Ferreira de Castro nasceu em 24 de Maio de 1898, pouco mais de dois meses após nascer a minha avó Beatriz, que por acaso nasceu em Manaus, muito perto da Amazónia, pois o meu bisavô foi emigrante no Brasil, para esses lados, e a minha bisavó, que foi lá deixá-lo, por assim dizer, esteve lá um ano com ele antes de voltar, já com a minha avó nos braços. O meu bisavô passou lá parte da vida.
Ferreira de Castro, que nasceu em Ossela, perto de Aveiro, ficou órfão de pai aos 8 anos e sendo pobre camponês decidiu, aos 12 anos, emigrar para o Brasil, para fazer fortuna, como tantos o fizeram nessa época. Embarcou em 1911 e durante 4 anos viveu no seringal Paraíso, em plena floresta amazónica.Depois de partir do seringal Paraíso, viveu em precárias condições e sofrendo muitas humilhações.
A vida dele deu muitas voltas. No ano em que publica, 'A Selva', obra que lhe dá reconhecimento internacional e o ingresso no Pen Clube francês, 1930, perde a mulher, Diana de Lis, vítima de tuberculose e tenta suicidar-se. Mas não morreu e viveu para ver o 25 de Abril.
A vida dele deu muitas voltas. No ano em que publica, 'A Selva', obra que lhe dá reconhecimento internacional e o ingresso no Pen Clube francês, 1930, perde a mulher, Diana de Lis, vítima de tuberculose e tenta suicidar-se. Mas não morreu e viveu para ver o 25 de Abril.
Conheci Ferreira de Castro muito cedo na adolescência. A minha mãe tinha as obras completas dele numa edição muito bonita, em papel 'vergé,' com belíssimas ilustrações, da Guimarães Editores (ficaram para uma das minhas irmãs) e um dia, tendo ouvido a minha avó contar histórias do pai dela, o tal que emigrou para o Brasil para perto da Selva, fazer fortuna com a borracha, tive curiosidade e fui ler o livro. Impressionou muito o meu imaginário.
O livro está escrito com tanto realismo e crueza na descrição do sofrimento daquelas pessoas, da dificuldade das suas vidas humilhantes, mas ao mesmo tempo uma enorme sensibilidade poética na descrição das paisagens, das impressões e emoções daqueles espaços onde o homem se sente pequeno, impotente e mais perto do Todo. Como uma das pinturas de Caspar Friedrich.
É um romance de uma extraordinária qualidade literária e não sei porque não se fala dele na escola. É muito actual. Continuamos a ser um país de gente que tem de fugir daqui e ir procurar sustento em outras paragens.
de um dia para o outro, o seringueiro de saldo, que suportara uma dezena de anos na selva, em lúta com a natureza implacável, para adquirir os dinheiros necessários ao regresso, via-se sem nada - e sem saber até como o haviam despojado. de novo pobre, com a família e a terra, preocupações constantes do seu exílio, a atraírem-no de longe, ele sufocava, uma vez mais, as saudades, a dor do tempo perdido, e regressava ao seringal, tão miserável como na primeira hora em que lá aportara
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