Fez ontem 35 anos que Thomas Sankara, o líder revolucionário do Burkina Faso, foi assassinado aos 37 anos com tiros de pistola num golpe de Estado levado a cabo pelo seu ex-companheiro e mais tarde Presidente do país, Blaise Compaoré, que
foi condenado, no ano passado, a prisão perpétua.
Thomas Sankara aspirava a uma sociedade igualitária e feminista, a uma economia construída sobre a auto-suficiência e regeneração ecológica de África e independente das potências ocidentais.
Foi sob o seu domínio que o país foi renomeado - de Alto Volta, o nome que os franceses lhe tinham dado, para Burkina Faso, que significa, "Terra de Povos Justos".
O próprio Sankara levava um estilo de vida austero. Reduziu o seu próprio salário e o dos altos funcionários públicos. Proibiu o uso de motoristas do governo particulares e os bilhetes de avião de primeira classe.
Sob o seu governo a educação e a saúde progrediram exponencialmente em todos os índices. Atacou a corrupção instalada do país.
Sankara via a dívida dos países africanos como um neo-colonialismo. "É uma reconquista de África. Cada um de nós torna-se um escravo financeiro. É-nos dito que pagar é uma questão moral, mas não é... Se não pagarmos, os credores não morrem por isso, mas se tivermos de a pagar, morremos nós".
Falando aos líderes africanos na OUA, disse: "Gostaria que esta conferência declarasse que não pagaremos a dívida; temos que fazê-lo em conjunto, para evitar sermos assassinados individualmente... Se o Burkina Faso for o único a recusar, eu não estarei aqui na próxima conferência. Vamos criar uma frente unida contra a dívida e vamos deixar de competir uns com os outros. As nossas terras são ricas. Temos muita mão de obra e um grande mercado. Deixemos que o mercado africano pertença aos africanos. Vamos fabricar em África e consumir em África... ...Vamos produzir o que precisamos e consumir o que produzimos, em vez de importarmos bens. Eu, juntamente com a minha delegação, estamos vestidos pelos tecidos dos nossos tecelões, com algodão dos nossos agricultores. Nem um único fio vem da Europa ou da América. É assim que se vive com liberdade e dignidade". (@jasonhickel)
Thomas Sankara foi um indivíduo extraordinário em termos de visão das potencialidades do continente africano e dos problemas do futuro em termos globais, uma pessoa muito à frente da sua época (
a wiki tem uma biografia dele), um líder daqueles que só raramente aparecem, mas sendo contra o colonialismo e neo-colonialismo ocidentais e tentando construir uma África diferente, virou-se para a única ideologia que na época parecia combater essas políticas: o marxismo.
Quando as democracias ocidentais falham em ser o que apregoam, as pessoas que mais sofrem com essa hipocrisia procuram alternativas entre as forças e as ideologias que existem e se o que existe é o extremismo ideológico, é nele que apostam. Nos dias que correm vemos pessoas defenderem o indefensável (forçar Zelensky a entregar a Ucrânia a um fascista colonialista como Putin, por exemplo) apenas porque o ódio que têm aos americanos se sobrepõe a tudo, até à capacidade de pensar racionalmente.
África continua a ser um continente, tal como Sankara dizia, rico em terras e mão de obra, cheio de potencialidade, mas em vez de se tornar auto-suficiente, os seus líderes entregam-se à corrupção e os africanos em geral à vitimização. Oportunidades perdidas...