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December 23, 2023

100 anos de diferença

 


Dantes as crianças tinham de ser mini-adultos, agora os pais são crianças grandes...


Boston, 1930 - (do FB)




April 05, 2023

Vamos lá ser politicamente incorrecta




Abdul Bashir, o refugiado afegão que matou esta terça-feira duas mulheres no Centro Ismaili, vive em Portugal desde 2021. É viúvo e tem três filhos menores. Não estava sinalizado pelas autoridades.

Há dois anos, num vídeo publicado na conta do Youtube da organização SOS Refugiados Europa, Abdul Bashir confessou enfrentar "condições de vida difíceis", que o próprio deu a conhecer às Nações Unidas.

Apresentou-se como sendo um "refugiado na Grécia", onde vivia com os três filhos menores, depois de ter perdido a mulher num incêndio que decorreu no campo de refugiados.

Chegou a Portugal em 2021. Estava matriculado nas aulas de português do Centro Ismaili e recebia da comunidade ajuda alimentar para os três filhos menores.

Abdul Bashir aparentava ter uma vida tranquila e não estava sinalizado pelas autoridades. A Polícia Judiciária afasta qualquer ligação do crime a um ato de terrorismo. As autoridades confirma que o afegão tinha viagem marcada para Alemanha, juntamente com os filhos.

O suspeito, de 29 anos, está internado no Hospital de São José, sob custódia da polícia. Sabe-se que chegou a Portugal há cerca de um ano, é viúvo e tem três filhos menores.

SIC Notícias

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As culturas que seguem a religião islâmica fazem lembrar aqueles escritos infelizes de Aristóteles, segundo os quais a raiva é legitima nos homens (seres masculinos) devido a terem o poder e por isso esperarem, também legitimamente, ser em tudo obedecidos, pelos que não têm o poder e, por isso mesmo, lhes são inferiores, ou seja: as mulheres.

As culturas fortemente marcadas pelas religiões desde sempre legitimaram a prática da opressão e violência contra as mulheres e, nos dias de hoje, à frente de todas está a religião islâmica. Não é um segredo bem guardado que os países mais severos no seguimento das leis do profeta, têm comportamentos obscenos e bárbaros relativamente a todos os que lhes são inferiores em poder, em particular as mulheres. A liderar este pelotão infame, está o Afeganistão, onde as mulheres são tratadas como escravas, impedidas, sob pena de morte, de desobedecer a um homem que lhes dê uma ordem. Até mesmo outras culturas muito mais modernizadas, como o Irão, mandam envenenar, torturar e matar raparigas adolescentes por mostrarem os cabelos.

Por conseguinte, parece-me óbvio que seria da mais elementar prudência obrigar os imigrantes desses países a passar por um processo de des-radicalização, como fizeram às raparigas que foram para a Síria ter com os degoladores islâmicos. Por muito que esses refugiados do Afeganistão e de outros países de cultura similar sejam contra o que se passa nos seus países, foram educados nessa cultura e estão habituados à normalidade da violência, em especial contra as mulheres. É uma coisa banal que vêm todos os dias na rua, como legítima.
Estão presos nesse padrão cultural e não conseguem sair dele só porque mudaram de país. Para onde vão levam essa matriz dentro de si e em vez de se varrer isso para debaixo do tapete, é preciso lidar com isso.

Não vimos a violência com que aquele Alexandre Pais se refere às mulheres, como se fosse normal? Ele é um idoso de um tempo em que os homens até podiam matar uma mulher infiel que nada de grave lhes acontecia e foi educado nessa matriz cultural em que as mulheres eram vistas como enfeites para os homens usarem e os homens achavam normal dizer-lhes em qualquer sítio, até publicamente, como ele fez para humilhar, que eram gordas ou velhas ou feias ou o que fosse. Ou o contrário. Ainda há pouco tempo muitos homens se insurgiram indignados nos jornais por não poderem agora fazer comentários públicos (a que chamam piropos) às mulheres, de classificação do seu corpo... 
Se este Alexandre Pais fosse mais novo, talvez ainda se conseguisse mudar a sua arrumação mental, digamos assim, ou se fosse um indivíduo inteligente, mas ele é idoso e pelos vistos não tem inteligência suficiente para mudar o seu mapa mental, de maneira que vive a sua vida e afecta os outros com essa sua deficiência.

O mesmo acontece com estes refugiados do Afeganistão. De maneira que, sim, parece-me que devemos receber refugiados que fogem das barbaridades dos seus países, mas temos que pensar em como recebê-los de maneira a que se possam integrar na nossa sociedade sem porem em risco a vida dos outros, por terem hábitos de normalidade de violência contra as mulheres. Ter aulas de português só, não chega e dizer que o homem não estava sinalizado, não tem sentido nenhum, pois parece que só fazem prevenção quando têm informações que os homens andaram na jihad.
Se estamos alerta e tentamos prevenir a violência doméstica dos homens  portugueses, teremos de ter ainda mais cautela quando recebemos pessoas de países onde a violência doméstica é louvada oficialmente como um direito divino dos homens sobre as mulheres e os infiéis.

February 08, 2023

A importância das sociedades praticarem o cepticismo relativamente aos que estão em posições de poder

 

September 22, 2022

Como destruir uma sociedade

 


Certifique-se de que o trabalho é o mais mal remunerado e indigno possível, que todo o valor produzido seja desviado pelas finanças no topo da pirâmide, diminua ao máximo a hipótese de um futuro melhor, mais estável, mais saudável; massifique e proletarize ao máximo a educação de maneira a que ter ou não um diploma não altere em nada as suas possibilidades de futuro; afaste as pessoas dos centros urbanos onde a vida tem mais opções e oportunidades; se possível, tire às pessoas o máximo de energia possível através de longas horas diárias de trânsito para chegar ao trabalho; aumente as horas de trabalho e evite ao máximo que tenham tempo para a família ou para lazer criativo; faça passar a ideia de que os pobres são os culpados da sua própria pobreza; tente ao máximo que a valorização do trabalho em qualquer área dependa de redes de tráfico de influência; crie uma classe de privilegiados sem mérito e ponha-os a mandar nos outros. 

February 07, 2022

O grande paradoxo das sociedades




Penso que foi Proust quem disse que não podendo mudar as pessoas entretemo-nos a mudar as instituições. Ele refere-se à natureza das pessoas, nomeadamente no que respeita à sua relação com o poder, mas a verdade é que também é difícil mudar as instituições. É que para mudar as instituições é necessário que as pessoas mudem, pois as mesmas pessoas, com a mesma natureza de apetência de poder, não produzem instituições diferentes. Pelo contrário, trabalham para a manutenção do seu poder. Veja-se como o PS já rasgou a proposta de tornar a nossa democracia mais representativa através da mudança da lei eleitoral. Só porque pode. E esse é o paradoxo. O poder gera mais vontade de poder e não vontade de mudar as instituições no sentido de maior justiça.

Por conseguinte, o que vemos quando olhamos para trás é que as grandes mudanças das instituições que mudam as sociedades são, por norma, precedidas de grandes acontecimentos catastróficos -geralmente guerras- onde quem mais sofre são os inocentes sem poder. É após esses acontecimentos que as pessoas mudam: ganham consciência das consequências das injustiças, da ganância de poder, da pobreza, da acumulação obscena de riqueza de uns à custa de outros, etc. e, durante um tempo agregam esforços e mudam, de facto, as instituições (quando isso acontece, porque também existem os casos de grandes guerras e revoluções produzirem mudanças institucionais piores, mais injustas). Depois, com o tempo, esquecem e deixam as instituições entrar de novo, em decadência. Quase todos querem a paz mas poucos evitam as guerras. E parece que não saímos deste ciclo. A UE é uma grande aventura de tentativa de quebrar o ciclo, mas as forças de entropia são muito grandes: nacionalismos, populismos, intenções hegemónicas. 

Quando olhamos estas imagens do encontro, hoje, entre Putin e Macron, é como se estivéssemos a ver um documentário do Discovery Channel: Putin recebe-o numa enorme sala branca cheia de símbolos históricos russos, com as mãos nos bolsos, ar blasé e fá-lo sentar-se numa ponta de uma mesa enorme para criar teatralidade de distância e poder. Poder é o que ele já não tem. Vendo bem, ontem dizia que a Ucrânia devia declarar-se neutra como a Suíça, mas a verdade é que em 2014, quando Putin a invadiu, a Ucrânia era neutra há muitos anos. Completamente desinteressada da NATO. Putin é que tinha acabado de ser vexado pelo Ocidente e precisava de mostrar aos russos, para conservar o poder internamente, que ainda era o Grande Urso. E agora a razão é a mesma: dentro da Rússia cada vez o querem menos e ele precisa de mostrar que ainda é o Grande Urso para se manter no poder. Mas quem olha este teatro dele vê-o como ele agora é: patético. 

Como se mudam as instituições na Rússia? Houve uma altura, depois da queda aparatosa da URSS, que as pessoas se uniram para mudar as instituições, mas não houve tempo, porque um indivíduo como este chegou ao poder e trabalhou para a acumulação. Agora é difícil. Será precisa uma catástrofe ou uma pessoa extraordinária como Gorbatchov. Às vezes aparecem, mas é muito raro.






September 22, 2021

Porque é que o James Bond havia de ser uma mulher?

 


Se a personagem foi escrita como um homem, porque haveria de transformar-se em mulher? Vamos agora 'matar' as personagens masculinas e ressuscitá-las como mulheres e a seguir matamos as femininas e ressuscitamo-las como homens ou transgéneros? Esta mania de esconder e silenciar vozes em vez diversificar e enriquecer, acrescentando outras vozes não é um melhoramento social ou cultural.


Daniel Craig diz que James não deve ser uma mulher

"Porque deveria uma mulher interpretar James Bond quando deveria haver um papel tão bom como James Bond, para uma mulher?" perguntou o actor antes da sua última aparição no papel.

"Bond" é masculino. Ele é uma personagem masculina. Ele foi escrito como um homem e penso que provavelmente ficará um homem", explicou Broccoli. "E isso é óptimo. Não temos de transformar personagens masculinos em mulheres". Vamos apenas criar mais personagens femininas e fazer com que a história se ajuste a essas personagens femininas".


January 09, 2021

Preocupações

 



I am alarmed by the role facial recognition played in identifying this man [o que se sentou na cadeira, no Capitólio]. It wasn’t the FBI, it was private researchers using it. (Joan Donovan) 

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The Wall Street Journal

@WSJ


In the shadow of giants like SpaceX, more than a dozen startups are building their own globe-spanning networks of nanosatellites, enabling a new kind of everywhere, all-the-time connectivity for people, animals and assets on Earth.

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August 31, 2020

Acerca do 'enselvajamento' da sociedade



Em França, por estes dias, fala-se muito do enselvajamento da sociedade referindo-se ao aumento e endurecimento da violência nas cidades, particularmente em Paris, nas avenidas e quartiers de luxo como os Champs-Élysées. São sobretudo adolescentes que a polícia classifica de não-criminosos mas delinquentes, a maioria de baixa escolaridade e de meios socio-económicos desfavorecidos. Já no ano passado infiltravam-se nas manifestações dos Gilets Jaunes e aproveitavam para pilhar mas este ano, devido ao confinamento, pioraram: estão fora das escolas sem controlo, estão sem os empregos de Verão que costumam ter e lhes dão algum dinheiro, estão fora das colónias de férias que as municipalidades lhes costumam facultar, estão sem droga (pequenos traficantes) dada a escassez causada pelo confinamento e estão sem serviços sociais, dado o confinamento e a manutenção dos serviços em mínimos e sem contacto presencial.
Dito por outra palavras: a educação e as escolas servem, não para dar asas a estas populações, ferramentas que lhes permitam aceder a níveis de vida dignos e satisfatórios que diminuam o fosso das desigualdades, mas apenas para os manter ocupados fora das ruas e, à mínima perturbação desse equilíbrio tão precário, os adolescentes transformam-se em hordas de pilhantes - em França, fazem pequenos roubos: umas camisas para vestir, meia-dúzia de medicamentos, comida, algumas caixas de lojas. Sobretudo, vandalizam as grandes lojas de luxo das grandes avenidas.
É no que tem dado o desinvestimento na educação. Isto não é só em França. Em Inglaterra, estima-se que o nível de vida da população adolescente em idade escolar tenha caído mais de 40% e, como se lê aqui, headteachers talk of sidelining projects and making do with a fraction of what is required, os directores das escolas não têm dinheiro para fazer cumprir as regras de segurança sanitária.
Aqui em Portugal é a mesma coisa. O desinvestimento na educação tem sido de tal ordem (com a conivência activa de todos os partidos) que se vive sempre com a corda esticada no máximo e agora não há margem de manobra para regras de segurança mínima e mandam todos para a escola ao deus-dará, sem respeito pela saúde das pessoas. Nas escolas privadas todas as medidas de segurança são cumpridas. Mas a escola pública como sabemos, é o refugo da sociedade.
Hoje fui apresentar-me ao serviço e fiquei a saber que os alunos não vão ficar fechados nas salas de aula nos intervalos, o que já se previa pois é completamente impraticável. Dividiram-se ao meio e metade só lá está de manhã e a outra metade à tarde, mas como estamos a falar de 1500 alunos, são 750 em cada turno... misturados todos uns com os outros nos intervalos, no bar, nas casas de banho e nas salas de aula porque não há outra maneira, dadas as políticas que têm (des)orientado a escola pública.
Como a escola cada vez mais é um faz-de-conta para as estatísticas, cada vez menos cumpre o seu papel de elevador social o que induz revolta contra esta ordem injusta que aumenta o número de pobres ao mesmo tempo que aumenta a riqueza dos já ricos; dado este facto, talvez a revolução não venha num certo dia com grande estrondo, como se fazia noutros tempos, mas se dê ao longo de anos de pilhagens, de manifestações com violência, de um lento mas cada vez mais endurecido esboroamento dos pilares em que assentam as sociedades democráticas: o respeito pela ordem/lei, a justiça, a educação e a saúde.

July 12, 2020

O que a sociedade espera dos professores? Tudo. O que está disposta a contribuir? Nada



Sociedade: em Portugal mais de 2 milhões de miúdos vivem no limiar da fome.
Escolas: podemos ajudar... os miúdos podem tomar o pequeno-almoço e o almoço na escola.

Sociedade: os miúdos não têm acesso a médico de família ou dentista nem dinheiro para medicina privada.
Escolas: podemos ajudar... trazemos médicos ou enfermeiros à escola para exames aos olhos, aos dentes. Muitos professores usam contactos pessoais para marcar consultas médicas gratuitas a alunos, conseguir acompanhamento psicológico, etc. Muitos professores fazem colectas entre si e gastam dinheiro do seu salário para comprar óculos para alunos, por exemplo ou cadeiras de rodas.

Sociedade: 20% das famílias portugueses vive em dificuldades. 
Escolas: podemos ajudar... fazemos recolha de roupas, sapatos e damos para alunos carenciados. Muitos professores gastam dinheiro do seu salário para comprar bens de primeira necessidade para alunos, por exemplo.

Sociedade: muitos alunos são vítimas de maus tratos, abusos e negligência, em casa.
Escolas: podemos ajudar... fazemos das escolas sítios seguros e dos professores pessoas-refúgio. Teremos psicólogos mas não em número suficiente... professores sem treino em questões de trauma acompanham esses alunos e orientam-nos semanalmente. Os professores passarão mais tempo com esses miúdos que com os seus próprios filhos. Ficam afectados por não poderem fazer mais pelos miúdos ao seu cuidado.

Sociedade: muitos miúdos têm pais que trabalham longe e saem depois da hora de fecho das escolas.
Escolas: podemos ajudar... arranjamos programas e professores para ajudarem os alunos com os trabalhos de casa, mantemos as escolas abertas com funcionários que os acompanhem até os pais chegarem. Professores e funcionários chegarão a casa tarde para resolver esse problema das famílias.

Sociedade: muitas famílias não têm dinheiro para viajar, nem formação para levar os miúdos a uma exposição, sequer.
Escolas: podemos ajudar... organizamos visitas de estudo com professores que façam de guias pedagógicos. Se os alunos não têm dinheiro para pagar a visita muitos professores pagam-na do seu bolso.

Sociedade: uma percentagem grande de alunos não têm pais capazes de os ajudar nos trabalhos da escola.
Escolas: podemos ajudar... arranjaremos professores que ficam na escola depois das aulas para ajudar os alunos. Esses professores perderam as suas noites e fins de semana a trabalhar para preparar aulas, classificar testes e trabalhos, responder a emails, etc., sem tempo para as suas famílias.

Sociedade: muitos alunos não têm nenhuma actividade física.
Escolas: podemos ajudar... a educação física e o desporto são obrigatórios e os professores acompanham os alunos com problemas físicos desenhando programas especiais para eles.

Sociedade: todos os anos há milhares casos de bullying, violência nas escolas, por parte de alunos e pais.
Escolas: podemos ajudar... detectamos os alunos que fazem bullying, protegemos as vítimas, disciplinamos os ofensores, fornecemos-lhes acompanhamento pedagógico por professores sem treino para isso, se não houver psicólogos.

Sociedade: 20% das famílias vive no limiar da sustentabilidade - muitos negligenciam os filhos, não acompanham os seus estudos, nem se interessam pelos seus problemas escolares.
Escolas: podemos ajudar... contactamos os pais e mesmo sem assistentes sociais arranjamos maneira de falar com eles. Muitos só têm a escolaridade básica e falta de educação e ofendem os professores que são quem ajuda os filhos. Perseguem professores e usam-nos para descarregar as suas frustrações da vida. Alguns chegam a bater nos professores. Têm expectativas absurdas e novelescas para os filhos, baseadas nos discursos governamentais. Mas não se preocupem que mesmo assim continuamos a apostar nesses alunos e a acompanhá-los mais aos pais. Por vezes os pais vêm à escola falar com os professores sobre os seus problemas pessoais porque não têm ninguém com quem desabafar e que os ajude: mãe que vivem sozinhas com os filhos e um avô idoso doente e não têm dinheiro para pô-lo numa instituição, nem para pagar os tratamentos - vêm à escola só para desabafar e chorar com um adulto. Por vezes vivem com um marido alcoólico e abusador e têm medo pelos filhos vêm à escola só para desabafar e chorar com um adulto. Por vezes os pais têm 3 empregos para poderem sustentar os filhos e vêm à escola para desabafar e chorar com um adulto. Não se preocupem, pois os professores directores de turma ouvem todas essas pessoas e ajudam sempre que podem.

Sociedade: muitos jovens que acabam a escola não têm dinheiro para continuar os estudos. As bolsas de estudo são em número reduzidíssimo  e com tantos obstáculos para ninguém as conseguir que quase ninguém as consegue. 
Escolas: podemos ajudar... muitos alunos continuam a contactar os professores depois de sair da escola. Entraram para a universidade mas não têm dinheiro para o passe que são 120 euros por mês ou para livros. O professor ajuda-os. Eles prometem pagar de volta. Geralmente fazem-no. Ou não conseguiram entrar para a universidade nem arranjar trabalho. Deixam-nos mensagens às duas da manhã: só penso em suicidar-me, não tenho quem me ajude, lembrei-me de si. Entraram para a universidade mas não têm nenhum ajuda lá dentro. Nós ajudamos. Arranjamos livros, aconselhamos acerca do que fazer, de como lidar com este ou aquele professor, de como estudar.

Sociedade: estamos no meio de um pandemia difícil de controlar. Vamos fechar as escolas e os miúdos ficam sem aulas.
Escolas: podemos ajudar... prescindimos das férias da Páscoa, se for preciso gastamos dinheiro a comprar um PC melhor, com câmara, fazemos formações rápidas, instalamos aplicações, internet de banda larga, fazemos reuniões online, montamos um sistema de comunicação com alunos e pais online. Não se preocupem que quando o período começar, estaremos no nosso posto a trabalhar e a ajudar os alunos e os pais, se for preciso.

Sociedade: os números da pandemia voltaram a aumentar. Porque escolhemos, durante décadas, ignorar as desigualdades, a pobreza, a escola pública, a discriminação e a segurança no emprego que são a raíz de todos os problemas acima mencionados, agora precisamos que as escolas abram para os alunos terem refeições, ajuda de aconselhamento e psicologia, acesso a computadores, a livros, sapatos, etc. e tudo isto com acompanhamento e supervisão. Parece que o COVID afecta pouco as crianças e os jovens, logo, vamos a abrir!

Professores: podemos ajudar, claro... sentimos falta dos miúdos nas aulas. Mas e a respeito dos 50% de professores que têm mais de 50 anos? E os que são imunodeprimidos ou vivem com alguém que o é? E as grávidas? Vamos ter condições de segurança? Turmas pequenas de modo a que os alunos estejam a um metro e meio cada? Horários desencontrados para que a sala dos alunos e dos professores não esteja apinhada de gente sem possibilidade de distanciamento físico? Máscaras para todos e desinfectante? Funcionários para limpar e desinfectar os espaços? 

Sociedade: Uau! Que é isso? Deixem-se de queixas. Sempre estiveram dispostos a sacrificar o tempo de família, o salário, a vossa saúde mental... então agora que precisamos de vocês não estão dispostos a dar a vossa saúde e a vida, até, se for preciso, para que a sociedade possa continuar a ignorar as suas responsabilidades, atirar tudo para cima de vocês e ir dormir descansada? Ainda por cima uns 80% de vocês são mulheres e é o que nós, sociedade, esperamos que as mulheres façam: que cuidem e se sacrifiquem pelos outros.

Durante décadas as escolas e os professores foram o penso-rápido das falhas da sociedade, porque nos preocupamos com os miúdos. Sabemos que são eles quem geralmente mais sofre com as falhas da sociedade. As escolas e os professores não são responsáveis, nem capazes de reparar o Portugal pobre e endividado, com governos minados de corrupção e tráfico de influências que desvia o dinheiro de melhorar as escolas para projectos que comprometem o desenvolvimento da sociedade, a melhoria das condições de vida, a diminuição das desigualdades, o fim da pobreza.

Abrir as escolas em pânico tem menos que ver com a educação que com as outras falhas da sociedade que a escola supre, em alguma medida, nomeadamente ter alguém que supervisione os miúdos para os pais poderem voltar ao trabalho e participar na economia. 

Ninguém melhor que os professores sabe as dificuldades das famílias: acho que ficou claro, mais acima, que somos nós que ouvimos, acompanhamos e servimos muitas vezes de amortecedor dos seus problemas monetários, identitários, existenciais. Exceptuando as famílias, ninguém, a não ser os professores se preocupa verdadeiramente com os alunos, não em abstracto, como números num futuro económico mas como pessoas com uma existência real, agora, porque os conhecemos de perto, acompanhamos as suas vidas. 

No entanto, não somos carneiros enviados para o matadouro pela razão que a sociedade sabe que não se interessa o suficiente pelos filhos do país para atacar com seriedade e meios de investimento os problemas da desigualdade, da pobreza, da discriminação, da precariedade do emprego e as outras raízes dos problemas e espera que os professores, se sacrifiquem e morram no seu posto a pôr pensos-rápidos nas hemorragias sociais.

inspirado em Alison Holman


March 13, 2020

Esta crise epidémica é um grande teste à democracia



Vamos ver se passamos no exame de cidadania, como disse uma colega e vamos ver se quem mais morre, quem mais fica depauperado são os já mais sacrificados.

Sabermos que, se as coisas chegarem ao nível da Itália, também aqui não haverá equipamentos médicos para tratar toda a gente por se terem feitos cortes obscenos nos serviços públicos para engordar a banca e para que os governos possam ter 70 ministros e secretários de Estado e filhos e primos à toa e possam decorar as casas, carros e gabinetes como se fossem a corte do Louis XV, é revoltante.

No entanto, pior é esta crise ser pretexto para que este governo de pseudo-esquerda aproveitar para cortar ainda mais, facilitar os despedimentos e piorar as condições de vida de quem menos tem. Vamos ver se no fim disto a sociedade, em vez de estar mais solidária, está mais desigual.

Ainda hoje li que mais um boy do PS sem currículo e que nada percebe de fronteiras acaba de ser nomeado grande especialista do SEF. Estamos a ver uma tempestade a aproximar-se e os governantes, em vez de contratarem pessoas competentes e idóneas para lidar com a crise e o pós-crise, aproveitam a distracção para nomear o filho deste e o boy daquele.

Vamos ver como saímos disto. Vamos ver se os governantes e satélites se aproveitam da doença para tornar a sociedade ainda mais desigual do que está.