O que vai acontecer ao mundo depois de ultrapassarmos a crise do Coronavirus Li Wenliang?
John Gray pensa que o liberalismo e o consumismo vão dar lugar a uma vida menos globalizada.
With all its talk of freedom and choice, liberalism was in practice the experiment of dissolving traditional sources of social cohesion and political legitimacy and replacing them with the promise of rising material living standards. This experiment has now run its course.
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E espera que a quarentena tenha servido, pelo menos, para nos repensarmos e encontrarmos uma nova forma de viver.
It is only by recognising the frailties of liberal societies that their most essential values can be preserved. Along with fairness they include individual liberty, which as well as being worthwhile in itself is a necessary check on government. But those who believe personal autonomy is the innermost human need betray an ignorance of psychology, not least their own. For practically everyone, security and belonging are as important, often more so. Liberalism was, in effect, a systematic denial of this fact.
O pior que vimos nesta crise, na UE, penso, foi a Itália ter pedido auxílio médico aos parceiros de união e terem recusado e, só terem voltado atrás depois de verem aviões chineses e camiões russos entrarem em Itália cheios de médicos e ventiladores. Isto, quanto a mim, foi o pior de tudo, pois se os amigos, parceiros com quem se tem contrato escrito de compromisso de ajuda e entre-ajuda, nem numa altura de aflição ajudam, e tem que recorrer-se aos 'adversários', que fundamento existe para manter a parceria/amizade?
Este comportamento revela a instrumentalização do outro -o parceiro- e a total falta de respeito pela sua individualidade, pelo seu bem-estar e pelo seu destino em termos de capacidade de sobrevivência sozinho. Então, mais uma vez, para que serve esta parceria de países? Para os mais ricos terem uma reserva de mão-de-obra? Para poderem exportar para esses países os seus excedentes? Para lucrarem com as suas dívidas?
An advantage of quarantine is that it can be used to think afresh. Clearing the mind of clutter and thinking how to live in an altered world is the task at hand. For those of us who are not serving on the front line, this should be enough for the duration. (John Gray, Why this Crisis is a Turning Point in History)
O que eu espero é que se possa sair desta crise com umas certezas e que essa certezas dêem origem a mudanças:
An advantage of quarantine is that it can be used to think afresh. Clearing the mind of clutter and thinking how to live in an altered world is the task at hand. For those of us who are not serving on the front line, this should be enough for the duration. (John Gray, Why this Crisis is a Turning Point in History)
O que eu espero é que se possa sair desta crise com umas certezas e que essa certezas dêem origem a mudanças:
1. os países onde há mais prosperidade construída sobre distribuição de riqueza são aqueles é possível parar a economia durante um mês e meio com menos irradiação de estragos; apesar das crescentes desigualdades, vê-se uma diferença nos meios, nomeadamente públicos, de saúde, por exemplo, mas também de educação, de literacia, que ajudam a sair da crise pandémica mais rapidamente e com menos estragos permanentes;
2. o mito do crescimento económico continuo e imparável fica exposto como falso e perigoso, quer dizer, o progresso pode estar na origem da sua própria involução;
3. o individualismo levado ao extremo é um cancro. A sociedade é como um organismo que depende, para a sua saúde, de um constante equilíbrio homeostático e se um dos orgão começa a crescer desmesuradamente, fá-lo à custa dos outros todos, pois estão todos ligados no seu funcionamento global [homeostasia radica em homeo (igual) e em stasia(estado)]. Imaginamos um corpo onde um orgão começa a crescer desmesuradamente e a monopolizar os recursos dos outros orgãos, a esgotá-los. O que acontece é que começam a falhar e como nenhum orgão sobrevive sozinho, quando os outros falharem, esse também falha. Esta imagem é válida para a relação entre as pessoas, os grupos sociais, os países e a relação dos humanos com os outros seres do ecossistema.
Portanto, o que espero que aconteça depois desta crise são duas mudanças:
1. uma no interior da UE que reforce o compromisso com actos de ajuda e entre-ajuda e não com meras palavras vãs que se atraiçoam ao primeiro sinal de crise, por individualismo ou egoísmo, como lhe queiram chamar.
2. que se horizontalize a curva das desigualddades. Quanto mais desiguais mais expostos a todos os vírus, os biológicos, os sociais e os políticos, de extremismo e tentação de autoritarismo.
Finalmente, dois pressupostos que me parecem fundamentais:
1. precisamos de mais crítica, mais oposição, mais discussão, mais dialéctica, mais troca de informação e não menos. Patriotismo é o oposto de estar calado e ser conivente com as derivas perigosas de autoritarismo, tráfico de influências, etc., das sociedades.
2. ao contrário do que diz Macron e outros economistas e políticos que leio por aí, o futuro não pode estar em desglobalizarmos tudo. Passarmos a produzir tudo o que precisamos dentro de fronteiras não vá o diabo tecê-las.
Dar esse passo é, penso, uma declaração, não escrita mas em actos, de desistência de cooperação, de falência no entendimento pacífico entre as nações. Vimos que a China, apesar de ter errado em esconder a doença e tentar calar o médico que a denunciou, assim que pôde enviou auxílio para o Ocidente recomeçou o fabrico de medicamentos e equipamentos. Não se fechou. Por outro lado, as ideias ocidentais de liberdade de expressão e direitos humanos, têm circulado e entrado na China, via Hong-kong, via Macau, via internet, via pressão internacional devida à globalização. Quem é que quer voltar a sociedades sovietizadas ou tribais?
A cooperação, nomeadamente ao nível da ciência, que hoje em dia, em grande parte por causa da internet e da globalização, são a norma e representam uma esperança para todos nós e uma verdadeira lança em África de ameaça aos autoritarismo crescentes, vieram e dependem da globalização. Queremos uma cooperação global entre os especialistas e os países e não um fechamento. Até porque, as condições de esgotamento de recursos do planeta obriga a cooperação e não o oposto.
Portanto, a tendência que haverá de demonizar a globalização parece-me tão perigosa como a sua, até há pouco tempo, deificação.
Nos assuntos humanos não há, parece-me, soluções miraculosas. Todas as soluções têm os seus efeitos secundários e é sempre necessário ver qual o remédio que nas circunstâncias melhor promove o equilíbrio homeostático.
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