July 24, 2023

Aniversários - Alexandre Dumas, pai (1802-1870)



Alexandre Dumas foi um escritor francês prolífico. Começou por popularizar-se com novelas dramáticas e depois com novelas históricas. As obras dele mais conhecidas são, 'Os três Mosqueteiros' e 'O Conde de Monte Cristo', mas ele escreveu muitos outras obras como a 'Dama das Camélias' e as 'Memórias de um Médico'. 

Esta última obra, 'Memórias de um Médico', é uma série de quatro romances históricos que abordam a sequência de eventos que levaram à Revolução Francesa, desde a chegada de Maria Antonieta à França para casar com Luís XVI até à sua morte na guilhotina. 

Hoje estava com meia-dúzia de colegas na sala de suplentes de exames e depois daquele momento de descompensação catártica em que todos dizemos mal do alienado e das suas políticas estupidificantes, acabámos a falar de acontecimentos da História. 

Um colega disse que nunca gostou de História porque aprendeu-a nas aulas como 'decoranço' de datas e nomes de reis e rainhas. Também eu comecei a História na escola pelas datas, reis e rainhas, nomes e datas de batalhas, mas a diferença é que aí pelos 8 anos de idade, os nomes dos reis e das rainhas e das batalhas já ecoavam e tinham significado porque em minha casa havia livros por todo o lado e a minha mãe, que lia avidamente, tinha a colecção de livros do Mário Domingues, do António Campos e outros. Esses dois escrevem sobre figuras e eventos da História ao modo de um romance e são muito cativantes.
Por exemplo, António Campos, em 'Luís de Camões', leva-nos pelas ruelas de Lisboa atrás de uma moça qualquer a fazer-lhe sonetos, a meter-se em brigas e a acabar no Paço, enquanto fala dos modos das pessoas, de como se vestiam, etc. A minha mãe, quando éramos miúdas, de vez em quando pegava num desses livros e lia um capítulo qualquer particularmente emocionante ou de suspense, como se estivesse a representar no teatro e depois todas acabávamos por ir ler o livro. Era como ler as histórias de 'Simbad, O Marinheiro'.

E foi assim que aprendi a gostar de História e nunca os 'decoranços' me incomodaram. Quando tínhamos que decorar a dinastia Afonsina, cada nome que dizia imaginava a pessoa, ou era D. Afonso gigante com a espada a cair no rio, ou era D. Sancho todo enrolado em trapos por causa da lepra, etc. Portanto, não eram só um nome, tinham um rosto e histórias associadas, umas de valentia, outras cómicas, outras nojentas... 

Também foi a ler Dumas, que escreve maravilhosamente, que aprendi a gostar da História de França, do período do absolutismo e depois da Revolução, muito antes de ler, livros sérios, digamos assim. Ele situa os romances das Memórias dentro do palácio de Versalhes e leva-nos de salon en salon pelas intrigas e vida quotidiana dos nobres.

  •   Joseph Balsamo (que nous abrégeons en JB), p. 399.

« Ah ! vous venez de Versailles ? dit l’étranger en regardant Gilbert.
– Oui, monsieur, répondit le jeune homme. C’est une ville riche ; il faut être bien pauvre ou bien fier pour y mourir de faim.
– Je suis l’un et l’autre, monsieur. »


Valorizo muito os escritores que tornam a História viva e nos fazem gostar dela, que me parece o mais importante, porque depois há tempo para ler os livros sérios, mas antes é preciso ter já uma ideia das personagens históricas como pessoas vivas e não figuras.

Isabel Stilwell é uma autora actual que vai muito na linha destes escritores, porque escreve de uma maneira apaixonante e transforma essas personagens da História, mais ou menos remota, em gente de carne e osso.


6 comments:

  1. Gosto bastante de António Campos. Em minha casa não havia livros, aprendi história a decorar, os meus pais ignoravam tudo dos reis e seus reinados. Os meus professores de história não foram nada de especial e sempre gostei da disciplina. Tempos houve em que pensei seguir História. Julgo que existam propensões inatas.Quanto a Dumas, já tinha lido A dama da camélias havia anos quando descobri que não era escritor português. Aquilo custou-me.

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    1. :)) Também penso que há disposições inatas - como ter muita imaginação, por exemplo e ser dado a fazer de tudo uma história.

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  2. Beatriz, só uma nota: o título das obras deve colocar-se em itálico; quando manuscrito, sublinhado. As aspas ficam para outro tipo de títulos.

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    1. Isso não é obrigatório. E em meu entender o mais importante na pontuação de um texto e uso de sinais gráficos é a coerência ao longo do texto. Os sinais têm que fazer sentido, não só graficamente mas também no que respeita à entoação e intenção de tom do texto. É preciso que o leitor compreenda o que é dito, com que entoação e em que tom.

      Os sinais são funcionalidades, não são dogmas. Embora tenha aqui no blog uma notação diferente e um bocado desleixada porque escrevo ao correr da pena, não faço rebaldarias.

      Escrevo em itálico palavras estrangeiras (excepto se são nomes de firmas ou cidades ou algo do género), citações curtas e títulos de livros mas, se esses títulos de livros são vários de uma série de um corpo de uma obra, uso aspas, que é o mais correcto nessa situação, para não sermos obrigados a entortar a cabeça linhas a fio.

      Aqui neste caso, por preguiça, em vez de aspas até usei plicas, que é algo que só rarissimamente uso fora do blog - é preciso que abras aspas dentro de aspas. Da mesma maneira, uso aqui com frequência os parêntesis angulares que é um sinal que nunca uso na escrita de outros textos.

      Textos de blog não são textos académicos, têm outra liberdade, da mesma maneira que a literatura e a poesia têm liberdade e não estão espartilhadas pelas convenções gráficas.

      Este é um blog com coerência mas sem cerimónia.

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    2. É sim. Há mais de 30 anos que o título das obras se deve escrever em itálico. O uso das aspas é um erro que se perpetua, porque se tornou uma espécie de regra. Não está em causa a tipologia textual ou o maior ou menor à-vontade da escrita, é uma questão de correção m

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    3. Devo ter-me explicado mal. Há 30 anos que não sigo o acordo ortográfico. Sigo na escola porque é obrigatório e estou a formar alunos que vão ser avaliados segundo essas regras, mas fora da escola não o sigo.
      Fora desse âmbito sigo mais os escritores e os poetas que os burocratas da grafia. Estes textos são meus. Não vou ao ponto de escrever como Saramago, mas tenho, como ele, a mesma liberdade de decidir como escrevo e se quiser até crio uma notação própria.
      Escrevo correcta e exactamente para exprimir e expandir o meu pensamento e não o oposto. E isso faz toda a diferença.

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