October 05, 2025

Patricia Routledge (1929-2025) - da série, pessoas que inspiram

 


Setembro de 2024:

«Vou fazer 95 anos na próxima segunda-feira. Na minha juventude, muitas vezes ficava preocupada — preocupada por não ser boa o suficiente, por ninguém me contratar novamente, por não corresponder às expectativas da minha mãe mas agora os meus dias começam em paz e terminam em gratidão.

A minha vida só ganhou forma aos quarenta anos. Trabalhei constantemente — em palcos provinciais, em peças de rádio, em produções do West End — mas muitas vezes sentia-me à deriva, como se estivesse à procura de um lar dentro de mim que ainda não tinha encontrado.

Aos 50 anos, aceitei um papel na televisão que muitos mais tarde associariam a mim — Hyacinth Bucket, de Keeping Up Appearances. Pensei que seria um pequeno papel numa pequena série. Nunca imaginei que isso me levaria às salas de estar e aos corações das pessoas em todo o mundo. E, sinceramente, esse papel ensinou-me a aceitar as minhas próprias peculiaridades. Curou algo em mim.

Aos 60 anos, comecei a aprender italiano — não por causa do trabalho, mas para poder cantar ópera na sua língua nativa. Também aprendi a viver sozinha sem me sentir solitária. Todas as noites, lia poesia em voz alta, não para aperfeiçoar a minha dicção, mas para acalmar a minha alma.

Aos 70 anos, voltei ao palco shakespeariano — algo que antes acreditava ter ficado para trás devido à minha idade. Mas, desta vez, não tinha nada a provar. Fiquei parada naquele palco com serenidade, e o público sentiu isso. Eu não estava mais actuando. Estava simplesmente sendo.

Aos 80 anos, comecei a pintar aguarelas. Pintei flores do meu jardim, chapéus antigos da minha juventude e rostos que me lembravam do metro de Londres. Cada pintura era uma memória tranquila tornada visível.

Agora, aos 95 anos, escrevo cartas à mão. Estou a aprender a fazer pão de centeio. Ainda respiro profundamente todas as manhãs. Ainda adoro rir — embora já não tente fazer ninguém rir. Amo o silêncio mais do que nunca.

Estou a escrever isto para dizer algo simples:

Envelhecer não é o fim da vida. Pode ser o capítulo mais maravilhoso — se se permitir florescer novamente.

Deixe que os anos que virão sejam os seus ANOS PRECIOSOS.

Não precisa ser famoso. Não precisa ser perfeito. Só precisa de estar presente — plenamente — para a vida que ainda é sua.

Com amor e carinho,

Patricia Routledge

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