Parece-me que a UE utópica está a ser um obstáculo na construção da UE real, da mesma maneira que os alunos utópicos dos documentos do ME são um obstáculo ao progresso e ajuda dos alunos reais.
Não é nenhuma novidade que desde o fim da 2ª guerra e tendo em conta o que foi o século XX em termos de auto-desilusão civilizacional que a Europa, a começar pela Alemanha tentam construir uma sociedade de paz, erguida sobre a ideia dos direitos humanos. Acontece que esse esforço, a certa altura, começou a chocar com a construção de sociedades capitalistas numa economia global porque não é possível querer lucrar com a globalização vendendo armas ou explorando minas, etc. e, ao mesmo tempo, defender sociedades justas e pacíficas mantendo-se à margem dos conflitos e das guerras.
Acontece que as cicatrizes da Europa do século XX são ainda muito recentes. Há pessoas vivas, ainda da 1ª grande guerra, quanto mais da 2ª e, os países estão divididos num conflito de, por um lado querer manter o ideal das Nações Unidas mas, por outro, verem-se a braços com milhares de muçulmanos que fogem de guerras provocadas, em grande parte, pelo Ocidente, que não querem rejeitar mas que têm medo de aceitar porque são culturas que chocam com o nosso [europeu] modo de vida e organização social.
A Alemanha, sobretudo, quer manter a imagem de já não ser a outra Alemanha bélica do século passado, para além de ter sido reconstruída, no pós-guerra, com esse ideal, forjado em parte pelos EUA, que a suportaram nesse esforço.
Mas uma coisa é verem-se dois ou três muçulmanos nas cidades. Até é pitoresco. Outra é verem-se milhares de mulheres de burkas a caminhar atrás dos homens e estes a viverem de um modo que fere os nosso direitos que tanto custaram a construir. Na Dinamarca as pessoas começam a ter medo que o número de muçulmanos cresça a ponto de fazer tremer a identidade do país.
Há uns meses vi um pequeno filme no FB. Duas alemãs gravavam, ao longe, uma espécie de marcha de muçulmanos em direcção a uma manifestação. Era de noite. Via-se uma rua iluminada e uma coluna grossa de muçulmanos a andar. As duas mulheres alemãs comentavam -percebia-se na voz- assustadas, 'olha para elas com as burkas, são milhares! Quando forem maioria nas cidades será que vão-nos obrigar a andar assim?' Dizia a outra, 'a mim ninguém me obriga! Prefiro morrer!'
Podemos dizer que estas duas mulheres estão enganadas nos números, que fazem um drama, etc. mas, o que não podemos negar é que as pessoas estão preocupadas, assustadas e sem saber como reagir a esta intrusão de estrangeiros de culturas tão diferentes, nos princípios, às nossas.
Em França, em certas cidades tiveram que proibir as orações na via pública porque várias vezes ao dia os muçulmanos ocupavam as ruas com as orações, como se vê em baixo. Isso é perturbador.
Agora a Dinamarca, a pretexto de uma crise suína, não querendo atraiçoar a UE utópica e ser acusada de xenofobia, construiu uma vedação para impedir a passagem de muçulmanos da Alemanha para lá.
Enquanto a UE não perceber que há, efectivamente, um problema na UE real para resolver, no que respeita aos migrantes muçulmanos, e continuar a reduzir a sua acção a declarações de crítica sobre populistas, etc., a UE real, a das pessoas preocupadas e com medo, a precisar de enquadramento de pensamento e de acção que as sossegue e oriente, continuará a cavar o fosse entre as duas até ao desastre total.
Penso que para resolver isto, a Alemanha vai ter que comprar a paz aos parceiros mas isso fica para outro post.
A third of Danish people believe the country is at war with Islam, survey claims
uma rua em França