September 29, 2025

Templates humanos

 

Hoje de manhãzinha li um artigo que perguntava porque é que os professores das universidades americanas são tão cobardes. Quando se trata de discutir ideias e levantar hipóteses sobre problemas têm mil e uma ideias sobre os assuntos, mas quando se trata de responder a questões sobre temas wokistas e outros socialmente polémicos, assinam sempre de acordo com o seu grupo, mesmo que pensem de maneira diferente. O artigo refere-se sobretudo aos professores titulares que têm lugar cativo e, por isso, deviam ter mais liberdade para ir contra a corrente. O autor do artigo conclui que é por medo de serem despedidos ou ostracizados.

Penso que tem muito que ver com o que a Hanna Arendt dizia sobre as pessoas em geral não pensarem. Pensar é um incómodo e traz problemas com os grupos próximos -e não só- de maneira que dispensam-se de pensar, preferindo encontrar um template ao qual aderir e depois ser leal ao grupo. Uma vez adesivados, fecham os olhos a outras realidades ou a incoerências internas e vão-se tornando incompatíveis com outros templates - como nos sistemas de computação, IOS e Windows.

Relativamente a esses temas socialmente polémicos referidos, há dois templates principais, o da esquerda e o da direita. 

Associam ao da esquerda, defender as minorias, ser inclusivo e anti-fascista. Incluem no template, ser a favor dos homens biológicos, mulheres-trans, ser a favor do Hamas, ser contra Israel.  Não interessa que as minorias sejam fascistas ou extremamente violentas: são minorias, são uns coitados, oprimidos pelo fascismo. Logo, todos os que se associam a este template cumprem estes mandamentos religiosamente; associam ao da direita, ser anti-islamita, contra os direitos das minorias (gays, lésbicas, mulheres, todos os imigrantes, etc.), ser religioso, defender a verdade do poder em vez do poder da verdade. Logo, todos os que se associam a este template cumprem estes mandamentos religiosamente. Nenhuma dúvida os atravessa.

Deus nos livre de se ser a favor das minorias e contra o fascismo e violência dessas minorias; ser a favor dos direitos humanos dos trans e contra as suas exigências de privilégios que destroem os direitos de outros; ser a favor do povo israelita e defender uma solução de dois Estados, etc.

Um comentador, há bocado, estranhou eu dizer mal do comportamento do Chega na AR e tentou associar-me a esse partido por ele ser pró-Israel e eu também (embora eu não seja anti-palestinianos, sou anti-Hamas e anti-Estados Islâmicos teocráticos). Como se eu abandonasse a capacidade de pensar e ver a realidade -neste caso o comportamento desses deputados- ou me fosse tornar anti-semita, com medo de me associarem ao Chega ou a outro qualquer. 

Porém, a questão é mesmo essa: não conseguirem sair desses templates pré-formatados e depois usaram-nos para pressionar e amedrontar outros a submeterem-se. Daí os professores universitários assinarem o que julgam fazer parte do template do grupo para não serem assediados por ostracizadores profissionais, incapazes de pensar sem a canga do template.

Sabem que estão a ser incoerentes com os princípios que defendem mas escondem-no. Há muitos anos, mais de vinte, numa conversa com um indivíduo jornalista, uma pessoa muito conhecida, ele disse-me que os judeus estavam por detrás de todo o poder e eram a causa de todos os males. Como viu a minha cara de totalmente surpreendida, acrescentou, 'se alguma vez disser a alguém que disse isto, nego e digo que é mentira'. Nunca disse a ninguém, apesar de que outras pessoas também o ouviram. Nessa altura não associava pessoas de esquerda a anti-semitismo como agora é óbvio e já o assumem porque faz parte do seu template ser contra Israel e poderem manifestar o seu anti-semitismo em voz alta.

O mesmo comentador disse-me que não gosta de corridas de touros. Por um lado eu também não. Quero dizer, penso que não devia gostar. Entendo os argumentos de quem é contra. Tenho outros, mas percebo que tenho essa incoerência difícil de resolver. Vejo-a e não a nego. Não tenho receio de divergir de templates pré-concebidos nem os reconheço como fundamentos cartesianos a que não posso fugir.


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