Alexandre Dumas foi um escritor francês prolífico. Começou por popularizar-se com novelas dramáticas e depois com novelas históricas. As obras dele mais conhecidas são, 'Os três Mosqueteiros' e 'O Conde de Monte Cristo', mas ele escreveu muitos outras obras como a 'Dama das Camélias' e as 'Memórias de um Médico'.
Esta última obra, 'Memórias de um Médico', é uma série de quatro romances históricos que abordam a sequência de eventos que levaram à Revolução Francesa, desde a chegada de Maria Antonieta à França para casar com Luís XVI até à sua morte na guilhotina.
Hoje estava com meia-dúzia de colegas na sala de suplentes de exames e depois daquele momento de descompensação catártica em que todos dizemos mal do alienado e das suas políticas estupidificantes, acabámos a falar de acontecimentos da História.
Um colega disse que nunca gostou de História porque aprendeu-a nas aulas como 'decoranço' de datas e nomes de reis e rainhas. Também eu comecei a História na escola pelas datas, reis e rainhas, nomes e datas de batalhas, mas a diferença é que aí pelos 8 anos de idade, os nomes dos reis e das rainhas e das batalhas já ecoavam e tinham significado porque em minha casa havia livros por todo o lado e a minha mãe, que lia avidamente, tinha a colecção de livros do Mário Domingues, do António Campos e outros. Esses dois escrevem sobre figuras e eventos da História ao modo de um romance e são muito cativantes.
Por exemplo, António Campos, em 'Luís de Camões', leva-nos pelas ruelas de Lisboa atrás de uma moça qualquer a fazer-lhe sonetos, a meter-se em brigas e a acabar no Paço, enquanto fala dos modos das pessoas, de como se vestiam, etc. A minha mãe, quando éramos miúdas, de vez em quando pegava num desses livros e lia um capítulo qualquer particularmente emocionante ou de suspense, como se estivesse a representar no teatro e depois todas acabávamos por ir ler o livro. Era como ler as histórias de 'Simbad, O Marinheiro'.
E foi assim que aprendi a gostar de História e nunca os 'decoranços' me incomodaram. Quando tínhamos que decorar a dinastia Afonsina, cada nome que dizia imaginava a pessoa, ou era D. Afonso gigante com a espada a cair no rio, ou era D. Sancho todo enrolado em trapos por causa da lepra, etc. Portanto, não eram só um nome, tinham um rosto e histórias associadas, umas de valentia, outras cómicas, outras nojentas...
Também foi a ler Dumas, que escreve maravilhosamente, que aprendi a gostar da História de França, do período do absolutismo e depois da Revolução, muito antes de ler, livros sérios, digamos assim. Ele situa os romances das Memórias dentro do palácio de Versalhes e leva-nos de salon en salon pelas intrigas e vida quotidiana dos nobres.
- Joseph Balsamo (que nous abrégeons en JB), p. 399.
« Ah ! vous venez de Versailles ? dit l’étranger en regardant Gilbert.
– Oui, monsieur, répondit le jeune homme. C’est une ville riche ; il faut être bien pauvre ou bien fier pour y mourir de faim.
– Je suis l’un et l’autre, monsieur. »
Valorizo muito os escritores que tornam a História viva e nos fazem gostar dela, que me parece o mais importante, porque depois há tempo para ler os livros sérios, mas antes é preciso ter já uma ideia das personagens históricas como pessoas vivas e não figuras.
Isabel Stilwell é uma autora actual que vai muito na linha destes escritores, porque escreve de uma maneira apaixonante e transforma essas personagens da História, mais ou menos remota, em gente de carne e osso.