria, em cada caso, receber um castigo. 

De cada vez que um cidadão da NATO é detido injustamente, deve ser aplicada uma nova sanção ou enviado um novo carregamento de armas para Kiev. Só depois disso é que se deve considerar uma troca, e apenas nos termos mais desproporcionados.

No caso de assassinos como Vadim Krasikov, nunca se deverá permitir qualquer troca, seja a que título for. Permitir que a Rússia mate no Ocidente deve ser a mais fundamental das linhas vermelhas. 
A dissuasão neste domínio deve ser máxima e absoluta. As reacções punitivas devem ser automáticas. Esses indivíduos nunca devem regressar à Rússia e devem ser condenados a penas de prisão perpétua. 

Os serviços de informações e de segurança devem envidar todos os esforços para os capturar pela força, e a mensagem deve ser extraordinariamente clara: os agentes estrangeiros que derramam sangue nos países da NATO nunca mais poderão ficar tranquilos e, quando apanhados, nunca mais serão libertados. 

É demasiado tarde, evidentemente, para inverter o último ato de cobardia face à tomada de reféns por Putin, mas não é demasiado tarde para restabelecer a dissuasão. O aparecimento de leis contra assassinos estrangeiros nos parlamentos de toda a Europa enviaria um sinal extremamente forte à Rússia. 

Da mesma forma, uma doutrina oficial da NATO sobre o assunto, juntamente com declarações públicas claras dos líderes britânicos, alemães, franceses e americanos sobre a resposta a qualquer futura tomada de reféns e troca de prisioneiros, também ajudaria a inverter a atual imagem de fraqueza do Ocidente.

Mudar o cálculo de Putin a curto e médio prazo é importante. Mas, para afastar rivais totalitários como a Rússia e a China a longo prazo, o Ocidente tem de reorientar totalmente o seu pensamento. A complacência e o curto prazo têm de dar lugar a um planeamento adequado, tanto económico como militar, e, a nível espiritual e psicológico, tem de ser recuperada uma determinação firme - uma vontade visível e manifesta de pagar o preço da vitória, na esperança de nunca precisar de o fazer. 

Inglaterra: políticas não democráticas, em nome da defesa da democracia

 


Era bom que Portugal aprendesse com os erros dos ingleses. Tal como eles, temos as prisões cheias e as vozes "dos que não são ouvidos" a criar problemas.


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Os motins não devem servir de pretexto para um ataque mais alargado às liberdades civis

No dia seguinte à vitória esmagadora dos trabalhistas, o veterano jornalista político Andrew Marr previu com otimismo que a Grã-Bretanha dos trabalhistas se destacaria como “um pequeno refúgio de paz e estabilidade” no meio do caos que estava a envolver as outras democracias ocidentais. Depois de anos de confusão conservadora e de lutas internas, a Grã-Bretanha tinha finalmente um governo forte e estável, capaz de se dedicar ao trabalho sério de planear a reforma, reduzir as listas de espera do Serviço Nacional de Saúde e liderar o investimento e o crescimento.

No entanto, a previsão de Marr parece agora uma piada irónica, uma vez que o primeiro mês de governação trabalhista foi ultrapassado por um fluxo constante de motins e desordens graves que exigem agora toda a atenção e tempo do primeiro-ministro.

Poucas horas depois de terem eclodido batalhas de rua em Whitechapel por causa dos acontecimentos no Bangladesh, o bairro de Harehills, em Leeds, ardeu em chamas quando a polícia, com poucos recursos, recuou perante os desordeiros locais.

Apenas uma semana mais tarde, uma multidão intimidatória reuniu-se em frente à esquadra de polícia de Rochdale, indignada com um vídeo da polícia a pontapear e a esmagar um homem local no aeroporto de Manchester. Este facto foi rapidamente ensombrado por uma série de esfaqueamentos de crianças em Southport, que se tornou um catalisador da desordem em todo o país, começando em Southport e, nos dias seguintes, espalhando-se por uma série de cidades inglesas.

Apesar dos níveis comparáveis de violência e desordem entre Harehills e Southport, apenas esta última abalou profundamente a classe política e levou a apelos a uma repressão extrema. A desordem em Harehills pode ser enfrentada com as medidas já conhecidas que se impõem na sequência de tais explosões. Alguns autores serão presos, parem serem transformados em exemplo, o que será acompanhado pelo reconhecimento de que a comunidade tem queixas legítimas e precisa de mais recursos do Estado.

Talvez surja um novo centro comunitário, para que, no futuro, os jovens locais licenciosos estejam demasiado ocupados com o seu jogo de pingue-pongue para saírem e atirarem tijolos à polícia. Embora seja um espetáculo desagradável, não há qualquer sentido em que o que aconteceu em Harehills represente uma ameaça mortal à estabilidade do Estado britânico.

Por outro lado, a desordem que se seguiu a Southport representa uma ameaça para o Estado que os trabalhistas terão dificuldade em apaziguar.

A cartilha da tragédia elaborada pelo Ministério do Interior, executada na perfeição durante ataques anteriores, como o de London Bridge, Manchester Arena e Nottingham, já não funciona.

Dizer às pessoas para não olharem para trás com raiva, para não deixarem que “eles” nos dividam, para seguirem os líderes comunitários (de quem nunca ninguém ouviu falar) e se unirem, para escolherem o amor em vez do ódio - é tudo demasiado fácil, demasiado cliché. Desviar o foco dos perpetradores para as vítimas, dos pontos focais do ódio para os do amor, começou a sair pela culatra.

No caso do ataque de Southport, a escassez inicial de informação sobre a identidade e a intenção do agressor deixou um vazio que foi preenchido por especulação e desinformação infundada.

A composição demográfica dos últimos episódios de desordem, que são quase exclusivamente de britânicos brancos, significa que colocam uma dificuldade particular que os motins predominantemente liderados por uma única minoria não colocam. 

(...)

O antigo jornalista que se tornou líder da claque trabalhista, Paul Mason, defendeu a ideia de transformar a Grã-Bretanha numa “democracia militante”, a fim de suprimir as forças fascistas que acredita estarem por detrás da onda de desordem. 

Paradoxalmente, afirma que a única maneira de proteger a democracia liberal é abolir alguns dos seus princípios fundadores. As liberdades de associação, de reunião, de circulação interna, de expressão e de protesto devem ser restringidas àqueles que o Estado considera uma ameaça. Mas estas medidas draconianas não se destinam a ser aplicadas apenas aos que incitam ou participam nos motins; Mason pede que o Ofcom, o regulador estatal da radiodifusão, intervenha e proíba os comentadores que “simpatizam com os desordeiros” ou que dizem que “os desordeiros têm razão”. Presumivelmente, quem for apanhado a repetir o aforismo de Martin Luther King Jr., segundo o qual “os motins são a voz dos que não são ouvidos”, deverá ser expulso do ar para sempre.

Existe, portanto, o risco de os motins serem explorados para dar cobertura a um projeto de supressão política, em que mesmo uma ligeira dissidência da ortodoxia do Estado, especialmente na questão da imigração, será brutalmente eliminada por ser divisiva e inflamatória. 

Grupos de activistas como Hope not Hate (Esperança e não Ódio) já estão a classificar afirmações como “o multiculturalismo não funciona” como uma “visão de extrema-direita”, apesar de as suas próprias sondagens mostrarem que é uma visão defendida pela maioria do público britânico.

A sugestão de que a desordem é sobretudo uma expressão de desaprovação em relação à migração em massa e às suas consequências de segunda ordem não pode ser aceite por si só, pois a aceitação de um tal enquadramento daria legitimidade à ideia de que as mudanças demográficas transformacionais das últimas décadas têm falhas intrínsecas. 

Em vez disso, é muito provável que se opte pela teoria da falsa consciência, mais digerível e menos consequente do ponto de vista político, segundo a qual as preocupações com a migração podem ser descartadas como o produto de uma manipulação política e mediática e não de uma avaliação orgânica ou racional. 

A solução natural é, por conseguinte, eliminar os fornecedores de manipulação, sem os quais se presume que não subsistiria qualquer descontentamento relativamente à migração em massa. Essencialmente, certas opiniões devem ser mantidas longe do público para o seu próprio bem. 

Para acabar com os tumultos e garantir que tais cenas nunca mais se repetem, será alegado que certas opiniões, bem como quem as defende, devem ser afastadas da sociedade, tudo em nome da democracia.

O risco dos motins para a lei e a ordem na Grã-Bretanha não deve ser subestimado e os trabalhistas enfrentam um enorme desafio para trazer a paz de volta às ruas da Grã-Bretanha. Mas explosões esporádicas de desordem violenta não são motivo suficiente para atacar as liberdades civis fundamentais do Reino Unido. Aqueles que são apanhados com comportamentos criminosos devem ser presos, por muito impopular que o encarceramento seja para o atual governo, e a capacidade prisional adicional necessária deve ser construída rapidamente. 

No entanto, quaisquer tentativas de suprimir a dissidência política, perseguindo os meios de comunicação social e as figuras políticas que exprimam reservas em relação à imigração em massa ou ao multiculturalismo, devem ser vistas como aquilo que são: uma tentativa cínica e antidemocrática de utilizar uma crise como cobertura para suprimir a oposição e punir os inimigos políticos do Partido Trabalhista. Qualquer iniciativa deste tipo deve ser objeto de uma oposição rigorosa. 

Afinal de contas, estamos na Grã-Bretanha e não na Rússia de Putin.

Luca Watson in https://thecritic.co.uk/will-starmer-suppress-dissent/

O sectarismo, as repressões e as tensões étnicas estão a tornar-se o novo normal no Reino Unido ou como não resolver os problemas



 O argumento deste autor é o seguinte: o RU teve e continua a ter uma política de portas abertas à imigração, sem nenhuma tentativa de filtrar e depois integrar esses migrantes nas sociedade britânica. Como resultado, enquanto os britânicos funcionam em termos de famílias isoladas com laços às instituições públicas, os imigrantes funcionam no seio das comunidades étnico-culturais onde são postos e que medeiam a sua relação com as instituições públicas. Desse modo, temos a sociedade britânica com grupos étnicos completamente fechados nas suas comunidades étnicas -muçulmana, hindu, etc.- e desintegrados da sociedade em geral e das suas instituições.

Algumas dessas comunidades têm padrões culturais que chocam com os dos britânicos de maneira que a sociedade do RU é hoje constituída por uma grande grupo de britânicos atomizados em famílias e alguns grupos culturais que formam comunidades à parte (com os seus tribunais próprios) com quem não contactam. As minorias étnicas assumem, com estas políticas, que podem viver na sociedade britânica, com as regras das suas sociedades de origem.

Nas aturas de crises, uns e outros vêm para a rua protestar parta fazer pressão sobre os governos, para que privilegiem as suas reivindicações. Os governos reprimem os protestantes britânicos comuns mas não os das minorias, justamente por serem de minorias. 

Isto é a receita para o desastre: um crescer dos rancores e frustrações de lado a lado.

Era bom que os nosso governos tirassem daqui ilações para o nosso país que, por enquanto, está longe destes problemas, mas como as políticas têm sido copiadas dos outros países, é uma questão de tempo até lá chegarmos. Por exemplo, hoje em dia a comunidade dos imigrantes dos países africanos de LP está mais ou menos integrada na nossa sociedade. Já não vivem em guetos, excluídos da sociedade portuguesa como aconteceu nos anos 80. A comunidade brasileira também. Não estão perfeita e completamente integrados mas houve uma grande evolução nesse sentido. Já a comunidade de muçulmanos, estão completamente separados da nossa sociedade e o governo fala com essas pessoas por intermédio do seu líder espiritual - ora, esta política é exactamente aquela que o autor do artigo considera estar na origem dos problemas actuais no RU.

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Durante mais de vinte e cinco anos, a Irlanda do Norte manteve uma paz incómoda. Desde o Acordo de Sexta-Feira Santa de 1998, a província tem evitado, em grande medida, o tipo de violência política generalizada que caracterizou grande parte do final do século XX - mas esta situação não é, de modo algum, ideal. 

O sistema político de Stormont encontra-se num estado de disfunção quase constante, os bandos paramilitares de traficantes de droga continuam a ser muito numerosos em determinados bairros e os esforços de integração entre protestantes e católicos continuam a ser, de um modo geral, infrutíferos.

No entanto, no sábado, tanto os lealistas protestantes como os nacionalistas católicos estiveram lado a lado em Belfast, unidos numa marcha contra a migração em massa. O protesto culminou em confrontos com activistas pró-palestinianos e com a polícia no exterior da Câmara Municipal, enquanto as tricolores irlandesas eram hasteadas ao lado dos Union Jacks. 

Para algumas pessoas na Irlanda do Norte, as divisões históricas são claramente menos importantes do que os desafios actuais. Como diz o velho ditado, 'mais vale o diabo que se conhece do que o diabo que não se conhece.' 

Esta bizarra aliança não deveria surpreender. Aquilo a que estamos a assistir, tanto na Irlanda do Norte como em Inglaterra, é a uma reformulação das identidades tradicionais e das filiações políticas em resposta a um desafio novo e existencial. As velhas animosidades e alianças estão a começar a desfazer-se, à medida que a migração em massa muda o carácter das nossas sociedades e reformula as normas políticas.

Desvendar tudo isto pode ser um desafio. Em vez de pensar no nosso sistema político da perspetiva de um insider, carregado com toda a bagagem que isso confere, pode por vezes ser útil recuar e analisar o sistema político britânico moderno como se fosse o de um país estrangeiro. Ponha de lado o seu conhecimento das dinâmicas locais específicas destas ilhas e rapidamente se torna claro como chegámos a esta posição.

Ao longo das últimas décadas, abrimos as nossas portas a milhões de pessoas de países com normas culturais, éticas e políticas muito diferentes. Em vez de encorajar a assimilação ou reduzir radicalmente os níveis de imigração para este país, o establishment britânico seguiu uma política deliberada de multiculturalismo, através da qual o Estado medeia a sua relação com grupos minoritários através de instituições distintas.

Como resultado, desenvolvemos discretamente um sistema do tipo “millet”, através do qual o Governo gere as relações com as comunidades minoritárias. Muitos grupos minoritários raciais ou religiosos têm atualmente escolas separadas, tribunais separados e organizações de “ligação à comunidade” separadas nas forças policiais locais. 

O Governo habituou-se a lidar com organismos representativos nacionais, como o Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha ou o Conselho Hindu do Reino Unido, que presumem falar em nome destes grupos. O principal papel do Estado é manter a paz entre os diferentes grupos e permitir que as comunidades resolvam os seus conflitos internos.

A única ausência notável deste sistema é a maioria cultural do país, que se organiza em grande parte com base em indivíduos e famílias e não em “comunidades”. Espera-se que este grupo canalize o seu activismo político através de processos democráticos nacionais e que seja gerido por instituições judiciais, educativas e policiais que são amplamente seculares e pluralistas. Não há reconhecimento oficial de que este grupo tenha interesses distintos e partilhados.

Cada vez mais, esta abordagem ao estilo de Millet é visível também nas urnas. Nas últimas eleições, os eleitores muçulmanos abandonaram em massa os trabalhistas. Muitos deram o seu apoio a independentes pró-palestinianos que obtiveram assentos em Blackburn, Leicester, Birmingham e Dewsbury, e ficaram perto em meia dúzia de outros locais. Os eleitores hindus, entretanto, apoiaram os Tories, obtendo a única vitória do partido na noite, em Leicester South, e impulsionando Bob Blackman para uma confortável maioria em Harrow East. Entretanto, por enquanto, a maioria continua a votar com base no interesse individual, evitando a política comunitária.

E, no entanto, quando a democracia vacila, os grupos viram-se cada vez mais para o protesto desordenado - por vezes violento - a fim de defenderem os seus interesses. Para os manifestantes de todos os tipos, a perturbação é utilizada como uma técnica para induzir o Governo a agir, ou simplesmente para expressar insatisfação com o sistema. Esta é uma conclusão natural de uma cultura política e institucional que encoraja os grupos a desenvolverem interesses e preocupações distintos.

Estes protestos assumem algumas formas diferentes. Há protestos usados para exprimir um sentimento geral “antissistema”, como em Harehills há algumas semanas, e há protestos usados para litigar disputas internas, como o motim intra-bangladeshi que teve lugar em Whitechapel na mesma noite. Por vezes, dois grupos entram em conflito, como aconteceu entre muçulmanos e hindus em Leicester, há alguns anos.

No entanto, na maioria das vezes, os protestos das minorias são concebidos para agitar um tratamento especial ou para defender uma preocupação sectária específica. Desde outubro de 2023, temos assistido tanto a protestos como a tentativas de intimidação por parte de activistas pró-Palestina, em grande parte muçulmanos, que têm sido concebidos para influenciar a posição do Governo sobre o conflito em curso em Gaza. Nos últimos dias, assistimos à formação de grupos de vigilantes muçulmanos em locais como Blackburn e Stoke, com o objetivo explícito de combater os manifestantes anti-imigração em nome da comunidade muçulmana.

Seja qual for a causa destes protestos, o Estado considera que o seu papel principal é a manutenção da paz e a contenção; o objetivo primordial é evitar que as coisas se espalhem.

Ocasionalmente, elementos da maioria, geralmente membros descontentes da classe trabalhadora branca, atacam o sistema. As velhas dinâmicas políticas - Conservadores contra Trabalhistas, Unionistas contra Nacionalistas - caem no esquecimento. 

Nos últimos dias, assistimos a motins e protestos anti-imigração em Blackpool, Hull, Liverpool e noutros locais, em resposta ao assassinato de três jovens raparigas em Southport por um jovem de 17 anos de ascendência ruandesa.

Há, no entanto, uma diferença crucial entre os protestos das minorias e os da maioria. Quando a maioria protesta, o Estado sente-se com poderes para reprimir; reconhece que a reacção adversa à tomada de medidas neste caso será provavelmente menos grave do que a tomada de medidas contra grupos minoritários, dada a natureza individualizada da maioria. 

É claro que os governos devem ter como objetivo combater toda e qualquer desordem - especialmente quando há vidas em perigo - mas esta diferença de abordagem dá crédito à ideia de “policiamento a dois níveis” que se tornou tão prevalecente entre a direita política nos últimos anos.

É claro que o poder político em Westminster está, em grande medida, isolado destes surtos provincianos. A partir da relativa segurança das suas casas em Londres, defendem repressões cada vez mais duras para a maioria e concessões cada vez maiores para as minorias. Basta perguntar ao antigo deputado trabalhista Lord Walney, que apelou a uma repressão ao estilo da Covid na recente vaga de desordem.

Sectarismo, repressão, violência, tensão étnica - esta é uma heurística política pouco familiar para muitos na Grã-Bretanha, mas profundamente típica em grande parte do mundo. Perante este cenário, não nos deve surpreender que as normas consagradas pelo tempo estejam a cair no esquecimento.

Infelizmente, são muito poucos os políticos da linha da frente que querem reconhecer esta nova realidade, ou a mudança de estratégia que ela exige. Como país, estamos a percorrer um caminho muito escuro e perigoso, e não há fim à vista. 

Este novo governo trabalhista parece disposto a continuar a nossa experiência desastrosa com a migração em massa, e não mostra sinais de um plano para resolver o problema das nossas prisões sobrelotadas ou da nossa abordagem inadequada ao policiamento. As medidas de repressão fragmentadas e unilaterais não substituem uma manutenção clara e consistente da lei e da ordem; Starmer está a reagir de forma desigual a uma crise de curto prazo e a reagir de forma insuficiente a pressões de longo prazo.

No caso provável de Israel intensificar a sua campanha contra o Hezbollah no Líbano, as coisas só vão piorar. As manifestações de massas a que assistimos em todo o país em resposta à guerra em Gaza terão um novo ímpeto - neste novo contexto febril, os protestos podem rapidamente tornar-se violentos. No futuro, os acontecimentos no estrangeiro desempenharão um papel desproporcionado na nossa política, tanto nas ruas como nas urnas, uma vez que os recém-chegados continuam ligados à política dos seus países de origem.

Gostaria de poder terminar este artigo com uma nota feliz. Quando o inverno chegar e o tempo ficar mais frio, as coisas começarão, durante algum tempo, a ficar mais calmas. A atmosfera tensa deste verão quente e abafado vai diminuir e os nossos políticos vão esquecer tudo sobre a violência que dominou as ruas britânicas nas últimas semanas. 

No entanto, os ressentimentos continuarão a borbulhar à superfície, as tendências globais que conduzem a esta mudança continuarão a fazer-se sentir - e quando chegar o próximo ponto de inflamação, a caixa de pólvora da Grã-Bretanha moderna reacender-se-á. Se nada mudar, este será o nosso novo normal.

Sam Bidwell in https://thecritic.co.uk/lebanonisation-in-the-uk/

Inglaterra a ferro e fogo

 

Acabo de ouvir na BBC uma entrevista a um especialista em criminologia dizer que esta violência não passa de ignorância da extrema-direita.  Estas respostas simplistas para problemas extremamente complexos que os governos não resolvem, porque são é especialistas em demagogia, ajudam imenso...

A Inglaterra -tal como nós e outros países- tem um problema de desemprego jovem, de desinvestimento na educação e na saúde, os jovens não têm perspectivas de futuro, não têm dinheiro para habitação e têm uma comunicação social que explora os temas de maneira a inflamar ânimos, juntamente com redes sociais de vazio mental. Tudo isto em crescimento acelerado. Mas depois depois espantam-se que as pessoas que já de si têm tendência para a para a violência se organizem para a praticar.

Cá é igual, não temos professores, não temos médicos, não temos habitação, não temos empregos com salário decente para os jovens, não temos bebés a nascer, temos as grávidas abandonadas para ter os filhos no meio do mato... o que temos em abundância são bancos cartelizados para explorar o cidadão comum e fazer 400 milhões de euros de lucro por mês. 

As políticas dos governos e as acções dos governantes não são inconsequentes: se as políticas não resolvem os problemas dos cidadãos nem os dos imigrantes, depois têm explosões de violência de ambos os lados. Depois gritam que é ignorância. Não é ignorância, é frustração acumulada.

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Desordeiros tentam incendiar hotel para requerentes de asilo em Rotherham num contexto de violência de extrema-direita

O Ministro do Interior condena as cenas “absolutamente aterradoras” de garrafas e cadeiras atiradas para o exterior do Holiday Inn Express

Vários agentes ficaram feridos e um deles foi levado para o hospital com um ferimento na cabeça causado por um tijolo atirado por um membro da extrema-direita. Um agente experiente da polícia de South Yorkshire afirmou que este foi, de longe, o pior motim em que participou.

Uma mulher chorava enquanto era levada para um local seguro atrás da linha da polícia, com uma ferida a sangrar na nuca. Alguns pais trouxeram os seus filhos, que foram vistos a atirar pedras à polícia de choque.