Não aguento este calor - que nem sequer é muito. A praia, nadar e o sol deixam-me numa moleza tão grande que se me interrompem este torpor fico embirrenta como as crianças. Trouxe 4 livros para ler mas ainda não li nada porque assim que pego num começo logo a fechar os olhos.
Ontem à noite consegui ver um filme que tinha aqui para ver há tempos, Black Narcissus. Mesmerizante. Passado na Índia, este filme inglês é baseado no romance de 1939 de Rumer Godden e estreou em 1947, um par de meses antes da independência.
O filme é estranho. Tem um ambiente gótico, carregado de tensão sexual e drama psicológico de suspense. Passa-se tanta coisa neste filme que uma pessoa fica agarrada ao ecrã.
A cinematografia do filme ajuda muito ao ambiente do filme, onde tudo são extremos e contradições. O filme gira em torno das crescentes tensões dentro de um pequeno convento de irmãs anglicanas, (ex-casa de mulheres de prazer), que tentam estabelecer uma escola e um hospital num remoto e antigo palácio de um Raja indiano no topo de uma montanha, na borda de um despenhadeiro sobre um vale fértil nos Himalaias - como se vê nesta imagem de uma cena icónica do filme.
Inacreditavelmente, apesar de se passar nos Himalaias e ser completamente convincente nesse aspecto, foi filmado quase inteiramente nos estúdios Pinewood, em Inglaterra, com apenas um dia de filmagens exteriores, captadas nos jardins subtropicais de Horsham, West Sussex. Como li algures, "uma maravilha do engenho cinematográfico". O cinema britânico no seu melhor porque a visão dos picos dos Himalaias e o constante vento a soprar, fora e dentro do convento constroem uma atmosfera ambivalente entre o etéreo espiritual e o agreste material.
Dado que o convento está num palácio que antes se dedicava ao prazer, está cheio de murais eróticos a evocar o Kama-Sutra e algum mobiliário estofado a brocado de seda azul e ouro. As salas azuladas e decoradas deste modo fazem um contraste gritante com a rigidez das freiras nos seus hábitos brancos, frios, que tapam todo o corpo, exceptuando a cara. Todo o ambiente sensual do convento e o isolamento nos píncaros de montanhas ventosas perto do céu atinge e perturba as freiras.
Os hábitos das freiras são perturbados de várias formas: o Sr. Dean (David Farrar), um inglês branco que vive entre os indianos e serve de guia às freiras, perturba as mulheres com a sua masculinidade. Aparece sempre com uns calções demasiado curtos e uma camisa muitas vezes demasiado aberta. Um cínico inveterado, é o vértice de um triângulo amoroso reprimido com a Irmã Clodagh, a madre-superiora do convento (Deborah Kerr) e a Irmã Ruth (Kathleen Byron).
O filme lida com as motivações das freiras (ficamos a saber que estas duas mulheres entraram para a ordem depois de desilusões amorosas e para tentarem superá-las); com a vida monástica como uma fuga do mundo (difícil é ser santo imerso no mundo); com o contraste entre as duas civilizações: a fria e racional britânica, reprimida e a quente e terrestre indiana, desinibida; com os estereótipos culturais (o modo paternalista-racista como falam dos indianos e o modo de desprezo com que os indianos falam dos hábitos dos ingleses) mas, acima de tudo, lida com fantasmas interiores (as cortinas constantemente a esvoaçar ao vento simbolizam-nos), com desejos sexuais tornados deletérios pelo celibato forçado, sublimados numa vida de zelo, puritanismo e vaidade - a vaidade de se considerar mais perto dos céus que os outros que vivem no mundo.
Como se a realidade pudesse ser enformada -deformada- num ideal inventado. Poder, pode, mas dá sempre mau resultado.
O nome do filme vem do perfume do Rajá indiano que aparece no convento, carregado de sedas e pedras preciosas (a vaidade de Narcisus) e pede para que o ensinem nos conhecimentos ocidentais. As freiras falam do seu perfume carnal como próprio dos indianos, apesar de nos ser dito que foi comprado no depósito do exército inglês. Também este general Rajá tem um papel no filme, mas o filme é tão complexo e passa-se tanta coisa no filme que estaria o dia todo a escrever sobre todos os seus pormenores significantes.
Por exemplo, quando o Rajá pede para ser ensinado a madre-superiora diz-lhe que a ordem não ensina homens, só crianças e mulheres mas que não se ofenda porque não lidam com nenhum homem e o Rajá diz, com surpresa. "mas Jesus, que adoram, é um homem". O filme tem muitos diálogos muito bons.
Kathleen Byron no papel de Irmã Ruth
As interpretações, sobretudo destas três personagens, Sr. Dean, Irmã Clodagh, a madre-superiora e a Irmã Ruth, são mesmo, mesmo boas. A Irmã Ruth, que tem ciúmes da Irmã Clodagh e exterioriza a sua frustração sexual (a outra interioriza), no fim do filme assume o seu desejo e sai da ordem. A maneira como aparece caracterizada e como actua -o olhar e a energia sexual e violenta que emana dela- é terrível, como nos filmes de horror, que no entanto, nos mesmerizam.
Muito bom, o filme. Apesar de ter quase um século, a sua beleza ainda cativa. Tem cenas datadas, claro, mas não sobressaem. Merece ser visto uma outra vez.
O filme está todo no YouTube mas se não têm um ecrã muito bom é uma pena vê-lo por aqui porque a fotografia, a subtileza das cores e dos cenários são das melhores características do filme.
Young Prince: Do you like it, Sister Ruth? It's called Black Narcissus. Comes from the Army-Navy Stores in London. Sister Ruth: Black Narcissus. I don't like scent at all. Young Prince: Oh, Sister, don't you think it's rather common to smell of ourselves?
framboesa canby - saborosas, ideais para congelar e cozinhar
framboesa Clyde - roxas firmes, brilhantes e extragrandes
framboesa herança - vermelha e grande, de qualidade superior
framboesa âmbar - de qualidade superior, amadurece tarde
framboesa falcão - saborosas, amadurecem a meio da estação
framboesa golden summit - grandes, existem em toda a estação
framboesa Latham - média, vermelha, de Verão. Saborosa
framboesa loganberry - é um cruzamento entre a amora silvestre da costa do Pacífico e uma framboesa vermelha. Futos grandes de cor de vinho. Amadurece em julho.
framboesa prelúdio - início do Verão. Boa para compotas e sobremesas
framboesa dundee - sem brilho, de boa qualidade
framboesa dourada - Outono. Grandes e muito saborosas
framboesas realeza - boas para doces e geleias
framboesas sodus - grande e ácida
framboesas jewel - variedade cruzada entre Dundee e Bristol. Grande, brilhante, saborosa e doce
framboesas brandywine - É um híbrido entre a framboesa vermelha e a framboesa preta de textura macia. Grande, com sabor muito ácido. Boa para compotas, geleias e tortas.
Quando cozido em tortas e bolos, a cor roxa torna-se vermelho brilhante. É muito utilizada para fermentar vinhos e outras bebidas espirituosas.
Não sei se foi da doença oncológica e dos tratamentos ou se tem que ver com a idade, mas a minha sensibilidade à temperatura mudou bastante. É certo que nunca gostei do calor excessivo, sobretudo porque trabalho numa escola, esses locais com salas de aula cheias de gente e sem ar condicionado, mas agora, não só sofro com o calor como sonho com o frio. Gosto do frio, de sentir o frio o na cara e nas pernas, gosto das paisagens do frio e de tudo que tem que ver com o frio. E não falo daquele fresco do Outono que já acho encantador -quando temos Outono e não passamos directamente do Verão para o Inverno- mas mesmo do frio intenso. Dantes não gostava das roupas do frio: ter que andar com cachecóis e luvas e casacos. Pois agora até disso gosto. Filmes passados na neve, pinturas do Inverno gelado e agreste... do Verão mesmo, só me atrai a água do mar.
(dantes aguentava o calor. Estão aqui 37º, nem sequer é uma coisa extraordinária para o mês de Agosto que costuma ter temperaturas bem acima de 40º. Só que agora já não aguento o calor como aguentava. Em contrapartida, agora gosto muito do frio)
Ou, 1º dia da 2ª parte da Primavera, dia do Solstício de Verão, dia mais longo do ano no hemisfério norte. Li algures um dia que em tempos tínhamos cinco estações do ano: Primavera (início da Primavera ou 1º Verão), o Verão (Primavera propriamente dita), Estio (Verão), Outono e Inverno.
Isto vem da palavra Verão e Primavera terem a mesma origem, 'vernação', que significa nascimento (depois da hibernação do Inverno). O Verão sem Primavera, digamos assim, é o Estio, aqueles dias de calor abrasador como infernos de expiação.
A Midsummer Night de que fala Shakespeare na peça Midsummer Night's Dream, foi ontem à noite, véspera do Solstício de Verão:
Les Tres Riches Heures of the Duc de Berry - o calendário mais bonito e famoso do mundo. começou a ser construído em 1409 e só veio a ser concluído em 1485, mas isso fica para outro dia.
Trabalhos dos Meses de Verão
Julho: O Castelo de Poitiers.
Construído no final do século XII e reconstruído pelo Duc de Berry, este castelo está encerrado num triangulo de muralhas entre os rios, Clain e Boivre. Os elegantes torreões podem ser vistos de longe e a ponte levadiça de madeira dá-nos informações sobre a forma como os engenheiros lidaram com este instrumento de defesa.
As ceifeiras, armadas com foices, estão a colher o trigo no campo semeado onde se vêem papoulas selvagens, enquanto os pastores se dedicam à tosquia das ovelhas.
Em cima na abóbada celeste cujo lindíssimo tom de lápis lázuli se repete no pano do tosquiador, podemos ver os signos do Verão: o leão e o caranguejo.
Encerrada a época dos bróculos. Hoje, almoço de Primavera soalheira (meio aldrabado porque me esqueci de comprar manjericão) com tomate coração-de-boi, azeite virgem e um vinagre de vinho branco feito por mim mesma - um bocadinho de propósito, um bocadinho por acaso.
Vi-me livre dos Poirots e já posso ler. Verão. Dias longos. Dolce far niente... ir à praia, dormir a sesta na penumbra, jantar qualquer coisa leve, dar uns passos sob o céu estrelado, conversar, espreguiçar-se, ler um bocadinho. Descansar das obrigações do fazer e apenas praticar a arte de ser.