Hoje como é fim-de-semana, lemos um bocadinho mais.
.... porque o auto-controlo relativamente às coisas boas é: zero. Zerinho, mesmo... Nos dias em que estive fora levei iogurtes de porcaria, daqueles que dizem que são de morango, por exemplo, apenas porque têm uma cor levemente rosada, mas sabem a nada... .... se tivesse levado iogurtes bons, punha-me a comê-los... ... é o mesmo com batatas. Se compramos batatas desinteressantes no supermercado, só com uma já se fica farto porque aquilo sabe a nada, mas se vamos ao mercado comprar batatinhas novinhas que parecem berlindes e as pomos no forno com alho, tomilho e azeite... ... epá, depois comem-se como amendoins... ... e todos sabemos que o Marlon Brando engordou aquilo tudo com amendoins...
Quando ele reune com outros, não sabem os outros todos que ele é o melhor amigo do homem? Estão a gozar connosco ou quê? Vão-se encher de pulgas...
Investigadores descobriram que os dados do acelerómetro dos smartphones podem revelar a localização da pessoa, passwords, morfologia, idade, género, nível de intoxicação, estilo de condução e até palavras que sejam faladas na sua proximidade.
Porque ler é ler e a experiência de ler: a cor do papel, o cheiro, a textura, a capa, a lombada, os dedos no grão do papel, o contraste das letras, as gravuras...
Aqui há uns dias a conversa com um amigo foi dar aos livros e ele disse-me que nunca tinha lido, nem o Proust (Em Busca do Tempo Perdido) nem o Tolstói (Guerra e Paz e Ana Karenina) e que queria ler mas que são obras muito grandes e achava que agora já não era capaz de se abalançar a livros desses. É preciso uma rotina de dedicar um tempo todos os dias ou uns dias por semana para ler com continuidade e isso é difícil de fazer com o trabalho e o cansaço. Bem, como gosto de ler, lembrei-me de perguntar-lhe, 'Então e se eu lesse para ti?' -como assim? 'Então, todos os dias leio um bocado da obra em voz alta e gravo e ouves a caminho do emprego, ou enquanto tomas o pequeno-almoço ou antes de dormir, se a minha voz não enjoa...' - e tens paciência para isso? 'Tenho, pois. Gosto de ler. Desde que não seja muito tempo, porque se for não sei se consigo manter essa disciplina diária'.
Bem, ficou combinado, ficando apenas por saber qual dos dois autores ler, o que ficou à minha escolha. Tendo em conta que o Proust são sete volumes, na edição que tenho... mais de 2500 páginas e que é uma obra que de vez em quando leio -não na totalidade que isso só o fiz uma vez, na adolescência, mas de vez em quando pego num volume e leio um capítulo, porque aprende-se sempre a ler o Proust e porque gosto demais da linguagem de Mário Quintana, o tradutor da edição que tenho e dá-me prazer ler- resolvi escolher Tolstói, que li também na mesma época mas nunca mais voltei a ler. E dos dois livros de Tolstói em questão, escolhi, Guerra e Paz. Há pouco tempo vi num email de uma editora que há uma tradução nova da obra que dizem ser muito boa e ganhou um prémio e tudo. Já na altura que vi a notícia desta edição fiquei com vontade de comprar para reler. Então, olha, foi agora. E chegou hoje.
São 1600 páginas de Guerra e Paz, de Tolstói. Tendo em conta que, quando leio em voz alta leio cerca de 5 páginas em cada dez minutos, resolvi ler 15 minutos por dia, o que dá cerca de 7 a 8 páginas. Vamos ser prudentes e dizer 7. Significa que para ler as 1600 páginas preciso de 230 dias. Mais de sete meses. Posso sempre, um dia ou outro, ler um bocadinho mais, mas não quero cansar-me ou fartar-me, porque não quero desistir, agora que prometi que lia. Ler em voz alta é muito diferente de ler para mim: obriga a falar de modo pausado, com entoação, pronunciar bem as palavras, etc. Não posso ler se estiver muito cansada, por exemplo, que tenho tendência a comer palavras... ... enfim, já que vou ler vou fazer um serviço público e pôr aqui as gravações para quem nunca leu a obra, gostava de ter lido e tem pachorra de me ouvir, tipo folhetim de rádio à antiga 🙂
Hesitei apenas pelo receio de o achar agora muito datado... ... paternalista, machista, sei lá, mas por outro lado é uma maneira de ver se o livro resiste ao juízo do tempo e mantém intacto o seu valor.
Estive aqui a hesitar entre numerar as leituras com números romanos ou algarismos arábicos, porque pensei que talvez alguém descubra esta leitura e queira ouvir e não conheça nem saiba ordenar a numeração arábica, mas depois pensei, 'Epá, se não sabem vão saber. Façam um esforço'. Já me incomoda que os miúdos hoje em dia não saibam a numeração romana. Estamos cheios de locais com inscrições latinas e numeração romana e as pessoas, por não saberem ler, são excluídas do conhecimento da sua história.
Se falhar um dia ou outro será por motivo de força maior. E não sei se estou a pronunciar bem os nomes dos personagens russos. Alguns são do género de embrulhar a língua.
Este é o livro de onde vou ler. Como se vê tem feito sucesso. Já vai na 11ª edição.
Tolstói como era costume na Rússia da época, de vez em quando fala em francês. Um francês onde mistura palavras russas. Os tradutores optaram por deixar o francês no diálogo e pôr a tradução portuguesa em rodapé, mas como estou a ler em voz alta, não faz sentido ler em francês e depois ir à nota de rodapé ler em português, de modo que optei por ler logo a tradução portuguesa.
Então aqui vai a primeira leitura.
As pessoas queixam-se dos serviços públicos terem maus funcionários, mas depois clamam que querem maus funcionários, ou pensam que pagar mal e oferecer uma não-carreira é um chamariz para ter bons funcionários? Não estou a defender que se paguem fortunas aos funcionários públicos, mas se não têm um salário decente e condições de trabalho decentes, quem quer ser funcionário público? Não percebemos, agora ainda mais neste contexto de pandemia, a importância dos serviços públicos? A saúde, a educação, ter políticos competentes, pessoas na administração pública de qualidade que não dependam de favores do governo de ocasião? Não vimos isso nos incêndios, no SEF, no caos dos hospitais por incompetência da ministra da saúde? Não estamos a ver a necessidade de bons funcionários públicos na justiça? Como é que se tem bons serviços públicos com funcionários mal pagos? Isso é querer ter o lucro sem o custo e esse é o problema dos trabalhados no privado: têm patrões que pagam mal para poderem comprar o segundo iate, a quinta em Sintra e etc. Aliás quando os salários da função pública sobem os dos privado também sobem, não é ao contrário. A função pública, ademais têm funcionários muito qualificados, ao contrário da maioria dos trabalhadores do privado. Porque é que, em vez de atacar os funcionários públicos, não se clama por melhores serviços e melhores salários no privado? Quantas falências fraudulentas com despedimentos de centenas de pessoas aconteceram no tempo da troika por os patrões não quererem baixar os lucros das empresas e receber menos e depois ter que vender o Ferrari? Os nosso empresários privados são maus, na maioria: pouca formação e pouca visão. Não querem pagar para ter bons funcionários. A função pública é grande parte da classe média do país. Temos pessoas a fugir ao fisco aos milhões, o fosso das desigualdades está cada vez mais largo e em vez de se atacar as causas desses problemas atacam-se os trabalhadores da função pública? Não percebo. Ou percebo. É ir ao mais fácil.
Já foi, mas há muito tempo que a ADSE vive apenas dos descontos dos beneficiários (3% do salário) e até serve para tapar buracos do Orçamento Geral do Estado.
Não percebo porque é que os funcionário públicos não podem ter um serviço de 'seguro' de saúde, pago pelos próprios, do seu salário, quando muitas empresas têm e oferecem aos seus funcionários planos e seguros de saúde. Porque querem destruí-lo?