November 02, 2020

Intervalo - a fome é negra e o tempo é curto

 


Estou no intervalo da formação e fui a correr fazer um ovo mexido com cebolinho porque estou cheia de fome.

Hoje ficámos a saber que uma colega tem que pôr art. 102 para estar na formação... inacreditável; outra, às sete teve que entrar num reunião de CT (às sete da tarde!); há escolas onde os alunos estão com covid nas aulas porque a linha saúde não sei quê não atende e o SNS só respondm passados dias de se reportar e só então os mandam para casa... 



Uau! Isto é forte!

 


... mas é certo...

As pinturas que mais nos tocam

 


...são as que ecoam por dentro como paisagens emocionais. Esta por exemplo: num contexto de tons nublados, duas forças convergem, uma verde, de optimismo e esperança e outra negra. Em ambas as forças há vida, mas numa a vida é que avança e na outra recua.



Paisagem
Nicolau de Stael
1952

Frutos de Outono







Amanhecer

 




November 01, 2020

November

 


“November always seemed to me the Norway of the year.” 

- Emily Dickinson (from an 1864 letter to Elizabeth Holland)




Zdzisław. Beksiński - Untitled (?) via Jeff Sunbury

A word of advice for myself

 


Reject your sense of injury and injury itself disappears.

~Marcus Aurelius

Livros gratuitos - Platão, Fédon XXXI - Conclusão

 



Baixo-relevo de Canova ilustrando a morte de Sócrates. Críton, à esquerda, é quem fecha os olhos a Sócrates. Fédon está a seus pés. Os discípulos choram.

Na ocasião de sua morte, segundo Fédon, estavam, Críton, Apolodoro, Critobulo e seu pai, Hermógenes, Epígenes, Ésquines, Antístenes, Ctesipo de Peânia, Menexeno, Símias o Tebano, CebesEuclides e Terpsião, além de outros. Segundo Fédon, Platão se encontrava doente.





Covid-19

 


Um colega de uma escola aqui de Setúbal está doente com Covid, o que significa que devem estar várias turmas e professores em isolamento, alguns também já infectados. Todos os dias sabemos de casos. As pessoas passam parte do dia enfiadas em salas com turmas de 28, 30 e mais alunos...


Livros gratuitos - Platão, Fédon XXX (continuação)

 

Neste excerto conta-se as últimas teorias sobre a Terra, os Céus, o Hades e os destinos das almas.

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O que contam é o seguinte: ou morrer alguém, o demônio que em vida lhe tocou por sorte se encarrega de levá-lo a um lugar em que se reúnem os mortos para serem julgados e de onde são conduzidos para o Hades com guias incumbidos de indicar-lhes o caminho. Depois de terem o destino merecido e de lá permanecerem o tempo indispensável, outro guia os traz de volta, após numerosos e longos períodos de tempo. Esse caminho não é o que diz Télefo, de Ésquilo, ao afirmar que o caminho do Hades é simples; a meu ver nem é simples nem único. Se fosse o caso, seria dispensável guia, pois ninguém se perde onde a estrada é uma só. O que parece é que ele é cheio de voltas e bifurcações. Digo isso com base nos ritos sagrados e cerimônias aqui em uso. De qualquer forma, a alma prudente e moderada acompanha seu guia, perfeitamente consciente do que se passa com ela; mas, como disse há pouco, a que se agarra avidamente ao corpo esvoaça durante muito tempo em torno dele e do mundo visível, e depois de grande relutância e de sofrimentos sem conta, é por fim arrastada dali, à força e com dificuldade pelo demônio incumbido de conduzi-la. Uma vez alcançado o lugar em que se encontram, outras almas, a que se acha impura pela prática do mal, de homicídios injustos ou de crimes semelhantes, irmãos daqueles e iguais aos que soem praticar almas irmãs, de umas alma como essa todas se afastam, evitam-na, não havendo guia nem companheiro de jornada que com ela se associe. Tomada de grande perplexidade, vagueia por todos os lugares até escoar-se certo tempo, depois do que a arrasta a Necessidade para a moradia que lhe foi determinada. A que atravessou a vida com pureza e moderação e alcançou deuses por guias e companheiros de jornada, obtém moradia apropriada.

LVIII – A Terra apresenta um sem-número de lugares maravilhosos, não sendo nem de tão extensa nem da forma como a imaginam as que se comprazem em discorrer a seu respeito, conforme alguém mo demonstrou.

Nessa altura falou Símias: Que queres dizer com isso, Sócrates? Sobre a Terra eu também já ouvi dizerem muita coisa; porém não o de que te mostras convencido. De muito bom grado te ouviria falar a esse respeito.

Para fazer essa descrição, Símias, não me parece necessária a arte de Glauco. Mas o que se me afigura mais difícil do que a arte de Glauco é provar a sua veracidade. É possível, até, que me falte capacidade para tanto; porém mesmo que a tivesse, o pouquinho de vida que me resta, Símias, não chegaria para tão longa exposição. Contudo não vejo impedimento em expor-te a idéia que faço da forma da Terra e de suas diferentes regiões.

Será o suficiente, falou Símias.

Para começar, principiou, fiquei convencido de que, se a Terra é de forma esférica e está colocada no meio do céu, para não cair não precisará nem de ar nem de qualquer outra necessidade da mesma natureza: por que para sustentar-se é suficiente a perfeita uniformidade do céu e seu equilíbrio natural. Pois uma coisa em equilíbrio natural. Pois uma coisa em equilíbrio no meio de qualquer elemento homogêneo, não se inclinará, no mínimo, para nenhum lado, mas se conservará sempre fixa e no mesmo estado. Foi esse o primeiro ponto, arrematou, que passei a admitir.

[isto para quem pensa que só no renascimento de descobriu que a Terra é esférica e está, como eles dizem, suspensa no ar...]

E com razão, observou Símias.

Ao depois, continuou, que também se trata de algo imensamente grande e que nós outros, moradores da região que vai do Fásis às Colunas da Hércules, ocupamos uma
porção insignificante da terra, em torno do mar à feição de formigas e rãs na beira de um charco. É que por toda a Terra há muitas concavidades, de forma e tamanho variáveis, para as quais converge água, vapor e ar. Porém a própria terra se acha pura no céu puro, onde estão os astros, denominado éter por quantos costumam discorrer sobre essas questões, cuja borra, precisamente, é tudo aquilo que não pára de depositar-se nas cavidades da terra.

Quanto a nós, por não percebemos que moramos nessas concavidades, imaginamos viver em cima da Terra como se daria com quem morasse no meio do mar fundo e pensasse estar na superfície, e vendo através da água o Sol e os outros astros, tomaria o mar pelo céu. Por indolência e fraqueza muito próprias, nunca subiu até o espelho da água, nem viu nunca, depois de emergir do mar e de levantar a cabeça fora da água na direção desses lugares, quanto são mais puros e mais lindos do que o outro, o que também não poderia ter ouvido de nenhuma testemunha ocular. É exatamente o que se dá conosco. Habitantes de uma dessa concavidades da Terra, imaginamos morar em cima dela, e damos ao ar o nome de céu, como se o ar fosse o próprio céu em que se movimentam os astros. É igualzinha nossa situação: por indolência e fraqueza, não somos capazes de atingir o limite extremo do ar. Pois no caso de chegar alguém ao cimo ou de adquirir asas e de voar, emergiria e passaria a ver como os peixes aqui de baixo quando põem a cabeça fora da água e vêem o que se passa entre nós: de igual modo veria o que há por lá, e no caso de agüentar sua natureza por algum tempo semelhante vista, reconheceria ser aquele o verdadeiro céu, a verdadeira luz e a verdadeira terra. Sim, porque esta nossa terra, as pedras e toda a região que nos circunda estão estragadas e corroídas, tal como corroído está pela salsugem tudo o que há no mar. Nada cresce no mar digno de menção, nem há nada perfeito, por assim dizer; apenas cavernas, areia, lama a perder de vista e lodo por onde quer que haja terra, nada, em suma, que suporte cotejo com as coisas belas de nosso mundo. Mas aquelas, por sua vez, em confronto com as nossas, de muito as ultrapassam. Se fosse oportuno, contar-vos-ia um belo mito, Símias, digno de ser ouvido, de como é constituída essa terra situada embaixo do céu.

Mas nem há dúvida, Sócrates, falou Símias; escutaremos teu mito com o maior prazer.

LIX – O que dizem, companheiro, para começar, é que essa terra fosse vista de cima por alguém, pareceria um desses balões de couro de doze peças de cores diferentes, de que são simples amostras as cores conhecidas entre nós que os pintores empregam. Toda aquela terra é assim, porém de cores muito mais pura e brilhantes; uma parte é de cor é púrpura e admiravelmente bela; outra é dourada; outra, ainda, com ser branca, é mais alva do que o giz e a neve, o mesmo acontecendo com todas as cores de que é feita, em muito maior número e mais belas do que quantas possamos já ter visto. Pois até mesmo as concavidades da terra, estando cheias de ar e de água, mostram uma cor de brilho especial, resultante da mistura de todas as cores, de forma que a Terra apresenta colorido de uniforme variedade. Nessa terra assim constituída, tudo cresce nas mesmas proporções: árvores, flores ou frutos. Comas montanhas dá-se o mesmo; as pedras, relativamente, são mais macias e translúcidas e de cores muito lindas, das quais são parcela insignificante nossas pedrazinhas tão apreciadas: sardônicas, jaspe e esmeraldas, e todas as outras da mesma natureza. As de lá são todas desse jeito e ainda mais belas. A causa disso, vamos encontrá-la no fato de serem puras aquelas pedras e não ficarem estragadas nem corroídas, como as nossas, pela putrefação e pala salsugem que convergem para os lugares cá de baixo e que deformam e deixam doente não somente as pedras e o solo, como também os animais e as plantas. Tudo isso enfeita aquela terra, também ouro e prata e o que mais houver do mesmo gênero, de tanta refulgência tudo em tão grande cópia espalhado pela vastidão da terra ,que sua vista é verdadeiramente edificante. Existem nela animais em profusão, e também em parte nas margens do ar, como nós moramos nas do mar, em parte nas ilhas cercadas de ar, perto dos continentes. Numa palavra: o ar para eles é com a água e o mar para nossas necessidades, assim como para eles o éter é o que para nós é o ar. As estações entre eles são de tal modo temperadas, que ninguém cai doente, vivendo todos muito mais tempo do que os homens cá de baixo. Quanto à vista, o ouvido o pensamento e demais atributos desse gênero, eles nos ultrapassam na mesma proporção em que o ar vence em pureza a água e o éter o próprio ar. Há também entre eles templos e bosques sagrados, nos quais viver efetivamente as divindades, bem como vozes, profecias e aparições dos deuses, que é como se comunicam com eles, de rosto a rosto. Ademais, vêem o sol, a lua e as estrelas com são na realidade, andando a par com tudo isso o restante de sua bem-aventurança.

LX – Assim é a natureza da terra em seu conjunto e das coisas que a circundam. Nas entranhas da terra, por todo o seu contorno notam-se numerosas concavidades, algumas mais profundas e patentes do que esta em que moramos, outras também profundas, porém com entrada mais angusta do que a nossa, havendo, ainda, umas tantas de menor fundura, porém mais largas do que esta. Todas essas regiões se comunicam entre si em muitos lugares por passagens subterrâneas, de largura variável, além de possuírem outras vias de acesso. Muita água corre de uma para outra, como nos grandes vasos, havendo, outrossim, embaixo da terra rios perenes de grandeza descomunal, de água quente e fria, e também muito fogo e grandes rios de fogo, bem como correntes de lama líquida, ora mais limpa, ora mais suja, tal como antes de lava os rios de lama da Sicília, e depois a própria lava. Essas diferentes regiões se enchem de semelhante matéria, de acordo com a direção ocasional da corrente. Essas águas se movimentam para cima e para baixo, como um pêndulo colocado no interior da terra. Semelhante oscilação deve provir do seguinte: Entre as aberturas da terra, uma há particularmente grande, que a atravessa em toda a sua extensão e a que se refere Homero nos seguintes termos:

Essa voragem profunda que em baixo da terra se encontra, e que por ele mesmo e muitos outros poetas é denominada Tártaro. É para essa abertura que confluem todos os rios, como é dela, também, que todos partem, adquirindo cada um as propriedades do terreno por onde passam. A razão de saírem de todos os rios dessa abertura e de voltarem para ela, é carecerem suas águas de fundo e de base; daí oscilarem e flutuarem para cima e para baixo. Concorrem para o mesmo efeito o ar e o vento que as envolvem, por acompanhá-las tanto quando se precipitam para as regiões do outro lado da terra como quando se dirigem para o lado de cá. E assim como o sopro de quem respira se encontra em constante movimento, na inspiração e na expiração, do mesmo modo o sopro predominante naquelas regiões, juntamente com as águas, quando entram e quando saem, produz ventos de irresistível violência. Ao se dirigirem as águas para os lugares que denominamos de baixo, afluem para os leitos das correntes desse lado e os enchem, como nos sistemas de irrigação; quando, inversamente, os abandonam e retornam para cá, voltam a encher os deste lado. Uma vez cheios, correm pelos canais e pela terra, seguindo as vias naturais do solo e passam a formar lagos, mares, rios e fontes. De lá, voltando a mergulhar na terra, depois de uma parte das águas circular por maios número de regiões e mais extensas, enquanto outras fazem trajeto pequeno em menos lugares, lançam-se outra vez no Tártaro, algumas muito mais abaixo do nível em que corriam, outras um pouco menos, conquanto desemboquem todas muito abaixo do ponto de partida. Alguns rios irrompem do lado oposto da saída, outros do mesmo lado; sim, casos há de descreverem um círculo completo: enrolando-se uma ou mais vezes em torno da terra, à feição de serpentes, descem o mais possível para de novo se lançarem no Tártaro. Os rios de ambos os lados podem baixar até o centro, porém não ultrapassá-lo, pois de cada lado a margem desses rios é de aclive acentuado.

LXI – Há muitas outras caudais do mais variado aspecto, porém nessa multidão de rios há quatro, particularmente, dos quais o maior e mais afastado do centro, denominado Oceano, circunda a Terra inteira. De fronte deste e em sentido contrário deflui o Aqueronte, que além de atravessar muitas regiões desertas, corre por baixo da terra, até alcançar a Lagoa Aquerúsia, para onde vão as almas da maioria dos mortos, as quais, depois de ali permanecerem o tempo marcado pelo destino, umas mais outras menos, são reenviadas para renascerem em animais. O terceiro rio irrompe dentre os dois primeiros, para lançar-se, perto de sua origem, num lugar amplo e cheio de fogo, onde forma um lago maior do que o nosso mar, de água e lama ferventes. Daí, torvo de tanta lama, descreve um círculo e depois de contornar a terra e atravessar outros lugares, atinge o limite extremo da Lagoa Aquerúsia, sem que suas águas se misturem com as desta. Por fim, depois de muitas voltas sempre dentro da terra lança-se na porção mais baixa do Tártaro. Esse é que tem o nome de Piriflegetonte, cujas lavas jogam partículas incandescentes em diversos pontos da superfície da terra. Defronte dele, por sua vez, desemboca o quarto rio, a princípio numa região selvática e pavorosa, e, ao que se diz, toda ela de colorido azul escuro, denominada Estígia, sendo chamada Estige a lagoa em que ele vem lançar-se. Depois de nela cair e adquirirem suas águas propriedades terríveis, afunda pela terra, traçando voltas sem conta em sentido contrário às do Piriflegetonte, com o qual vai defrontar-se no lado oposto da lagoa Aquerúsia. Suas águas, também, não se misturam com as outras, vindo ele a desaguar no Tártaro defronte do Piriflegetonte. O nome desse rio, no dizer dos poetas, é Cócito.

LXII – Sendo essa a disposição natural dos rios, quando os mortos chegam ao local determinado para cada um o seu demônio particular, antes de mais nada são julgados, tanto os que levaram vida bela e santa como os que viveram mal. Os classificados como de procedimento mediano, dirigem-se para o Aqueronte e sobem para as barcas que lhes são destinadas e que os transportam para a lagoa. Aí passam a residir e se purificam, e no caso de haverem cometido alguma falta, cumprem a pena imposta e são absolvidos ou recompensados, de acordo com o mérito de cada um. Os reconhecidamente incuráveis, por causa da enormidade de seus crimes, roubos de templos, repetidos e graves, homicídios iníquos e contra a lei, e muitos outros do mesmo tipo que se cometem por aí: esses lança-os no Tártaro a sorte merecida, de onde não sairão nunca mais. Os autores de faltas sanáveis, embora graves – seria o caso dos que, num momento de cólera, usaram de violência contra o pai ou a mãe, mas que se arrependeram o resto da vida, ou os que se tornaram homicidas por idênticos motivos – todos terão fatalmente de ser lançados o Tártaro. Porém m ano depois de ali caírem, as ondas jogam os assassinos para o Cócito, e os culpados de violência contra o pai e a mãe para o Piriflegetonte. Arrastados, assim, pela correnteza, quando atingem a Lagoa Aquerúsia, alguns chamam a vozes os que eles mesmos mataram, outros as vítimas de suas violências; e ao acorrerem todos a seus brados, imploram permissão de passar para a lagoa e de serem recebidos. Se conseguem com eles que os atendam, ingressam na lagoa, terminando logo ali seus sofrimentos; caso contrário, são mais uma vez levados para o Tártaro e deste, novamente, para os rios, prolongando-se, dessa forma, o castigo até conseguirem o perdão de suas vítimas. Essa pena lhes é imposta pelos juízes. 


Livros gratuitos - Platão, Fédon XXIX (continuação)

 


Exatamente.

Pois era isso, precisamente, que eu queria determinar: as coisas que, sem serem contrárias entre si, não admitem o seu contrário. Será o caso do três quem, sem ser o contrário do par, de forma alguma o aceita, pois ele lhe opõe sempre o seu contrário, como faz o dois com o ímpar, o fogo com o frio e infinitos mais exemplos. Dize-me agora se não concluirias que não é apenas o contrário que não recebe o seu contrário, porém tudo o que leva a Ideia do contrário da coisa que o recebe, não admite nesta o contrário daquilo que ele leva. Recapitulemos tudo o que dissemos até aqui, pois não há mal em ouvir a mesma coisa várias vezes: O número cinco não admite a Ideia de par, nem o dez, o dobro daquele, a de Ímpar. Por sua vez, o duplo é o contrário de outra coisa, porém não admite a Ideia do ímpar, como também não a admitem, o meio e outras frações do mesmo tipo, nem a Ideia de todo, de terço e de tudo o mais da mesma natureza, se é que me acompanhas e estás de acordo comigo.

[as coisas têm uma característica essencial que participa da Ideia que as causou e essa caracteríscia essencial não admite contrário - o 5, apesar de não ser contrário ao 4, será sempre ímpar e nunca se transformará em número par, pois estas Ideias são opostas]

Não somente estou de inteiro acordo, disse, como te acompanho.

LIV – Então, repete tudo isso do começo, continuou, porém não me responda com minhas próprias palavras, mas de outra forma, tomando-me como modelo. O que digo é que, além da resposta certa que eu apresentei no começo, encontrou-se outra de não menor confiança no que ficou dito depois. De facto, se me perguntasses: Que precisa haver no corpo para que ele fique quente, já não te daria a resposta segura que a ignorância antes me impunha, dizendo que é o calor, mas outra muito mais aprimorada, com base em nossa exposição anterior: o fogo. Como também se me perguntasses o que precisa haver no corpo, para que ele adoeça, não responderia que é a doença, porém alguma febre. E no caso de perguntares o que precisa haver num número para ser ímpar, não me referira a imparidade, mas à unidade, e assim sucessivamente. Agora vê se apanhaste bem meu pensamento.

À maravilha, respondeu.

Então, continuou, que precisa haver no corpo para que ele viva?

Alma, respondeu.

E sempre terá de ser assim?

Por que não? Foi sua resposta.

Logo, tudo o de que a alma se apodera, a isso ela dá vida?

É o que ela faz, de fato, respondeu.

E porventura haverá alguma coisa contrária à vida? Ou não há?

Sem dúvida, respondeu.

Que é?

A morte.

De onde vem, que a alma nunca poderá aceitar o contrário daquilo que ela sempre traz consigo; é o que se conclui de tudo o que dissemos até agora.

Conclusão certíssima, respondeu Cebete.

LV – E então? O que não admite a Ideia do par, que nome lhe demos agora mesmo? 

Ímpar, respondeu.

E o que não recebe o justo, ou não recebe o harmônico?

Desarmônico, disse, ou injusto.

Muito bem. E o que não recebe a morte, como denominaremos?

Imortal, foi a sua resposta.

Ora, a alma não recebe a morte.

Não.

A alma é, pois, imortal? 

- É Imortal.

[se a natureza, a essência da alma é ser vida, jamais poderá transformar-se no seu contrário (morte) da mesma maneira que nunca o 3 será número par.]

Muito bem. Podemos afirmar, por conseguinte, que isso ficou demonstrado? Ou como te parece?

Ficou demonstrado à saciedade, Sócrates.

E agora, Cebete, continuou: se o ímpar fosse indestrutível por força das coisas, não teria também de ser indestrutível o três?

Como não?

E se o não-quente também fosse por necessidade indestrutível, sempre que alguém aproximasse da neve o fogo, não se retiraria a neve intacta e sem derreter-se? Não pereceria, é claro, e por mais que ficasse exposta ao calor, não o receberia.

É muito certo, respondeu.

Como também, segundo penso, se o não-frio fosse indestrutível por natureza, e alguém aproximasse do fogo o frio, jamais o fogo se apagaria ou viria a fenecer, porém afastar-se-ia incólume.

Necessariamente, respondeu.

E não será também preciso falarmos nesses mesmo termos no que entende com o mortal? Se o imortal também for imperecível, a alma, sempre que a morte se aproximar dela, não poderá morrer; pois de acordo com o que dissemos antes, ela não admitirá a morte nem virá a morrer, da mesma forma que o três, conforme vimos, nunca poderá ser par, e com ele o ímpar, nem o fogo ficará frio nem o calor que há no fogo. Porém o que impede – poderia alguém objetar – que o ímpar, muito embora não fique par à aproximação do par, e sobre isso, já nos declaramos de acordo, venha, de facto, a perecer, por transformar-se em par? A quem tal objetasse, não poderíamos responder que não perece, pois o ímpar não é indestrutível. Porém se isso houvesse sido aceito antes por nós, fora fácil retorquir que à aproximação do par, o ímpar e o três se retiram. Da mesma maneira responderíamos com respeito ao calor, ao fogo e a tudo o mais. Ou não?

[uma coisa não pode ser e não-ser ao mesmo tempo e se o que é imortal, por definição, não morre, então tudo aqui que o tocar, também não o será]

Sem dúvida.

Sendo assim, agora, com relação ao imortal, uma vez admitido por nós dois que também é imperecível, a alma, terá de ser por força imperecível. Caso contrário, precisaríamos lançar mão de outro argumento.

[sendo a alma vida e princípio de vida -ela dá a vida ao corpo quando entra nele- não pode ser não-vida, que é a morte: logo não pode morrer]

Não por causa disso, retorquiu; dificilmente poderia haver quem não admitisse a destruição, se o imortal, com ser eterno, fosse passível de acabar. [seria uma contradição nos termos]

LVI – Quanto à divindade, falou Sócrates, ao que suponho, e à Ideia da vida e a tudo o mais que possa haver de imortal, todos estão de acordo em que nunca podem parecer.

Sim, por Zeus, todos os homens, respondeu, e, com maioria de razões, os próprios deuses.

Uma vez que o imortal é imperecível, a alma, sendo imortal, não terá de ser, da mesma forma, imperecível?

Forçosamente.

Logo, como parece, ao aproximar-se dos homens a morte, o que neles for mortal [o corpo] terá de perecer, enquanto a sua porção imortal [a alma] cede o lugar à morte e continua sã e incorruptível.

Claro.

É certíssimo, por conseguinte, Cebete, continuou, ser a alma imortal e imperecível, e existirem realmente nossas almas no Hades.

Quanto a mim, Sócrates, falou Cebete, nada tenho a objetar contra teus argumentos, nem o que alegar para não admiti-los. Porém no caso de Símias ou qualquer outro querer dizer alguma coisa, fará bem em não se conservar calado, pois não sei que melhor oportunidade do que esta poderá encontrar quem se disponha a falar ou a ouvir seja o que for a respeito destas questões.

Eu também, falou Símias, não vejo razão para não aceitar o que foi dito. Dada, porém, a grandeza da matéria e por não confiar muito na fraqueza humana, sou forçado a declarar que ainda alimento algumas dúvidas com respeito ao que foi explanado.

Não é só isso, Símias, falou Sócrates, como muito bem te exprimiste, até mesmo as nossas proposições iniciais, por dignas de confiança que pareçam, precisam ser consideradas mais a fundo, e, uma vez suficientemente analisadas, estou certo de que acompanhareis a argumentação, na medida da capacidade de compreensão do homem, até que, tudo esclarecido, nada mais tenhais a investigar.

[o conhecimento nunca se pode dar por acabado e é sempre necessário investigar as questões mais a fundo até esclarecer todos os aspectos]

É muito certo o que dizes, respondeu.

LVII – Porém devemos senhores, considerar também o seguinte: se a alma for imortal, exigirá cuidados de nossa parte não apenas nesta porção do tempo que denominamos vida, senão a totalidade do tempo [portanto o terreno mais a eternidade do Hades], parecendo que se expõe a um grande perigo quem não atender esse aspecto da questão. Pois se a morte fosse o fim de tudo, que imensa vantagem não seria para os desonestos, com a morte livrarem-se do corpo e da ruindade muito própria juntamente com a alma? Agora, porém, que se nos revelou imortal, não resta à alma outra possibilidade, se não for tornar-se, quanto possível, melhor e mais sensata. Ao chegar ao Hades, nada mais leva consigo a não ser a instrução e a educação, justamente, ao que se diz, o que mais favorece ou prejudica o morto desde o início de sua viagem para lá.




Leituras - Papel social

 


Types of Social Roles: Meaning and Examples

By  Sociology Group 


O papel social pode definir-se como o conjunto de comportamentos que os outros esperam de nós e nós assumimos e cumprimos,  em virtude das nossas funções num determinado contexto social. Por exemplo, de vez quando colegas perguntam-me se me importo de ver os testes de exame dos filhos, para avaliar da possibilidade de interpor recurso à nota. Apesar de sermos colegas e termos um tipo de relação simétrica, nesta situação, o que acontece é que os colegas põe-se automaticamente no papel de mães/pais e eu no de professora e isso influencia, ainda que momentaneamente, a nossa relação. Ou, outro exemplo, marquei uma consulta com um médico porque estou aqui com uma cena que não sei o que é e preciso que alguém seja capaz de descobrir. Vou entrar no gabinete do médico como doente e comportar-me como tal e ele vai lá estar como médico e comportar-se como tal. Os alunos, quando são representantes no CP (enfim, hoje em dia isso já não existe e o CP é para inglês ver, mas dantes existia), assim que entravam nas reuniões, mudavam a sua atitude, postura e linguagem de acordo com as funções que ali tinham que era a de representar os colegas e enquanto ali estavam o seu comportamento e interacções eram marcados por esse papel.

É daí que uso muito a palavra, 'cena', porque de facto, em cada situação social representamos um papel como estando num cenário, sendo que nalguns cenários, como os dos exemplos, mas há-os aos milhares,  temos falas atribuídas que condicionam o comportamento e a linguagem, nesse contexto.

Também tenho um papel como blogger, embora este blog não se inclua em nenhuma categoria em particular, porque falo sobretudo de certos temas (como a educação, o ambiente, a filosofia, a política) mas também falo de outros assuntos que não costumam estar associados a esses temas (como a poesia, o amor, a arte, etc). Aliás, por causa dessa... abrangência ou aparente caotismo, muita gente que aqui vem ler, interpela-me: 'olha, lá, então não vais falar no blog acerca disto e daquilo relacionado com o tratamento a que são sujeitos os doentes oncológicos?'; 'olha lá, não vais falar no blog naquilo que disse o ministro da educação?'; 'olha lá, não vais falar no blog naquilo que se passou na escola? Alguém tem que denunciar'; 'olha lá, não vais falar no blog no que se passa com... inúmeras coisas'; às vezes é ao contrário: 'olha lá, que são aquelas coisas que andas a dizer no blog? Não podes escrever certas coisas no blog porque ele não é para isso'; 'olha lá, porque perdes tempo a falar de filosofia e de leituras que não têm nada que ver com os problemas do país? Porque não pões antes lá soluções?' 'olha lá, tens que falar disto e daquilo...'

Enfim, ainda há os que aqui vêm tirar material que depois usam na escola como se fosse seu...; há os que vêm ameaçar: já um político muito conhecido (quando o blog estava na outra casa) me deixou um email com comentário em termos de, ''olha lá, ó filha da puta, dou cabo de ti e faço-te isto e aquilo', cheio de ameaças e palavrões. Muitos professores vêm aqui ler. Aqui há uns anos, numa formação em Lisboa, apresentei-me a colegas e uma delas disse-me, 'não é preciso dizeres o nome. O teu nome é muito conhecido'. Ok, não sabia... Há quem venha aqui tirar ideias e textos que depois aparecem disfarçados em jornais, por exemplo. Depois ainda vêm outras pessoas ler: da família, amigos... alguns reconhecem-me mal no blog porque falo aqui muito e isso contrasta imenso com a minha pessoa na vida não-digital, a não ser que esteja com pessoas de muita confiança e à-vontade.

Mas portanto, também tenho um papel social enquanto blogger e embora faça a maior parte das minhas próprias regras, algumas há que tenho que seguir sob pena de o blog deixar de ser um blog e passar a ser outra coisa qualquer que não quero que seja.

Costume ideas for Halloween 😁

 





Confinamento

 


Não sou contra estas medidas parciais de confinamento que me parecem prudentes, mas tenho pena que não tenha havido prevenção e tenha havido tanta confusão acerca do que pode ou não ser autorizado. Milhares de pessoas à molhada em corridas de automóvel, festas pseudo-políticas, festas religiosas, tudo com milhares de pessoas. As festas pessoais (aniversários, casamentos, etc.,) deviam ter tido número máximo de pessoas para evitar o que se tem passado com reuniões familiares e de amigos. Também me parece ter havido um grande erro na abertura das escolas que deviam ter estado a funcionar, para os alunos mais velhos, a partir do 9º ano, por exemplo, em regime misto. Assim como deviam ter sido reduzidas as turmas para 16 alunos no máximo. 

Se tivesse havido preparação não estaríamos agora com estas medidas de remediação, não haveria falta de professores para milhares de alunos, professores e alunos doentes com covid, hotéis e restaurantes a fechar todos os dias, etc.

Eu estou em confinamento há nove meses e meio. Nestes meses já fui à praia, fui comer fora umas 4 vezes, fui a dois espectáculos de música. Agora, vou uma vez por semana ao mercado, logo pela manhã, mais para andar a pé e apanhar ar fresco. Estes hábitos impu-los a mim mesma, apesar de ouvir durante meses as autoridades dizerem que não fazia mal sairmos e andarmos sem máscara em sítios cheios de gente. O primeiro-ministro agora queixa-se da falta de responsabilidade das pessoas, mas ele foi o maior responsável por essa irresponsabilidade. Durante muito tempo, ele, pessoas do governo, da AR, autoridades de saúde e outros deram um péssimo exemplo. 

Se tivessem dado ordem às escolas para fazer um regime misto e reduzir o número de alunos por turma e dar um horário compatível com a doença, eu e mais uns milhares de professores com doenças estávamos a trabalhar em vez de estarmos em casa e, em muito casos, os alunos sem professores.

Nisso o primeiro-ministro é responsável, porque escolhe ministros boys, moços de recados para não ter críticas que o incomodem, e mesmo depois de ver como são imprestáveis, deixa-os estar e é por isso que tudo anda mal feito em todo o lado: é porque estamos a pagar a incompetentes. Vê-se que o primeiro-ministro anda cansado. Se tivesse ministros competentes a fazer o trabalho, que é para isso que há ministérios, tudo seria diferente. O Presidente também podia ter feito o seu papel, que não fez. Foi mais um yes-man.

No entanto, neste momento, uma vez que as coisas não foram preparadas e estão a descambar, mais vale fazer estes confinamentos parciais e ir remediando a situação do que fechar o país todo outra vez, porque aí não morremos da doença mas da cura.


Governo decidiu medidas para os próximos 15 dias mas deixou em aberto o período do Natal. 70% da população sujeita a "dever de recolhimento". Mas as escolas vão continuar abertas


Pessoas que ajudam pessoas

 




Michael Jordan abre a segunda clínica para pessoas sem seguro saúde em sua cidade natal




Soluções

 




 

No human touch

 




Paris Institute for Critical Thinking

True

 


"The greater the doubt, the greater the awakening." ~ Albert Einstein

Antropoceno

 




The human touch
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