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September 14, 2024

Trabalho

 


Estou aqui a inventar um teste de auto-diagnóstico e diagnóstico de autonomia no trabalho, atitudes, comportamentos, hábitos cognitivos e competências para os alunos do 11º ano - uma ficha para ser preenchida pelos alunos e por mim, uma vez por período, para aferir da progressão dele nos vários items pertinentes. 

A ficha não conta para a nota, é formativa e é para saberem os seus pontos fortes e fracos. Quero uma ficha que teste as suas práticas face a expectativas e respectivos padrões de pensamento e trabalho divididos em três níveis: baixos, médios e elevados.

Claro que só posso dar-lhes este teste no 11º ano quando já os conheço o suficiente para poder pormenorizar progressões relevantes - e porque tenho muitas poucas turmas, se não era impossível. No 10º ano dou-lhes um teste de auto-diagnóstico de atitudes e hábitos de trabalho necessários ao sucesso na disciplina e na escola em geral e aconselho-os a fazerem o teste pelo menos uma vez por período para verem onde precisam de evoluir e o quanto, mas não vejo os resultados - não quero fazer juízos prévios e a ficha é para eles regularem o seu trabalho, o seu comportamento e as suas atitudes face ao estudo.

Não é fácil porque cobre muita informação e porque tem de ter objectivos atingíveis no sentido de dependerem da vontade e da auto-disciplina em modificarem ou melhorarem o seu investimento no trabalho, seja em comportamentos, em atitudes, em hábitos. Quero que percebam, já desde a 1ª aula, em que patamar estão, em termos de investimento e trabalho, face às suas expectativas de resultados e notas, para poderem rectificar-se e adoptar as atitude e hábitos de acordo com essas expectativas e se responsabilizem pelo que fazem - ou não fazem... 

A propósito: agora dá-me jeito que tenham o telemóvel para tirarem uma fotografia ao seu teste de auto-diagnóstico porque vou recolhê-lo no final da aula e só vou voltar a entregar no fim do período com a minha parte preenchida. Mas se não tiverem telemóvel, tira-se uma cópia.

E já que estou nisto vou também fazer uma ficha de auto-diagnóstico para mim e que sirva para os alunos me avaliarem. Tem de ser anónima e dada numa altura em que a questão das notas não esteja pendente.


January 02, 2024

Quem está a anhar por ser o último dia da pausa do Natal ponha o braço no ar

 

🙋‍♀️

Era para ter trabalhado muito nesta pausa mas nem por isso... 

Era para ter lido livros em atraso, mas nem por isso...

Vi alguns filmes em atraso... 

Pouca coisa...

Nem sequer descansei muito. Dormi mal...


September 29, 2023

Muitos miúdos que andam pelos vinte e tal anos e estão a começar a trabalhar não têm noção da vida

 


Toda a gente me diz isso. E não falo da questão, saudável, de se preocuparem em ter uma vida própria para além do trabalho. Falo de ganharem o dobro do que algum vez hei-de ganhar, mas pensarem que isso é um direito que lhes assiste e que não vem com a obrigação de cumprir o contrato de trabalho. Podem não atender o telefone a um cliente porque são oito da noite - embora a flexibilidade faça parte do seu contrato e seja muito bem paga, entendem a flexibilidade apenas na parte de poderem entrar tarde no trabalho ou sair mais cedo. E dizem ao chefe, que pode ser o dono da empresa, a sua opinião sobre tudo e um par de botas, acerca da empresa, em qualquer sítio e altura. Até pode ser numa reunião com clientes. LOL Passam o tempo a queixar-se e tudo é uma ofensa aos seus direitos. E se alguém lhes diz alguma coisa respondem logo que é opressivo e mais não sei quê.

Aqui há uns anos uma colega professora que esteve um ano lá na escola -era o primeiro ano que trabalhava como professora- perguntou-me, 'Olha lá, fui convocada para uma reunião do grupo disciplinar. Achas que tenho que ir?' LOL Claro que tens que ir e se não vais tens falta. 'Que chatice -dizia ela- ainda por cima a delegada do grupo quer ter uma reunião só comigo para me dar trabalho. Porque é que tenho que fazer o que ela quer?' Porque estás a trabalhar sob contrato numa instituição que tem uma organização definida com hierarquias estabelecidas. E tens interesse em saber o que o grupo anda a fazer, trocar experiências, tirar dúvidas, etc. 'Mas eu sou de opinião que não tenho que ser obrigada a falar com uma pessoa de quem nem gosto e ir a reuniões que não me interessam' LOL Então fala disso na própria reunião ou na reunião geral de professores. Foi uma conversa surreal, mas típica desta nova geração.

A minha taxista tinha um indivíduo novo a quem dava serviço às vezes porque tem excesso de trabalho e ele é bom no trabalho. A certa altura ele pediu para ir trabalhar para ela. Quando ela lhe disse o trabalho que faz e ele tinha que fazer, ficou chocado. 'Fazer serviço à noite? E de madrugada? Ir para o aeroporto a essa hora? Ou para Espanha e só voltar passados dois dias? Eu a partir das seis quero ir para casa ver a minha mulher e os filhos. E ao fim de semana também não quero trabalhar. E vou sempre almoçar a casa'.  LOL Um dia levou-me a um hospital e no caminho contou-me isto e eu ri-me. E diz ele, 'Está a rir-se? Mas a professora trabalha à noite?' LOL Noites, fins de semana, férias - sempre que é preciso. Tenho prazos para entregar os trabalhos, fazer avaliações, fazer as pautas. Se não o fizer não saem as notas. Ficou chocado, disse-me que acha mal e que ele não faz isso. Ele vê o negócio dela a prosperar imenso de ano para ano, mas não tem noção do que isso implica em termos de horários de trabalho e não está disposto a trabalhar o que é preciso. Mas queria o trabalho na parte de ir ganhar bastante bem.

Muitos miúdos que andam pelos vinte e tal anos e estão a começar a trabalhar não têm noção da vida e parece que pensam que o mundo lhes deve alguma coisa. Isto é uma coisa geracional. Passou-se do exagero oposto para esta falta de sentido das responsabilidades.

Na 1ª semana de aulas gastei tempo a explicar aos alunos do 10º ano a importância da metodologia. Mostrei-lhes como se faz um plano de estudo semanal que não seja pesado e permita ter as matérias sempre em dia. Desenhei no quadro: 2ª, 3ª, 4ª... sábado, domingo. 'SÁBADO E DOMIGO?' LOL. sim, se tiverem que apresentar um trabalho numa 2ª feita têm que trabalhar nesse fim-de-semana. Ou se tiverem um teste grande na 2ª. É uma excepção mas pode acontecer, de maneira que não podem considerar o fim-de-semana uma espécie de dia sagrado. Por outro lado, se um dia tiverem aulas de manhã e à tarde, nesse dia já não vão estudar, a não ser excepcionalmente. Diz logo um aluno: 'o professor de matemática mandou um trabalho de casa no dia em que temos aulas de manhã e à tarde. Podemos não fazer?' LOL Bem, poder pode, mas é do seu interesse fazer. No dia seguinte retire a parte do estudo da matemática ao plano, uma vez que já estudou neste dia fora do plano. Adapte. Mas quer dizer, achou logo que podia queixar-se de ser uma vítima de qualquer coisa...


June 10, 2023

O lema deste ME é: se puderes dificultar o trabalho aos professores, 'just do it'

 


Estou aqui a trabalhar nas DTs e preciso de entrar no programa de alunos e ir a várias páginas buscar informação, para deixar o trabalho das reuniões acabado e se poder afixar as pautas. O programa funcionar devidamente a partir de casa é uma anedota, uma ilusão, uma utopia ou o que lhe queiram chamar. Todos os professores se queixam. E porquê? Começa logo pelo facto do ME não comprar o domínio (deve estar à espera que a escola ou os professores o comprem do seu bolso com os seus salários extraordinários), o url indicar, 'não seguro' e o computador fazer os possíveis para bloquear a entrada no site e fazer-nos 20 avisos com pontos de exclamação. Quando se consegue entrar, para ir de uma página a outra é um inferno porque o computador deve fazer 500 verificações de segurança. A maioria das vezes bloqueia. É claro que podia não estar hoje a trabalhar que é sábado ou não ter trabalhado na 5ª feira que foi feriado ou nunca trabalhar na DT a não ser na hora do horário e na escola, (onde só há 4 computadores para a DT e os diretores de turma são 45 ou 50) mas se um professor só trabalhasse nos dias e horas previstas no horário, metade do trabalho ficava por fazer. No fim do ano, por exemplo, podia acontecer as pautas não serem afixadas nos prazos necessários para cumprir todos os procedimentos legais até aos exames, eles mesmo com os seus prazos fixados por lei. Portanto, esta de ter programas manhosos, deve ser outra das inúmeras melhorias deste ME, cujo lema é: se puderes dificultar o trabalho aos professores, 'just do it'.

January 06, 2023

Sindicalismo: American Factory

 


American Factory é um documentário de 2019 acerca de um bilionário chinês que compra a antiga fábrica da General Motors em Ohio, fechada em 2008 no ano da grande crise, com milhares de famílias deixadas no desemprego. O documentário começa aí nesses milhares de pessoas que ficaram sem trabalho numa idade difícil e que tiveram que ir viver para casa de familiares e viver de cupões de alimentação. Em 2012 aparece este bilionário chinês que compra a fábrica para produzir vidro e emprega uns 1500 desses trabalhadores. De início ficam satisfeitíssimos e agradecidos que alguém lhes dê essa oportunidade, mas à medida que o tempo passa as coisas mudam. Em primeiro lugar, os trabalhadores dizem que quando trabalhavam para a GM, uns anos antes, ganhavam 29$ à hora e com o chinês ganham 12$ à hora, as pausas para almoço não são pagas, não têm condições de segurança dentro da fábrica e se têm acidentes de trabalho perdem pontos e são despedidos, todos os espaços de convívio são fechados, etc. Os chineses trazem consigo chefes e trabalhadores para mostrarem aos americano como se trabalha na China e levam alguns supervisores americanos à fábrica-mãe na China: turnos de 12 horas por dia, trabalhar ao domingo e ter uma única folga por mês, cantar de manhã a prometer trabalhar feliz para o chairman e outras coisas do género num clima de endoutrinação e lavagem ao cérebro que nada tem que ver com a cultura americana. Os trabalhadores começam a falar de ter um sindicato e o chairman faz logo saber que se tiver problemas com sindicatos fecha a fábrica e vai abri-la noutro país. Entretanto os chineses têm espiões a informar quem são os trabalhadores activistas sindicais e despedem-nos. 

Quando pensamos que a China é um país comunista que defende o bem-estar dos trabalhadores e os direitos dos trabalhadores, mas na prática é um país onde um grupo de chefes do partido e seus satélites vivem em palácios (vemos o palácio do bilionário chinês) e escravizam os trabalhadores percebemos o que é o comunismo nos países onde foi implementado. Os americanos queixam-se que os chefes chineses não os respeitam enquanto pessoas, que esperam que obedeçam sem uma explicação como se fossem crianças ou escravos e que estão habituados a pensar que é possível uma fábrica ter lucro, o dono ter lucro e, ao mesmo tempo, os trabalhadores serem tratados com respeito.

Na China a fábrica-mãe é tão grande e tem tanta gente que fazem uma cidade à volta dela onde vivem os trabalhadores, grande parte dos quais só vai a casa uma vez ou duas vezes por ano e não vêem a família, mas repetem a ladainha de que a vida é pra trabalhar e estão felizes e tal.

Enfim, a certa altura vemos que há dois ou três trabalhadores de cada lado que criam laços com os da outra cultura e mudam um pouco a sua maneira de ver o mundo mas no geral permanecem como água e azeite. 

No fim, um dos trabalhadores americanos diz que depois da crise de 2008 os patrões -que a provocaram- não só ficaram mais ricos como também mais autoritários, que em geral as condições de trabalho e os salários pioraram e que as grandes lutas sindicais do início do século XX que pareciam estar no passado tinham que voltar a fazer-se. O filme acaba com o chinês a dizer que vão substituir os trabalhadores por automação.

Os robots não se queixam nem precisam de sindicatos ou de folgas ou salários. Vivemos num mundo de ganância e se não se pensa o trabalho já, daqui a dez anos não há trabalho praticamente para ninguém.


October 25, 2022

O brio é um cavalheiro desconhecido

 

Não sei se é assim em todo o lado mas em Setúbal é tudo feito lentamente e às três pancadas. Agora ia a caminho da farmácia e uma senhora à minha frente, com pouca mobilidade, ia caindo. E porquê? Há pouco tempo arranjaram esta zona toda e a última coisa que fizeram foi empedrar os passeios, mas como o brio no trabalho é um cavalheiro desconhecido, ficou assim como se vê nas fotografias. enormes extensões de pedras apenas postas ali, não betumadas, de maneira que têm enormes interstícios entre elas que são autênticos pequenos precipícios. Mesmo de saltos largos ou rasos, dado que as pedras são irregulares e não estão estáveis, o piso é todo irregular e instável.

Ponho-me a pensar: quem deu as ordens para que não se betumasse a pedra e quem a pôs assim e viu o serviço que ficou, se calhar são pais de alunos. Como podemos nós esperar que os alunos tenham brio no trabalho?




July 20, 2022

Bom dia

 


Ser produtivo não é trabalhar muitas horas.


November 27, 2021

Num país que tem baixa natalidade e onde as pessoas em idade fértil fogem para outros países é importante perceber o que aí vem






Este artigo explica o status quo com base em dados e também o que aí vem, se não houver alteração na organização do trabalho. E o que aí vem não melhora a nossa situação. Muito antes pelo contrário.


A produtividade das mulheres

Ricardo Reis

Há décadas que as mulheres suportam um grande custo na carreira por ter filhos. Hoje, elas começam a ganhar mais do que os maridos. A organização do trabalho vai ter de mudar


Apandemia acelerou mudanças estruturais na economia mundial e trouxe novos fenómenos que se estão agora a espalhar. Sobretudo no mercado de trabalho, cresce o teletrabalho, mais pessoas vivem bem longe do local onde trabalham e alguns sectores sobem enquanto outros definham. Ao mesmo tempo, o enviesamento natural que temos para prestar atenção ao que está a mudar rapidamente leva-nos frequentemente a esquecer as mudanças lentas mas persistentes que, ao fim de umas décadas, acabam por ser os mais fortes determinantes das características do trabalho. Provavelmente não há mudança mais importante no mercado de trabalho nos últimos 70 anos do que a entrada das mulheres nas profissões pagas. Nos próximos 20 anos, suspeito que continue a ser assim.

Os economistas Scott Kim e Petra Moser divulgaram recentemente novos dados de 82.094 cientistas americanos identificados num almanaque de 1956. Para cada um, eles recolheram dados sobre a biografia (emprego, educação, casamento, crianças) e sobre a produtividade, medida através das patentes no nome e publicações em revistas científicas. Por um lado, a profissão de cientista é especial, mas por outro lado (e relevante para os propósitos deste estudo) muitas outras profissões altamente qualificadas (médicos, advogados, bancários...) partilham com os cientistas o perfil de carreira: um grande investimento de horas nos primeiros dez a 15 anos para provar o seu valor, uma promoção muito significativa (ou não) por volta dos 40 anos, e depois uma boa recompensa para os que são promovidos. No caso dos cientistas, porque temos estas medidas imperfeitas e cruas da produtividade, podemos tentar perceber a forma como mulheres e homens se distinguem nestes ambientes competitivos e altamente especializados.

O primeiro resultado marcante é a diferença entre o percurso da produtividade por género. Até ao casamento, homens e mulheres são semelhantes. Mas, depois, entre os 28 e os 40 anos, a produtividade das mulheres não aumenta, enquanto que a dos homens sim. Depois, a partir dos 40, a produtividade das mulheres começa a aumentar enquanto que a dos homens estagna. Os economistas mostram que a diferença está concentrada nas cientistas que se casam e têm filhos. A sua produtividade retoma o crescimento aproximadamente 15 anos depois do casamento, quando para muitas, as crianças precisam de menos atenção. Isto implica que, quando olhamos para cientistas com mais de 50 anos, as mulheres são tão ou mais produtivas do que os homens. Mas, quando olhamos para os cientistas entre os 35 e 40 anos, os homens estão acima das mulheres e a diferença entre eles está no seu máximo. Ou seja, é na idade em que os cientistas são julgados e promovidos a professores (as posições seniores) que a diferença entre eles e elas é maior. Isto provavelmente explica porque é que na geração coberta pelo estudo, 62% dos pais foram promovidos mas isso só aconteceu com 38% das mães (e, já agora, num outro grupo de estudo 54% das mulheres sem filhos foram promovidas). Explica também porque é que as mulheres cientistas escolhem ter filhos com uma probabilidade que é só 2/3 daquela que verificamos para os homens cientistas, e só metade se casa com uma frequência que é metade da dos homens.
Estes resultados refletem o panorama dos anos 50 e 60, que é a amostra do estudo. Com amostras mais pequenas e maior dificuldade em separar o efeito causal dos filhos, outros estudos usando amostras mais recentes descobrem resultados qualitativamente consistentes (se bem que não no tamanho). Durante 2020, quando fechámos as escolas, a produtividade das mães cientistas caiu muito mais do que a dos homens. Alguns inquéritos mostram que as mães com filhos com menos de seis anos perderam 17% mais tempo do aquelas com filhos mais velhos. Por sua vez, como já escrevi neste espaço, os dados dos países nórdicos mostram que mesmo com licenças de maternidade generosas e creches públicas, ainda há um efeito grande e permanente da natalidade no salário das mães em relação aos pais ou às mulheres sem filhos.

Para pôr estes resultados no seu contexto, hoje, na população entre os 25 e os 34 anos, em todos os países da OCDE sem uma única exceção, há mais mulheres com um curso superior do que homens. As mulheres são a maioria dos estudantes de direito ou medicina ou dos programas de doutoramento. É já praticamente certo que a maioria das mulheres no futuro próximo se vai provavelmente casar com um homem que ganha menos do que ela. Não me parece que elas vão aceitar que ter filhos implique que os papéis se invertam, e passem eles a ganhar mais. Ou a natalidade vai cair (ainda mais?), ou o papel de pais, mães e Estado na educação das crianças vai-se alterar muito. É difícil imaginar que isto não implique mudanças na organização do trabalho, incluindo no trabalho à distância e no teletrabalho, com uma influência mais profunda e prolongada do que a da pandemia. Uma tendência que se vê já é mulheres que se casam mais tarde e têm filhos depois dos 40 (quando já ascenderam aos cargos seniores) usando os avanços na inseminação artificial. A pandemia pode ser o ponto de viragem em que estas mudanças se tornam mais visíveis. Mas, mais cedo ou mais tarde, elas iam acontecer.

November 07, 2021

Um intervalo no trabalho

 


Estive a fazer os exercícios de avaliação da formação e um deles foi difícil. Estive uma hora de volta daquilo. Experimentei 4 maneiras diferentes de diagramar o argumento e nenhuma me pareceu excelente... e o argumento nem sequer era muito complexo, mas tinha muitas adversativas. Fazer isto é giro, mas dá trabalho. Lembro-me de uma frequência da cadeira de Lógica na licenciatura incluir uma avaliação lógica de uma página inteira do Parménides de Platão. Algo assim:

Tenho que experimentar diagramar isto, só para ver se sou capaz.

Enfim, estou com fome e ainda não vi nenhum teste... 



(excerto do Parménides de Platão)

October 26, 2021

Vou fazer um intervalo no trabalho

 


E ouvir uma música qualquer de ficar bem disposta e estar na boa que tenho trabalhos para corrigir e classificar à tarde. Estive desde as sete da manhã até agora a trabalhar na DT. Chega, porque já ultrapassei em triplo as horas que tenho para isso.

Ontem fui levar a vacina da gripe e dói-me um bocadinho o braço, mas como já posso beber um copo de vinho... 




October 10, 2021

Horários mais curtos, maior produtividade

 


Horários mais curtos, maior produtividade

A nossa análise mostra que as horas extraordinárias causaram o declínio da produtividade, em vez de o inverso. Em particular, quanto mais horas extraordinárias são fornecidas pelo membro da equipa que investe mais tempo num projecto, tanto mais prejudicial é o efeito na produtividade da equipa. Verificamos também que as longas horas de trabalho dos membros-chave da equipa não só reduzem a produtividade como também contribuem para uma maior frequência de defeitos de concepção.

Estes resultados sugerem que quando as longas horas de trabalho são reduzidas, a produtividade individual aumenta e são cometidos menos erros no trabalho. Isto pode acontecer porque os trabalhadores recuperam da fadiga e chegam para o trabalho com maior energia e foco. O aumento da produtividade destes trabalhadores rejuvenescidos, por sua vez, leva ao aumento da produtividade dos seus colegas de equipa em relações complementares. 
Uma vez que são necessários menos membros de equipa para terminar o trabalho, não há necessidade de acrescentar trabalhadores menos capazes para ajudar com a carga de trabalho. Isto reduz o tamanho da equipa e aumenta a produtividade da equipa. Estudos empíricos anteriores sugerem esta série de mecanismos e, juntamente com o nosso trabalho, apoiam a provável eficácia das reformas de estilo de trabalho destinadas a mudar para horários de trabalho mais curtos.


September 21, 2021

Cenas

 


Uma pessoa fica uns tempos afastada das aulas e DTs e quando volta está cheia de pica e até faz coisas que normalmente só costuma fazer lá para o meio do período ou no segundo período. Os colegas riem-se de nós, 'sim, sim, a gente quer ver-te daqui a um mês com essa pica' 🙂


May 07, 2021

Não se pode, ao mesmo tempo, ter o sol na eira e a chuva no nabal

 


As pessoas queixam-se dos serviços públicos terem maus funcionários, mas depois clamam que querem maus funcionários, ou pensam que pagar mal e oferecer uma não-carreira é um chamariz para ter bons funcionários? Não estou a defender que se paguem fortunas aos funcionários públicos, mas se não têm um salário decente e condições de trabalho decentes, quem quer ser funcionário público? Não percebemos, agora ainda mais neste contexto de pandemia, a importância dos serviços públicos? A saúde, a educação, ter políticos competentes, pessoas na administração pública de qualidade que não dependam de favores do governo de ocasião? Não vimos isso nos incêndios, no SEF, no caos dos hospitais por incompetência da ministra da saúde? Não estamos a ver a necessidade de bons funcionários públicos na justiça? Como é que se tem bons serviços públicos com funcionários mal pagos? Isso é querer ter o lucro sem o custo e esse é o problema dos trabalhados no privado: têm patrões que pagam mal para poderem comprar o segundo iate, a quinta em Sintra e etc. Aliás quando os salários da função pública sobem os dos privado também sobem, não é ao contrário. A função pública, ademais têm funcionários muito qualificados, ao contrário da maioria dos trabalhadores do privado. Porque é que, em vez de atacar os funcionários públicos, não se clama por melhores serviços e melhores salários no privado? Quantas falências fraudulentas com despedimentos de centenas de pessoas aconteceram no tempo da troika por os patrões não quererem baixar os lucros das empresas e receber menos e depois ter que vender o Ferrari? Os nosso empresários privados são maus, na maioria: pouca formação e pouca visão. Não querem pagar para ter bons funcionários. A função pública é grande parte da classe média do país. Temos pessoas a fugir ao fisco aos milhões, o fosso das desigualdades está cada vez mais largo e em vez de se atacar as causas desses problemas atacam-se os trabalhadores da função pública? Não percebo. Ou percebo. É ir ao mais fácil.


February 28, 2021

Miúdos com um discurso tão... adulto

 


Já interiorizaram a necessidade de trabalho, de disciplina, de ter uma atitude motivada. É claro que é uma escola de elite e os miúdos sabem ao que vão, daí o discurso tão maduro, mas mesmo assim, se os alunos das escolas tivessem um décimo desta atitude em relação ao trabalho, a vida deles seria tão diferente...


October 25, 2020

Os pequenos ofícios

 



Les « PETITS MÉTIERS » de Louis VERT - © Louis Vert / Musée Carnavalet
1900-1906

Durante a homenagem prestada a Louis Vert em 1925, poucos meses após a sua morte, a Societé d'Excursions dês Amateurs de Photographies, reconheceu a qualidade da obra deste artista amador. Em 2009, as fotografias de Louis Vert foram expostas no museu Jeu de Pomme. O catálogo desta exposição sobre fotógrafos amadores por volta de 1900 nas colecções da Sociedade Francesa de Fotografia descreve-o como um "pioneiro da foto-reportagem".

Nascido em Paris em 1865, ingressou na Societé d'Excursions dês Amateurs de Photographies em 1904 para aperfeiçoar as suas capacidades e rapidamente foi baptizado como 'projeccionista oficial dos eventos parisienses'.

Focando-se, sobretudo, nos vendedores ambulantes, adopta uma atitude de documentarista.


Un chiffonnier - um trapeiro


Arracheur de dents en pleine action - Um extractor de dentes em acção. Em 1910 havia 110 consultórios odontológicos em Paris. No entanto, a higiene bucal é inexistente e em vez de limpar os dentes prefere-se ir arrancar o dente doente, porque custa menos. Na rua a operação é um espectáculo que atrai muitos curiosos. Como qualquer bom vendedor ambulante, o arrancador de dentes tem um discurso de vendas que profere enquanto pratica o acto, às vezes acompanhado por músicos para melhor captar a atenção do público. Os troféus sangrentos acabados de tirar da boca dos doentes são exibidos em público e arrancam aplausos. Galvanizado pelo incentivo, vende os seus produtos milagrosos engarrafados para o propósito: cravo, absinto e extracto de ópio. 
Também se vê um vendedor de lotarias com a roda da sorte.



Colleur d'affiches - Colador de posters



Nettoyeur de réverbères, sur le parvis de Notre-Dame - limpador de lampiões de rua



Arroseur à la lance, place de la Concorde - lavador de jacto, de rua (na Praça da Concórdia)



Des ouvriers travaillent à la mise en place des rails de tramways - trabalhadores da companhia dos eléctricos a arranjar as linhas



Deux égoutiers - homens dos esgotos



Marchande de glaces - Os sorveteiros são populares entre as crianças. Os gelados não custam quase nada: um ou dois quilos de gelo para triturar, um pouco de potássio e ácido de nitrogénio para colorir, uma carrinha para armazenar e algumas frutas. 



Un rétameur - Um funileiro. O fulineiro retira o estanho velho de utensílios deteriorados, tapa os buracos no fundo de panelas, bacias, cafeteiras de lata e ele mesmo compõe, no seu fogão, a liga para cobrir uniformemente o objecto a ser devolvido, como novo. Para se proteger de queimaduras, usa um grande avental de couro. O funileiro também trata de espelhos aos quais devolve o brilho cobrindo-os com uma fina camada de latão.

O funileiro, depois de ter enumerado os caldeirões, as panelas e tudo o que enlatou, entoou o refrão: "tam, tam, tam, sou eu que retino, até o macadame, sou eu que coloco os fundos em todos os sítios, que tapa os buracos, buraco, bruraco" (Marcel Proust- A Prisioneira, 1923)




Gratteuses de papiers de fromage - Raspadoras de papel de queijo. As raspadoras reconstituíam queijo a partir dos restos colados nos papéis de embrulho e vendiam: serviam para pôr em sopas, derreter e fazer certas iguarias.



Deux hommes-sandwich - Os homens-sanduíche ou «camelots» vendiam canções satíricas, brochuras, artigos para vitrinistas e comerciantes, stencils de posters, para parede ou armário, etc.




Le ramassage des poubelles - Os homens do lixo. Durante muito tempo os parisienses deitavam o lixo para a rua ou para fossas. Em 1883, Eugène Poubelle (poubelle traduz-se por, 'lixo'), perfeito do Sena, assina o famoso decreto que obriga os proprietários a fornecer, cada um deles, aos seus locatários, um recipiente de madeira forrado a ferro, coberto, para guardar o lixo. Paralelemente, inicia um serviço de recolha de lixo dessas caixas rapidamente chamadas, poubelles. Era obrigatório ter 3 caixas: uma para a matéria putrescível, outra para papéis e tecidos e outra para vidro, faiança e conchas de ostras. Essa colecta foi feita, até ao início do séc. XX, por carros puxados a cavalo e só a partir de 1920 por veículos motorizados. (quando pensamos que em Portugal, só há uma dúzia de anos temos separação de lixo...)



Les Bitumineurs - betumeiros



Balayeuse - varredora



Le nettoyeur de vespasiennes - limpador de urinóis



Marchande de soupe aux Halles - vendedora de sopas



Photographe ambulant aux Halles - fotógrafo ambulante



Marchand d'abat-jours (ou de moustaches), pont d'Arcole - comerciente de abat-jours 



Marchand de fouets aux Halles - comerciante de chicotes



Marchand de plans de Paris conversant avec un marchand de papier d'Arménie - comerciente de mapas de Paris com um vendedor de papel, da Arménia


Marchande de coco et marchande de jouets aux jardin des Tuileries - comerciante de côco



Marchande de fleurs - florista



Marchande de café au lait aux Halles - vendedor de leite com café


Marchande des quatre-saisons a Les Halles - Vendedor de frutas.

Para exercer esta profissão, era necessário ser francês, ter vivido em Paris há, pelo menos, 3 anos, ter pelo menos 30 anos, comprovar a total falta de recursos, apresentar atestado médico atestando desamparo ou problemas de saúde ou, se necessário, um atestado de vítima de guerra ou de viúva e ficha criminal limpa. Ou seja: tem que estar velho, fraco ou com a saúde debilitada, para ter o direito de arrastar o carrinho pelas ruas de Paris, depois descer e estacionar à noite, antes de retornar a Les Halles às 5 da manhã.



Marchande d'oublies (petites gaufres légères) au jardin des Tuileries - A 'oublie', termo que vem do latim,  oblata, que quer dizer hóstia, é uma espécie de gauffre (waffle) muito leve, feita com farinha, ovos, mel, às vezes vinho. Vendedores de gauffres ainda se vêem, ou pelo menos viam, há uns anos, nas ruas de Bruxelas. São óptimas.



Nettoyeur d'aiguilles de tramway - limpadores de agulhas de eléctrico



Recouseuse de sacs de plâtre - costureira de sacos de gesso (imagina-se o que seria este ofício? O dia inteiro a inalar o pó de gesso naquele canto esconso e miserável?)



Rempailleur et sa voiture à bras - empalhador de cadeiras num carro puxado a braços (já fiz este trabalho de empalhar cadeiras de palhinha, quando tinha 18 anos, no ano do propedêutico, para comprar as minhas coisas sem ter que pedir dinheiro. Era um trabalho de part-time sem dias marcados. Ia quando podia. Ao fim de um mês fazia aquilo tão bem que despachava uma cadeira de baloiço numa manhã, coisa que os outros dois que lá andavam a fazer o mesmo que eu (para arranjar dinheiro para... cenas - deviam andar pelos vinte e poucos anos) levavam uma semana a fazer. Às vezes não fazia as coisas mais depressa porque trabalhava a ler. O dono da oficina também vendia livros em 2ª mão. O homem pagava-me bem até me aumentou ao fim de dois meses. Nunca me fez perguntas. Um tipo decente e que percebia muito sem o dizer. Isto vejo eu agora, não na altura. Enfim...lembrei-me disto agora.)


Tondeurs de Chiens - Tosquiadores de cães. Por volta de 1900, não havia salão de beleza para os "companheiros de quatro patas". Era nas margens do Sena, ou do Canal Saint-Martin, que se encontravam esses tosquiadores de cães.



Matelassières sur les quais - colchoeiras: cosiam, encordooavam, empalhavam, reparavam.




Un vendeur ambulant - vendedor ambulante



Vannier (ou ramoneur?) - fabricante de cestos ou limpador de chaminés?



Le passeur de sable - o barqueiro de areias: extrai e peneira as areias dos rios e depois vende-as.



Après le passage du marchand de sable ... - depois de passar o mercador de areias...


fonte: argentic


Estas fotografias extraordinárias dos pequenos ofícios e seus artesãos faz-me lembrar o Par de Botas de Van Gogh. Vidas duras, perto do chão, com as cores que pisam todos os dias a calcorrear a cidade ou a cavar e debulhar os campos. Visas pesadas, despidas de artifícios e gastas até ao último buraco da sola. Alguns dos trabalhos que se vêm nestas fotografias e as pessoas que os vemos a fazer são tão... tristes e precários. Vidas de Inverno sem Verão. A vida mudou muito, apesar de tudo.



September 25, 2020

Coisas que se compreendem a ler Hegel

 


As pessoas, na sua vaidade de poder, precisam que os outros as reconheçam como mestres, senhores, reconhecendo-se a si mesmos como escravos (porque aqueles recusam-se a reconhecer nos outros [que os querem] escravos). Se estes lhes negam esse reconhecimento, pois é evidente que esta relação, para ser, tem de ser mútua, não podem reconhecer-se como senhores [do poder]. Às vezes, isso resulta em obsessões doentias contra outras pessoas.


May 23, 2020

Falta uma semana para a feira do livro



... está um tempo espectacular para a Feira, mas não vai acontecer. Talvez lá para o fim de Agosto, ao que parece. Entretanto enviam-me catálogos de livros e algumas edições são tão boas e belas (como essa aí abaixo) que me apetece comprar os livros apesar de já os ter. Só o preço me trava.


uma edição da obra de Kuhn, Estrutura das Revoluções Científicas


Vou comprar meia dúzia de livros como se fosse à Feira porque gosto de ler e porque não quero contribuir para a falência dos livreiros.

To many books, so little time...

Entretanto, as cores do Verão chegaram à minha mesa - na quinta-feira pesaram-se e não aumentei um único quilinho neste confinamento. Espero que seja bom sinal e não mau sinal.

Estou a almoçar enquanto trabalho. Tenho que ver um filme e preparar questões para um trabalho de avaliação sobre a ética de Kant e Mill e a teoria da justiça de Rawls.

Uma salada caprese um bocadinho aldrabada...

... e um iogurte natural com umas framboesas



Os livros, os filmes e a comida. Três prazeres. Not bad at all. Adoro estas cores na comida.