American Factory é um documentário de 2019 acerca de um bilionário chinês que compra a antiga fábrica da General Motors em Ohio, fechada em 2008 no ano da grande crise, com milhares de famílias deixadas no desemprego. O documentário começa aí nesses milhares de pessoas que ficaram sem trabalho numa idade difícil e que tiveram que ir viver para casa de familiares e viver de cupões de alimentação. Em 2012 aparece este bilionário chinês que compra a fábrica para produzir vidro e emprega uns 1500 desses trabalhadores. De início ficam satisfeitíssimos e agradecidos que alguém lhes dê essa oportunidade, mas à medida que o tempo passa as coisas mudam. Em primeiro lugar, os trabalhadores dizem que quando trabalhavam para a GM, uns anos antes, ganhavam 29$ à hora e com o chinês ganham 12$ à hora, as pausas para almoço não são pagas, não têm condições de segurança dentro da fábrica e se têm acidentes de trabalho perdem pontos e são despedidos, todos os espaços de convívio são fechados, etc. Os chineses trazem consigo chefes e trabalhadores para mostrarem aos americano como se trabalha na China e levam alguns supervisores americanos à fábrica-mãe na China: turnos de 12 horas por dia, trabalhar ao domingo e ter uma única folga por mês, cantar de manhã a prometer trabalhar feliz para o chairman e outras coisas do género num clima de endoutrinação e lavagem ao cérebro que nada tem que ver com a cultura americana. Os trabalhadores começam a falar de ter um sindicato e o chairman faz logo saber que se tiver problemas com sindicatos fecha a fábrica e vai abri-la noutro país. Entretanto os chineses têm espiões a informar quem são os trabalhadores activistas sindicais e despedem-nos.
Quando pensamos que a China é um país comunista que defende o bem-estar dos trabalhadores e os direitos dos trabalhadores, mas na prática é um país onde um grupo de chefes do partido e seus satélites vivem em palácios (vemos o palácio do bilionário chinês) e escravizam os trabalhadores percebemos o que é o comunismo nos países onde foi implementado. Os americanos queixam-se que os chefes chineses não os respeitam enquanto pessoas, que esperam que obedeçam sem uma explicação como se fossem crianças ou escravos e que estão habituados a pensar que é possível uma fábrica ter lucro, o dono ter lucro e, ao mesmo tempo, os trabalhadores serem tratados com respeito.
Na China a fábrica-mãe é tão grande e tem tanta gente que fazem uma cidade à volta dela onde vivem os trabalhadores, grande parte dos quais só vai a casa uma vez ou duas vezes por ano e não vêem a família, mas repetem a ladainha de que a vida é pra trabalhar e estão felizes e tal.
Enfim, a certa altura vemos que há dois ou três trabalhadores de cada lado que criam laços com os da outra cultura e mudam um pouco a sua maneira de ver o mundo mas no geral permanecem como água e azeite.
No fim, um dos trabalhadores americanos diz que depois da crise de 2008 os patrões -que a provocaram- não só ficaram mais ricos como também mais autoritários, que em geral as condições de trabalho e os salários pioraram e que as grandes lutas sindicais do início do século XX que pareciam estar no passado tinham que voltar a fazer-se. O filme acaba com o chinês a dizer que vão substituir os trabalhadores por automação.
Os robots não se queixam nem precisam de sindicatos ou de folgas ou salários. Vivemos num mundo de ganância e se não se pensa o trabalho já, daqui a dez anos não há trabalho praticamente para ninguém.
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