April 02, 2020

Poesia ao anoitecer II - 'When despair for the world grows in me'



The Peace of Wild Things

When despair for the world grows in me
and I wake in the night at the least sound
in fear of what my life and my children's lives may be,
I go and lie down where the wood drake
rests in his beauty on the water, and the great heron feeds.
I come into the peace of wild things
who do not tax their lives with forethought
of grief. I come into the presence of still water.
And I feel above me the day-blind stars
waiting with their light. For a time
I rest in the grace of the world, and am free.

-- Wendell Berry

Poesia ao anoitecer - 'Tis not too late to seek a newer world'



.. Come, my friends,
'Tis not too late to seek a newer world.
Push off, and sitting well in order smite
The sounding furrows; for my purpose holds
To sail beyond the sunset, and the baths
Of all the western stars, until I die.
It may be that the gulfs will wash us down:
It may be we shall touch the Happy Isles,
And see the great Achilles, whom we knew.
Tho' much is taken, much abides; and tho'
We are not now that strength which in old days
Moved earth and heaven, that which we are, we are;
One equal temper of heroic hearts,
Made weak by time and fate, but strong in will
To strive, to seek, to find, and not to yield.

-- Final lines from the poem "Ulysses" by Alfred Lord Tennyson

Quando o Ramalho Eanes diz palermices em directo na TV nacional, mais valia estar calado



Ramalho Eanes apela aos mais velhos que cedam ventilador a quem tem "mulher e filhos"


Para já este título está errado porque ele disse claramente, para dar o ventilador a 'um homem que tenha mulher e filhos' e não, 'a quem', como refere o título. 

Vejamos, lá por ele ser utilitarista, daí não se segue que o sejamos todos ou que isso seja um dever. Mas, seguindo a lógica do seu utilitarismo, isso quer dizer que, por exemplo, se tivéssemos o presidente da república, que é idoso, doente, ao lado de um jovem assassino com mulher e filhos, o presidente devia ceder o seu ventilador ao jovem? Nesse caso abria-se uma excepção por ele ser presidente e ter mais valor como tal? Não por ele ter mais valor como tal mas por o povo precisar de um presidente mais do que de um assassino? Abria-se uma excepção, não por ele ser presidente mas por o outro ser um assassino e não ter valor para a comunidade? A vida de um assassino vale menos? Ou deixava-se o presidente morrer para o assassino viver por ser um homem com filhos?

É bom de ver que posso pensar mil exemplos como este que mostram a falta de sensatez das palavras de Ramalho Eanes e, quem sabe, pôr pressão em cima de quem já está pressionado por ser velho. Lemos que em outros países, como Inglaterra, andam a perseguir, chamar nomes e até atirar pedras a pessoas velhas por acharem que esses é que andam infectados a tirar lugar aos outros nos hospitais.

Não sei, mas parece-me que figuras públicas de peso quando vão à TV nacional devem pensar um bocadinho antes de falar.

Destressar é preciso




Olha que coisa tão bonita



Esta gravura é do livro, A Metamorfose dos Insectos no Suriname, da autoria de Maria Sibylla Merian, nascida neste dia em 1647




Intervalo para almoço - Horizontalizar a outra curva


O que vai acontecer ao mundo depois de ultrapassarmos a crise do Coronavirus Li Wenliang?
John Gray pensa que o liberalismo e o consumismo vão dar lugar a uma vida menos globalizada.

With all its talk of freedom and choice, liberalism was in practice the experiment of dissolving traditional sources of social cohesion and political legitimacy and replacing them with the promise of rising material living standards. This experiment has now run its course.
....

E espera que a quarentena tenha servido, pelo menos, para nos repensarmos e encontrarmos uma nova forma de viver.


It is only by recognising the frailties of liberal societies that their most essential values can be preserved. Along with fairness they include individual liberty, which as well as being worthwhile in itself is a necessary check on government. But those who believe personal autonomy is the innermost human need betray an ignorance of psychology, not least their own. For practically everyone, security and belonging are as important, often more so. Liberalism was, in effect, a systematic denial of this fact.

O pior que vimos nesta crise, na UE, penso, foi a Itália ter pedido auxílio médico aos parceiros de união e terem recusado e, só terem voltado atrás depois de verem aviões chineses e camiões russos entrarem em Itália cheios de médicos e ventiladores. Isto, quanto a mim, foi o pior de tudo, pois se os amigos, parceiros com quem se tem contrato escrito de compromisso de ajuda e entre-ajuda, nem numa altura de aflição ajudam, e tem que recorrer-se aos 'adversários', que fundamento existe para manter a parceria/amizade?
Este comportamento revela a instrumentalização do outro -o parceiro- e a total falta de respeito pela sua individualidade, pelo seu bem-estar e pelo seu destino em termos de capacidade de sobrevivência sozinho. Então, mais uma vez, para que serve esta parceria de países? Para os mais ricos terem uma reserva de mão-de-obra? Para poderem exportar para esses países os seus excedentes? Para lucrarem com as suas dívidas?

An advantage of quarantine is that it can be used to think afresh. Clearing the mind of clutter and thinking how to live in an altered world is the task at hand. For those of us who are not serving on the front line, this should be enough for the duration. (John Gray, Why this Crisis is a Turning Point in History)


O que eu espero é que se possa sair desta crise com umas certezas e que essa certezas dêem origem a mudanças: 

1. os países onde há mais prosperidade construída sobre distribuição de riqueza são aqueles é possível parar a economia durante um mês e meio com menos irradiação de estragos; apesar das crescentes desigualdades, vê-se uma diferença nos meios, nomeadamente públicos, de saúde, por exemplo, mas também de educação, de literacia, que ajudam a sair da crise pandémica mais rapidamente e com menos estragos permanentes; 

2. o mito do crescimento económico continuo e imparável fica exposto como falso e perigoso, quer dizer, o progresso pode estar na origem da sua própria involução; 

3. o individualismo levado ao extremo é um cancro. A sociedade é como um organismo que depende, para a sua saúde, de um constante equilíbrio homeostático e se um dos orgão começa a crescer desmesuradamente, fá-lo à custa dos outros todos, pois estão todos ligados no seu funcionamento global [homeostasia radica em homeo (igual) e em stasia(estado)]. Imaginamos um corpo onde um orgão começa a crescer desmesuradamente e a monopolizar os recursos dos outros orgãos, a esgotá-los. O que acontece é que começam a falhar e como nenhum orgão sobrevive sozinho, quando os outros falharem, esse também falha. Esta imagem é válida para a relação entre as pessoas, os grupos sociais, os países e a relação dos humanos com os outros seres do ecossistema.

Portanto, o que espero que aconteça depois desta crise são duas mudanças:

1. uma no interior da UE que reforce o compromisso com actos de ajuda e entre-ajuda e não com meras palavras vãs que se atraiçoam ao primeiro sinal de crise, por individualismo ou egoísmo, como lhe queiram chamar.

2. que se horizontalize a curva das desigualddades. Quanto mais desiguais mais expostos a todos os vírus, os biológicos, os sociais e os políticos, de extremismo e tentação de autoritarismo. 

Finalmente, dois pressupostos que me parecem fundamentais:

1. precisamos de mais crítica, mais oposição, mais discussão, mais dialéctica, mais troca de informação e não menos. Patriotismo é o oposto de estar calado e ser conivente com as derivas perigosas de autoritarismo, tráfico de influências, etc., das sociedades.

2. ao contrário do que diz Macron e outros economistas e políticos que leio por aí, o futuro não pode estar em desglobalizarmos tudo. Passarmos a produzir tudo o que precisamos dentro de fronteiras não vá o diabo tecê-las. 

Dar esse passo é, penso, uma declaração, não escrita mas em actos, de desistência de cooperação, de falência no entendimento pacífico entre as nações. Vimos que a China, apesar de ter errado em esconder a doença e tentar calar o médico que a denunciou, assim que pôde enviou auxílio para o Ocidente recomeçou o fabrico de medicamentos e equipamentos. Não se fechou. Por outro lado, as ideias ocidentais de liberdade de expressão e direitos humanos, têm circulado e entrado na China, via Hong-kong, via Macau, via internet, via pressão internacional devida à globalização. Quem é que quer voltar a sociedades sovietizadas ou tribais?

A cooperação, nomeadamente ao nível da ciência, que hoje em dia, em grande parte por causa da internet e da globalização, são a norma e representam uma esperança para todos nós e uma verdadeira lança em África de ameaça aos autoritarismo crescentes, vieram e dependem da globalização. Queremos uma cooperação global entre os especialistas e os países e não um fechamento. Até porque, as condições de esgotamento de recursos do planeta obriga a cooperação e não o oposto.

Portanto, a tendência que haverá de demonizar a globalização parece-me tão perigosa como a sua, até há pouco tempo, deificação.

Nos assuntos humanos não há, parece-me, soluções miraculosas. Todas as soluções têm os seus efeitos secundários e é sempre necessário ver qual o remédio que nas circunstâncias melhor promove o equilíbrio homeostático.

Diário da quarentena 19º dia II - Obrigada, Bolshoi!



O teatro Bolshoi disponibiliza, no seu canal de YouTube espectáculos de ópera e ballet live e acesso aos seus arquivos.



Diário da quarentena 19º dia - Bom dia



Aqui fica um trabalho de criatividade e imaginação que vi por aí e achei destressante. Para começar bem a manhã.
Hoje é o meu último dia de trabalho  do 2º período -espero- e amanhã entro em pausa lectiva. Assim que entrar em pausa vou de férias -  largo a secretária e passo-me para o sofá - aí uns 5 metros à esquerda :)

April 01, 2020

Coisas inacreditáveis



Uma amiga em casa de quem fico muitas vezes, quando preciso, em Lisboa, mandou-me há bocado fotografias do quarto onde costumo dormir. Pareciam fotografias da Síria depois de um bombardeamento. Uma construtora está a construir um prédio pegado ao dela. Mandaram abaixo o que lá estava e estão a construir um novo. Fizeram mal as fundações, tiveram que refazer. Aquilo dura há quase um ano, uma barulheira infernal, avançaram o prédio para o passeio, sabe-se lá com que autorização. Pois esta semana com a porcaria da betumaria caíram para cima do prédio dela, rebentaram a varanda -a casa dela é no último andar e tem uma varanda grande-, a parede do tal quarto onde durmo, que é dupla, e o estrago atravessou o quarto e rebentou a porta que é na parede oposta. Se lá estivesse alguém tinha morrido.
Estamos a falar de uma construtora conhecida e cara. O prédio dela tem meia dúzia de anos e é todo feito com construção especial de corrida e estamos a falar duma zona da cidade bastante cara.
É inacreditável.
Assim que ela me disse fui direita ao site onde se listam os contratos com o Estado, para ver se a construtora em questão, por acaso, tem contratos para construir pontes ou edifícios que uma pessoa frequente. Livra! Se lá estivesse tinha morrido. Onde anda a fiscalização das obras? Ahh, deixa ver, o Medina usou o dinheiro de pagar a fiscais para o grupo dos amigos do cemitério? Batia certo, neste caso...

A receber emails dos alunos a esta hora



Não usam os serviços que têm ao dispor para serem autónomos -preferem sempre que alguém lhes diga- e depois quando precisam deles já não se lembram como se faz. Temos pena mas a esta hora já não respondo. Não estou ao serviço, dia e noite.
Amanhã vou enviar um email às turmas a explicar a etiqueta de trabalho digital, nomeadamente os horários em que é razoável enviar emails, porque eles não têm noção. Agem como quando estão nas aulas e querem resposta para qualquer coisa: põem o braço no ar e perguntam, ou às vezes só perguntam.
Não é por mal, é porque não têm noção, mesmo. Só que uma pessoa tem muitos alunos. Cerca de 120, no meu caso. Não posso passar os dias a responder a emails sempre que 40 ou 50 se lembram de qualquer coisa. Isso é nas aulas que uma pessoa é constantemente solicitada e é por isso que se sai de lá completamente exausto, mesmo quando tudo corre bem ou, até, por isso mesmo.
Amanhã vou ter que explicar tudo bem explicado.

Não sei como não inventaram ainda uma maneira de impedirmos certos endereços seleccionados, de funcionarem entre certas horas. Ficavam suspensos, numa espécie de purgatório e à hora determinada, então, entravam na caixa. Para entrarem na caixa fora de horas, tinham de vir com um adesivo qualquer a indicar muita urgência.
Inventam tanta porcaria inútil e uma coisa essencial destas ainda ninguém se chegou à frente.

Coronavodka - cada um cura-se com o que tem à mão



Several regions of Russia have imposed limits on alcohol sales during their self-isolation regimes. Some cities have banned the sale of alcohol altogether
 ~@MoscowTimes

Citação deste dia II



"You are not working from home; you are at your home during a crisis trying to work." 
I've heard this twice today. I think it's an important distinction worth emphasising.
~Neil Webb

Citação deste dia - cadê os líderes do mundo?


Carl Bildt

@carlbildt


This is the first great crisis of the post-American world. The UN Security Council is nowhere to be seen, G20 is in the hands of the Crown Prince of Saudi Arabia and the White House has trumpeted America First and Everyone Alone for years. Only the virus is globalized.


Ensino à distância IV 😄




3 minutos de Saint-Saëns por dia nem sabe o bem que lhe fazia




Escola e ensino à distância III - no geral, estou de acordo com este ponto de vista



A interrupção e a hybris dos tele-educadores
Francisco Teixeira

Vivemos uma interrupção. Adaptemo-nos a isso sem transformar o anormal em novo normal, sem fetichismos que separem o nosso desejo da coisa verdadeiramente desejada: um país e um sistema de educação justos e decentes, intelectualmente honestos, que não transige da ideia de igualdade e que não deixa ninguém para trás.

A melhor conferência de imprensa de Trump até agora




Ensino à distância II - ME: por favor, no te muevas. Quédate quieto



– Anule imediatamente as provas de aferição, marcadas para Maio, e os exames finais do 9.º ano. As primeiras porque, de duvidoso sentido desde o início, são agora redobradamente inúteis. Os segundos porque, sendo praticamente irrelevantes para a progressão dos alunos, ocupariam recursos e tempo necessários para iniciativas prioritárias, em tempo de crise.

– Incumba um pequeno grupo de pessoas sensatas (tem de procurar fora do seu circulo) de desenhar, desde já, um plano de regresso à actividade presencial, que preveja cuidados de vigilância e resguardo para uma eventual segunda onda da covid-19 (reduzir o número de alunos por turma, para aumentar o seu distanciamento em sala; redefinir normas de utilização de espaços comuns, designadamente recreios, e generalizar artefactos de higienização das pessoas e dos objectos). Aquando da reentrada, devem estar previstos apoios pedagógicos suplementares para quem deles necessite.

Santana Castilho em Tocata Para um Ministro à Distância (excerto)

Vou mais longe que SC: anulem os exames deste ano ou deixam apenas os do 12º ano. E não percebo porque não se empurra tudo para mais tarde em vez de andarmos com estas indefinições relativamente ao 3º período e aos exames.

Uma coisa que diz SC e a mim me parece também muito urgente é começar agora a preparar o próximo ano lectivo tendo em vista os interesses dos alunos e não a mera flagelação de professores.

Outra coisa que me parece evidente: para fazer o que estão a fazer, era melhor que o ME não fizesse nada, de nada. Mesmo nada, que ficassem quietos e nos deixassem trabalhar. É que não ajudam e só armam confusão.


Entretanto:

António Costa ainda não deu como inteiramente perdido o regresso às escolas. A decisão está nas mãos dos técnicos de saúde que aconselham o Governo e o primeiro-ministro dará sempre primazia à opinião dos especialistas. Na próxima semana, quando a 9 de abril for reavaliada a situação, o líder socialista espera já ter todos os dados à disposição para tomar uma decisão. Mas existe uma linha vermelha: o dia 4 de maio é tido como o limite razoável para reabrir as escolas.

What?? Está a falar dos 3 estarolas que diziam isto tudo ser um alarmismo e que não havia razão nenhuma para fechar escolas ou ter cuidado e que bastava ir para as escolas e lavar as mãos nos intervalos?
E desde quando a decisão de fechar escolas é médica e não política? 

Quer dizer, teve ali dois dias de lucidez e bom senso e ao fim de uns dias já está outra vez no modo Costacenteno?

Intervalo para o almoço - ensino à distância



Enviado por um amigo


Back to reality III - quando enfermeiras são impedidas de proteger-se